quinta-feira, 22 de junho de 2017

Com a palavra: Robson Rodrigues, gestor da Floresta Nacional de Brasília


Robson Rodrigues, gestor da Floresta Nacional de Brasília. Foto: Duda Menegassi
Robson Rodrigues, gestor da Floresta Nacional de Brasília. Foto: Duda Menegassi

Prestes a comemorar seu 18º aniversário, a Floresta Nacional de Brasília (DF) está em festa. Motivos não faltam: nos últimos dois anos, a equipe da unidade de conservação (UC) ganhou o apoio dos ciclistas, aliados cheios de disposição. A “turma do pedal” se debruçou sobre a questão do uso público e como melhorar os serviços oferecidos ao visitantes. De lá para cá, ações para dar mais segurança e infraestrutura foram feitas e, nesse sábado (10/06), está programado mais uma cereja do bolo: a inauguração de um circuito demountain bike com 45 quilômetros, todo sinalizado.
Gestor da Floresta Nacional (Flona) desde 2013, o biólogo Robson Rodrigues comemora a consolidação do uso público na unidade, que contabilizou 33 mil visitantes em 2016. “Nós sempre tivemos visitação, principalmente pelo público esportista, corredores e ciclistas, mas o uso público não era prioridade da agenda. Agora, nós estamos tentando virar esse jogo, a partir da aproximação com os nossos principais visitantes: os ciclistas”, lembra Robson. Além de visitar, os ciclistas também decidiram ajudar e se tornaram mão-de-obra voluntária para ajudar na própria implementação do Circuito Flona.
Leia a entrevista que o WikiParques fez com Robson:
WikiParques: Essa é a maior e uma das únicas trilhas de mountain bike implementada e sinalizada em unidade de conservação. De onde surgiu essa demanda?
Robson Rodrigues: Os ciclistas são os principais frequentadores da Floresta Nacional de Brasília. Ano passado, por exemplo, recebemos aproximadamente 33 mil visitantes, que espontaneamente deixaram seu nome no nosso portão principal e, desse total, a grande maioria era ciclista. Os ciclistas já elegeram a nossa área como um ponto local para pedalar, até porque existem poucas restrições na unidade ao pedal. Recebemos muitos ciclistas não só do entorno, aqui de Brasília, mas de todo Distrito Federal. Quando nós percebemos que havia esse interesse natural pela prática do esporte, nós começamos a nos reunir com as principais lideranças dos grupos de ciclismo, para ter uma interface com esse principal visitante e entender quais suas principais demandas, e também o que podíamos fazer conjuntamente. Esse movimento de aproximação e diálogo começou há dois anos. Nosso objetivo era identificar as necessidades e melhorar o serviço prestado pela Flona para eles. Dessa iniciativa surgiu a necessidade de fazer algumas melhorias.
Quais foram as principais reivindicações feitas pelo grupo?
Uma das primeiras reclamações deles foi a segurança. Portanto, fizemos um monte de reuniões com a Polícia Militar e com a Secretaria de Segurança com o objetivo de melhorar a segurança na Flona. Outra reivindicação foi a melhoria da travessia dos córregos na unidade. Para resolver isso, aproveitamos a parceria com os próprios ciclistas para construir duas pontes. Usamos madeira da Flona e a mão-de-obra deles como voluntários, além da contribuição de outras pessoas na compra de materiais para construção como parafuso, rosca e barra rosqueada. Essas duas pontes já foram construídas e foram construídas por eles. Foi um trabalho voluntário que aconteceu de forma espontânea. Hoje, nós oficializamos esse trabalho e a UC entrou no Programa de Voluntariado do ICMBio.
Ciclistas partindo pela trilha na Flona Brasília. Foto: Duda Menegassi
Ciclistas partindo pela trilha na Floresta Nacional de Brasília. Foto: Duda Menegassi

