terça-feira, 28 de março de 2017

Brasil: Um país onde alimentar passarinhos é crime

O País onde alimentar passarinhos é crime

Por Fabio Olmos
O famoso comedouro de aves da Trilha dos Tucanos. Crianças de todas as idades, como a da foto, saem deste passeio com um sorriso de orelha a orelha. Fotos: Fabio Olmos
O famoso comedouro de aves da Trilha dos Tucanos. Crianças de qualquer idade, como a da foto,
saem deste passeio com um sorrisão. Foto: Fabio Olmos

Vivemos uma era onde experiências são mais valiosas que compras. E o turismo de vida selvagem, aquele que te oferece momentos Animal Planet, BBC, National Geographic ou Discovery Channel, vende experiências supremas.

Estar próximo e interagir com bichos vivos proporciona aqueles momentos PQP que atraem visitantes a UCs das ilhas Antípodes ao Zimbabwe, gerando cadeias de negócios, integrando comunidades isoladas à economia global e criando empregos.

Na pior das hipóteses, bichos são conservados porque são mais valiosos vivos do que mortos. Na melhor, há o salto civilizatório e eles passam a ser companheiros de nossa jornada neste planeta, com os mesmos direitos à existência.

A necessidade humana de proximidade e interação gerou negócios antes improváveis como visitar gorilas em Uganda, passar o dia com onças no Pantanal, observar baleias, caminhar com pinguins e mergulhar com tubarões.

Os tubarões chamam a atenção porque um dos padrões da indústria são excursões onde os simpáticos bichinhos são alimentados pelos dive-masters e fazem a alegria dos turistas. Um resultado é que os tubas são totalmente protegidos em países como as Bahamas pois são um motor da economia.

Existem outros empresários de bichos que criaram negócios similares, que beneficiam todos os envolvidos. Aqui em São Paulo, um dos locais mais agradáveis para observar aves é a Trilha dos Tucanos, em Tapiraí. Além de uma bela floresta, sistema de trilhas, hospedagem e restaurante, o que atrai birders e fotógrafos ao lugar são os comedouros que atraem montes de aves silvestres que se tornaram habituadas às pessoas.

Tucanos também é um dos melhores lugares que conheço para, como diz o povo da educação ambiental, sensibilizar as pessoas. Ter um grupo de saíras e catirumbavas comendo banana na mão de uma criança por cinco minutos vale mais que seis meses catando latas para reciclagem ou fazendo papel na escola.
Comedouros sim, gaiolas não. Unidades de conservação poderiam dar o exemplo.
Comedouros sim, gaiolas não. Unidades de conservação poderiam dar o exemplo.
Foto: Fabio Olmos


Tucanos não é única a ter comedouros para aves, que são comuns em reservas e propriedades privadas em todo o Brasil e fazem a alegria de passarinhos e seus amigos. O que chama a atenção é que, com pouquíssimas exceções, comedouros de aves são explicitamente banidos das unidades de conservação manejadas pelo Estado.


Sempre que pergunto a razão, ouço que é “é proibido pela lei” e explicações do tipo “altera o comportamento”, o que não explica coisa alguma. Construir um centro de visitantes, ter veículos nas estradas de serviço, iluminação noturna ou abrir um aceiro também altera o comportamento da fauna, mas fazemos isso em uma UC porque os benefícios são entendidos como maiores do que os malefícios.


Qualquer um que já gastou algum tempo olhando a reação das pessoas – especialmente crianças – visitando um comedouro de aves decente já percebeu como estes podem ser uma ferramenta poderosa para conquistar corações e mentes contra atividades que são as verdadeiras desgraças, como a caça e a tradição de ter aves em gaiola.

Os que turistam em UCs pelo mundo também já descobriram que somos uma Coréia do Norte com relação a práticas comuns e correntes. Para não ir longe, nos Estados Unidos – onde parques nacionais são considerados “America’s Best Idea” – todo centro de visitantes de qualquer UC tem comedouros para que todos, inclusive aqueles com limitação de mobilidade, possam ter um gostinho da fauna alada.

Dá trabalho? Claro, a higiene é fundamental. Altera o comportamento? Lógico. Isso é ruim? Não. O importante é que altera o comportamento das pessoas. Ninguém é convencido de algo por conta de sua racionalidade. Somos convencidos pelas nossas emoções, e aí está a chave da razão de as experiências que oferecem contato próximo com o mundo natural serem transformadoras.


