sexta-feira, 12 de maio de 2017

Folha de S. Paulo – Estudo revela florestas 'escondidas' que equivalem a uma Amazônia

MEIO AMBIENTE E ENERGIA




RICARDO BONALUME NETO
DE SÃO PAULO

Uma extensa equipe internacional de 31 pesquisadores em 13 países analisou dados de satélites e concluiu que a Terra tem 9% mais florestas do que se estimava. Estes 4.270.000 km² de floresta até agora "escondidos" têm metade da área territorial do Brasil e equivalem à toda a floresta amazônica.
É uma boa notícia para a ciência melhorar a compreensão da dinâmica e potencial dos sorvedouros de carbono terrestres como as florestas, apesar de o problema ambiental básico continuar o mesmo.


O planeta continua passando por uma mudança climática global, que é acelerada pela emissão de carbono por atividades industriais e agrícolas humanas.
O novo estudo procurou descobrir se as zonas áridas também abrigariam trechos de florestas. Essas regiões mais secas se caracterizam por apresentar uma precipitação (chuva) que é contrabalanceada pela evaporação de água das superfícies e pela transpiração das plantas.


"Os biomas das zonas secas cobrem cerca de 41,5% da superfície terrestre. Elas contêm alguns dos ecossistemas mais ameaçados, embora desconsiderados, incluindo sete dos 25 hotspots de biodiversidade, enquanto enfrentam a pressão das mudanças climáticas e da atividade humana", escreveram os autores do estudo na revista científica americana "Science".


Entre os "hotspots", "pontos quentes" de diversidade animal e vegetal, está o semiárido brasileiro, caracterizado por regiões como o cerrado e a caatinga.

O mapeamento da cobertura vegetal em áreas semiáridas no Brasil ficou a cargo de pessoal do Instituto Nacional do Semiárido (Insa) em parceria com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).


A participação brasileira integrou o projeto Global Forest Survey (Pesquisa Florestal Global) da organização e foi coordenada no país pelo analista da FAO, o brasileiro Marcelo Rezende, um dos coautores do estudo na "Science". Ignacio Salcedo, do Insa, também está entre os autores, mas ele morreu no mês passado, antes da publicação do estudo. O projeto procura mapear as dinâmicas de florestas para entender mudanças no uso da terra.


"Para coletarmos dados sobre biomas tão diferentes nas terras áridas, trabalhamos com diversos institutos ao redor do mundo. O melhor formato para essa colaboração é a transferência de conhecimento técnico entre a FAO e o parceiro. Collect Earth, a ferramenta gratuita desenvolvida pela FAO e utilizada na coleta de dados foi apresentada para o Insa em um workshop em 2015", declarou Rezende à Folha.


Mais de vinte participantes foram selecionados pelo Insa e treinados no uso dessa nova ferramenta, na metodologia de avaliação e ao mesmo tempo auxiliaram no estudo das terras áridas. "Os participantes eram, em sua maioria, estudantes de graduação e pós-graduação da região, que conheciam bem as formações vegetais do cerrado e da caatinga. Alguns professores também participaram do treinamento", afirma o consultor da FAO.


Segundo Rezende, "as informações geradas vão contribuir para a elaboração de medidas de conservação e proteção mais assertivas, levando em consideração a real extensão e condições das formações vegetais do cerrado e da caatinga".
As estimativas prévias de área florestal em regiões de semiárido variavam muito em função de diferentes graus de precisão das imagens de satélite –diferenças na sua "resolução espacial"–, enfoques de cartografia e mesmo a definição daquilo que constitui uma floresta.


"Dados anteriores a nível global eram baseados em imagens de satélites de média e baixa resolução, que nem sempre captavam as características da vegetação esparsa das formações vegetais do semiárido. Collect Earth faz uma ponte entre várias plataformas disponíveis gratuitamente pela Google e coloca a disposição do usuário imagens de altíssima resolução e acesso a um catalogo de imagens históricas para uma precisa avaliação da área", afirma o pesquisador brasileiro.


Um hectare (ha) é uma unidade de medida de área que equivalente a 10.000 m² –um terreno na forma de um quadrado de cem metros de cada lado. Um campo de futebol típico tem em torno de 7.000 ou 8.000 m² –ou exatos 7.140 m², no caso dos campos padronizados para o Campeonato Brasileiro.
Para entender a extensão das florestas, a unidade usada é o Mha –isto é, um milhão de hectares.


"Nossa estimativa é 40 a 47% maior do que as estimativas anteriores da extensão da floresta em terras secas. Isto potencialmente aumenta em 9% a área global com mais de 10% cobertura de copas de árvore [5.055 Mha em vez de 4.628 Mha] e por 11% a área global de floresta [4.357 Mha em vez de 3.890 Mha]", escreveu a equipe coordenada por Jean-Francois Bastin, da Universidade Livre de Bruxelas, Bélgica, e também da FAO.
A diferença destes 9% a mais –427 milhões de hectares ou 427.000.000.000.000 m² (427 trilhões de m²)– equivale a mais de 59,8 bilhões de campos de futebol. Cada um dos 7,2 bilhões de habitantes da Terra teria direito a uma área de floresta "escondida" do tamanho de 8,3 campos de futebol.