E como começou o processo para implementação e sinalização da trilha de mountain bike?
A Coordenação-Geral de Uso Público e Negócios (CGEUP) também percebeu que a Floresta Nacional de Brasília era um local onde havia esse grande interesse pelo ciclismo e pelo mountain bike, e passou a nos apoiar na implementação desse uso em 2017. Isso significou uma verdadeira mudança de paradigma dentro da Flona. E, com o apoio da CGEUP, decidimos investir na sinalização das trilhas. Esse era um grande problema aqui. Apesar de existirem várias trilhas, não havia sinalização. Um ciclista que conhece bem, anda sem problemas, mas um ciclista novato, ou que está vindo pela primeira vez, ou mesmo que conhece pouco e não tem intimidade com as nossas trilhas, acabava se perdendo. Daí surgiu a ideia de sinalizar. Nós estamos sinalizando um percurso total de aproximadamente 45 quilômetros. Dentro desse circuito maior, existem cinco possibilidades de retorno para sede, o que diminui o trajeto em percursos menores de 30, 20, 11 e 5 quilômetros. Dessa forma, é possível escolher, de acordo com a sua disposição, qual a distância o usuário quer fazer dentro dessa trilha sinalizada, sem risco de se perder e com sinalização de quilometragem ao longo do caminho. Além disso, na entrada o visitante irá receber um folder com o mapa, que ele poderá levar, ou mesmo tirar uma foto com o celular do mapa que ficará exposto na entrada, com todos os percursos.
Essas trilhas já existiam?
Sim. Existem mil possibilidades de trilhas de bicicleta aqui dentro. Nós reunimos os ciclistas para decidir qual trilha iríamos sinalizar. Dessa reunião, nasceu o trajeto que foi sinalizado, o Circuito Flona, como nós estamos chamando. Em seguida, realizamos uma capacitação, ministrada pelo Pedro Menezes, diretor da CGEUP, para que nós entendêssemos a lógica da sinalização, como que ela seria feita, seus princípios e regras; e nivelar o entendimento de todos. No próprio curso, houve uma experiência prática, da qual já saímos com um trecho curto sinalizado. Em meados de abril, começamos os mutirões de sinalização. Nessa semana nós estamos nos retoques finais, colocando algumas placas e mourões onde não havia suporte para colocar seta. A inauguração oficial vai ser no aniversário da Flona, dia 10 de junho (amanhã), e estamos com uma programação extensa para comemorar a data.
Também é possível caminhar por essa trilha? Ela é compartilhada?
Alguns trechos do circuito, como o percurso menor, de 5 km, poderiam ser compartilhados com os pedestres. Até a próxima perna, de 11, talvez também possa ser compartilhada. Mas nós não nos preocupamos muito, porque os demais percursos são mais difíceis de serem compartilhados com caminhantes, por serem mais longos. Mesmo nesse trecho de 5km, onde há essa possibilidade do uso compartilhado, não há muita chance de conflito porque os ciclistas se concentram mais nos finais de semana e os pedestres nos dias de semana, que são quando as escolas trazem seus alunos. Portanto, não chega a haver um conflito de uso da trilha. Mas a ideia é que alguns trechos do circuito possuam sim esse uso compartilhado.
O que caracteriza uma floresta nacional, como categoria de unidade de conservação?
O Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) está dividido em dois grandes grupos: as de proteção integral e as de uso sustentável. A Floresta Nacional é uma UC de uso sustentável. E dentro desse grupo, existem as florestas nacionais localizadas na Amazônia e as do restante do país. Na Amazônia, todas as Flonas têm potencial para extração de madeira por meio de manejo florestal, inclusive muitas concessões já foram realizadas para empresas explorarem a madeira dentro de florestas nacionais amazônicas. As florestas do centro-sul não têm esse potencial madeireiro tão forte para concessão, mas elas permitem plantio de pinus, eucalipto e outras espécies exóticas; permitem você fazer o teste com outras madeiras de interesse comercial para o manejo – nativas ou exóticas; e permitem pesquisa científica, educação ambiental e o uso público, como outras UCs. Ou seja, é uma categoria na qual a grande peculiaridade está nessa possibilidade do manejo madeireiro.
Na Flona existe esse manejo e exploração da madeira?
A Floresta Nacional de Brasília, no momento, não possui nenhum projeto de manejo madeireiro. Nós temos talhões de pinus, talhões de eucalipto e alguns fragmentos de Cerrado, o bioma nativo da região. O pinus e o eucalipto não têm sido manejados, devido a questões administrativas e burocráticas. Porque esses plantios foram herdados pela unidade, eles já existiam no território. E existe um impasse burocrático com relação à posse da madeira, se ela é de posse do ICMBio ou não. Uma frente que tem sido mais trabalhada na Flona é a recuperação de áreas degradadas de Cerrado a partir de um consórcio de técnicas, tradicionais e modernas, como o plantio direto de sementes de espécies nativas.
Silhueta de uma coruja-buraqueira na Floresta Nacional de brasília. Foto: Duda Menegassi
Silhueta de uma coruja-buraqueira na Floresta Nacional de Brasília. Foto: Duda Menegassi

