terça-feira, 28 de março de 2017

Conheça mais sobre as 12 regiões hidrográficas brasileiras

sexta-feira, 24 de março de 2017


Entenda a importância das regiões hidrográficas do Brasil

 
 
 
 
Com 12 bacias hidrográficas, território brasileiro contém cerca de 12% de toda a água doce do planeta
 
 
 
 
Com extensão que cobre cerca de 80% do território brasileiro, as bacias hidrográficas são um conjunto de terras em que o escoamento das águas das chuvas, que acontece por meio de riachos e córregos, chega a um único ponto, um rio.
 
 
 
 
Ao todo, são 200 mil microbacias espalhadas em 12 regiões hidrográficas, como as bacias do São Francisco, do Paraná e a Amazônica – a mais extensa do mundo e majoritariamente localizada no Brasil. Esta quantidade importante de bacias permite que o País contabilize cerca de 12% de toda a água doce do planeta.
 
 
 
 
É por conta das bacias também que o potencial hídrico do País provê um volume de água por pessoa 19 vezes superior ao mínimo estabelecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) – de 1.700 m³/s por habitante por ano.
 
 
 
 
Para proteger esses grandes reservatórios de água doce, o governo federal possui o Programa de Revitalização de Bacias Hidrográficas. O objetivo principal é recuperar, conservar e preservar as bacias em situação de vulnerabilidade ambiental, por meio de ações permanentes e integradas que promovam o uso sustentável dos recursos naturais, a melhoria das condições socioambientais e a melhoria da disponibilidade de água em quantidade e qualidade para os diversos usos.
 
 
 
 
Conheça mais sobre as 12 regiões hidrográficas brasileiras:
 
 
 
 
Região Hidrográfica Amazônica
 
 
 
 
É constituída pela maior rede hidrográfica do globo terrestre, ocupando uma área da ordem de 6,1 milhões de km², desde suas nascentes nos Andes Peruanos até sua foz no oceano Atlântico, na Região Norte do Brasil. É a maior do mundo em disponibilidade de água. A bacia continental se estende sobre sete países da América do Sul, e 63% dela ficam no Brasil.
 
 
 
 
Região Hidrográfica do Tocantins-Araguaia
 
 
 
 
Possui uma área de 918.822 km², 11% do território nacional, e abrange os estados de Goiás, Tocantins, Pará, Maranhão, Mato Grosso e Distrito Federal. Ela apresenta grande potencialidade para a agricultura irrigada, especialmente para o cultivo de frutíferas, de arroz e outros grãos, como milho e soja.
 
 
 
Região Hidrográfica Atlântico Nordeste Ocidental
 
 
 
 
Está situada majoritariamente no Maranhão e em uma pequena porção do Pará, com área de 274.301 km², aproximadamente 3,2% da área do Brasil. A região apresenta uma vazão média de 2.608 m³/s, ou seja, 1% do total do País, e a principal necessidade da água na bacia é para consumo humano.
 
 
 
 
Região Hidrográfica do Parnaíba
 
 
 
 
Depois da bacia do rio São Francisco, essa região é, hidrologicamente, a segunda mais importante do Nordeste. Ela abrange, em maior parte, o Piauí, além de parte do Maranhão e do Ceará. Os aquíferos da região apresentam o maior potencial hídrico da Região Nordeste, no entanto, existem grandes diferenças interregionais de disponibilidade hídrica.
 
 
 
 
Região Hidrográfica do Atlântico Nordeste Oriental
 
 
 
 
Tem área de 286.802 km², equivalente a 3,3% do território brasileiro. A bacia tem uma importância singular em relação à ocupação urbana ao contemplar cinco importantes capitais do Nordeste, regiões metropolitanas, dezenas de grandes núcleos urbanos e um parque industrial significativo.
 
 
 
 
Região Hidrográfica do São Francisco
 
 
 
 
A Região Hidrográfica do São Francisco abrange 521 municípios em sete unidades federativas: Bahia, Minas Gerais, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Goiás, além do Distrito Federal. Com 2.700 km, o rio São Francisco nasce na Serra da Canastra, em Minas Gerais. Fundamental para o Semiárido nordestino, a área de drenagem de 638.576 km² ocupa 8% do território nacional. O potencial hidrelétrico aproveitado da bacia é de 10.473 MW, distribuídos principalmente nas usinas Três Marias, Queimado, Sobradinho, Itaparica, Complexo Paulo Afonso e Xingó.
 
 
 
 
Região Hidrográfica Atlântico Leste
 
 
 
 
Fazem parte da Região Hidrográfica Atlântico Leste as capitais dos estados de Sergipe e da Bahia, alguns grandes núcleos urbanos e um parque industrial significativo. Ela tem uma área de 388.160 km², equivalente a 4,5% do território brasileiro, onde estão inseridos 526 municípios parcial ou integralmente.
 
 
 
 
Região Hidrográfica do Paraguai
 
 
 
 
O rio Paraguai nasce no Brasil, e a região hidrográfica abrange uma área de 1 milhão de km², sendo 33% no Brasil e o restante na Argentina, Bolívia e Paraguai. A Região Hidrográfica do Paraguai inclui uma das maiores extensões úmidas contínuas do planeta, o Pantanal, considerado Patrimônio Nacional pela Constituição Federal de 1988 e Reserva da Biosfera pela Unesco no ano de 2000.
 
 
 
 
Região Hidrográfica do Paraná
 
 
 
 
Com 32,1% da população nacional, apresenta o maior desenvolvimento econômico e a maior demanda por recursos hídricos do País. Com uma área de 879.873 km², a região abrange os estados de São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Goiás, Santa Catarina e Distrito Federal. Em 2010, aproximadamente 61,3 milhões de pessoas viviam na região, 32% da população do Brasil.
 
 
 
 
Região Hidrográfica do Sudeste
 
 
 
 
 
Soma 214.629 km² de área, o equivalente a 2,5% do País. Ela é conhecida nacionalmente pelo elevado contingente populacional e pela importância econômica da indústria. O grande desenvolvimento da região, entretanto, é motivo de problemas em relação à disponibilidade de água, já que cerca de 28,2 milhões de pessoas habitavam a região em 2010 (14,8% da população do Brasil) e ela apresenta uma das menores disponibilidades relativas no País.
 