"Você precisa entender que comparamos nossos resultados com diferentes mapas e relatórios existentes. Portanto, tivemos que adotar, para cada comparação, a mesma definição de 'floresta' do que esses relatórios", afirmou Bastin.
"Alguns mapas estão usando apenas o limite de cobertura de árvores para definir a cobertura florestal. Este é o caso, por exemplo, dos dados de Matt Hansen. Usando o limite de 10%, ele estima uma área total de 4.628 Mha onde temos 5.055Mha. Isto corresponde a um aumento de 9%", disse Bastin à Folha.


"Alguns mapas estão usando o limiar de 10%, mas também estão certificando-se de que essas árvores não são parte de qualquer área de cultivo ou povoação. Este é o caso, por exemplo, dos dados do estudo Global FRA Remote Sensing. Eles relatam 3.890 Mha onde relatamos 4.357 Mha. Isso corresponde a um aumento de 11%", continua o pesquisador da Bélgica.


Algumas regiões tiveram florestas "escondidas" de tamanho inesperado. "Você vai ver que a maior parte das diferenças são encontráveis na África e Oceania; os números são muitas vezes dobrados", diz Bastin.
"Essas diferenças são como a área total de floresta úmida tropical na Amazônia", conclui a equipe.


Segundo Bastin, as descobertas não mudam nada em relação ao acúmulo de dióxido de carbono na atmosfera.
"Mas muitos cientistas que trabalham no orçamento de carbono destacam que faltam alguns sumidouros de carbono que ainda precisam ser identificados e quantificados para equilibrar o ciclo do carbono. Nossos resultados estão, portanto, trazendo novos elementos aqui", diz o pesquisador.


"Além disso, nossos resultados mostram que as terras secas são muito mais adequadas para a floresta do que aquilo que pensávamos anteriormente. Portanto, e como não há competição por outras atividades, como terras de cultivo intensivo, isso significa que essas áreas consistem em grandes oportunidades para a restauração florestal. Nossos dados ajudarão a avaliar áreas adequadas para a restauração florestal, para combater a desertificação e, portanto, para combater as mudanças climáticas", afirma Bastin.

Plantas brasileiras recém-descobertas já correm risco de extinção




Plantas brasileiras recém-descobertas já correm risco de extinção. Entrevista especial com Renato Goldenberg


Plantas brasileiras recém-descobertas já correm risco de extinção
Foto: IHU

IHU



Apesar de a biodiversidade brasileira ser conhecida no mundo todo como a mais rica e diversificada do planeta, ainda existem enormes dificuldades e desafios quando se trata de conhecer a flora de regiões como o Sul da Bahia, o Espírito Santo e a Amazônia, diz o engenheiro agrônomo e biólogo Renato Goldenberg à IHU On-Line, na entrevista a seguir, concedida por telefone.



Pesquisador do projeto “Diversidade da flora vascular e status de conservação das espécies endêmicas em três unidades de conservação da Floresta Atlântica Montana no estado do Espírito Santo”, Goldenberg tem pesquisado e classificado novas espécies de plantas no Espírito Santo e afirma que mesmo espécies recém-descobertas já correm risco de extinção. Segundo ele, isso ocorre, de um lado, porque há dificuldades em estudar as plantas dessas regiões, visto que o “histórico de coletas é muito pobre” se comparado a grandes centros como São Paulo e Rio de Janeiro e, de outro, porque as espécies descobertas “ocorrem em uma área intensamente habitada na periferia da região metropolitana de Vitória, e é muito difícil conservar qualquer espécie da biodiversidade em regiões como essa por conta da superpopulação”.



Na entrevista a seguir, Goldenberg também comenta a necessidade de se pesquisar a biodiversidade da Amazônia e do Cerrado. “É mais urgente estudarmos a flora da Amazônia, justamente porque não a conhecemos completamente. De outro lado, em razão da taxa de destruição, é urgente estudarmos o Cerrado, porque em meio século ele deixará de existir”, aconselha. Apesar dessa demanda, frisa, “agora existe o risco de não conseguirmos tocar os projetos” por conta da crise brasileira.

Renato Goldenberg | Foto: UFPR
Renato Goldenberg é graduado em Engenharia Agronômica pela Universidade de São Paulo – USP, mestre e doutor em Biologia Vegetal pela Unicamp. Atualmente é professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ.


Confira a entrevista.