E o uso público, em si, é uma iniciativa recente?
A vertente do uso público sempre esteve presente na Floresta, desde sua criação, principalmente aqui na área 1. Nós sempre tivemos o atleta, o corredor treinando e o ciclista pedalando aqui. Sempre houve esse interesse dos esportistas pela Flona. Mas eu acho que a Flona nunca tratou muito bem esse público. Por vários motivos, como o apelo de outras demandas prioritárias que exigem muito tempo da gestão, como a ocupação irregular do solo. Com isso o uso público ficou um pouco de lado. Agora, nós estamos tentando virar esse jogo. Nos últimos dois anos, essa pauta tem tido mais espaço dentro da unidade a partir da aproximação com os nossos principais visitantes, os ciclistas. E mais recentemente, com o apoio da sede (do ICMBio, em Brasília), conseguimos dar esse salto ainda maior para melhorar a infraestrutura de apoio à visitação. Estamos em busca de atender melhor esse público, projetar mais a Flona e exigir mais atenção do ICMBio para a continuidade que essas ações precisam ter no futuro.
Como tem sido a resposta da sociedade a esse esforço?
A cada ano que passa, a visitação aumenta. Nós temos dados desde 2007-2008, quando iniciamos a contagem, e a visitação só cresce. Esse número é o do visitante que entra pelo portão principal. Mas dada a nossa proximidade com a área urbana, existem pelo menos outras cinco a dez entradas, onde ele entra às vezes por um buraco na cerca, e esse visitante não vai passar pela contagem. Portanto, é seguro dizer que nossa visitação é maior do que os 33 mil visitantes computados. Fora isso, existe o voluntariado. Percebemos que o ciclista que frequenta a Flona com assiduidade, gosta da unidade, então, para ele, ajudar a Flona é uma coisa legal. Há sempre uma resposta muito boa quando propomos um trabalho voluntário. Acredito que esse aumento da visitação, somado ao engajamento dos voluntários, equivale a esse retorno positivo da sociedade sobre a abertura da unidade.
Além do Circuito Flona, que será inaugurado neste sábado (10), existem outros projetos de uso público em vista para o futuro?
Sim, muitas coisas estão surgindo. Nós estamos percebendo esse potencial da Flona. Algo que nós conversamos é a possibilidade de uma área de camping, possivelmente cedida à alguma empresa – não sei. Sabemos até qual seria o lugar, aqui próximo da sede, com acesso de carro. Ter uma área de camping dentro da cidade é uma coisa bacana e para quem visita Brasília, é uma alternativa interessante. Outra possibilidade futura é aumentar esse circuito, alterar o percurso, ampliar os 45 quilômetros, ou mesmo fazer uma nova trilha. Nós estamos com a intenção de sinalizar também um percurso separado para corredores, de 5 e 10 quilômetros. Para isso nós contamos com o apoio do Instituto Joaquim Cruz, um parceiro antigo nosso. O Joaquim Cruz, ganhador do ouro olímpico nos 800 metros em 1984, começou a treinar aqui dentro da Flona.
A Floresta Nacional de Brasília é dividida em quatro setores, esse circuito de mountain bike é apenas em um setor. Como é a visitação no resto da unidade?
Apenas a Flona 1 está aberta à visitação e com o uso público implementado. Na Flona 2 nós lidamos com um problema de assentamento e ocupação irregular. As áreas 3 e 4 são perspectivas para expandir o uso público no futuro.
Legenda: As quatro áreas que compõem a Flona Brasília. É possível observar a proximidade das áreas 1 e 2 com o centro de Brasília. Contornado em verde, o Parque Nacional de Brasília.
Legenda: As quatro áreas que compõem a Flona Brasília. É possível observar a proximidade das áreas 1 e 2 com o centro de Brasília. Contornado em verde, o Parque Nacional de Brasília.

Como é fazer a gestão de um território fragmentado?
É complexa. A gestão de unidades descontínuas não é simples. Nossa base está toda aqui, nossa unidade administrativa está toda aqui, na área 1, e nós precisamos nos deslocar para as outras áreas para conseguir acompanhá-las mais de perto. Isso dá um grau de complexidade à fiscalização, mas nós vamos nos adaptando a essa dificuldade. O interessante é que a Flona está dentro da APA Bacia do Rio Descoberto, que também é uma UC federal. Então a gestão das duas unidades acontece de forma compartilhada, com o mesmo chefe. Isso facilita o trabalho, porque a própria Flona surgiu como uma estratégia de gestão da APA, para proteger as principais nascentes que vertem para o Lago do Descoberto, o principal manancial de abastecimento público do DF.
Qual o tamanho da equipe responsável pela fiscalização das unidades?
Somando a equipe da Flona com a APA [área de proteção ambienta] somos 15. Sendo cinco analistas ambientais, dois da Flona e três da APA. Os demais são técnicos, a grande maioria em vias de se aposentar.
Quais os principais desafios de fiscalização dessa área, até por ela ter essa característica fragmentada?
Nosso principal problema e desafio de fiscalização é a ocupação irregular do solo. A Flona é uma unidade urbana, estamos muito próximos da cidade, e existe uma tendência e tentativa de ocupação irregular da UC. Nós temos mais de 4 mil pessoas morando na área 2 hoje. Na criação da Flona, já havia um assentamento rural, criado pelo GDF (Governo do Distrito Federal). Esse assentamento, até mesmo antes da Floresta ser criada, já sofria pressão para urbanização de alguns lotes e esse problema se agravou com o passar dos anos. A criação da Flona, sobreposta a esse assentamento, não foi suficiente para impedir que o assentamento tivesse seus lotes convertidos em lotes urbanos. Hoje nós temos um problema sério na UC, principalmente na área 2, que é ocupação irregular do solo. Para resolver isso é necessária uma articulação muito estreita com o governo local, porque foram eles que criaram o assentamento. A Justiça Federal, inclusive, deu uma sentença em 2015, em que obriga o GDF a retirar essas ocupações e entregar a área para União, desobstruída. Porque as terras ainda não foram nem repassadas do GDF para União. Dezoito anos já se passaram, desde a criação da Flona de Brasília, e a maior parte das terras ainda estão sob titularidade do GDF.

Instituto Augusto Carneiro: Sobre Tubarões, Baleias e Governos

Sobre Tubarões, Baleias e Governos

Em mais uma Semana do Meio Ambiente, estaremos novamente expostos aos habituais chavões que pululam anualmente diante de nós desde que esta data “comemorativa” foi estabelecida, para que nos lembremos uma vez ao ano daquilo que deveríamos nos lembrar a cada dia e a cada gesto: temos só este planeta para viver, e estamos destruindo sua capacidade de suportar vida de maneira galopante, como se não houvesse amanhã.