 
 
 
Região Hidrográfica do Uruguai
 
 
 
 
Tem grande importância devido às atividades agroindustriais e pelo potencial hidrelétrico. O rio Uruguai possui 2.200 km de extensão, e a bacia hidrográfica possui, em território brasileiro, 174.533 km² de área, 2% do território nacional. A região possui um total de 384 municípios, nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
 
 
 
 
Região Hidrográfica Atlântico Sul
 
 
 
 
Destaca-se pelo grande contingente populacional, pelo desenvolvimento econômico e pela importância para o turismo. A região se inicia ao norte, próximo à divisa dos estados de São Paulo e Paraná, e se estende até o arroio Chuí, ao sul. Possui uma área total de 187.522 km², que representa 2,2% do Brasil e abriga 451 municípios.
 
 
 
Fonte: EcoDebate

Justiça Federal suspende certificação de madeireiras no Pará que faziam propaganda enganosa sobre sustentabilidade

sexta-feira, 24 de março de 2017


Apesar de contrariarem as regras para usar o selo do FSC, as madeireiras Ebata e Golf continuavam a ser certificadas pelo Imaflora, enganando consumidores

 
 
 
 
A Justiça Federal suspendeu a certificação socioambiental concedida a duas madeireiras em atuação na região de Santarém, no oeste do Pará. A decisão considera haver indícios de que as empresas Ebata e Golf não cumprem os critérios de sustentabilidade socioambiental exigidos pelo selo certificador do Forest Stewardship Council (FSC ou Conselho de Manejo Florestal, em português.
 
 
 
 
Assinada pelo desembargador federal Souza Prudente, do Tribunal Regional da 1ª Região (TRF-1), em Brasília, a decisão é referente a ação e recursos judiciais de autoria do Ministério Público Federal (MPF), por meio da procuradora da República Fabiana Schneider. A decisão foi comunicada oficialmente à procuradora da República nesta semana.
 
 
 
 
No recurso ao tribunal, o MPF havia alertado que, apesar de o objetivo do selo do FSC ser o de difundir e facilitar o bom manejo das florestas por meio, entre outros critérios, do respeito aos direitos das comunidades locais, a atuação das madeireiras na região onde foi criada a Floresta Nacional Saracá-Taquera tem sido, na verdade, o exemplo de como desrespeitá-los, fato não levado em consideração pela organização certificadora, o Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora).
 
 
 
 
O MPF reiterou no recurso exemplos desse desrespeito, entre eles obras que reduziram a trafegabilidade de um rio – opção vital para permitir a continuidade da caça e da pesca -, poluem lago cuja água é utilizada para consumo em atividades domésticas e degradam locais com importância no universo de valores simbólicos dos grupos.
 
 
 
 
Também foi denunciada a utilização de áreas de assentamento de quase 1,5 mil famílias atendidas pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), e a falta de informações acessíveis para as comunidades sobre os projetos, além da retirada, em escala industrial, de espécies de árvores que garantiam a subsistência das comunidades locais.
 
 
 
 
“Não se pode olvidar [esquecer] que as alegações deduzidas pelo Ministério Público Federal (…) encontram-se calcadas em robusto laudo técnico, em que restou demonstrada a ocorrência das irregularidades apontadas na inicial, não se podendo admitir a desconstrução de tais argumentos amparando-se em mera presunção de inexistência de lavratura de auto de infração pelo órgão competente, até mesmo porque tal fato (…) pode caracterizar-se por eventual omissão do aludido órgão, no exercício da sua função fiscalizadora”, destaca Souza Prudente na decisão.
 
 
 
 
Processo nº 0003850-04.2017.4.01.0000 – Tribunal Regional Federal da 1ª Região
 
 
 
 
Processo nº 0000778-74.2016.4.01.3902 – 2ª Vara da Justiça Federal em Santarém (PA)
 
 
 
Fonte: EcoDebate

Inverno no Ártico e Verão na Antártida batem novos recordes

quinta-feira, 23 de março de 2017


Houve alteração recorde da calota de gelo marinha para ambos os hemisférios.

 
 
 
 
A chegada do Outono no hemisfério Sul e da Primavera no hemisfério Norte é também a época em que é possível avaliar a extensão máxima da calota de gelo alcançada durante o inverno no Ártico e o encolhimento ocorrido na Antártida durante o verão. Apesar de opostos, estes dois pólos comungaram de um mesmo fenómeno: níveis de gelo baixos.
 
 
 
 
Na última quarta-feira (22), o Centro Nacional de Dados de Neve e Gelo (NSIDC, na sigla em inglês) anunciou uma alteração sazonal recorde da calota de gelo marinha para ambos os hemisférios. A extensão do gelo marinho do Ártico atingiu seu máximo no inverno em 7 de março, com 14,42 milhões de quilômetros quadrados. A extensão do gelo do mar da Antártida atingiu seu mínimo de verão em 3 de março, com 2,11 milhões de quilômetros quadrados. Em ambos os hemisférios, as extensões foram as mais baixas para a temporada em38 anos de registros de satélite.
 
 
 
 
A extensão do gelo do mar do Ártico a partir de março de 2017 superou os recordes anteriores de retração no inverno: a de 2015, de 14.517 milhões de quilômetros quadrados, e a 2016, de 14.52 milhões de quilômetros quadrados.
 
 
 
 
Estes recordes de retração na calota de gelo marinha continuaram uma trajetória que se tornou aparente no final de 2016, quando ambos os hemisférios experimentaram baixas extensões bem fora do intervalo de variabilidade esperado. Mas as baixas extensões nos hemisférios norte e sul não significavam necessariamente a mesma coisa.
 
 
 
 
As extensões de gelo do mar do Ártico têm seguido uma trajetória descendente constante desde o início do século XXI, ao mesmo tempo em que as temperaturas globais atingiram novos recordes. Além de estabelecer vários recordes de extensões mínimas no verão, o gelo do mar do Ártico começou a exibir um padrão de baixa recuperação no inverno, começando por volta de 2004.
 
