quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Uso do carvão enraíza a pobreza

22/11/2016


Por Lyndal Rowlands, da IPS – 
Nações Unidas, 22/11/2016 – Os danos causados à população mais pobre do mundo pela energia gerada a partir do carvão é maior do que a ajuda que proporciona. E isso sem contar os efeitos devastadores da mudança climática, destaca um informe publicado por 12 organizações internacionais de desenvolvimento.



Apesar dos compromissos assumidos no Acordo de Paris sobre mudança climática, a temperatura global média pode aumentar em dois graus Celsius com a construção de apenas um terço das centrais a carvão previstas, afirma o estudo. E alerta que, além disso, “se o mundo ultrapassar o limite, as consequências serão desastrosas para a luta global contra a pobreza.



O informe Beyond Coal: Scaling up Clean Energy to Fight Poverty (Além do Carvão: Aumentando a Energia Limpa Para Lutar Contra a Pobreza) foi publicado por Instituto de Desenvolvimento Exterior (ODI), Cafod, Christian Aid e outras nove organizações antes da 22ª Conferência das Partes (COP 22)da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática, realizada entre os dias 7 e 18 deste mês, em Marrakesh, no Marrocos.



Ilmi Granoff, um dos autores do documento, opinou à IPS que o carvão “enraíza a pobreza”, em contraposição ao discurso da indústria, de que os combustíveis fósseis contribuem para o crescimento econômico. Mas reconheceu que o fechamento de algumas usinas a carvão causou certas dificuldades econômicas, embora destacando que a pesquisa concluiu que, no geral, as energias renováveis geram “mais emprego por unidade”.



“A própria Associação Mundial do Carvão estima que a indústria emprega sete milhões  de pessoas no mundo”, apontou Granoff, e pouco menos de 9,4 milhões  já trabalham na cadeia de fornecimento de energia renovável.Segundo o especialista, “é importante reconhecer que reduzir o uso do carvão tem um impacto no emprego, porque em alguns lugares as pessoas dependem dessa indústria e é necessária uma transição justa. E, quanto às perspectivas futuras, a energia renovável oferece melhores oportunidades de emprego: mais trabalho e mais qualidade em escala global”.



Terminal portuário da companhia carbonífera Prodeco, na cidade caribenha de Santa Marta. Foto: Juan Manuel Barrero/IPS
Terminal portuário da companhia carbonífera Prodeco, na cidade caribenha de Santa Marta. Foto: Juan Manuel Barrero/IPS

Além disso, os argumentos de que o carvão pode ajudar as pessoas mais pobres a terem acesso a energia não tem sentido, destacou Granoff. O informe também conclui que as fontes alternativas já podem cumprir as “necessidades específicas de lutar contra a extrema pobreza e a pobreza energética”, acrescentou. Também lembrou que o carvão assenta a pobreza, ao causar problemas de saúde, como asma e ataques cardíacos.


“Estima-se que uma usina de apenas um gigawatt causou 26 mil mortes prematuras na Indonésia enquanto esteve operacional”, disse Granoff. Além disso, destacou a importância de se reconhecer as consequências negativas de longo prazo que o carvão terá, especialmente para as pessoas e os países mais pobres, pois contribuem para o aquecimento global.


O impacto da mudança climática nos países em desenvolvimento e nas pessoas mais pobres foi um dos temas centrais em debates da Organização das Nações Unidas (ONU), como a COP 22, em Marrakesh. As nações em desenvolvimento argumentam que os países mais ricos têm a responsabilidade de limitar as consequências do aquecimento planetário nos Estados mais pobres, onde, por outro lado, o impacto será desproporcionalmente maior, pois a variabilidade climática é imprevisível e grave, e isso apesar de terem contribuído muito pouco nas emissões contaminantes que causam o fenômeno.


E essa é precisamente uma das razões mais importantes para que os países mais ricos comecem o processo de fechamento das usinas geradoras de energia movidas a carvão, pontuou Granoff. Em geral, a tendência é a redução dessa fonte de energia em muitas nações ricas, mas se mantém em países como Austrália e Estados Unidos. E, na verdade, o presidente eleito norte-americano, Donald Trump, baseou sua campanha em várias políticas favoráveis ao uso do carvão, com o argumento de que a “agenda ambiental radical” de Barack Obama matava o emprego e prejudicava a economia.


É certo que muitas das centrais a carvão estão na Ásia, especialmente em grandes centros consumidores como China e Índia, e a mudança climática e a contaminação aérea obrigou esses países a reavaliar sua dependência dessa fonte de energia. Granoff informou que o governo da China revisa a construção de algumas das novas usinas movidas a carvão.



Envolverde/IPS

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