Talvez nenhum tema esteja tão longe de nossa lembrança, mesmo nessa semana de reflexão forçada, quanto a conservação dos oceanos. Entretanto, mais do que as florestas tantas vezes decantadas, é deles que dependemos de maneira visceral para continuar existindo. E se, por um lado, tivemos a presciência de evitar a extinção das baleias em décadas recentes, por outro estamos levando muitas outras espécies igualmente relevantes dos ecossistemas marinhos à beira da extinção, através da pesca predatória que continua sem qualquer controle ou gestão, inclusive no Brasil. Espécies pouco simpáticas, porém essenciais ao equilíbrio ecológico dos oceanos, como os tubarões, estão sendo massacradas em nossas águas para atender à exportação de barbatanas para a China, onde viram um prato insosso, porém usado para dar status a eventos ditos tradicionais. 

Não é por nada que dezenas de países já proíbem a matança de tubarões em suas águas, como fizeram também com as baleias. Eles valem mais vivos do que mortos, tanto por suas funções ambientais como pela geração de milhões em ecoturismo. No Brasil, infelizmente, nossos governantes seguem a reboque do lobby da mineração dos recursos pesqueiros, e teimam em nada fazer para estancar a degradação de nosso mar. Talvez os slogans, chavões e campanhas da Semana do Meio Ambiente precisem não apenas falar mais de oceanos, mas sim e principalmente levá-los a uma Brasília que não só não tem mar, mas parece não ter rumo na gestão ambiental.

O genocídio do supérfluo: circo dos horrores no tráfico de fauna

Por José Truda*
Cites
Palco das discussões no Cites. Foto: iisd.
Depois de mais de 30 anos vindo às reuniões da CITES – e de outros tratados internacionais de “uso sustentável dos recursos naturais”, como a Comissão Internacional da Baleia – as pessoas me perguntam por que é que eu fico tão irritado quando falo dessas reuniões. 

É de fato uma pena que outros ambientalistas e gestores ambientais brasileiros não possam assistir em primeira mão o que se passa nessas reuniões, os conchavos de bastidores para atender a objetivos de grupelhos que se beneficiam do abuso sobre as espécies silvestres e ecossistemas, a hipocrisia dos Estados, a inutilidade dos compromissos assumidos por países que não têm a menor intenção de cumpri-los. 


Talvez em nenhum outro instrumento internacional isso fique tão pornograficamente claro como na CITES, que deveria estar protegendo as espécies ameaçadas pelo comércio internacional, e muitas vezes fracassa rotundamente nessa missão, por conta da falta de compromisso de membros proeminentes da comunidade internacional.
Os elefantes tomam boa parte do tempo da CITES, e por boa razão – eles estão sendo exterminados por um fluxo incessante e ilegal de tráfico de marfim para fazer ornamentos cafonas nos países asiáticos, principalmente China, e também para atender a “colecionadores” norte-americanos. 

Apesar da proibição vigente do comércio, a matança continua. Dos elefantes das savanas africanas, 110.000 – cerca de 30% da população ainda existente – foram exterminados nos últimos anos apesar das proibições de comércio em muitos dos países de distribuição da espécie. 

O relaxamento escandaloso dos controles alfandegários nos países consumidores é o grande responsável desse verdadeiro massacre que se processa a olhos vistos e apesar de diferentes iniciativas para estancá-lo. Estão em discussão nesta Conferência propostas de alguns dos países do sul da África – Namíbia, Zimbabwe e África do Sul para retomar o comércio legalizado de marfim, o que só serviria para aumentar a pressão sobre os elefantes e dar cobertura a um contrabando ainda maior. 

Felizmente, as primeiras propostas nesse sentido já estão sendo rejeitadas, em antecipação de um grande debate que será realizado na próxima segunda-feira sobre este tema e outro ainda mais escabroso, o tráfico de chifres de rinocerontes para a ridícula e ineficiente “medicina tradicional” chinesa. O que fazer, entretanto, para acabar com o comércio ilegal? 

Ninguém parecer ter a resposta o querer investir os recursos necessários, e por enquanto de concreto apenas as atitudes louváveis dos governos como Quênia que estão queimando seus estoques de marfim para evitar que a expectativa da retomada de algum comércio legal aumente ainda mais a mortandade de elefantes para estocá-lo com vistas à venda futura.
Ccalau-de-capacete. Bico é usado como ferramenta para esculturas. Foto: Doug Janson/Wikipédia.
Ccalau-de-capacete. Bico é usado como ferramenta para esculturas. Foto: Doug Janson/Wikipédia.
É preciso notar, entretanto, que não apenas as espécies mais icônicas como elefantes, rinocerontes e tubarões estão sendo ameaçadas pela bestialidade da demanda absolutamente irracional de partes de animais para alimentar ora a vaidade, ora a taradice, ora a ignorância humana. 

Vejamos por exemplo o caso dos calaus – belíssimas aves da família Bucerotidae, cuja distribuição é restrita às florestas tropicais da África, Ásia, Filipinas e parte da Melanésia. Como todos os animais de médio ou grande porte encarcerados nos ambientes naturais restantes num planeta com 9 bilhões de macacos pelados predadores, os calaus já enfrentavam problemas de conservação pela destruição de habitats e caça (ah sim, as tais “comunidades tradicionais” que geram as florestas vazias com sua depredação). 