 
 
 
Na Antártida, porém, a situação é diferente, e não houve uma tendência clara. Dois anos e meio antes de atingir um nível recorde, o gelo do mar da Antártida estabeleceu uma extensão recorde. O principal cientista do NSIDC, Ted Scambos, suspeita que o gelo marinho antártico pode ser menos afetado pela tendência climática global e estar mais estreitamente ligado a mudanças climáticas regionais de curto prazo no Oceano Antártico.
 
 
 
 
A combinação de baixas extensões nos hemisférios do Norte e do Sul em março de 2017 colocou o gelo do mar global na sua menor extensão ou no seu nível mais baixo no registro de satélite para esta época do ano.
Fonte: Ciclo Vivo

Governança distribuída para combater o desmatamento

Governança distribuída para combater o desmatamento

Por Bernardo Camara
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Mark Murphy, diretor de sustentabilidade da Cargill, fala no evento TFA2020, em Brasília. 
Foto: Marcio Isensee e Sá


Era mais um dia normal para o McDonald’s. Até o momento em que galinhas de dois metros de altura invadiram as lojas da rede na Europa e se acorrentaram aos pés das mesas.


Os clientes ficaram atônitos. E não foram os únicos. “O presidente do McDonald’s nos ligou e deu o ultimato: ‘Resolvam este problema’”, recorda Mark Murphy, diretor global para sustentabilidade da Cargill.


Sob a fantasia de galinhas, ativistas do Greenpeace denunciavam naquele abril de 2006: o gado e o frango usados nos sanduíches da rede de fast-food eram alimentados com soja, e esta última estava deixando um rastro de desmatamento na Amazônia brasileira.  A principal fornecedora era a Cargill, multinacional de alimentos e uma das gigantes na comercialização e distribuição de commodities agrícolas, como soja e óleo de palma, com 150 mil funcionários em 70 países, 8 mil só no Brasil.
A ação do Greenpeace estampou jornais no mundo todo.


E a denúncia resultou num acordo que ficou conhecido como Moratória da Soja: a partir dali, a indústria se comprometeu voluntariamente a excluir o desmatamento de sua cadeia produtiva. Murphy relembrou a história na sua fala no painel de abertura da Segunda Assembleia Geral da Tropical Forest Alliance 2020 (Aliança da Floresta Tropical), uma iniciativa global que reúne governos, empresas e sociedade civil com o objetivo de acabar com o desmatamento na produção de commodities como soja, carne, madeira e óleo de palma. A reunião ocorreu em Brasília, entre os dias 20 e 22 de março.


“Não parece muito tempo, faz dez anos. Mas no quesito comportamento sustentável, o agronegócio brasileiro não tinha nada a ver com o que temos hoje”, afirma Carlo Lovatelli, presidente da Abiove (Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais), que tem entre os associados multinacionais como a Cargill, a Bunge e a Amaggi.



Não foi apenas o agronegócio que mudou. De lá para cá, as estratégias para enfrentar o  desmatamento de florestas tropicais passaram a incluir cada vez mais outros atores além de governos. Se as leis e repressão a infrações, o chamado "comando e controle", eram as principais ferramentas usadas nesta luta, hoje é quase impossível falar de combate ao desmatamento sem olhar para o setor privado e sua produção de commodities.


A cada ano, o número de empresas e governos comprometendo-se com o fim do desmatamento em suas cadeias produtivas aumenta. De acordo com o projeto Supply Change, da ONG Forest Trends, hoje já são mais de 400 companhias assumindo globalmente cerca de 700 compromissos deste tipo. Um aumento de 43% em relação ao ano anterior. Quase sempre, essas empresas produzem ou compram commodities de países com vasta cobertura florestal, como Brasil e Indonésia. “Cerca de 12% dos compromissos que monitoramos envolvendo soja e 28% dos relacionados à pecuária estão focados no bioma Amazônia”, afirma Stephen Donofrio, um dos coordenadores do Supply Change.



Comando e acordos

“As ações de comando e controle chegaram até onde poderiam. A partir de um ponto, elas não conseguem mais avançar muito sem a cooperação de outros setores. É neste momento que começam a surgir as parcerias público-privadas e os mecanismos de mercado para segurar o desmatamento”, diz Isabella Vitali, diretora no Brasil da Proforest, organização que apoia empresas e governos na implementação de compromissos para a produção e compra de commodities livres de desmatamento.



Segundo ela, a Moratória da Soja traz um pioneirismo em seu arranjo, ao envolver indústria, governo e sociedade civil. Para além das fronteiras nacionais, até hoje a experiência é encarada como exemplo. “Depois dela surgiu uma moratória semelhante para a Mata Atlântica no Paraguai, e estão tentando fazer algo parecido na Indonésia, para óleo de palma”.



O caminho é sem volta, como mostra a Tropical Forest Alliance 2020. Com cinco anos de estrada, a TFA 2020 veio ao mundo por uma demanda do próprio setor privado. Sinal dos tempos. Em 2010, o Consumer Goods Forum (CGF) – uma rede de grandes empresas globais como McDonald’s, Unilever e Nestlé – aprovou uma resolução em que seus membros assumiram o compromisso voluntário de, até 2020, atingir o desmatamento zero líquido em suas cadeias de suprimento.


"Antes da Moratória, 30% da expansão da soja na Amazônia foi em áreas desmatadas. Depois do acordo, esse número caiu para cerca de 1%"
Como a tarefa é hercúlea, as mesmas empresas concluíram que sozinhas não chegariam a lugar algum. “Elas, então, demandaram uma plataforma em que pudessem dialogar com outros setores, em especial os governos e as organizações da sociedade civil. E daí nasce a TFA 2020”, explica Fabíola Zerbini, coordenadora regional da rede na América Latina.



Na última semana, o clima era de intercâmbio no evento da TFA2020. Mark Murphy, da Cargill, relembrou a história das galinhas no McDonald’s sentado lado a lado com o ex-diretor do Greenpeace, Marcelo Furtado. Outros tempos: “Numa sociedade global, você tem que entender que um objetivo tão ambicioso como acabar com o desmatamento só pode ser alcançado em parceria”, diz Furtado.


