quarta-feira, 1 de março de 2017

2016 foi o ano mais quente já registrado na história. O que esperar de 2017?

19 de Janeiro, 2017
   

Mapa de calor: os pontos em vermelho-escuro indicam as regiões do planeta em que as temperaturas médias foram recorde (imagem: NOAA)


A Agência Americana de Administração Oceânica e Atmosférica (NOAA, na sigla em inglês) confirmou nesta quinta-feira (18) que a média das temperaturas em 2016 foram as mais altas já registradas.


Esse não foi o único recorde quebrado no último ano. Aqui estão apenas alguns:

  • 2016 marcou o terceiro ano consecutivo de recorde na média da temperatura global.
  • Temperaturas médias recorde foram registadas em todos os meses de janeiro a agosto (as temperaturas mensais recorde registadas para Setembro, Outubro, Novembro e Dezembro ocorreram em 2015).
  • 15 eventos climáticos extremos, cada um custando mais de US$ 1 bilhão, ocorreram apenas nos Estados Unidos, causando um prejuízo total de US$ 46 bilhões em danos somados.
  • A extensão máxima da camada de gelo do Ártico foi a mesma de 2015, a menor registrada na história, e a extensão mínima de gelo foi mesma de 2007, a segunda mais baixa já registrada. 
  • 2016 foi o primeiro ano da história em que a média mensal de concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera não ficou abaixo de 400 partes por milhão (ppm). A última vez em que os níveis de gás carbônico chegaram a esta marca, os humanos ainda não existiam. Sem ações nacionais e internacionais para reduzir as emissões de Gases do Efeito Estufa (GEE), é remota a chance de que os níveis de CO2 fiquem abaixo de 400 ppm durante nosso tempo de vida.

O aumento continuará em 2017?


De acordo com o Serviço Meteorológico do Reino Unido (UK Met Office), é improvável que 2017 quebre novamente o recorde de temperaturas médias mais altas. Uma das principais razões para essa perspectiva é a recente transição de um El Niño historicamente forte durante grande parte de 2015 e 2016 para uma corrente La Niña que espera-se que permaneça ou mude para condições neutras durante boa parte deste ano. Entre as muitas implicações, o El Niño resulta em anos tipicamente mais quentes do que a média, enquanto os anos de La Niña são mais frios do que a temperatura média global.

Isso significa que as temperaturas globais vão começar a cair nos próximos anos?


Não. El Niño e La Niña influenciam as temperaturas globais anualmente, mas foram os gases do efeito estufa induzidos pelo homem que impulsionaram o aumento das temperaturas globais nas últimas décadas. Mesmo com condições de El Niño e La Niña oscilando de tempos em tempos, dezembro de 2016 foi o 384º mês consecutivo (o equivalente a 32 anos), em que as temperaturas médias mensais globais ultrapassaram a média do século XX. Além disso, cada uma das últimas três décadas têm sido sucessivamente a mais quente registrada, e esta década está no caminho para seguir a tendência mesmo que 2017 não supere 2016 como o mais quente já registrado.

Agir é mais importante do que nunca 

 

 

O fato de as atividades humanas estarem impulsionando o aumento das temperaturas globais é um consenso entre cientistas do clima e instituições científicas líderes em todo o mundo (IPCCNCANASANOAAWMONAS e UK MET Office). A temperatura mundial recorde de 2016, juntamente com os vários outros recordes recentes são lembretes de que é mais urgente do que nunca tomar medidas abrangentes sobre as mudanças climáticas.


Com o aumento das temperaturas globais, surgem impactos e riscos tangíveis. A atmosfera mais quente e o aumento do nível dos oceanos amplificam a intensidade e a frequência dos eventos climáticos extremos, ameaçando comunidades, economias e a segurança nacional. As declarações recentes do presidente americano Donald Trump, retrocedendo em planos nacionais e internacionais, preocupam em uma época em que precisamos de uma ação mais urgente.



 Agora, mais do que nunca, o mundo precisa buscar tanto a mitigação quanto a resiliência para se preparar para os impactos que já são inevitáveis. Ao mesmo tempo, é necessário evitar uma piora ainda maior. Agir para combater as mudanças climáticas hoje é, além de salvar vidas, um investimento inteligente que pode economizar milhares de dólares da população ao evitar futuros danos e, ao mesmo tempo, incentivar a contrução de uma economia mais forte e limpa.
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Este texto foi escrito por C. Forbes Tompkins e originalmente publicado no site do WRI.

Amazônia Esquartejada




Em artigo publicado neste domingo (12/2) no jornal Folha de S.Paulo, o sócio fundador do ISA, Marcio Santilli, critica o Projeto de Lei (PL) que subtrai mais de um milhão de hectares da extensão de cinco Unidades de Conservação e projeta um cenário de esquartejamento definitivo da floresta em fragmentos descontínuos

As rodovias federais (BRs) promovem a integração terrestre entre a Amazônia e o centro-sul do Brasil e se estendem a países vizinhos como Bolivia, Perú, Venezuela e Guiana Francesa. Também são fundamentais para o trânsito de pessoas e o escoamento de produtos regionais. Todavia, 80% dos casos de desmatamento na Amazônia ocorrem na faixa de 30 km ao longo das estradas pavimentadas.

Trecho da BR-163, no Mato Grosso 

Quando o governo federal anunciou, em 2003, a pavimentação da BR-163 (Cuiabá-Santarém), desencadeou-se um movimento chamado BR-163 Sustentável que propôs a implantação, concomitantemente à pavimentação da estrada, de um programa regional de desenvolvimento sustentável, para evitar a repetição dos gigantescos processos de grilagem de terras e desflorestamento dos tempos de ditadura no trecho paraense da Rodovia Transamazônica (BR-230) e entre o noroeste de Mato Grosso e Rondônia (BR-364).