Aí algum desgraçado descobriu que o bico massivo característico de uma espécie em particular, o calau-de-capacete, podia ser entalhado como um substituto muito similar do marfim de elefantes. Foi o que bastou para os traficantes e contrabandistas chineses se atirarem sobre os calaus, causando uma hecatombe sem precedentes nas suas populações. 

Como muitas espécies que acabam sendo engolidas pelas máfias chinesas do tráfico de fauna, a CITES parece impotente para salvar esta do massacre. Sabendo-se impotente e talvez na esperança de algumas migalhas de controle, a Secretaria da CITES faz salamaleques bizarros para o governo chinês, elogiando seu “compromisso com a conservação”, o que soa a nós, pagantes de impostos que sustentamos essa Secretaria, como uma piada de muitíssimo mau gosto.

Quase ninguém fora da África e partes da Ásia austral já ouviu falar nos pequenos e simpáticos pangolins, um equivalente ecológico dos tatus neotropicais. Com espécies distribuídas em partes da Ásia e África, era até recentemente um gênero impactado de maneira esporádica por caça e perda de habitat. 

Agora, os pangolins tornaram-se os mamíferos mais traficados no mundo para atender aos gananciosos que o vendem e aos imbecis que o compram para a vigarice da medicina “tradicional” chinesa e para artesanatos de muito mau gosto feitos com suas escamas corporais. A aprovação das propostas que proibiram todo o comércio internacional de pangolins foi a primeira grande boa notícia da Conferência. A China, claro, falou contra, mas não prevaleceu.

Não obstante a Ásia, em particular o eixo do mal China-Japão, seguir na dianteira global absoluta como malfeitores do tráfico de espécies ameaçadas, coletores de “curiosidades” da Natureza do mundo inteiro concorrem para o genocídio de plantas e animais que cometeram o desatino evolutivo de serem coloridos, exóticos ou raros. 

É assim que colecionadores (ou melhor dito, receptadores) do mundo inteiro estão causando o desaparecimento dos Nautilus, moluscos oceânicos de profundidade cujas conchas vistosas encantam quem têm o privilégio de observar esses animais no mar – e infelizmente despertam a cobiça de quem quer observá-los numa estante. Atualmente, dezenas de milhares de conchas são traficadas internacionalmente. Por isso mesmo está em pauta aqui a restrição ao seu comércio.
E segue o debate sobre os tubarões e raias, com a expectativa de se votar no final de semana as propostas para restrição ao comércio internacional dos tubarões-raposa, tubarão-sedoso e raias-móbula. Para reforçar a importância das propostas, os países insulares dos oceanos Índico e Pacífico – Maldivas, Sri Lanka, Fiji e outros – fizeram um seminário excelente demonstrando a importância econômica dos usos não-extrativos dos tubarões e raias através do Mergulho e Ecoturismo, e também a sua importância cultural para os diferentes povos dessas regiões. 

Finalmente, essa Convenção dominada por interesses de traficantes de animais mortos e plantas arrancadas está começando a escutar, e a reconhecer, os direitos daquelas comunidades e países que vivem da conservação esclarecida, e não da depredação irresponsável, da biodiversidade. Isso tem uma imensa importância para o futuro da conservação, porque em geral a CITES e outros tratados apenas escutam o mimimi sobre livelihoods de quem faz demagogia pseudo-social para justificar a matança das espécies selvagens. 

Graças aos corajosos ilhéus e, imodestamente, a alguns gatos-pingados como nós, que através do Divers for Sharks estamos buzinando a paciência nessas reuniões desde 2010 com a importância dos usos não-extrativos, agora essa bobajada não é mais unânime nem hegemônica.

Para nossa satisfação, a delegação brasileira segue tendo uma atuação bastante vigorosa e vocal a favor da conservação, em particular das espécies mais ameaçadas e reforçando, a partir da política de Estado brasileira, que a biodiversidade tem outros valores sócio-econômicos que não apenas o tráfico de espécies. Pela primeira vez em 31 anos de CITES ouvi um diplomata brasileiro falar aqui da importância do Ecoturismo. O período de mutismo de conveniência no tocante a nossa responsabilidade para com outras espécies que não apenas as nossas parece, enfim, ter acabado, e isso é muito bom.

Ainda há vários dias de CoP17 da CITES para que as coisas dêem errado para as espécies ameaçadas pelo tráfico. Mas felizmente tem muita gente empurrando pra dar certo. Veremos o que acontece como resultado do choque de interesses que fazem subir a poeira nos acarpetados salões por onde, apesar da companhia de algumas das mais importantes figuras do ativismo ambiental global, somos obrigados também a passar por alguns dos mais abjetos canalhas da devastação ambiental e resistir ao ímpeto de dar-lhes o que merecem, ao menos uma vez. Noto que a cada reunião o ímpeto é maior e a resistência a fazê-lo, menor. Acho que é hora de me aposentar disso.

*Jardineiro, indignado e Vice-Presidente do Instituto Augusto Carneiro.