IHU On-Line – Como está sendo feita a sua pesquisa de identificação e classificação de novas plantas em três unidades de conservação no Espírito Santo? Essa pesquisa se restringe a áreas do Espírito Santo ou envolve outras regiões do país?
Renato Goldenberg – O projeto do qual essa pesquisa faz parte foi financiado pela Fundação Grupo Boticário da Natureza em 2008. O projeto financiou a coleta, por parte da nossa equipe, de plantas em três Unidades de Conservação – UCs no Espírito Santo. Depois que essas plantas são coletadas, há um longo processo de maturação e identificação de todas elas, justamente porque a identificação das espécies é muito demorada. Uma planta coletada em 2009, por exemplo, há sete anos, fica num herbário pelo qual passam especialistas do mundo todo. No Brasil, em geral, essas plantas ficam no herbário do Jardim Botânico do Rio de Janeiro.



Para saber se uma determinada espécie de planta é nova ou não, primeiro temos que ter acesso a toda a bibliografia já publicada sobre esse gênero, e isso inclui analisar os materiais fundadores, ou seja, trabalhos sobre tipos nomenclaturais publicados em francês, em 1850, em inglês, em 1871, e em latim, em 1828, os quais nos permitem identificar as famílias das plantas. A maior parte desses trabalhos não está no Brasil e essa é uma grande dificuldade que temos ao trabalhar com diversidade, justamente porque as primeiras espécies descobertas no Brasil foram descritas no final do século passado, e os primeiros coletores e botânicos não eram brasileiros, mas alemães, franceses, ingleses ou norte-americanos. Logo, os tipos nomenclaturais estão listados no exterior e a pesquisa sobre a identificação de novas espécies se torna mais difícil.



Para saber se a espécie de uma planta é nova, tenho que compará-la com toda a bibliografia existente, ou seja, não pode ser com 99% da bibliografia, mas com 100%. Além disso, é preciso comparar todos os tipos nomenclaturais, e com base nessas comparações chegamos à conclusão de se a espécie é nova ou não. Apesar de todo esse processo, nossa finalidade não é descrever uma espécie nova, e sim compreender quais são as espécies que existem.


Biodiversidade desconhecida

 

 

Feita essa explicação inicial sobre como funciona o processo de descobrir e descrever novas espécies, posso dizer que a Mata Atlântica é um ambiente biodiverso e algumas regiões da Mata Atlântica são mais bem amostradas do que outras regiões do país, justamente porque toda a região do Rio de Janeiro, principalmente a que está localizada atrás dos morros cariocas, foi o primeiro lugar em que se começou a coletar espécies no Brasil. O Rio de Janeiro tem dois dos cinco maiores herbários do país. Do mesmo modo, São Paulo e os estados do Sul têm várias universidades que possuem herbários importantes. O problema começa justamente quando queremos conhecer a biodiversidade de estados como o Espírito Santo ou de regiões como a do sul da Bahia, que são lugares extremamente diversos desses estados que mencionei anteriormente e onde o histórico de coletas é muito pobre.



A verdade é que nós botânicos – e com isso vou fazer uma autocrítica -, costumamos sempre coletar as espécies nos mesmos lugares, o que dificulta a descoberta de novas espécies


Sabemos que existem diversas espécies restritas que ocorrem só nesses lugares e que nunca foram coletadas. Logo, tentando responder a sua pergunta, a pesquisa foi realizada no Espírito Santo justamente para tentar identificar a biodiversidade da região. Entretanto, o ritmo de descrição das espécies novas é proporcional ao conhecimento da flora. Assim, a quantidade de espécies novas descritas para São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul é superbaixa, enquanto a quantidade de novas espécies existentes no Espírito Santo e na Bahia é enorme. Nos últimos 15 anos pesquisando a biodiversidade do Espírito Santo, só eu, trabalhando individualmente com uma família, já descrevi entre 20 e 30 espécies. Na Bahia, por exemplo, também foram encontradas entre 20 e 30 novas espécies.




IHU On-Line – Que outras regiões do Brasil ainda são potenciais para o descobrimento de novas espécies, além da Bahia e do Espírito Santo?
Renato Goldenberg – A verdade é que nós botânicos – e com isso vou fazer uma autocrítica -, costumamos sempre coletar as espécies nos mesmos lugares, o que dificulta a descoberta de novas espécies. Ainda existem vários locais ao longo da Mata Atlântica que são pouco coletados por dificuldade de acesso. Mesmo nos estados em que são feitas muitas coletas, como no Rio de Janeiro e em São Paulo, muito material novo e desconhecido ainda pode ser coletado. Além do Espírito Santo e da Bahia, existem algumas regiões mais ao Norte, no Nordeste, de altitude mais elevada, onde existem florestas mais úmidas, que também são lugares ricos em biodiversidade, mas onde são realizadas poucas coletas. Especialmente nas montanhas do Espírito Santo e da Bahia e ao Leste e ao Sul de Minas Gerais, ainda existem bastantes espécies para serem conhecidas.



IHU On-Line – Em quais biomas brasileiros as plantas são mais desconhecidas?
Renato Goldenberg – No Brasil como um todo, certamente na Amazônia e, nesse sentido, é mais urgente estudarmos a flora da Amazônia, justamente porque não a conhecemos completamente. De outro lado, em razão da taxa de destruição, é urgente estudarmos o Cerrado, porque em meio século ele deixará de existir.