Foi o que aconteceu no caso da Moratória da Soja. E é o que está acontecendo no Acordo da Pecuária: desde 2009, frigoríficos, supermercados e empresas multinacionais que compram carne ou couro de gado criado na Amazônia vêm se comprometendo a eliminar o desmatamento de suas cadeias produtivas.


Funciona
Os dados mostram que a estratégia dá certo. Em um levantamento publicado pela revista Science, pesquisadores americanos e brasileiros chegaram à conclusão: antes da Moratória, 30% da expansão da soja na Amazônia foi em áreas desmatadas. Depois do acordo, esse número caiu para cerca de 1%.



Num outro estudo, da ONG Imazon, as mudanças também aparecem no setor da pecuária. Segundo os dados, a JBS, maior frigorífico que atua na Amazônia brasileira, reduziu as compras de gado de áreas desmatadas ilegalmente. Numa amostragem, os pesquisadores analisaram as plantas frigoríficas da empresa que respondiam por 30% do abate no estado do Pará. O trabalho concluiu que o percentual de fazendas fornecedoras da JBS que haviam desmatado entre 2009 e 2013 caiu de 36%, antes do acordo, para 4% depois dele.


Para Fabíola Zerbini, a mudança no comportamento do setor privado veio com um amadurecimento e uma nova noção de responsabilidade compartilhada: “Há um marco recente que chama para a corresponsabilidade, que pode ser movimentada por um pioneirismo de marketing – quando uma empresa quer agregar valor social e ambiental à sua marca – ou por uma pressão de reputação – quando elas começam a ver seus produtos associados a problemas sociais e ambientais”.
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Ativistas fantasiados do Greenpeace. Foto: Jiri Rezac/Greenpeace
Quando o Greenpeace colocou ativistas vestidos de galinhas nas lojas do McDonald’s, ele sabia bem que estava mexendo com a reputação de todo um setor. As empresas começaram a trazer para a si a responsabilidade sobre o desmatamento da Amazônia. E, neste caso, resolveram se mexer pelo risco de ter sua história associada à destruição das florestas.


Nesta construção, o Estado deixa de ter um papel preponderante, abrindo espaço para caminhos alternativos de solução. “Começam a nascer mecanismos de governança privada, trazendo respostas que o governo, enquanto Estado, não consegue mais trazer, porque as coisas estão mais complexas”, afirma Fabíola. “Criam-se, então, estruturas de governança quase paralelas. São acordos voluntários, mas que estão ali. E a partir deles, acaba-se regulando, legislando sem ser governo".


Métricas
Com o aumento de atores e compromissos assumidos, crescem também as plataformas de dados que ajudam no monitoramento e na implementação destes acordos. O próprio Supply Change, da Forest Trends, é uma delas. Anualmente, o projeto publica um relatório com um panorama das empresas envolvidas em acordos contra o desmatamento e o desempenho delas neste caminho.


No evento da TFA 2020 em Brasília, também foi apresentada pela primeira vez no Brasil a plataforma de transparência Trase, que pretende mapear as cadeias produtivas de commodities numa escala sem precedentes. Com apenas alguns cliques, a Trase levanta detalhes sobre desmatamento, dados de comercialização, uso de trabalho escravo e outros riscos associados à produção dessas commodities. Assim como aponta oportunidades de investimento em locais onde estão sendo implementadas práticas sustentáveis.


A ferramenta foi lançada oficialmente no fim de 2016, durante a Conferência do Clima no Marrocos. Por meio dela, é possível, por exemplo, observar as taxas de desmatamento num município onde a soja é exportada por empresas que já assumiram compromissos pelo desmatamento zero, comparando com outros municípios onde a commodity é exportada por empresas que não assumiram compromissos. Enxergar a dinâmica da supressão de floresta entre esses dois cenários pode dizer muito sobre a eficácia dos compromissos.


Por enquanto, a Trase traz um mapa da soja brasileira e paraguaia, além da carne bovina exportada por Brasil, Paraguai e Argentina. Nos próximos cinco anos, a plataforma pretende oferecer informações sobre mais de 70% da produção total de commodities que representam riscos à floresta. Todas as informações disponíveis ali podem ser baixadas gratuitamente.


“Se os dados não existem ou não estão disponíveis, é impossível dizer se um acordo pelo desmatamento zero está tendo sucesso ou não. A Trase é uma ferramenta quase única para ajudar a responder esta pergunta”, diz o pesquisador Toby Gardner, do Instituto Ambiental de Estocolmo e um dos criadores da Trase.


O cenário, portanto, é fértil: com um intenso intercâmbio global, proporcionado por iniciativas como a Tropical Forest Alliance 2020, as ferramentas e mecanismos contra o desmatamento estão cada vez mais sólidos e poderosos. Mesmo assim, a luta está longe do fim: nos últimos anos, os índices de devastação da floresta voltaram a subir na Amazônia.



“Em todas as discussões internacionais que participo, o Brasil sempre aparece como herói e como vilão ao mesmo tempo. Todo mundo reconhece os avanços e as muitas soluções inovadoras feitas aqui”, diz Isabella Vitali, do Proforest. “Mas quando olham a notícia de que o desmatamento continua crescendo, os países olham para cá com bastante receio. No linguajar do setor privado, o Brasil continua sendo uma origem de risco”.

Brasil: Um país onde alimentar passarinhos é crime

O País onde alimentar passarinhos é crime

Por Fabio Olmos
O famoso comedouro de aves da Trilha dos Tucanos. Crianças de todas as idades, como a da foto, saem deste passeio com um sorriso de orelha a orelha. Fotos: Fabio Olmos
O famoso comedouro de aves da Trilha dos Tucanos. Crianças de qualquer idade, como a da foto,
saem deste passeio com um sorrisão. Foto: Fabio Olmos

Vivemos uma era onde experiências são mais valiosas que compras. E o turismo de vida selvagem, aquele que te oferece momentos Animal Planet, BBC, National Geographic ou Discovery Channel, vende experiências supremas.