Além disso, há toda uma série de programas de monitoramento pelo mundo afora que utilizam comedouros e plataformas de Ciência Cidadã para acompanhar as tendências populacionais das aves e relacioná-las a coisas como o uso da terra e mudanças climáticas. Programas que, por sinal, incluem comedouros instalados em escolas. Alguém captou a ideia?


Proibir comedouros de aves em UCs brasileiras faz muito mais mal do que bem. Cada parque sem comedouros é uma oportunidade perdida de educar e sensibilizar, e de mostrar algo que pode ser feito em casa e ser parte do processo de erradicar a tradição das gaiolas.
Albatrozes-de-coroa-branca Thalassarche steadi acompanham o barco onde fiz uma saída pelágica em Stewart Island, no sul da Nova Zelândia, esperando um lanchinho. Este momento será inesquecível para quem estava ali.
Albatrozes-de-coroa-branca Thalassarche steadi acompanham o barco onde fiz uma saída 
pelágica em Stewart Island, no sul da Nova Zelândia, esperando um lanchinho. 
Momento inesquecível para quem estava lá. Foto: Fabio Olmos

O que aconteceria se alguém propusesse que cada UC brasileira tenha comedouros de aves? Na minha experiência irá esbarrar no “é ilegal”, “altera comportamento” e outras desculpas que não são desculpas. Se há alguma lei que proíbe oferecer bananas a passarinhos, ela merece uma banana.
Indo além, e voltando ao começo. Alimentar tubarões é comum em UCs marinhas do mundo todo, com pilhas de pesquisas sobre o assunto que vão do monitoramento de populações, passam pela economia e chegam à ausência de impactos significativos no seu comportamento.


Um dos exemplos de como o Brasil é torto é que em Fernando de Noronha ninguém está autorizado a fazer um shark diving como nas Bahamas, ao mesmo tempo que os mesmos tubarões são mortos no entorno do parque para fazer o famigerado tubalhau.


Aliás, lembre-se de que quem compra produtos feitos com carne, dentes e outras partes de tubarões e cações está ajudando estas espécies a desaparecer.


Ainda no mar, outra atividade que envolve oferecer alimento a animais para proporcionar momentos PQP é a observação de aves marinhas. No Brasil essa atividade ainda é incipiente mas em outros países é uma indústria consolidada, com operadores e excursões regulares saindo de portos na África do Sul, Chile, Peru, Nova Zelândia, Estados Unidos, Portugal, entre muitos mais.


Como observador de aves, tenho um fraco pelos albatrozes e petréis que são as grandes estrelas da maioria dos pelágicos pelo mundo afora e já participei em várias excursões nestes países. Um dos mais interessantes é a Nova Zelândia.


A nação-ilhas é o hotspot da diversidade de albatrozes e petréis do mundo e um dos campeões de sua conservação. Aves marinhas formam um dos grupos de aves mais ameaçados, com 15 das 22 espécies de albatrozes sob ameaça de extinção porque muitas aves são mortas por barcos espinheleiros (os que pescam tubarões, atuns e mecas. Peixes que você não deveria consumir) e porque cães, gatos, ratos e camundongos introduzidos – e vândalos – dizimam suas colônias reprodutivas.


A Nova Zelândia é uma campeã nos esforços de conservação dessas aves, com projetos que incluem a erradicação de predadores introduzidos, criação de UCs marinhas, desenvolvimento de técnicas de pesca que minimizam a mortalidade, monitoramento das embarcações de pesca e promoção de acordos internacionais como o Acordo para a Conservação de Albatrozes e Petréis – ACAP, do qual o Brasil é signatário.
Albatrozes-neozelandeses Diomedea antipodensis e petréis-gigantes Macronectes hallii atraídos pelo purê de fígado de peixe oferecido durante um pelágico em Kaikoura, Nova Zelândia. O país é referência em ecoturismo e conservação marinha, combinando ambas.
Albatrozes-neozelandeses e petréis-gigantes atraídos pelo purê de fígado de peixe oferecido 
 durante um pelágico em Kaikoura, Nova Zelândia, país referência em ecoturismo e 
conservação marinha. Foto: Fabio Olmos


Outra coisa na qual a Nova Zelândia é campeã é o ecoturismo. Ali há diversos operadores que levam as pessoas para ver, ao vivo e a cores, a diversidade de albatrozes, petréis e aves marinhas que o país tem.