IHU On-Line – Um dos fatos que chamam a atenção na sua pesquisa é que algumas das plantas recém-descobertas correm risco de extinção. Já é possível identificar os fatores que põem essas plantas em risco e que medidas poderiam ser tomadas para que a espécie possa se desenvolver?
Renato Goldenberg – Primeiro vou explicar como analisamos e como entendemos o risco de extinção e depois vou comentar o tópico da conservação. Existem critérios técnicos que determinam se uma espécie corre ou não risco de extinção: o primeiro deles leva em conta a distribuição geográfica da espécie, e o segundo critério considera o local onde essas plantas ocorrem, justamente para verificar se a quantidade de plantas no local é pequena ou não, se o local é ameaçado por algum tipo de empreendimento, por mudanças climáticas ou pelo que quer que seja.




O que acontece com essas espécies descobertas no Espírito Santo é que elas ocorrem em uma área intensamente habitada na periferia da região metropolitana de Vitória, e é muito difícil conservar qualquer espécie da biodiversidade em regiões como essa por conta da superpopulação. Nós coletamos essas espécies no campo e encontramos, para duas dessas espécies, populações superpequenas. As duas espécies que estão ameaçadas têm pelo menos uma população de cada uma delas dentro de uma Unidade de Conservação, que é a Reserva Biológica de Duas Bocas, no município de Cariacica. Ainda assim elas estão sob risco porque a quantidade de plantas existentes é muito pequena.



É possível que daqui a alguns anos alguém colete plantas iguais em outros lugares e, por conta disso, podemos mudar a estatística em relação ao risco de extinção delas, embora seja pequena a probabilidade de plantas como essas serem encontradas em outros lugares.
Então, devido à distribuição geográfica restrita, à ocorrência de pouquíssimas espécies e à pressão que ocorre sobre essas áreas naturais onde essas plantas se desenvolvem, elas têm um risco de extinção bastante alto. Elas só não estão criticamente em perigo porque existem populações dentro das Unidades de Conservação. Apesar disso, há uma preocupação com o desenvolvimento dessas espécies, justamente porque está em curso uma revisão de áreas de proteção ambiental no país para atender a interesses econômicos.



É necessário minimamente mantermos as Unidades de Conservação tais como elas estão
Sobre a segunda parte da sua pergunta, acerca de como preservar essas espécies que estão em extinção, eu diria que em primeiro lugar é preciso conter o que o governo está querendo fazer, ou seja, é fundamental não intensificar a atuação humana sobre as Unidades de Conservação. É necessário minimamente mantermos as Unidades de Conservação tais como elas estão. Em segundo lugar, diria que existem ações individuais que podemos efetuar sobre essas plantas. Essas ações envolvem a conscientização das pessoas que vivem ao redor dessa biodiversidade, e a conscientização da administração das UCs de que existem plantas que só ocorrem em determinadas Unidades.




IHU On-Line – Há um discurso recorrente sobre a importância de se conhecer e preservar a biodiversidade brasileira. Nesse sentido, quais são os incentivos dados para a realização desse tipo de pesquisa no país?
Renato Goldenberg – Você me faz essa pergunta em uma época muito difícil para nós. Sempre foi difícil fazer pesquisa no Brasil, porque nunca recebemos muitos incentivos, principalmente em termos financeiros, mas pelo menos existiam instituições com um peso e com recursos humanos suficientes para manter esse tipo de pesquisa andando. Hoje em dia não sabemos se teremos universidade pública e financiamento do CNPq para os próximos anos; aliás, não sei se terei meu emprego como professor da universidade pública daqui a cinco anos, porque a pressão atualmente é muito grande. Os cortes recentes no CNPq não são restritos à nossa área; os cortes de verbas e de financiamento do CNPq são para o país inteiro, para todos os pesquisadores. Portanto, não é só esse tipo de pesquisa que desenvolvo que está correndo perigo, na verdade é todo o sistema de ensino e pesquisa no Brasil que está em risco.


O incentivo e o investimento sempre foram insuficientes no país, mas era um insuficiente com o qual conseguíamos dar andamento aos trabalhos. Agora, no entanto, existe o risco de não conseguirmos tocar os projetos. Desculpe meu pessimismo, talvez seja exagerado, mas hoje temos, basicamente, financiamentos do governo e de algumas poucas fundações particulares. Inclusive, no Brasil há muito poucas fundações particulares que apoiam a pesquisa. Existem alguns programas da Fundação Boticário e da Natura, principalmente da Fundação Boticário que, tradicionalmente, financia pesquisa, especificamente, de conservação e em alguns casos de conhecimento das espécies nativas para a conservação. Fora isso, a maior parte dos programas de financiamento é feita pelo CNPq.




