quinta-feira, 20 de abril de 2017

Novas unidades de conservação em debate


RPPN Fazenda Renópolis. Foto: Acervo Fundação Florestal
RPPN Fazenda Renópolis. Foto: Acervo Fundação Florestal

Em meio a um infeliz esforço parlamentar para reduzir unidades de conservação ao redor do país, ainda há muitos projetos de ampliação de proteção de nossas áreas verdes prontos para sair do papel. E projetos que incentivam a criação de novas unidades. É o que demonstram as seguintes iniciativas nos estados de Goiás, Espírito Santo e São Paulo.

Goiás
Em 11/04, a Secretaria das Cidades e Meio Ambiente de Goiás (Secima) debateu a criação do  Parque  Estadual  da  Serrinha (GO), numa área com mais de 100 mil metros quadrados. Hoje completamente abandonada, a área poderá ser transformada com instalação de áreas de lazer, iluminação, trilhas e a preservação e conservação da flora. Durante a  reunião foram apresentados projetos como levantamento topográfico, projeto de paisagismo, projeto estrutural, projeto básico arquitetônico e urbanístico, comunicação visual, instalações elétricas e sanitárias, entre outros. A proposta será agora submetida à uma audiência pública.

Espírito Santo
Nos próximos dias 08 e 09/05, o município de Vitória, no Espírito Santo, realizará consultas públicas para apresentação das propostas e contribuições da população de duas novas unidades de conservação: a Área de Proteção Ambiental Baía das Tartarugas (ES), a primeira unidade de conservação marinha de Vitória com acesso público; e a recategorização da atual Reserva Ecológica Municipal da Mata Paludosa, último remanescente de Mata Paludosa (vegetação que marca a transição entre o manguezal e a restinga) do município.

O objetivo da proposta da área de proteção ambiental (APA) é a preservação do ambiente marinho através do ordenamento do uso, com o fim de evitar conflitos já abundantes na área da unidade de conservação: ela será vizinha de um dos maiores complexos minero-siderúrgicos do mundo, onde a pesca desordenada convive com poluição por esgoto e pó de minério. Ainda assim, a região é visitada por tartarugas marinhas e outras espécies ameaçadas de extinção, área de ocorrência de baleias jubarte, além de atrair cada vez mais praticantes de esportes marítimos.


A atual Reserva Ecológica Municipal da Mata Paludosa requer uma adequação ao Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC). A nova unidade vai acrescentar à área da Reserva, o Parque Municipal da Fazendinha, e um outro fragmento de mata paludosa. A consulta pública sobre a APA Baía das Tartarugas está agendada para o 08/05, na sede do Iate Clube, na Praia do Canto. Já a da Mata Paludosa está marcada para o 09/05, na Escola Municipal Elzira Vivacqua, na Rua Italina Pereira Motta, nº 501, em Jardim Camburi. Ambas as reuniões começam às 19h00.

São Paulo
A Reserva Particular do Patrimônio Natural Fazenda Renópolis (SP), em Santo Antonio do Pinhal, sediará o seminário “Criação de RPPN e a Proteção das Microbacias”, em 06/06. O evento visa esclarecer ao público sobre vantagens e formas de se criar uma reserva particular do patrimônio natural (RPPN). Os interessados encontram a ficha de inscrição neste link: goo.gl/U78f5a .

Das 13h00 às 18h00, serão abordados assuntos como: pagamentos de serviços ambientais, importância das RPPNs para a proteção de microbacias e também trocas de experiências sobre o assunto. Também será discutido o processo de criação e implantação destas unidades de conservação. Mais informações podem ser obtidas aqui.

*Com informações da Secima, Século Diário e Fundação Florestal

Depois de sete anos de recuperação, peixe-boi da Amazônia é solta

Por Sabrina Rodrigues
Helena pesava 90kg e media 1,70m no momento da soltura. Foto: Amanda Lelis
Helena pesava 90kg e media 1,70m no momento da soltura. Foto: Amanda Lelis


Peixes-boi são bichos grandes. Eles pesam de 400 a 550 kg e o seu couro muito grosso é uma defesa, que desencoraja a maioria dos predadores. Os peixes-boi-amazônicos (Trichechus inunguis) foram caçados em escala industrial desde o Brasil Colônia e há registros de sua carne e óleo sendo exportados do então Grão Pará no século XVII. E hoje os peixes-boi continuam sofrendo com a caça desenfreada de seus algozes. Mas, o que será relatado nas próximas linhas trata-se de uma história real de sucesso pela preservação dessa espécie.


Levaram sete anos para que a peixe-boi Helena, que em 2010 foi levada ferida para o Centro de Reabilitação de Peixe-Boi Amazônico de Base Comunitária, fosse devolvida sã e salva à vida em ambiente natural. No dia 13 de abril, Helena foi solta no Igarapé do Juá Grande, localizado na Reserva Mamirauá, unidade de conservação do Amazonas.


Durante esses sete anos, Helena recebeu os cuidados dos pesquisadores e técnicos do “Centrinho”, como é chamado o Centro de Reabilitação, que foi criado pelo Instituto Mamirauá, em 2008. Na época, quando encontrada ferida pelos moradores da região, a peixe-boi tinha cerca de três meses.
Helena passou por um processo de recuperação diferente dos demais animais que ficam cerca de dois anos em reabilitação. A longa duração dos seus cuidados deveu-se às condições nas quais ela foi encontrada, apresentando muitas sequelas devido aos ferimentos e quadro de infecção. Esse longo tempo foi necessário para que a peixe-boi tivesse plena capacidade para a vida livre. A peixe-boi faz parte de uma enorme história de recuperação e sucesso, que deixa os profissionais envolvidos nesse processo muito felizes.