Se minha experiência vale algo, ver um albatroz-real com três metros de envergadura ao alcance da mão, um grupo com dezenas de albatrozes de quatro espécies diferentes acompanhando seu barco ou petréis-gigantes lutando sumô causam aquela sensação que faz você se perguntar por que há quem use drogas ao invés de observar aves.


Estas excursões permitem o contato próximo com essas aves quase lendárias, que normalmente ninguém vê nem sabe que existem. Quando o pessoal do Projeto Albatroz começou a trabalhar para que o governo brasileiro participasse das negociações do ACAP descobriu que poucos em Brasília sabiam o que era um albatroz...


Também são a única oportunidade que mortais comuns têm para ver espécies raríssimas, como o New Zealand Storm Petrel. Considerado extinto em 1850, foi redescoberto em 2003 por observadores de aves numa saída pelágica. Hoje há todo um programa de pesquisa e monitoramento da espécie -- uma das aves mais raras do mundo --, enquanto as excursões comerciais para observá-la continuam.
Falar em excursões comerciais para observar espécies criticamente em perigo causa urticária em algumas pessoas por aqui. Que aumentará se eu disser que alguns destes tours, como em Kaikoura (assista o vídeo!), são feitos em unidades de conservação marinhas.


Para “piorar”, todas as excursões para observar aves marinhas na Nova Zelândia adotam a prática (padrão no mundo todo, por sinal) de lançar alimento na água para atrair as aves. Sim, leitores e leitoras, lá eles alimentam os passarinhos para que os visitantes possam vê-los de perto. E ainda ganham dinheiro com isso.


E não é qualquer comida que é usada. A preferência é por um purê feito com restos de salmão, criado nas muitas fazendas marinhas do país. Proteína com óleo de peixe é irresistível para as aves.
Estes dois parágrafos devem conter uns quatro ou cinco pecados se seguirmos o padrão do planejador ambiental brasileiro. Para os neozelandeses, que devem ter o melhor histórico de manejo de aves marinhas e de conservação marinha, é usual.


O New Zealand Storm Petrel (Fregetta maoriana) foi considerado extinto em 1850 e redescoberto por observadores de aves em 2003. Você pode observar esta espécie em saídas organizadas por diversos operadores turísticos no Gulf of Hauraki Marine Park, que usam restos de salmão moído para atrair as aves.
O New Zealand Storm Petrel (Fregetta maoriana) foi considerado extinto em 1850 e 
redescoberto por observadores de aves em 2003. Você pode observar esta espécie em 
saídas organizadas por operadores turísticos no Gulf of Hauraki Marine Park, que usam 
restos de salmão moído para atrair as aves. Foto: Fabio Olmos


O mar brasileiro é utilizado por 45 espécies de albatrozes e petréis, além de dezenas de gaivotas, fragatas, atobás, trinta-réis, etc. Continuamos sabendo muito pouco sobre a maioria destas aves além de muitas estão ameaçadas. Ao mesmo tempo há uma crescente comunidade de observadores de aves que está engajada em Ciência Cidadã usando plataformas como o Wikiaves e o eBird.


O que aconteceria se alguém aqui no Brasil quiser fazer excursões em UCs marinhas como Alcatrazes, Noronha ou Abrolhos para observar aves usando as mesmas práticas que os neozelandeses? E se alguém quiser começar um negócio de mergulho com tubarões como é feito nas Bahamas?


Falando por experiência, bateria na desculpa do “altera comportamento”, “cria impacto” e outras explicações que não explicam nada.


Regras discutíveis que restringem a visitação de UCs e proíbem atividades que são rotineiras em outros países pioram a situação. Inibem o uso das UCs por um público interessado pela sua conservação, matam oportunidades de monitoramento e abortam negócios baseados no turismo de vida selvagem.

O que é mesmo que causa impacto?




Comentários (17)


Avatar de Fernando Tortato
Fernando Tortato · 
Parabéns Fábio!!


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Fernanda · 
Ecoturismo para observação de fauna no Brasil está loooooonge de ser real e legal como em outros países! Obrigada, Fábio!