IHU On-Line – De outro lado, existem financiamentos de fundações estrangeiras que têm interesse em estudar a biodiversidade brasileira?
Renato Goldenberg – Não. O que existem são iniciativas individuais de alguns poucos pesquisadores. São projetos de pesquisadores estrangeiros, que envolvem pesquisadores brasileiros, e eu mesmo faço parte de um desses projetos. Cada país financia a sua pesquisa com restrições ao financiamento de pesquisadores estrangeiros, e isso é completamente compreensível. Eu participo, por exemplo, de um projeto com um grupo de pesquisadores do Jardim Botânico de Nova York. Não recebo nenhum incentivo financeiro para isso. Eles me dão apenas um “apoio moral”, e a nossa produção científica é boa por causa deles, porque eu posso enviar alunos para trabalhar nos laboratórios de lá, o que é bastante importante, e eles financiam pesquisas de campo quando vêm fazer alguma pesquisa no Brasil.


No país existe um grande preconceito e medo em relação aos pesquisadores estrangeiros que vêm para cá, porque em geral se acha que eles vão roubar nossas pesquisas ou a biodiversidade, mas não é o caso, eles não têm a intenção de levar o nosso patrimônio para fora.


(EcoDebate, 12/05/2017) publicado pela IHU On-line, parceira editorial da revista eletrônica EcoDebate na socialização da informação.


[IHU On-line é publicada pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos Unisinos, em São Leopoldo, RS.]

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Em Audiência Pública, debatedores criticam relatório que cria lista de dispensa de licenciamento ambiental




Lúcio Bernardo Junior/Câmara dos Deputados
Audiência pública sobre o relatório da Comissão de Finanças e Tributação do PL 3729/04 sobre Licenciamento Ambiental
Especialistas criticaram exceções na concessão de licenciamentos
Participantes de audiência da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara criticaram, nesta quarta-feira (10), o relatório sobre licenciamento ambiental (PL 3729/04) apresentado, na Comissão de Finanças e Tributação, pelo deputado Mauro Pereira (PMDB-RS).


Segundo especialistas, o texto cria uma longa lista de dispensas de licenciamento, o que paralisaria o País, pois todos os processos seriam questionados judicialmente.


Para o presidente da Associação Brasileira dos Membros do Ministério Público de Meio Ambiente, Luís Fernando Barreto, uma norma que exclui licenciamentos e estudos de impacto ambiental será impugnada.


“Não é agradável ter que fazer duas, três, quatro mil ações, mas é uma obrigação da qual o MP não vai abdicar. No momento em que algum secretário resolver por ato próprio, conforme o que está na norma, dispensar uma atividade, nós vamos investigar porque ele fez isso”.



Segundo Barreto, a dispensa de licenciamento fere a Constituição e, portanto, até mesmo a proposta que vinha sendo construída pelo Ministério do Meio Ambiente e pelo Ibama, com base no texto aprovado na Comissão de Meio Ambiente, seria inconstitucional.



Negociação
A presidente do Instituto Nacional bama, Suely Vaz, explicou que o Ministério do Meio Ambiente negociou a isenção da licença para propriedade rural numa tentativa de viabilizar a lei geral de licenciamento ambiental, mas desde que fossem mantidos todos os processos autorizativos das atividades rurais.


“Fica mantida a autorização de supressão de vegetação, a outorga de recursos hídricos, a legislação de agrotóxicos. O que nós abrimos na negociação até o momento foi a questão da licença em si para a propriedade rural, mas toda a atividade vai ser mantida e isso está bem expresso, todas as exigências continuam em vigor.


O ministério, disse ela, só aceitou a negociação se essa ressalva estivesse muito clara e que não houvesse nenhum retrocesso das exigências para esses empreendimentos.


Gilmar Felix / Câmara dos Deputados
Audiência pública (interativa) da Comissão Mista sobre a MP 746/16, que reforma o currículo do ensino médio. Dep. Mauro Pereira (PMDB-RS)
Mauro Pereira: texto foi discutido com mais de 30 entidades 
Outro ponto questionado pelos especialistas foi o enfraquecimento dos municípios e de órgãos gestores que hoje têm poder de barrar um processo de licenciamento, como o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMbio), o Iphan e a Funai.


A presidente do Ibama respondeu que hoje essas entidades fazem uma licença prévia, mas, pela proposta, passariam a ter caráter apenas consultivo. “Dessa forma, um projeto de mineração dentro de uma floresta nacional, por exemplo, poderia ser licenciado sem o aval do ICMbio”, disse Suely Vaz.
Os debatedores também apontaram “excesso de liberdade” concedida aos órgãos estaduais de licenciamento ambiental. Segundo eles, isso pode gerar uma disputa entre os estados nos moldes da guerra fiscal

Reuniões
O deputado Mauro Pereira não participou da audiência pública, mas afirmou que realizou dezenas de reuniões com mais de 30 entidades, incluindo o Ibama, e que seu texto se aproxima de um consenso.



