quinta-feira, 22 de junho de 2017

Valor Econômico – Ingleses dão lições de como renovar frota de ônibus sem poluir cidades


Marli Olmos | De Londres

Mestres em conciliar tradição e modernidade, os ingleses preservam, intocáveis, muitos símbolos de outras épocas - dos elegantes taxis pretos à cerimônia de troca da guarda da rainha. Às vezes ocorre uma exceção, como a cabine telefônica vermelha, que não resistiu ao celular e virou peça de museu. Mas se depender da vontade britânica, isso não vai ocorrer com outro emblema nacional - os ônibus de dois andares.


A frota londrina passa por completa renovação, com substituição dos ônibus convencionais por modelos híbridos -- elétricos e a combustão - ou apenas movidos a eletricidade. A princípio, os veículos de dois andares pareciam condenados pelo peso das baterias exigidas nessa tecnologia. Mas os técnicos deram um jeito e alguns "double deckers" elétricos começam a circular na capital inglesa.


Na cidade da tradição, que dá exemplo de inovação em transporte público mais limpo, o programa de renovação de ônibus funciona com subsídios, que saem de um fundo especial. Esse fundo é formado com recursos públicos, em parte sustentados com o dinheiro da cobrança de taxas e multas por infrações ambientais, como o famoso pedágio urbano de Londres.


O valor dos subsídios oscila de acordo com a quantidade de poluentes emitidos pelo veículo. Ônibus mais limpos recebem mais recursos do governo. Recentemente o prefeito de Londres, Sadiq Khan, anunciou que pretende antecipar em pelo menos dois anos metas previstas para 2020, que ampliarão a quantidade de zonas municipais com os ônibus ultralimpos.


O transporte em ônibus em Londres é operado por empresas privadas, que participam de licitações, como ocorre no Brasil. Além dos subsídios para estimular a renovação dos veículos por modelos menos poluentes, recursos públicos também subsidiam o preço das tarifas, como no Brasil.


Segundo o Departamento de Transportes da Inglaterra, nos quatro primeiros anos do programa foram concedidos em todo o país 86 milhões de libras (US$ 135,2 milhões, segundo cálculos baseados no câmbio da época) em subsídios para estimular trocas por ônibus que emitem baixo nível de dióxido de carbono. Os recursos permitiram a aquisição de 1,2 mil veículos mais limpos, o que, segundo as autoridades britânicas, garantiram redução de 28 mil toneladas de dióxido de carbono por ano.


No segundo semestre de 2016, foram anunciados mais 30 milhões (US$ 40,6 milhões) para estimular o uso dos veículos de emissões ultrabaixas. E mais recentemente, um volume de recursos ainda maior, de 100 milhões de libras (US$ 135,5 milhões), foi liberado para envolver no programa não só ônibus, mas também táxis.



O programa de substituição da frota londrina, que soma hoje 9,5 mil veículos, por coletivos mais limpos começou em 2009 com o uso de tipos de diesel menos poluentes. Pouco depois apareceram os ônibus híbridos, com dois motores. Um funciona com diesel e serve para acionar o elétrico, que entra em ação na maior parte do tempo em baixas velocidades, como ocorre nos centros urbanos. Hoje, 28% dos veículos que fazem o transporte público na capital inglesa são híbridos. A meta é elevar a fatia a pelo menos 35% em 2019.


Em 2016, o Reino Unido estabeleceu novas metas com vistas a um transporte público livre de poluentes. O primeiro passo dado com a aquisição de ônibus puramente elétricos. Londres lidera, com larga vantagem, o ranking das cidades que aderiram ao programa. 


A capital inglesa tem 48% dos ônibus que operam com energias alternativas no Reino Unido.


Finn Coyle, que coordena a área de emissões na Transport For London, órgão do governo local responsável pelo transporte público na Grande Londres, reage com surpresa, quase indignação, a quem lhe pergunta se, com a chegada dos veículos elétricos, os "double decks" serão aposentados. Segundo ele, as experiências com ônibus de dois andares elétricos já começaram. "Inicialmente o peso das baterias limita o número de passageiros; mas com o tempo esses veículos serão adaptados. A topografia de Londres não permite a circulação de veículos muito longos".

Pressões, em toda a Europa, para cumprimento de metas ambientais levam o governo britânico a acelerar a renovação da frota em todo o país, principalmente em Londres e Manchester. O transporte é responsável por 40% das emissões de óxido de nitrogênio na área metropolitana de Londres.

"O que conseguimos até agora com diesel mais limpo é insuficiente para alcançar as metas; por isso a eletrificação tem papel importante. Isso inclui os ônibus híbridos, que se mostraram altamente eficientes na redução de CO2, além dos veículos puramente elétricos", destaca Coyle. Em relação ao gás carbônico, um dos maiores vilões entre os poluentes veiculares, Coyle lembra que a meta fixada por Londres é chegar em 2025 com redução de 60% na comparação com os níveis de 1990.



"Problemas respiratórios na população e gastos públicos com saúde são grandes motivadores dos subsídios", diz Phil Fletcher, responsável pelas vendas da Volvo no Reino Unido. 

Com fatia de 23,5% nesse mercado de ônibus urbanos, a Volvo é uma das principais fornecedoras de híbridos para a região. Segundo a empresa, os mais de 5 mil ônibus com energia mais limpa que passaram a rodar do Reino Unido evitaram, nos últimos oito anos, que 310,5 mil toneladas de gases do efeito estufa fossem lançados no ar.

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