Estar próximo e interagir com bichos vivos proporciona aqueles momentos PQP que atraem visitantes a UCs das ilhas Antípodes ao Zimbabwe, gerando cadeias de negócios, integrando comunidades isoladas à economia global e criando empregos.

Na pior das hipóteses, bichos são conservados porque são mais valiosos vivos do que mortos. Na melhor, há o salto civilizatório e eles passam a ser companheiros de nossa jornada neste planeta, com os mesmos direitos à existência.

A necessidade humana de proximidade e interação gerou negócios antes improváveis como visitar gorilas em Uganda, passar o dia com onças no Pantanal, observar baleias, caminhar com pinguins e mergulhar com tubarões.

Os tubarões chamam a atenção porque um dos padrões da indústria são excursões onde os simpáticos bichinhos são alimentados pelos dive-masters e fazem a alegria dos turistas. Um resultado é que os tubas são totalmente protegidos em países como as Bahamas pois são um motor da economia.

Existem outros empresários de bichos que criaram negócios similares, que beneficiam todos os envolvidos. Aqui em São Paulo, um dos locais mais agradáveis para observar aves é a Trilha dos Tucanos, em Tapiraí. Além de uma bela floresta, sistema de trilhas, hospedagem e restaurante, o que atrai birders e fotógrafos ao lugar são os comedouros que atraem montes de aves silvestres que se tornaram habituadas às pessoas.

Tucanos também é um dos melhores lugares que conheço para, como diz o povo da educação ambiental, sensibilizar as pessoas. Ter um grupo de saíras e catirumbavas comendo banana na mão de uma criança por cinco minutos vale mais que seis meses catando latas para reciclagem ou fazendo papel na escola.
Comedouros sim, gaiolas não. Unidades de conservação poderiam dar o exemplo.
Comedouros sim, gaiolas não. Unidades de conservação poderiam dar o exemplo.
Foto: Fabio Olmos


Tucanos não é única a ter comedouros para aves, que são comuns em reservas e propriedades privadas em todo o Brasil e fazem a alegria de passarinhos e seus amigos. O que chama a atenção é que, com pouquíssimas exceções, comedouros de aves são explicitamente banidos das unidades de conservação manejadas pelo Estado.


Sempre que pergunto a razão, ouço que é “é proibido pela lei” e explicações do tipo “altera o comportamento”, o que não explica coisa alguma. Construir um centro de visitantes, ter veículos nas estradas de serviço, iluminação noturna ou abrir um aceiro também altera o comportamento da fauna, mas fazemos isso em uma UC porque os benefícios são entendidos como maiores do que os malefícios.


Qualquer um que já gastou algum tempo olhando a reação das pessoas – especialmente crianças – visitando um comedouro de aves decente já percebeu como estes podem ser uma ferramenta poderosa para conquistar corações e mentes contra atividades que são as verdadeiras desgraças, como a caça e a tradição de ter aves em gaiola.

Os que turistam em UCs pelo mundo também já descobriram que somos uma Coréia do Norte com relação a práticas comuns e correntes. Para não ir longe, nos Estados Unidos – onde parques nacionais são considerados “America’s Best Idea” – todo centro de visitantes de qualquer UC tem comedouros para que todos, inclusive aqueles com limitação de mobilidade, possam ter um gostinho da fauna alada.

Dá trabalho? Claro, a higiene é fundamental. Altera o comportamento? Lógico. Isso é ruim? Não. O importante é que altera o comportamento das pessoas. Ninguém é convencido de algo por conta de sua racionalidade. Somos convencidos pelas nossas emoções, e aí está a chave da razão de as experiências que oferecem contato próximo com o mundo natural serem transformadoras.


Além disso, há toda uma série de programas de monitoramento pelo mundo afora que utilizam comedouros e plataformas de Ciência Cidadã para acompanhar as tendências populacionais das aves e relacioná-las a coisas como o uso da terra e mudanças climáticas. Programas que, por sinal, incluem comedouros instalados em escolas. Alguém captou a ideia?


Proibir comedouros de aves em UCs brasileiras faz muito mais mal do que bem. Cada parque sem comedouros é uma oportunidade perdida de educar e sensibilizar, e de mostrar algo que pode ser feito em casa e ser parte do processo de erradicar a tradição das gaiolas.
Albatrozes-de-coroa-branca Thalassarche steadi acompanham o barco onde fiz uma saída pelágica em Stewart Island, no sul da Nova Zelândia, esperando um lanchinho. Este momento será inesquecível para quem estava ali.
Albatrozes-de-coroa-branca Thalassarche steadi acompanham o barco onde fiz uma saída 
pelágica em Stewart Island, no sul da Nova Zelândia, esperando um lanchinho. 
Momento inesquecível para quem estava lá. Foto: Fabio Olmos

O que aconteceria se alguém propusesse que cada UC brasileira tenha comedouros de aves? Na minha experiência irá esbarrar no “é ilegal”, “altera comportamento” e outras desculpas que não são desculpas. Se há alguma lei que proíbe oferecer bananas a passarinhos, ela merece uma banana.
Indo além, e voltando ao começo. Alimentar tubarões é comum em UCs marinhas do mundo todo, com pilhas de pesquisas sobre o assunto que vão do monitoramento de populações, passam pela economia e chegam à ausência de impactos significativos no seu comportamento.


Um dos exemplos de como o Brasil é torto é que em Fernando de Noronha ninguém está autorizado a fazer um shark diving como nas Bahamas, ao mesmo tempo que os mesmos tubarões são mortos no entorno do parque para fazer o famigerado tubalhau.


Aliás, lembre-se de que quem compra produtos feitos com carne, dentes e outras partes de tubarões e cações está ajudando estas espécies a desaparecer.


Ainda no mar, outra atividade que envolve oferecer alimento a animais para proporcionar momentos PQP é a observação de aves marinhas. No Brasil essa atividade ainda é incipiente mas em outros países é uma indústria consolidada, com operadores e excursões regulares saindo de portos na África do Sul, Chile, Peru, Nova Zelândia, Estados Unidos, Portugal, entre muitos mais.


Como observador de aves, tenho um fraco pelos albatrozes e petréis que são as grandes estrelas da maioria dos pelágicos pelo mundo afora e já participei em várias excursões nestes países. Um dos mais interessantes é a Nova Zelândia.