“Os profissionais que estão trabalhando conosco nesse relatório são responsáveis, competentes e com certeza não há nada disso de fazer as coisas sem licenciamento ambiental. O que não precisaria de licenciamento seria, por exemplo, a restauração de uma rodovia, um recapeamento, o que é natural”.



A votação do relatório estava prevista, também para esta quarta-feira, na Comissão de Finanças e Tributação, mas o item foi retirado de pauta.

Íntegra da proposta:

 

Reportagem – Verônica Lima

Edição – Rosalva Nunes
Da Agência Câmara de Notícias, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 12/05/2017

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Mico-leão-dourado reaparece no Rio após mais de um século



Um mico-leão-dourado foi fotografado na Estação Biológica Fiocruz Mata Atlântica, campus avançado para pesquisas em biodiversidade e saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em Jacarepaguá. A espécie de primata exclusiva da Mata Atlântica brasileira – estampada na nota de R$ 20 – foi avistada juntamente com um grupo de saguis-de-tufo-branco pelos biólogos Iuri Veríssimo e Monique Medeiros, que trabalham na gestão ambiental e no levantamento da biodiversidade da Estação Biológica da Fiocruz.

O mico-leão-dourado é uma espécie de primata exclusiva da Mata Atlântica brasileira (foto: Fiocruz Mata Atlântica)
O mico-leão-dourado é uma espécie de primata exclusiva da Mata Atlântica brasileira (foto: Fiocruz Mata Atlântica)

Segundo o biólogo responsável pela gestão ambiental do Programa de Desenvolvimento do Campus Fiocruz Mata Atlântica / Estação Biológica, Ricardo Moratelli, o próximo passo é descobrir a origem desses animais — se são remanescentes de uma população local ou se foram trazidos de outra região e soltos na área. A Estação Biológica da Fiocruz fica adjacente e parcialmente sobreposta ao Parque Estadual da Pedra Branca, que abriga a maior floresta urbana das Américas, segundo cálculos da equipe de pesquisadores, há aproximadamente 50 km2 de florestas de baixada (entre 100–300 m) bem preservadas, que são o habitat preferido do mico-leão-dourado.



Primata da Mata Atlântica
O mico-leão-dourado é uma espécie de primata exclusiva da Mata Atlântica brasileira. Os primeiros naturalistas europeus que visitaram a região do atual estado do Rio de Janeiro, entre os séculos 16 e 19, ficaram encantados com esses primatas e alguns exemplares foram prontamente coletados e enviados para a Europa, sendo formalmente descritos em 1766 pelo celebre naturalista sueco Carolus Linnaeus.



Registros do período colonial até inicio do século 19 indicam que a espécie ocorria ao longo de quase toda faixa litorânea do estado do Rio de Janeiro, incluindo o município do Rio. Devido à rápida perda de habitat ao longo dos séculos 19 e 20, a espécie foi localmente extinta na maior parte de sua área de distribuição. Até a década de 1940, a espécie ainda ocorria em Araruama e Maricá, mas logo depois ficou restrita à uma pequena região na bacia do Rio São João.



Na início da década de 1960, quando restavam cerca de 200 micos, o primatologista e conservacionista Adelmar Coimbra Filho estabeleceu as bases de um programa de salvamento para a espécie. Esse esforço se consolidou em um grande projeto de preservação, proteção e estudo do mico-leão-dourado, que desde 1992 é liderado pela Associação Mico-Leão-Dourado. Hoje, existem cerca de 3.200 micos vivendo livremente, com todas as populações concentradas em alguns poucos municípios do interior do Rio de Janeiro, sendo as maiores nas Reserva de Poço das Antas e Reserva Biológica União.


Fonte: Fiocruz



in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 11/05/2017

Incentivo de Trump à energia fóssil – Um passo atrás e em falso, artigo de André Ferretti




artigo de opinião

[EcoDebate] Incentivo à produção de energia à base de carvão mineral e desestímulo à energia limpa são duas consequências imediatas do decreto assinado em 28 de março pelo presidente dos Estados Unidos. Outro efeito – perverso e, infelizmente, desconsiderado por Donald Trump – é o aumento da vulnerabilidade da própria sociedade norte-americana aos efeitos negativos da mudança climática. Nesse cenário, cabem preocupações sobre o quanto essas medidas afetarão em cadeia o esforço global de reduzir as emissões de gases de efeito estufa; por outro lado, abre-se espaço para que o Brasil e outros países consolidem-se como protagonistas de uma nova economia voltada à proteção ambiental e à baixa emissão de carbono.



O decreto de Trump desmonta o Plano de Energia Limpa dos EUA aprovado pelo seu antecessor em 2015, que criava incentivos para o avanço de fontes de energia não baseadas em combustíveis fósseis. Sob argumentos contestáveis de retomada de postos de trabalho, Trump deu um passo atrás e em falso ao tirar restrições do setor de carvão mineral, que é uma das fontes de energia mais poluentes.