Criminosos envenenam dez elefantes no Zimbabwe

Por Sabrina Rodrigues
O extermínio de elefantes na África é alimentado pelo tráfico ilegal de marfim. Foto: Joepyrek/Flickr.
O extermínio de elefantes na África é alimentado pelo tráfico ilegal de marfim. Foto: Joepyrek/Flickr.
Dez elefantes foram encontrados envenenados no Parque Nacional de Hwange, a maior reserva de vida selvagem do Zimbabwe. Seis elefantes foram encontrados mortos na parte sul do parque e quatro foram encontrados na região norte da unidade de conservação. Alguns animais tiveram as suas presas removidas.
Segundo o jornal britânico The Guardian, o crime aconteceu na semana passada. Um balde de veneno foi encontrado perto da cena do crime. Três prisões foram feitas durante o fim de semana. Um dos presos estava em posse de marfim.
O extermínio de elefantes na África é alimentado pelo tráfico ilegal de marfim, utilizado para fazer ornamentos nos países asiáticos e também para atender “colecionadores” norte-americanos.
Não é a primeira vez que elefantes são envenenados no Zimbabwe. O primeiro caso conhecido de envenenamento de elefantes aconteceu também no Parque Nacional de Hwange, num massacre que vitimou mais de cem elefantes em 2013. De lá para cá, esse tipo de crime se tornou comum em todas as áreas protegidas do país.
Mesmo com uma política de governo do Zimbabwe, que orientou os guardas-florestais a atirarem, caso encontrem qualquer caçador furtivo dentro de um parque nacional, isso não tem sido o suficiente para inibir os criminosos, que chegam a comercializar uma única peça de marfim por £ 250 euros, o que hoje dá em torno de R$ 930 reais.

Níveis de metais na água aumentaram no rio Doce, aponta estudo

Por Sabrina Rodrigues
Sobrevoo da região de Bento Rodrigues. Seis meses após a tragédia, cenário continua igual. Foto: ASCOM/MMA.
Sobrevoo da região de Bento Rodrigues, realizada em maio de 2016. Seis meses após a tragédia, cenário continua igual. Foto: ASCOM/MMA.
Nesta quarta-feira (21), pesquisadores das universidades federais do Espírito Santo (UFES), do Rio Grande do Sul (FURG), da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e representantes da diretoria de Pesquisa, Avaliação e Monitoramento da Biodiversidade (Dibio), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) apresentaram os resultados das três expedições de monitoramento dos impactos da lama de rejeitos da barragem do Fundão, em Mariana (MG), sobre a zona costeira e estuarina. O encontro aconteceu no auditório do ICMBio, em Brasília, às 14h30.
Na apresentação, os pesquisadores fizeram um balanço dos relatórios com os resultados das expedições, assim como das notas e informações técnicas emitidas pelo ICMBio, avaliando a situação atual da região.
O professor da UFES, Alex Bastos, da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), afirmou que o desastre em Mariana foi o maior do mundo em volume de rejeitos deslocados e que, para além dos efeitos agudos sentidos imediatamente após o episódio, como a contaminação do pescado, foram observadas alterações ambientais crônicas.
Pesquisadores apresentam o resultado de três expedições para monitorar o acidente da Samarco. Foto: Divulgação/ICMBio.
Pesquisadores apresentam o resultado de três expedições para monitorar o acidente da Samarco. Foto: Divulgação/ICMBio.
Para a avaliação, os pesquisadores coletaram amostras da pluma de sedimentos e realizaram vários testes em laboratório para detectar o grau de contaminação da água com metais pesados. "O que a gente viu depois de mais de um ano de dados coletados foi que quando o rio aumentou o seu nível, nós tivemos um aumento, um retorno de altos teores de ferro e alumínio. Da mesma maneira, os índices que a gente mede dessa comunidade planctônica... eles nunca retornaram a valores prévios ao acidente em termos de riqueza, diversidade", afirmou Bastos.
Em 05 de novembro de 2015, houve o rompimento das barragens de rejeitos da mineradora Samarco – de propriedade da multinacional brasileira Vale e da australiana BHP Billiton –, na região de Mariana (MG). O maior desastre ambiental que se tem notícia no Brasil afetou 39 cidades, que vão de Minas ao Espírito Santo. O rompimento das barragens provocou o vazamento de milhões de metros cúbicos de lama de rejeitos de minério e ainda resultou na morte de 19 pessoas e na destruição do distrito de Bento Rodrigues.
O trabalho envolveu também a participação do Ibama e do Instituto Estadual de Meio Ambiente (Iema) do Espírito Santo, que se uniram aos pesquisadores das três universidades para monitorar a lama de rejeitos que chegou à foz do Rio Doce, no litoral capixaba, e se espalhou por centenas de quilômetros da costa, ameaçando, inclusive o banco de Abrolhos, na Bahia.
Os dados reunidos pelos pesquisadores serão reunidos num relatório que deverá ser finalizado em aproximadamente duas semanas.

A cada dois dias, um Ibirapuera de Mata Atlântica desaparece

Por Vandré Fonseca
Desmatamento no bioma cresceu quase 60% em 2016 em comparação com o resultado anterior. Bahia foi o estado que mais desmatou, com mais de 12 mil hectares. Foto: Ibama/BA.
Bahia foi o estado que mais desmatou a Mata Atlântica em 2016. Foto: Ibama/BA.