A nação-ilhas é o hotspot da diversidade de albatrozes e petréis do mundo e um dos campeões de sua conservação. Aves marinhas formam um dos grupos de aves mais ameaçados, com 15 das 22 espécies de albatrozes sob ameaça de extinção porque muitas aves são mortas por barcos espinheleiros (os que pescam tubarões, atuns e mecas. Peixes que você não deveria consumir) e porque cães, gatos, ratos e camundongos introduzidos – e vândalos – dizimam suas colônias reprodutivas.


A Nova Zelândia é uma campeã nos esforços de conservação dessas aves, com projetos que incluem a erradicação de predadores introduzidos, criação de UCs marinhas, desenvolvimento de técnicas de pesca que minimizam a mortalidade, monitoramento das embarcações de pesca e promoção de acordos internacionais como o Acordo para a Conservação de Albatrozes e Petréis – ACAP, do qual o Brasil é signatário.
Albatrozes-neozelandeses Diomedea antipodensis e petréis-gigantes Macronectes hallii atraídos pelo purê de fígado de peixe oferecido durante um pelágico em Kaikoura, Nova Zelândia. O país é referência em ecoturismo e conservação marinha, combinando ambas.
Albatrozes-neozelandeses e petréis-gigantes atraídos pelo purê de fígado de peixe oferecido 
 durante um pelágico em Kaikoura, Nova Zelândia, país referência em ecoturismo e 
conservação marinha. Foto: Fabio Olmos


Outra coisa na qual a Nova Zelândia é campeã é o ecoturismo. Ali há diversos operadores que levam as pessoas para ver, ao vivo e a cores, a diversidade de albatrozes, petréis e aves marinhas que o país tem.


Se minha experiência vale algo, ver um albatroz-real com três metros de envergadura ao alcance da mão, um grupo com dezenas de albatrozes de quatro espécies diferentes acompanhando seu barco ou petréis-gigantes lutando sumô causam aquela sensação que faz você se perguntar por que há quem use drogas ao invés de observar aves.


Estas excursões permitem o contato próximo com essas aves quase lendárias, que normalmente ninguém vê nem sabe que existem. Quando o pessoal do Projeto Albatroz começou a trabalhar para que o governo brasileiro participasse das negociações do ACAP descobriu que poucos em Brasília sabiam o que era um albatroz...


Também são a única oportunidade que mortais comuns têm para ver espécies raríssimas, como o New Zealand Storm Petrel. Considerado extinto em 1850, foi redescoberto em 2003 por observadores de aves numa saída pelágica. Hoje há todo um programa de pesquisa e monitoramento da espécie -- uma das aves mais raras do mundo --, enquanto as excursões comerciais para observá-la continuam.
Falar em excursões comerciais para observar espécies criticamente em perigo causa urticária em algumas pessoas por aqui. Que aumentará se eu disser que alguns destes tours, como em Kaikoura (assista o vídeo!), são feitos em unidades de conservação marinhas.


Para “piorar”, todas as excursões para observar aves marinhas na Nova Zelândia adotam a prática (padrão no mundo todo, por sinal) de lançar alimento na água para atrair as aves. Sim, leitores e leitoras, lá eles alimentam os passarinhos para que os visitantes possam vê-los de perto. E ainda ganham dinheiro com isso.


E não é qualquer comida que é usada. A preferência é por um purê feito com restos de salmão, criado nas muitas fazendas marinhas do país. Proteína com óleo de peixe é irresistível para as aves.
Estes dois parágrafos devem conter uns quatro ou cinco pecados se seguirmos o padrão do planejador ambiental brasileiro. Para os neozelandeses, que devem ter o melhor histórico de manejo de aves marinhas e de conservação marinha, é usual.


O New Zealand Storm Petrel (Fregetta maoriana) foi considerado extinto em 1850 e redescoberto por observadores de aves em 2003. Você pode observar esta espécie em saídas organizadas por diversos operadores turísticos no Gulf of Hauraki Marine Park, que usam restos de salmão moído para atrair as aves.
O New Zealand Storm Petrel (Fregetta maoriana) foi considerado extinto em 1850 e 
redescoberto por observadores de aves em 2003. Você pode observar esta espécie em 
saídas organizadas por operadores turísticos no Gulf of Hauraki Marine Park, que usam 
restos de salmão moído para atrair as aves. Foto: Fabio Olmos


O mar brasileiro é utilizado por 45 espécies de albatrozes e petréis, além de dezenas de gaivotas, fragatas, atobás, trinta-réis, etc. Continuamos sabendo muito pouco sobre a maioria destas aves além de muitas estão ameaçadas. Ao mesmo tempo há uma crescente comunidade de observadores de aves que está engajada em Ciência Cidadã usando plataformas como o Wikiaves e o eBird.


O que aconteceria se alguém aqui no Brasil quiser fazer excursões em UCs marinhas como Alcatrazes, Noronha ou Abrolhos para observar aves usando as mesmas práticas que os neozelandeses? E se alguém quiser começar um negócio de mergulho com tubarões como é feito nas Bahamas?


Falando por experiência, bateria na desculpa do “altera comportamento”, “cria impacto” e outras explicações que não explicam nada.


Regras discutíveis que restringem a visitação de UCs e proíbem atividades que são rotineiras em outros países pioram a situação. Inibem o uso das UCs por um público interessado pela sua conservação, matam oportunidades de monitoramento e abortam negócios baseados no turismo de vida selvagem.

O que é mesmo que causa impacto?




Comentários (17)


Avatar de Fernando Tortato
Fernando Tortato · 
Parabéns Fábio!!


Avatar de Fernanda
Fernanda · 
Ecoturismo para observação de fauna no Brasil está loooooonge de ser real e legal como em outros países! Obrigada, Fábio!


Avatar de Eden Fontes
Eden Fontes ·
Parabéns pelo excelente texto, para nossa reflexão do melhor uso das UCs, com práticas adotadas mundo afora e que não exigem necessariamente grande investimento financeiro.

É até comum, e estranho, que muitos observadores de aves prefiram estar fora das UCs do que dentro delas, alguma coisa não está legal no modelo adotado.