A posição do atual governo norte-americano implicará ainda na não adaptação do seu território aos efeitos adversos da mudança climática. Em 2005, o Furacão Katrina tirou um milhão de pessoas de suas casas, e, certamente, as alterações no clima global tendem a tornar esse e outros eventos extremos cada vez mais frequentes. Isso significa que os EUA estão arriscando vidas, estruturas, atividades econômicas e a biodiversidade ao negligenciar a mudança climática.



Os custos de reparar danos como esses serão maiores que o investimento em ações para evitá-los – como já comprovou em 2006 o economista britânico do Banco Mundial Nicholas Stern. Ademais, se essa adaptação fosse feita aproveitando o potencial que os ambientes naturais têm para tornar as sociedades mais resilientes, haveria custo ainda menor e benefícios adicionais, como mostra um estudo de 2015 da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza.



Mesmo se houver esforço positivo do setor privado, os entraves governamentais tendem a dificultar que os EUA atinjam as suas metas de redução de gases-estufa, estabelecidas voluntariamente no Acordo de Paris – que entrou em vigor em 2016 e hoje conta com 141 países. Contudo, somando as contribuições nacionais de todos, não se alcança o mínimo desejado para limitar o aumento da temperatura média global a algo entre 1,5 e 2°C até o fim do século; hoje, estima-se que o limiar esteja em 3°C.



Justamente quando o mundo precisa de lideranças que puxem suas metas para cima e, pelo exemplo, estimulem outros a segui-los, os EUA querem sair do jogo. Pelo menos, China e países da União Europeia já estão tomando a frente. Ao Brasil também há a oportunidade de se firmar como protagonista, desde que vá além das suas metas nacionais de redução de gases-estufa. Isso inclui zerar o desmatamento em todos os biomas; investir em fontes de energia renováveis – solar, eólica, biocombustíveis etc.; e modernizar a agropecuária nacional.



A mudança global do clima é um dos maiores desafios do século XXI, que traz tanto prejuízos quanto oportunidades. O presidente Donald Trump, infelizmente, foca apenas no lado negativo. Ele fecha os olhos para o fato que o mundo está em transformação, rumo a um futuro mais sustentável e a uma nova economia de baixo carbono. Cabe, agora, aos demais países fazer a sua parte e potencializar seus esforços. Não há escolha nem tempo a perder.



André Ferretti é membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza, gerente na Fundação Grupo Boticário e coordenador geral do Observatório do Clima.



in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 12/05/2017



"Incentivo de Trump à energia fóssil – Um passo atrás e em falso, artigo de André Ferretti," in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 12/05/2017, https://www.ecodebate.com.br/2017/05/12/incentivo-de-trump-energia-fossil-um-passo-atras-e-em-falso-artigo-de-andre-ferretti/.

[CC BY-NC-SA 3.0][ O conteúdo da EcoDebate pode ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, à EcoDebate e, se for o caso, à fonte primária da informação ]

MPF lança mobilização nacional #RetrocessoAmbientalNão




Ação visa promover o debate em quatro eixos temáticos: licenciamento ambiental, agrotóxicos, redução nas unidades de conservação e MP 759 (regularização fundiária)


Câmara de Meio Ambiente do MPF lança mobilização nacional #RetrocessoAmbientalNão
Arte: Secom/PGR 


A Câmara de Meio Ambiente e Patrimônio Cultural do Ministério Público Federal (4CCR/MPF) lança a mobilização nacional #RetrocessoAmbientalNão. Até 5 de junho, Dia Internacional do Meio Ambiente, serão produzidas notas técnicas, matérias, vídeos, postagens em redes sociais, entrevistas e artigos de procuradores para debater os principais riscos e ameaças de retrocesso ambiental no Brasil em quatro eixos temáticos: licenciamento ambiental, agrotóxicos, unidades de conservação e regularização fundiária (MP 759).


No dia 5, oficina em Brasília reunirá membros do MPF, parlamentares, representantes do governo e de organizações não governamentais, juristas e público interessado para discutir as temáticas em quatro painéis. Para o coordenador da 4CCR, subprocurador-geral da República Nivio de Freitas, “a união de esforços entre membros do país inteiro e sociedade civil é fundamental para evitar retrocessos em assuntos extremamente relevantes para toda a população.”


Ações – A mobilização já começou. Só nesta semana, duas notas técnicas foram elaboradas e enviadas ao Congresso Nacional pela 4CCR. Na terça-feira (9), o MPF se posicionou contra a aprovação do substitutivo ao Projeto de Lei 3.729/2004, que institui a Lei Geral do Licenciamento e está em análise para votação na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados. No documento, o MPF afirma que o PL pode trazer prejuízos irreversíveis à proteção e à gestão ambiental. Leia mais aqui.