"Ela teve uma melhora extraordinária. Chegou muito debilitada, ferida com uma flechada na mandíbula, que acabou comprometendo o nervo facial. Por isso, ela perdeu a visão de um olho, teve muita dificuldade até conseguir fechar completamente as narinas e principalmente a mastigação, dificuldade pra pegar a mamadeira e mordiscar as plantas. Digo extraordinária, porque, quando ela chegou, a gente não sabia se ia sobreviver, por causa desta dificuldade grande", explica Miriam Marmontel, pesquisadora do Instituto Mamirauá - unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações.


O Igarapé do Juá Grande, na Reserva Mamirauá, onde Helena foi solta, não foi escolhido aleatoriamente. O local apresenta disponibilidade de vegetação para alimentação nesta época do ano, primeiro período de adaptação do peixe-boi na natureza, e tamém porque a área foi o reduto escolhido por Japurá, outro peixe-boi solto pelo Instituto Mamirauá, há dois anos. Há um otimismo entre os pesquisadores de que os dois animais se encontrem.


Antes da soltura, Helena foi pesada, medida e em sua cauda foi adaptado um cinto equipado com transmissor de sinais de rádio. O cinto emite um sinal que permite ser monitorado pelos pesquisadores em ambiente natural.


Esse foi o quinto evento de soltura de peixes-boi reabilitados pelo Instituto Mamirauá. Através do monitoramento, os pesquisadores buscam a compreensão de como os animais se movimentam na área e acompanham o desempenho de adaptação dos indivíduos em vida livre, fora do cativeiro.
Antes da soltura, é instalado um cinto que emite sinais de rádio que podem ser rastreados pelos pesquisadores. Foto: Amanda Lelis
Antes da soltura, é instalado um cinto que emite sinais de rádio que podem ser rastreados pelos
pesquisadores. Foto: Amanda Lelis
O peixe-boi foi transportado em uma lancha aos cuidados de veterinários até o local da soltura. Foto: Amanda Lelis  
O peixe-boi foi transportado em uma lancha aos cuidados de veterinários até o local da soltura. 
Foto: Amanda Lelis
Helena foi solta em um igarapé na Reserva Amanã. Foto: Amanda Lelis
Helena foi solta em um igarapé na Reserva Amanã. Foto: Amanda Lelis
O animal é monitorado por todo o procedimento pela equipe de pesquisadores, veterinários e técnicos. Foto: Amanda Lelis
O animal é monitorado por todo o procedimento pela equipe de pesquisadores, veterinários e
técnicos. Foto: Amanda Lelis

Nós sabemos o que pinguins fizeram no inverno passado

Por Vandré Fonseca*
Imagem da câmera de lapso de tempo mostra pinguins-gentoo em áreas de reprodução no inverno. Crédito: T. Hart.
Imagem da câmera de lapso de tempo mostra pinguins-gentoo em áreas de reprodução no inverno. 
Crédito: T. Hart.

Os pinguins-gentoo (Pygoscelis papua) do extremo sul da Península Antártida Ocidental não tinham como desconfiar, mas estavam sendo vigiados pela internet. Câmeras fotográficas espalhadas em sete locais de reprodução da espécie, na Argentina, Antártica e algumas ilhas, enviavam diariamente entre 8 e 14 fotografias para site Penguin Watch na internet, entre os anos de 2012 e 2014.

As imagens eram acompanhadas por um grupo de voluntários, cientistas-cidadãos que contavam os animais registrados. As fotografias retratam cerca de 1400 horas da vida dos pinguins, inclusive durante o rigoroso e escuro inverno antártico. Resultados do estudo foram publicados na edição desta quinta-feira no jornal científico The Auk: Ornithological Advances.

"Trabalhar com câmeras nos permite entender metade da vida desta espécie sem ter que passar o inverno rigoroso na Antártica”, afirma Caitlin Black, candidata ao doutorado pela Universidade de Oxford. Além dela, o artigo é assinado por Tom Hart, também de Oxford, e Andrea Raya Rey, do Conselho Nacional de Investigação Científica e Técnica da Argentina.

Pinguins-gentoo são as aves que nadam mais rápido no planeta, quando estão submersas, atingindo cerca de 36 quilômetros por hora. Além disso, enquanto outras espécies de pinguins estão em declínio naquela região, a população desta espécie continua a aumentar. Agora, os pesquisadores conhecem também hábitos dos animais não estão no período de reprodução e que são influenciados por alterações no clima e diferenças geográficas.
Montagem das câmeras. Estratégia para fugir do frio extremo e escuridão da Antártida. Crédito: T. Hart.
Montagem das câmeras. Estratégia para fugir do frio extremo e escuridão da Antártida. Crédito: T. Hart.

Graças a vigilância, eles descobriram, por exemplo, que as áreas de reprodução ficam mais povoadas quando estão em águas abertas ou geleiras que flutuam livremente do que em praias congeladas. Além disso, antes do período de reprodução, nestas áreas são encontrados mais animais do que após os animais procriarem.

De acordo com os pesquisadores, nas áreas polares, indivíduos de uma mesma espécie podem adotar estratégias diferentes de migração para sobreviver. O editor-chefe da revista Auk, Mark Hunter, que também é professor de Comportamento Animal na Faculdade Hunter e no Centro de Pós-Graduação da Universidade da Cidade de Nova York, destaca que na Antártida esses estudos são particularmente importantes devido aos longos períodos de escuridão que os animais enfrentam.

"Esta nova pesquisa publicada na Auk: Ornithological Advances em colônias de pinguins-gentoo revela diferenças críticas ano a ano, onde as aves estão quando não estão aninhando: em alguns anos, apenas os locais mais temperados são visitados, e em outros anos tanto Sul e Norte estão ocupados com pinguins ", afirma.

*com informações do serviço Eurekalert.