Daí resultou, entre outras coisas, a criação de um mosaico de áreas de conservação federais e estaduais, que interliga blocos de Terras Indígenas nas bacias dos rios Xingu e Tapajós, visando assegurar a contiguidade da floresta. Porém, em vez de implementar e proteger essas áreas, os últimos governos vêm reduzindo sua extensão na região, liberando áreas que ficam à mercê de invasões, desmatamento e grilagem.


No governo passado, já se havia criado o precedente de alterar limites de áreas protegidas por meio de Medidas Provisórias (MPs), para reduzir áreas de Unidades de Conservação que seriam inundadas com a pretendida implantação de um sistema de hidrelétricas na Bacia do Tapajós. No governo atual, outras duas MPs tornaram a alterar limites de Unidades de Conservação nessa região.


Como se fosse pouco, deputados e senadores do Estado do Amazonas estiveram esta semana com o ministro Eliseu Padilha, da Casa Civil, para acertar com o governo o envio de um Projeto de Lei (PL) que subtrai mais de um milhão de hectares da extensão de cinco Unidades de Conservação criadas no final do governo passado. Eles querem extinguir a Área de Proteção Ambiental de Campos de Manicoré, diminuir o Parque Nacional de Acari, a Reserva Biológica de Manicoré, as Florestas Nacionais de Urupadi e Aripuanã, no sul do Amazonas e ao longo das BRs 230 e 319. Veja o mapa abaixo.


Essas Unidades de Conservação completam uma barreira de áreas protegidas que vem sendo construída há vários governos para conter a expansão das frentes predatórias de desmatamento que avançam para o sul do Amazonas a partir do norte do Mato Grosso e de Rondônia. Protegem ainda uma parte do eixo da BR-319, que liga Porto Velho a Manaus e que os políticos do Amazonas querem ver pavimentada.


O que está em jogo é muito mais do que o desmatamento e a grilagem. Estão se abrindo fendas transversais, contínuas e expansivas ao longo da Amazônia, de sul para norte e de leste para oeste, projetando um cenário de esquartejamento definitivo da floresta em fragmentos descontínuos, com graves implicações para os fluxos genéticos e de umidade. Ilhas de floresta não conservam animais, plantas e paisagens como um ambiente contínuo.

Trecho da BR-319 que liga Porto Velho a Manaus  

Outra consequência drástica é o provável impacto nos padrões de distribuição de umidade. Correntes atmosféricas amazônicas carregam vapor d´água, como rios voadores, provendo boa parte das chuvas que suprem as principais regiões agrícolas e metropolitanas do Brasil e dos países do Cone Sul.
A presente geração testemunhará o esquartejamento definitivo da maior floresta tropical do mundo se não houver resposta forte e rápida da sociedade aos que, no governo e no Congresso, só se movem em função de interesses próprios e imediatos.

Tcheco, tcheco, tcheco

julianna sofia
É secretária de Redação da Sucursal Brasília. Atuou como repórter na cobertura de temas econômicos. É vencedora dos prêmios SIP de Excelência Jornalística, Grande Prêmio CNT e Prêmio CNH.



Sérgio Lima - 16.mai.2005/Folhapress
ORG XMIT: 514601_0.tif BRASÍLIA, DF, BRASIL, 16-05-2005: Vista aérea da Esplanada dos Ministérios e do Congresso Nacional. (Foto: Sérgio Lima/Folhapress) ***EXCLUSIVO***
Vista aérea da Esplanada dos Ministérios e do Congresso Nacional

BRASÍLIA - Tcheco, tcheco, tcheco. É banho de bacia. Tcheco, tcheco, tcheco. Falta água noite e dia." A marchinha desabusada de tradicional bloco de rua de Brasília satiriza a realidade hoje da população do Distrito Federal.


A crise hídrica local, cantada e decantada diante da falta de chuvas e de investimentos públicos, desaguou em um racionamento que atingirá o Plano Piloto (centro da capital federal) a partir desta segunda-feira carnavalesca. O que se sabe por enquanto é que o rodízio de torneiras secas e água barrenta não tem prazo para acabar.


A Esplanada dos Ministérios será poupada e continuará com abastecimento garantido todos os dias da semana. O mesmo valerá para os setores hospitalares da cidade.


O palácio do governador Rodrigo Rollemberg ficará a ver navios –a seco. Representações diplomáticas, como embaixadas e consulados, também sofrerão com o corte. Mais uma oportunidade de mostrar ao mundo o espetáculo do Brasil previdente.


Outras regiões do Distrito Federal começaram a enfrentar o racionamento a partir de janeiro.
Além disso, desde outubro, a companhia de água e esgoto cobra das residências tarifa extra pelo consumo. Foram arrecadados desde então mais de R$ 9 milhões. O dinheiro está parado nos cofres do GDF. Nenhum centavo vertido até agora em obras para contornar a crise. A explicação é prosaica: ainda está sob audiência pública a minuta de resolução para definir a destinação dos recursos da sobretaxa.


Sem água, o brasiliense reage com algum humor e toma as ruas. Espera-se até quarta-feira o maior Carnaval da história da cidade, com participação de 2 milhões de pessoas. São principalmente blocos alternativos, sem financiamento estatal, que desfilam pelas quadras e monumentos.


E continua a marchinha: "Tcheco, tcheco, tcheco. O Pacotão que vai falar. A falta de gestão faz o DF afundar".