Na quarta (10), o procurador da República Felipe Bolgado, coordenador do Grupo de Trabalho Grandes Empreendimentos, participou de audiência pública sobre o PL na Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara. O representante do MPF destacou que o substitutivo desvirtua a proposta que vinha sendo construída com a participação de diversos atores, como Ibama, Ministério do Meio Ambiente, organizações ambientais e confederações de setores produtivos, e pontuou os principais problemas da proposta legislativa. Leia mais aqui.


No mesmo dia, outra nota técnica foi enviada ao Congresso Nacional para alertar sobre os riscos do pacote legislativo que reduz, extingue ou reclassifica áreas de unidades de conservação no País. As normas questionadas são as Medidas Provisórias 756/16 e 758/16, que alteram limites de florestas e parques nacionais, e os respectivos projetos de lei de conversão (PLC 4/17 e PLC 5/17). A nota alerta também contra esboço de projeto de lei em discussão no Congresso que vai tratar das Unidades de Conservação do Amazonas. Leia mais aqui.


O uso da #RetrocessoAmbientalNão será utilizado em todas as divulgações da mobilização. Acompanhe o debate e participe compartilhando a hashtag.


Fonte: Procuradoria-Geral da República



in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 12/05/2017

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Governo abre consulta pública sobre aves da Amazônia

Por Sabrina Rodrigues*
O Bem-Te-Vi (Pitangus sulphuratus) está entre as espécies com mais registros. Foto: Carlos Meireles/Wikipedia.
O Bem-Te-Vi (Pitangus sulphuratus) está entre as espécies com mais registros. 
Foto: Carlos Meireles/Wikipedia.


Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Aves Silvestres (CEMAVE) abriu consulta pública para avaliação do estado de conservação das aves da Amazônia. Toda a comunidade científica e demais interessados podem contribuir com informações sobre as espécies até o dia 31 de agosto, por meio das fichas-base da avaliação, que estão disponíveis no site do Atlas de Registros de Aves Brasileiras (ARA).


As contribuições servirão de base para a Oficina de Avaliação do Estado de Conservação das Aves Brasileiras, que ocorrerá entre 25 a 29 de setembro, em Brasília, e abrangerá 224 espécies do bioma. Serão convidados pesquisadores com experiência na Amazônia, principalmente nas áreas dos centros de endemismo localizados em Belém, Xingu e Tapajós, somando cerca de 15 especialistas.
*Com Informações da Assessoria de Comunicação do ICMBio.

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Atlas das Caatingas esmiúça os problemas das unidades de conservação federais


Por Sabrina Rodrigues
Parque Nacional do Catimbau - Foto: Bruno vinícius/Wikiparques.
Parque Nacional do Catimbau - Foto: Bruno Vinícius/Wikiparques.


O bioma 100% brasileiro atravessa os estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Piauí, Sergipe e o norte de Minas Gerais. E ao longo desses dez estados, é notável a grande variedade de paisagens e de biodiversidade. E por toda a extensão dos seus 844 mil quilômetros quadrados estão 14 Unidades de Conservação Federais de proteção integral que foram objeto de pesquisa da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) em parceria com a Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), resultando na produção do Atlas das Caatingas e do documentário Caatingas em Risco, que será exibido daqui a 30 dias.


O Atlas traçou os problemas enfrentados pelas unidades de conservação como falta de recursos humanos e financeiros, desmatamento e ausência de regularização fundiária. O Parque Nacional do Catimbau, em Pernambuco, é um exemplo: a unidade está em fase de regularização fundiária “onde nem todos os antigos proprietários foram devidamente indenizados no processo de desapropriação de terras sob jurisdição e domínio da União. Além destes antigos proprietários, há diversos povoamentos indígenas que resistem em aceitar a transferência de suas moradias tradicionais para as terras indígenas circunvizinhas ao parque, também sob gestão da Funai. Tal situação resulta em constantes conflitos territoriais e elevação da tensão social na área do Parna do Catimbau, sob gestão do ICMBio”.


Em três anos de duração, a pesquisa Mapeamento e Análise Espectro-Temporal das Unidades de Proteção Integral da Administração Federal no Bioma Caatinga analisou 14 Unidades de Conservação de Proteção Integral (Parques Nacionais do Catimbau, Cavernas do Peruaçu, da Serra das Confusões, da Serra da Capivara, da Chapada Diamantina, da Serra de Itabaiana, das Sete Cidades, de Ubajara e Furna Feia, além das Estações Ecológicas Raso da Catarina, de Aiuaba, do Seridó, do Monumento Natural do Rio São Francisco e da Reserva Biológica de Serra Negra) da Administração Federal no Bioma Caatinga.



De dezembro de 2013 a dezembro de 2016, foram 22 mil quilômetros percorridos nessas unidades com todos os chefes entrevistados, além de funcionários do ICMBio.



No Atlas das Caatingas é possível encontrar mapas produzidos nos três anos de trabalho, imagens das unidades. Além de diagnosticar os problemas atravessados pelas unidades de conservação, o Atlas inclui recomendações para o desenvolvimento de uma proteção mais efetiva das áreas pesquisadas.

Saiba Mais
Atlas das Caatingas