O equivalente a 183 parques do Ibirapuera de florestas foi destruído, no bioma mais ameaçado do país, entre 2015 e 2016.  Os novos dados do Atlas da Mata Atlântica, divulgados nesta segunda-feira (29), indicam que 29.075 hectares dessas florestas foram desmatados no período, contra 18.433 hectares no ano anterior, um aumento de 57,7%.
Atlas é uma iniciativa da Fundação SOS Mata Atlântica e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e apresenta as taxas de desmatamento no bioma registradas desde 1985. Ao longo desses 32 anos, foram perdidos mais de 1,9 milhões de hectares de florestas no bioma. Os novos dados indicam uma reversão na queda no desmatamento que vinha sendo registrada nos últimos anos.
Na avaliação do diretor de Políticas Públicas da Fundação SOS Mata Atlântica, Mario Mantovani, a elevação nas taxas de desmatamento é resultado do avanço da agropecuária e silvicultura sobre a floresta, incentivada pelas mudanças impostas pelo Código Florestal e momento político do país. Os números do ano passado são os maiores desde o período entre 2005 e 2008, quando a taxa média anual de desmatamento foi pouco maior do que  34 mil hectares.
Em uma ano, 183 Parques Ibirapueras foram derrubados na Mata Atlântica. Foto: Wikipédia.
Em uma ano, 183 Parques Ibirapueras foram derrubados na Mata Atlântica. Foto: Wikipédia.
“Começou uma resistência, num momento muito crítico do governo, em que o Meio Ambiente passou a ser usado como moeda de troca de acordos com bancadas”, afirma Mantovani. “O ambiente institucional ficou vulnerável. Com a depressão econômica também fica mais vulnerável a questão dos recursos naturais, eles são mais demandados”, completa.
Mas, para Mantovani, o desmatamento na Mata Atlântica não tem se convertido em aumento na produção. Ele afirma que, graças a possibilidades abertas pelas mudanças no Código Florestal, pastos e silvicultura avançam sobre a floresta para consolidar o uso da terra, em vez melhorar a produtividade. Ele cita a Bahia, que triplicou a área de floresta derrubada em relação aos dados anteriores e ficou o triste título de estado campeão em área desmatada na Mata Atlântica.
No maior estado do Nordeste, foram desmatados 12.288 hectares entre 2015 e 2016, contra 3.997 hectares no período anterior, crescimento de 207%. A região mais afetada é o sul da Bahia, onde estão os municípios com a maior taxa de mata destruída, Santa Cruz Cabrália e Belmonte, com 3.058 hectares e 2.119 hectares, respectivamente.
“Os nove municípios dessa região tem 62% de área com pasto muito ruim, de baixa produtividade, tem 12% de silvicultura, no entanto, não teve gente melhorando pasto, melhorando a condição de uso do solo”, destaca. “Você tem uma corrida para a floresta, para a mata, com isso você tem um aumento do problema de água, o desmatamento sem controle, colocando em risco inclusive a produção nesta região.”
Minas Gerais, que liderou o ranking em sete das últimas nove edições, desta vez ficou na vice-liderança, com 7.410 hectares. A situação continua a preocupar na região que tem sido alvo do maior desmatamento na Mata Atlântica em anos mais recentes, o Vale do Jequitinhonha. Segundo a Fundação SOS Mata Atlântica, a produção de carvão naquela região tem sido substituída pela silvicultura. Apesar da mudança na atividade, a floresta continua a ser derrubada.
O mapa da destruição na Bahia. Crédito: Divulgação/Atlas.
O mapa da destruição na Bahia. Crédito: Divulgação/Atlas.
No Estado de São Paulo, que registrou um aumento de mais de 1400% no desmatamento, o ser humano foi inocentado. As causas para esse incremento assustador, segundo os responsáveis pelo levantamento foram fenômenos da natureza, como vendavais e tornados que atingiram municípios de Jarinu, Atibaia, Mairinque, São Roque e Embu-Guaçu em junho do ano passado.
Mas no vizinho estado do Paraná, a situação é grave. Para Mantovani, as Araucárias estão entre as fisionomias mais ameaçadas da Mata Atlântica, com apenas 3% da área original. “No entanto tem dois ou três projetos no Congresso Nacional para manejar araucárias nativas. Isso não tem cabimento, você está conseguindo destruir o código genético desta espécie, que conseguiu atravessar eras geológicas”, lamenta.
Para o diretor da Fundação SOS Mata Atlântica, ao aumentar a área desmatada, o Brasil está colocando em risco rios, justamente em um momento em que o país vive crise de água, e ameaçando também m29etas que o país assumiu em Paris, que prevêem entre outras coisas redução no desmatamento e recuperação de áreas degradadas.
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Mata Atlântica: estudo indica onde investir para conservar melhor