Avatar de paulo
paulo ·
Bingo, vamos abrir as discussões. 
 
Avatar de Helmut Mee
Helmut Mee ·
Belo texto, Meus parabéns,

Importante ressaltar que em outros países existem instituições sérias que representam as classes, por este motivo, hoje existem conquistas, infelizmente aqui no Brasil a Sociedade Brasileira de Ornitologia, há duas décadas serve apenas aos interesses da diretoria.

Não existe publicação impressa, não existe conteúdo exclusivo ao sócios, não existem prêmios ou apoio a pesquisadores, não existem bolsas de pesquisa para estudantes, cursos promovidos, workshops gratuitos, nada.

O que existe sim, é captação de recursos e, dados, para exportação, verba captada no país é direcionada em benefício dos projetos da própria diretoria, ou melhor, da Birdlife, enquanto instituições internacionais recebem cada vez mais verba em resposta a expansão da coleta de dados e projetos por aqui, o Brasil não recebe nada em troca, continuamos trocando ouro por espelhos e, só quem se beneficiam são alguns poucos.

Birdlife, Cornell, American Conservancy, todos beneficiados pelo tráfico de influência através de Sociedade de Ornitologia, enquanto apresentam relatórios sobre os nossos dados, enquanto conseguem a cada ano mais verba, não oferecem nenhuma contrapartida substancial a quem realmente protege as aves brasileiras, os cientistas que ainda lutam por aqui para desempenhar seu papel, com pouca verba, sem bolsas, sem tempo, encalhados na burocracia. 
 
Avatar de Fabio
Fabio · 
Helmut, acho que você não conhece coisa alguma sobre o trabalho da BirdLife, desenvolvido no Brasil através da SAVE, e está dando um bom exemplo de como pessoas não se inibem de expor sua ignorância ou suas más intenções.. 

A SAVE atua em projetos de extrema importância, como a conservação das aves endêmicas da Mata Atlântica do nordeste, na reserva da Serra do Urubu e a reintrodução de jacutingas na Mata Atlântica, e foi fundamental em reverter a situação em Boa Nova. Por sinal, questões onde o governo teve que ser empurrado para atuar. 

American Bird Conservancy está colocando dinheiro em projetos efetivos enquanto Cornell criou um sistema de Ciência Cidadã que se tornou padrão devido à sua qualidade. Para inveja mortal de alguns pesquisadores tupiniquins. Se isso não é oferecer contrapartidas às aves, então não sei o que é.
Mas é lógico que sempre vai haver os que ficam mordidos com quem trabalha. 
 
Avatar de LUCIANO BERNARDES
LUCIANO BERNARDES · 
Excelente texto Fabio, meus parabéns! 
 
Avatar de Eugênio
Eugênio 
Excelente artigo. Como aprendi! 
 
Avatar de José Truda
José Truda · 
Disse tudo, grande Fabio! Assino embaixo 100%!
 
Excelente artigo! Por que não se discute isso nas faculdades? Essencial para formação de biólogos (e quem trabalha com natureza). 

Devemos lembrar a alimentação do Lobo Guará no Caraça. Não conheço como é feita nem se contribui de alguma maneira a projetos com o lobo, e creio que se mantém apenas por ser de uma instituição religiosa. Porém é certo que cada um que conheço e já foi lá conta da experiência como algo único, e muda completamente a visão do lobo e sua natureza. Torna-se um potencial contribuinte nas questões conservacionistas.
Enquanto a educação ambiental crítica ganha destaque e mostra o real problema em relação ao meio ambiente (político, econômico e social) e a educação ambiental tradicional bate na tecla "faça sua parte", acredito que a educação ambiental por meio do contato direto com a natureza, uma vertente pouquíssimo explorada e estudada, seja uma das mais importantes para que se crie, de fato, uma consciência.
O meu projeto, Projeto Mantis, estuda os louva-a-deus e buscamos exatamente esse contato. Posso dizer, com certeza, que se precisarmos de contribuições para salvar um louva-a-deus em extinção, teremos pessoas dispostas a isso. Porque mudamos nelas a percepção de mundo ao abrir as portas para os louvas, os insetos e a própria natureza. Ao mostrar um pouco da riqueza que está nas nossas matas e, pasmen! também nas cidades, tão próximas. O maior orgulho é ver pessoas que chegam com nojo e repulsa por insetos e saem completamente mudados, pedindo para que soltemos nossos louva-a-deus de volta à natureza (são criados para pesquisa com devida licença) ou perguntando como poderiam ter um de pet em casa. 

E como Fábio diz no artigo, estamos em uma era de experiências. Justamente o que, economicamente, a natureza pode oferecer! Faço disso minha missão diária com os insetos e não é difícil! Ao contrário, as pessoas querem essa experiência, mesmo que não saibam. O ser humano deseja esse contato. Tão fortemente que rapidamente muda sua perspectiva, do "estranho selvagem" para um "ser magnífico". 
 
O Brasil tem a maior biodiversidade do mundo e não usufrui, no bom sentido, dela. A lei não permite comedouro de passarinho mas deixa o desmatamento correr solto por aí... Falta também engajamento das pessoas. Nossos cientistas, em sua maioria, estão presos em seus laboratórios, com seus dados, publicando seus artigos, indo a seus congressos, fazendo seu próprio ego enquanto lá fora ninguém sabe o que está acontecendo nem entende o que vale um trabalho desses, porque não conhece. Em parte, culpa nossa que pesquisa e não diz por aí. Mas há como mudar. 
 
Avatar de Mauricio Arantes
Mauricio Arantes · 
Pra variar : " - Falou e Disse Fabio"; Parabéns pelo texto. Abraço 
 
Avatar de José Martins
José Martins ·
Este é o o ponto de vista de uma pessoa, que tem que ser respeitado, até porque o mesmo tem escrito belíssimos texto sobre a necessidade de incrementarmos a visitação nas UCs.