Avatar de Eden Fontes
Eden Fontes ·
Parabéns pelo excelente texto, para nossa reflexão do melhor uso das UCs, com práticas adotadas mundo afora e que não exigem necessariamente grande investimento financeiro.

É até comum, e estranho, que muitos observadores de aves prefiram estar fora das UCs do que dentro delas, alguma coisa não está legal no modelo adotado.


Avatar de paulo
paulo ·
Bingo, vamos abrir as discussões. 
 
Avatar de Helmut Mee
Helmut Mee ·
Belo texto, Meus parabéns,

Importante ressaltar que em outros países existem instituições sérias que representam as classes, por este motivo, hoje existem conquistas, infelizmente aqui no Brasil a Sociedade Brasileira de Ornitologia, há duas décadas serve apenas aos interesses da diretoria.

Não existe publicação impressa, não existe conteúdo exclusivo ao sócios, não existem prêmios ou apoio a pesquisadores, não existem bolsas de pesquisa para estudantes, cursos promovidos, workshops gratuitos, nada.

O que existe sim, é captação de recursos e, dados, para exportação, verba captada no país é direcionada em benefício dos projetos da própria diretoria, ou melhor, da Birdlife, enquanto instituições internacionais recebem cada vez mais verba em resposta a expansão da coleta de dados e projetos por aqui, o Brasil não recebe nada em troca, continuamos trocando ouro por espelhos e, só quem se beneficiam são alguns poucos.

Birdlife, Cornell, American Conservancy, todos beneficiados pelo tráfico de influência através de Sociedade de Ornitologia, enquanto apresentam relatórios sobre os nossos dados, enquanto conseguem a cada ano mais verba, não oferecem nenhuma contrapartida substancial a quem realmente protege as aves brasileiras, os cientistas que ainda lutam por aqui para desempenhar seu papel, com pouca verba, sem bolsas, sem tempo, encalhados na burocracia. 
 
Avatar de Fabio
Fabio · 
Helmut, acho que você não conhece coisa alguma sobre o trabalho da BirdLife, desenvolvido no Brasil através da SAVE, e está dando um bom exemplo de como pessoas não se inibem de expor sua ignorância ou suas más intenções.. 

A SAVE atua em projetos de extrema importância, como a conservação das aves endêmicas da Mata Atlântica do nordeste, na reserva da Serra do Urubu e a reintrodução de jacutingas na Mata Atlântica, e foi fundamental em reverter a situação em Boa Nova. Por sinal, questões onde o governo teve que ser empurrado para atuar. 

American Bird Conservancy está colocando dinheiro em projetos efetivos enquanto Cornell criou um sistema de Ciência Cidadã que se tornou padrão devido à sua qualidade. Para inveja mortal de alguns pesquisadores tupiniquins. Se isso não é oferecer contrapartidas às aves, então não sei o que é.
Mas é lógico que sempre vai haver os que ficam mordidos com quem trabalha. 
 
Avatar de LUCIANO BERNARDES
LUCIANO BERNARDES · 
Excelente texto Fabio, meus parabéns! 
 
Avatar de Eugênio
Eugênio 
Excelente artigo. Como aprendi! 
 
Avatar de José Truda
José Truda · 
Disse tudo, grande Fabio! Assino embaixo 100%!
 
Excelente artigo! Por que não se discute isso nas faculdades? Essencial para formação de biólogos (e quem trabalha com natureza). 

Devemos lembrar a alimentação do Lobo Guará no Caraça. Não conheço como é feita nem se contribui de alguma maneira a projetos com o lobo, e creio que se mantém apenas por ser de uma instituição religiosa. Porém é certo que cada um que conheço e já foi lá conta da experiência como algo único, e muda completamente a visão do lobo e sua natureza. Torna-se um potencial contribuinte nas questões conservacionistas.
Enquanto a educação ambiental crítica ganha destaque e mostra o real problema em relação ao meio ambiente (político, econômico e social) e a educação ambiental tradicional bate na tecla "faça sua parte", acredito que a educação ambiental por meio do contato direto com a natureza, uma vertente pouquíssimo explorada e estudada, seja uma das mais importantes para que se crie, de fato, uma consciência.
O meu projeto, Projeto Mantis, estuda os louva-a-deus e buscamos exatamente esse contato. Posso dizer, com certeza, que se precisarmos de contribuições para salvar um louva-a-deus em extinção, teremos pessoas dispostas a isso. Porque mudamos nelas a percepção de mundo ao abrir as portas para os louvas, os insetos e a própria natureza. Ao mostrar um pouco da riqueza que está nas nossas matas e, pasmen! também nas cidades, tão próximas. O maior orgulho é ver pessoas que chegam com nojo e repulsa por insetos e saem completamente mudados, pedindo para que soltemos nossos louva-a-deus de volta à natureza (são criados para pesquisa com devida licença) ou perguntando como poderiam ter um de pet em casa. 