Por Vandré Fonseca
Espécies encontrada na Mata Atlântica. Uma nova abordagem sobre o custo-benefício para a conservação de anfíbios ajuda a identificar as áreas prioritárias para a conservação em um dos biomas mais diversos e ameaçados do planeta. Foto: Campos et. /Science Advances.
Espécies encontrada na Mata Atlântica. Uma nova abordagem sobre o custo-benefício para a conservação de anfíbios ajuda a identificar as áreas prioritárias para a conservação em um dos biomas mais diversos e ameaçados do planeta. Foto: Campos et. /Science Advances.
Manaus, AM – A proteção de áreas altamente prioritárias para a biodiversidade de anfíbios na Mata Atlântica, mas que estão fora de Unidades de Conservação, custaria U$ 26,5 milhões (cerca de R$ 88 milhões) por ano. A estimativa é apresentada em um artigo publicado nesta quarta-feira (21 de junho) na revista  Science Advances, assinado pelo biólogo brasileiro Felipe Siqueira Campos e outros três pesquisadores.
Esse investimento poderia proteger 90% da biodiversidade de anfíbios do bioma, levando em consideração também outros critérios, além da variedade de espécies. O estudo leva em consideração a diversidade filogenética, que demonstra a distância evolutiva, e também a funcional, que inclui características morfológicas, ecológicas e fisiológicas das espécies.
O mapeamento apresentado no estudo indica que a maior diversidade funcional e filogenética de anfíbios a Mata Atlântica está na porção leste do bioma, da região central em direção ao nordeste. As áreas consideradas de mais alta prioridade estão principalmente nos estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo e São Paulo. A Mata Atlântica abriga mais da metade dos anfíbios encontrados no Brasil, mas apenas 12,9% dela está preservada.
Estudo leva em consideração não apenas a diversidade de espécies, mas também características genéticas que elas carregam e funções biológicas, como a morfologia. Foto: Campos et. /Science Advances.
Estudo leva em consideração não apenas a diversidade de espécies, mas também características genéticas que elas carregam e funções biológicas, como a morfologia. Foto: Campos et. /Science Advances.
Segundo os autores, a soma desses critérios ajuda a compreender melhor o que pode ocorrer com a biodiversidade no futuro. “A utilização simultânea de diversidade funcional, filogenética e taxonômica pode ajudar a prever os efeitos de competição e filtragem ambiental nas comunidades ecológicas”, afirma Felipe Campos, que há quatro anos está na Espanha cursando doutorado na Universidade de Barcelona.
No estudo, os pesquisadores apresentam três modelos para representar a máxima biodiversidade (50%, 70% e 90%) que poderia ser protegida com o menor custo possível. Foram consideradas apenas áreas fora de unidades de conservação e que abrigavam pelo menos uma espécie ameaçada.
Eles concluíram que um total de 1.995,28 quilômetros quadrados de Mata Atlântica devem ser considerados como de alta prioridade para a conservação. De acordo com o estudo, hoje existem 9.309 quilômetros quadrados de áreas protegidas na Mata Atlântica (2.316,74 quilômetros quadrados de uso restrito).
O cálculo leva em consideração um estudo publicado na revista Science em 2014, que apontou o valor de US$ 13.227,00 anuais a serem pagos em média por serviços ambientais para cada quilômetro quadrado de Mata Atlântica preservada. “É um valor pequeno anual, que pode vir de um incentivo fiscal do governo ou uma ong ou empresa privada, que pode pagar por compensação ambiental”, acredita o biólogo brasileiro.

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Valor Econômico – WEG entra no segmento de geração solar e eólica nos Estados Unidos

Victória Mantoan | De São Paulo

A multinacional brasileira WEG anunciou ontem mais uma aquisição nos Estados Unidos. Dessa vez foi a compra da CG Power USA. A aquisição faz parte da sua estratégia de internacionalização do negócio de geração, transmissão e distribuição (GTD) de energia elétrica. A companhia de Santa Catarina acertou a compra de uma fabricante de transformadores para atender o mercado americano de energia renovável, notadamente os projetos de geração eólica e solar.


Por US$ 37 milhões, a expectativa é de que o negócio seja fechado até o fim do próximo mês. Com a nova operação, o diretor financeiro da WEG, André Luis Rodrigues, destaca que a empresa passa a fornecer para um segmento onde praticamente ainda não tinha atuação nos Estados Unidos.

Além de avançar nesse mercado, o movimento traz a vantagem de colocar a brasileira como uma fabricante de transformadores nos Estados Unidos, o que a protege de uma eventual taxação da administração Donald Trump sobre produtos importados. Hoje, os transformadores vendidos para os EUA vêm da unidade do México, mas ainda não havia permeabilidade no mercado de renováveis.

O avanço sobre novas fronteiras de tecnologia e mercado via pequenas aquisições é estratégia recorrente da WEG e, de acordo com o executivo, essa compra não encerra o ciclo de aquisições do grupo. "A WEG sempre continua olhando as oportunidades", disse Rodrigues.

Apenas no ano passado foram três aquisições, que vão do segmento de motores elétricos a GTD, no Brasil e no exterior. Com a compra da Northern Power System (NPS), anunciada em outubro de 2016, a WEG passou a ser proprietária de uma carteira de patentes, projetos e softwares para manutenção de aerogeradores. Pela primeira vez, uma área de engenharia não tem como sede o Brasil.

Além disso, adquiriu a fabricante de motores elétricos Bluffton Motor Works. As duas aquisições nos EUA. No Brasil, assumiu o controle da TGM, fabricante de equipamentos para acionamentos de geradores também com foco em energia renovável, neste caso eólica e termelétrica.

No primeiro trimestre deste ano, o mercado externo representou 54% da receita operacional líquida da WEG, um total de R$ 1,14 bilhão. Isso inclui tanto exportações a partir do Brasil quanto as vendas feitas a partir de unidades fabris no exterior.

O valor representa uma queda de 20% em relação ao visto no mesmo período de 2016, porque medido em reais. Em dólares, a receita da WEG lá fora ainda cresceu 0,1%. Apenas o segmento de GTD foi 27,4% da receita.