Mas tem muitas outras pessoas que tem opiniões contrárias a alimentar animais, com embasamento científico. Um trabalho (ORAMS, M. B. Feeding wildlife as a tourism attraction: Issues and impacts. Tourism Management, v. 23, n. 3, p. 281-293, 2002) afirma que "a alimentação artificial de animais selvagens implica uma variedade de consequências negativas, incluindo alteração de padrões comportamentais e populacionais, dependência e habituação, agressividade e problemas de saúde, como doenças e injúrias; portanto, com exceção da alimentação deliberada no auxílio da reabilitação de animais doentes ou machucados e da alimentação suplementar na recuperação de uma espécie ameaçada, é difícil encontrar qualquer justificativa biológica para a alimentação artificial da vida silvestre. Outro trabalho (OLIVEIRA, D. G. R. Impactos da visitação turística sobre animais em áreas naturais. 2009), afirma que "a alimentação artificial de animais em vida livre também pode aumentar a susceptibilidade dos animais a outros impactos antrópicos".

Peixes que comem pão, arroz, etc.. tem MUITAS vezes mais câncer de duodeno que peixes que se alimentam naturalmente.

Nas Bahamas, a situação de alimentação de tubarões é bem diferente e mesmo assim já ocorreram vários acidentes por lá.

A maior dificuldade para manter animais marinhos em cativeiro vivos, como aves e mamíferos, é a qualidade e sanidade dos peixes. Será que no Brasil, onde até as carnes para consumo humano tem sanidade duvidosa, teremos alimentadores de animais que cuidem da qualidade do alimento?

Mas em algumas situações alimentadores de pássaros em UCs não de proteção integral com sementes e frutas nativas da região são uma ótima opção de aproximar animais e pessoas.

Em situações onde o animal corre grande risco de morte e o turismo para valorização do animal vivo só é possível com alimentação, como é o caso do boto-cor-de-rosa na Amazônia, também acredito que a alimentação possa ser permitida com normas, controle e fiscalização.

Além disto, não sei o quanto conhecem de UCs marinha no Brasil e no mundo, mas eu conheço mais de 50, como Kaikoura (Nova Zelândia), e já li trabalhos científicos sobre turismo de fauna em umas 100. Em nenhuma delas é tão fácil ver a fauna marinha no ambiente natural como em FN.

Em Fernando de Noronha, os peixes sargentinhos (Abudefduf sacatilis) estão mordendo as pessoas que mergulham. Pedindo comida para um ser parecido com aquele outro ser que os alimentam. Sabiam disto? Será que os tubarões, quando ver uma pessoa, não vai morde-la para também ganhar comida. Eu já vi golfinho em cativeiro atacar adestrador a mordida para ganhar mais comida.

Acredito que é o turismo que deve ser estimulada em Fernando de Noronha e na maioria das UCs e proteção integral do Brasil é o turismo de observação de fauna marinha em comportamento natural na natureza.

É o que eu acho. Mas, este é só o ponto de vista de 1 pessoa.

José Martins
 
Avatar de Fabio
Fabio · 
 
José, alimentação suplementar de fauna silvestre terá consequências dependentes das espécies envolvidas. Para tubarões sabemos que o resultado é, no cômputo, positivo. E definitivamente desconheço caso de tubarões mordiscando gente pedindo comida. 

Fazer o mesmo com onças-pintadas não seria uma boa ideia já que a probabilidade dos bichos engajarem em interações negativas com as pessoas se torna alta. E o mesmo vale para primatas, de babuínos a macacos-prego. 

Para aves há sim um enorme corpo de literatura científica sobre os impactos, que vão variar entre lugares e espécies envolvidas. Há desde resultados que falam de aumento nas colisões com janelas, passando pelo aumento da sobrevivência das aves durante o inverno e como populações reintroduzidas se beneficiaram deste subsídio. No geral, é seguro afirmar que os benefícios superam bastante os malefícios. E, como eu disse, há montes de países onde os comedouros são padrão não só em UCs mas também nas reservas manejadas por instituições especializadas na conservação de aves, como a RSPB e a Audubon. Que entendem um pouco do assunto.
 
Avatar de Rogerio
Rogerio · 
 
Falou, falou e falou.... não é por que "só aqui" que é proibido que é um fato ruim. É a nossa legislação e eu concordo com a restrição. Ao alimentar voluntariamente um animal silvestre, você invariavelmente o domestica e isso, por si só, já é uma grande interferência naquela comunidade. O autor coloca todas as UCs num mesmo balaio, ou seja, nem conhece as categorias de uso. Existem, por exemplo, locais muito favoráveis para observação como o Pantanal Sul- Matogrossense, as áreas alagáveis no Rio Grande do Sul, entre outros, e que não precisam ficar dando comida. Na verdade esse hábito de ficar "cevando" as aves para vê-las em um lugar, não passa de preguiça.
Onde fica a diversão de caminhar silenciosamente por uma trilha a "caça" de sons e avistamento dessas aves voando, pousando, namorando e brigando pelas matas adentro? E ainda você pode avistar sapos, bromélias, orquídeas, cachoeiras, cobras, pequenos roedores, até cervídeos e canídeos!
A matéria não passa de uma visão que visa somente a economia, nem se importando com estudos científicos sérios.
Mas é isso, desse jeito ao Autor só falta dizer que seria ótimo ter nesses locais um pier de madeira nativa com poltronas e uma lanchonete americana ao lado.
 
Avatar de Fabio
Fabio · 
 
Rogerio, se vc for um cadeirante ou idoso gostaria de ver sua preguiça na hora de ter que andar no mato para ver algum bicho.
Quanto a estudos sérios, convido-a a deixar a preguiça de lado e a olhar a literatura científica e ver o que é feito em áreas protegidas de outros países, inclusive por instituições especializadas na conservação de aves.
Mas é claro que sempre haverá quem ache que o resto do mundo está errado e a Coréia do Norte está certa. 
 
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Andrea Ferrari · 
Este ano vi um tubarão na praia, totalmente por acaso, e foi uma das melhores experiências da minha vida. Desde então não paro de pensar em mergulhar com eles, quero ver estes caras de novo. Uma pena saber que será mais fácil fazer isso nas Bahamas que no meu país
 
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paulo ·  
 
Eta, Rogerio, academia demais espanta. Venha ver o mundo para TODOS.