E como Fábio diz no artigo, estamos em uma era de experiências. Justamente o que, economicamente, a natureza pode oferecer! Faço disso minha missão diária com os insetos e não é difícil! Ao contrário, as pessoas querem essa experiência, mesmo que não saibam. O ser humano deseja esse contato. Tão fortemente que rapidamente muda sua perspectiva, do "estranho selvagem" para um "ser magnífico". 
 
O Brasil tem a maior biodiversidade do mundo e não usufrui, no bom sentido, dela. A lei não permite comedouro de passarinho mas deixa o desmatamento correr solto por aí... Falta também engajamento das pessoas. Nossos cientistas, em sua maioria, estão presos em seus laboratórios, com seus dados, publicando seus artigos, indo a seus congressos, fazendo seu próprio ego enquanto lá fora ninguém sabe o que está acontecendo nem entende o que vale um trabalho desses, porque não conhece. Em parte, culpa nossa que pesquisa e não diz por aí. Mas há como mudar. 
 
Avatar de Mauricio Arantes
Mauricio Arantes · 
Pra variar : " - Falou e Disse Fabio"; Parabéns pelo texto. Abraço 
 
Avatar de José Martins
José Martins ·
Este é o o ponto de vista de uma pessoa, que tem que ser respeitado, até porque o mesmo tem escrito belíssimos texto sobre a necessidade de incrementarmos a visitação nas UCs.

Mas tem muitas outras pessoas que tem opiniões contrárias a alimentar animais, com embasamento científico. Um trabalho (ORAMS, M. B. Feeding wildlife as a tourism attraction: Issues and impacts. Tourism Management, v. 23, n. 3, p. 281-293, 2002) afirma que "a alimentação artificial de animais selvagens implica uma variedade de consequências negativas, incluindo alteração de padrões comportamentais e populacionais, dependência e habituação, agressividade e problemas de saúde, como doenças e injúrias; portanto, com exceção da alimentação deliberada no auxílio da reabilitação de animais doentes ou machucados e da alimentação suplementar na recuperação de uma espécie ameaçada, é difícil encontrar qualquer justificativa biológica para a alimentação artificial da vida silvestre. Outro trabalho (OLIVEIRA, D. G. R. Impactos da visitação turística sobre animais em áreas naturais. 2009), afirma que "a alimentação artificial de animais em vida livre também pode aumentar a susceptibilidade dos animais a outros impactos antrópicos".

Peixes que comem pão, arroz, etc.. tem MUITAS vezes mais câncer de duodeno que peixes que se alimentam naturalmente.

Nas Bahamas, a situação de alimentação de tubarões é bem diferente e mesmo assim já ocorreram vários acidentes por lá.

A maior dificuldade para manter animais marinhos em cativeiro vivos, como aves e mamíferos, é a qualidade e sanidade dos peixes. Será que no Brasil, onde até as carnes para consumo humano tem sanidade duvidosa, teremos alimentadores de animais que cuidem da qualidade do alimento?

Mas em algumas situações alimentadores de pássaros em UCs não de proteção integral com sementes e frutas nativas da região são uma ótima opção de aproximar animais e pessoas.

Em situações onde o animal corre grande risco de morte e o turismo para valorização do animal vivo só é possível com alimentação, como é o caso do boto-cor-de-rosa na Amazônia, também acredito que a alimentação possa ser permitida com normas, controle e fiscalização.

Além disto, não sei o quanto conhecem de UCs marinha no Brasil e no mundo, mas eu conheço mais de 50, como Kaikoura (Nova Zelândia), e já li trabalhos científicos sobre turismo de fauna em umas 100. Em nenhuma delas é tão fácil ver a fauna marinha no ambiente natural como em FN.

