quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Um Santuário, dois ministros e muito acarajé


Por José Truda Palazzo, Jr.
Ministro Sarney, durante plenária na CIB nesta segunda-feira (24). Foto: Divulgação.
Ministro Sarney, durante plenária na CIB nesta segunda-feira (24). Foto: Divulgação.



Os detratores do Ministro do Meio Ambiente José Sarney Filho podem dizer dele muita coisa, menos que não tenha entusiasmo pelas causas que abraça. Aqui em Portoroz, na Eslovênia, nenhuma figura esteve mais em evidência do que ele, batalhando dias a fio pra que se lograsse a criação do Santuário de Baleias do Atlântico Sul, na anacrônica e disfuncional Comissão Internacional da Baleia



É fato que a rodar o Plenário ao redor da algo rotunda figura de nosso Ministro, o Secretário de Biodiversidade e Florestas(e mais notório desenhista de macacos do Brasil), José Pedro de Oliveira Costa, levantou poeira até o último minuto antes da votação buscando mudar as posições monolíticas dos contrários, tanto dos países-marionetes japoneses como de outros como Coréia do Sul e Rússia, tradicionais oponentes da proposta.



A proposta do Santuário chegou à Plenária pela primeira vez aprovada em todos seus aspectos técnicos pelo difícil Comitê Científico da CIB, que elogiou o tamanho do esforço posto pelos países co-proponentes – Brasil, Gabão, África do Sul, Argentina e Uruguai – em demonstrar de maneira definitiva os fundamentos científicos para justificar a criação do Santuário e a viabilidade de um Plano de Manejo regional para a conservação das baleias, cooperação em pesquisa e promoção do turismo de observação desses animais. A questão em torno de sua criação passou a ser, portanto, eminentemente política.


"Um rápido olhar sobre a lista dos países que votaram contra a proposta deixa claro que o resultado equivale a um rotundo tapa na cara do Brasil "
 
 
Não adiantou. A proposta, colocada em votação na manhã desta terça-feira, recebeu mais uma vez a maior parte dos votos – 38 contra 24 e duas abstenções – mas aquém dos 75% exigidos pela norma da CIB para aprovar medidas de conservação.



Um rápido olhar sobre a lista dos países que votaram contra a proposta deixa claro que o resultado equivale a um rotundo tapa na cara do Brasil e de quem em Brasília achou por bem, uma vez mais, acreditar no mítico e já de longa data falho “soft power” do Brasil, ao invés de falar grosso com parceiros comerciais e geopolíticos importantes e que aqui se prestam ao papel de lacaios do Japão, contra nossos interesses mais diretos na conservação das baleias. 



Que vizinhos como o Suriname votem contra o Brasil, apesar de nossa imensa relação comercial, política, de defesa e outras; que africanos como Tanzânia e Costa do Marfim, aos quais nossos generosos e irresponsáveis políticos estão perdoando centenas de milhões de dólares em dívida sem qualquer reciprocidade palpável, como ao menos apoiar o Brasil em organismos internacionais como a CIB; e que dos aliados tradicionais até mesmo Portugal não tenha se dignado a enviar um representante para votar a favor do Santuário, sendo que a reunião é a apenas algumas horas de Lisboa, de carro, são demonstrações cabais de que ou o tema não tem relevância efetiva, outra vez, para o titular do Ministério de Relações Exteriores (MRE), ou, então, José Serra dormia enquanto Sarney Filho virava a noite fazendo sua parte.


Em resumo, o Ministério do Meio Ambiente fez sua parte pelas baleias, e a alta cúpula do MRE nos deixou com uma imensa interrogação sobre o que de fato foi feito, ainda que Serra tenha se comprometido, há poucas semanas e diante de uma plateia de lideranças ambientalistas, a dar prioridade para o tema.



Sarney Filho retorna ao Brasil com mais um par de vitórias políticas na bagagem. Uma, a de ter feito bonito ao defender ferrenhamente as baleias num foro em que estávamos perdendo a credibilidade pelo improviso que caracterizou participações anteriores durante o defunto regime dilmesco.


Outra, e que pode ser decisiva para a aprovação do Santuário, foi o convite para sediar a próxima Plenária da Comissão no Brasil, em 2018. Isso por um lado dá força política ao Brasil junto à CIB e seus membros para voltar à carga com a proposta, e por outro coloca sob pressão da opinião pública nacional nossa estrutura de Relações Exteriores, para que não permita ao país passar vexame em seu próprio solo com mais uma rejeição da proposta.


Estamos bem posicionados para conseguir, enfim, aprovar o Santuário em 2018, não apenas com um Ministro de Meio Ambiente motivado, mas com um Comissário de larga experiência em negociações internacionais sérias, o Embaixador Hermano Telles Ribeiro, que fez marola aqui na Plenária com sua capacidade de engajar até os japoneses na conversa, coisa para o que se requer um estômago de avestruz. Não precisamos de mais abaixo-assinados nem gestões protocolares do andar de baixo.


Precisamos de efetivo comprometimento de ambos os ministérios envolvidos, a partir de hoje mesmo, pra fazer a coisa acontecer. No mais, se o governo tiver miolos levará a próxima Plenária para a Bahia, mais especificamente para a Praia do Forte, durante a temporada de turismo das baleias jubarte.



Aí sim, entre muito acarajé, negociação e baleias, num processo que comece torcendo o braço desses países traíras que chupam nosso dinheiro e votam com os baleeiros, e termine mostrando ao mundo como as baleias estão influenciando o Ecoturismo na costa da Bahia, contribuindo para melhorar a qualidade de vida de nossas comunidades costeiras, quem sabe a gente possa ganhar essa guerra pelo Santuário, e então agradecer pelo empenho de ambos ministros responsáveis pelo tema, e não apenas um.

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