Em Fernando de Noronha, os peixes sargentinhos (Abudefduf sacatilis) estão mordendo as pessoas que mergulham. Pedindo comida para um ser parecido com aquele outro ser que os alimentam. Sabiam disto? Será que os tubarões, quando ver uma pessoa, não vai morde-la para também ganhar comida. Eu já vi golfinho em cativeiro atacar adestrador a mordida para ganhar mais comida.

Acredito que é o turismo que deve ser estimulada em Fernando de Noronha e na maioria das UCs e proteção integral do Brasil é o turismo de observação de fauna marinha em comportamento natural na natureza.

É o que eu acho. Mas, este é só o ponto de vista de 1 pessoa.

José Martins
 
Avatar de Fabio
Fabio · 
 
José, alimentação suplementar de fauna silvestre terá consequências dependentes das espécies envolvidas. Para tubarões sabemos que o resultado é, no cômputo, positivo. E definitivamente desconheço caso de tubarões mordiscando gente pedindo comida. 

Fazer o mesmo com onças-pintadas não seria uma boa ideia já que a probabilidade dos bichos engajarem em interações negativas com as pessoas se torna alta. E o mesmo vale para primatas, de babuínos a macacos-prego. 

Para aves há sim um enorme corpo de literatura científica sobre os impactos, que vão variar entre lugares e espécies envolvidas. Há desde resultados que falam de aumento nas colisões com janelas, passando pelo aumento da sobrevivência das aves durante o inverno e como populações reintroduzidas se beneficiaram deste subsídio. No geral, é seguro afirmar que os benefícios superam bastante os malefícios. E, como eu disse, há montes de países onde os comedouros são padrão não só em UCs mas também nas reservas manejadas por instituições especializadas na conservação de aves, como a RSPB e a Audubon. Que entendem um pouco do assunto.
 
Avatar de Rogerio
Rogerio · 
 
Falou, falou e falou.... não é por que "só aqui" que é proibido que é um fato ruim. É a nossa legislação e eu concordo com a restrição. Ao alimentar voluntariamente um animal silvestre, você invariavelmente o domestica e isso, por si só, já é uma grande interferência naquela comunidade. O autor coloca todas as UCs num mesmo balaio, ou seja, nem conhece as categorias de uso. Existem, por exemplo, locais muito favoráveis para observação como o Pantanal Sul- Matogrossense, as áreas alagáveis no Rio Grande do Sul, entre outros, e que não precisam ficar dando comida. Na verdade esse hábito de ficar "cevando" as aves para vê-las em um lugar, não passa de preguiça.
Onde fica a diversão de caminhar silenciosamente por uma trilha a "caça" de sons e avistamento dessas aves voando, pousando, namorando e brigando pelas matas adentro? E ainda você pode avistar sapos, bromélias, orquídeas, cachoeiras, cobras, pequenos roedores, até cervídeos e canídeos!
A matéria não passa de uma visão que visa somente a economia, nem se importando com estudos científicos sérios.
Mas é isso, desse jeito ao Autor só falta dizer que seria ótimo ter nesses locais um pier de madeira nativa com poltronas e uma lanchonete americana ao lado.
 
Avatar de Fabio
Fabio · 
 
Rogerio, se vc for um cadeirante ou idoso gostaria de ver sua preguiça na hora de ter que andar no mato para ver algum bicho.
Quanto a estudos sérios, convido-a a deixar a preguiça de lado e a olhar a literatura científica e ver o que é feito em áreas protegidas de outros países, inclusive por instituições especializadas na conservação de aves.
Mas é claro que sempre haverá quem ache que o resto do mundo está errado e a Coréia do Norte está certa. 
 
Avatar de Andrea Ferrari
Andrea Ferrari · 
Este ano vi um tubarão na praia, totalmente por acaso, e foi uma das melhores experiências da minha vida. Desde então não paro de pensar em mergulhar com eles, quero ver estes caras de novo. Uma pena saber que será mais fácil fazer isso nas Bahamas que no meu país
 
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Avatar de paulo
paulo ·  
 
Eta, Rogerio, academia demais espanta. Venha ver o mundo para TODOS.

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