quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

DECLARAÇÃO DE QUÉBEC Sobre a preservação do "Spiritu loci"

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INTRODUÇÃO 

Reunião na histórica cidade de Québec (Canadá) de 29 de setembro a 4 de outubro, 2008, a  convite do ICOMOS, Canadá, na ocasião da 16ª Assembléia Geral do ICOMOS e dos festejos  do aniversário de 400 anos da fundação de Québec.


 Os participantes assumem a seguinte Declaração de princípios e recomendações para a  preservação  do  spiritu  loci  através  da  proteção  do  patrimônio  tangível  e  intangível,  considerado uma forma inovadora e eficiente de assegurar o desenvolvimento sustentável e  social no mundo inteiro.

REPENSANDO O ESPIRITO DO LUGAR 


1. Reconhecendo que o espírito do lugar é composto por elementos tangíveis (sítios,  edifícios, paisagens, rotas, objetos) bem como de intangíveis (memórias, narrativas,  documentos  escritos,  festivais,  comemorações,  rituais,  conhecimento  tradicional,  valores, texturas, cores, odores, etc.) e que todos dão uma contribuição importante  para formar o lugar e lhe conferir um espírito, declaramos que o patrimônio cultural  intangível confere um significado mais rico e mais completo ao patrimônio como um  todo, e deve ser considerado em toda e qualquer legislação referente ao patrimônio  cultural e em todos os projetos de conservação e restauro para monumentos sítios,  paisagens, rotas e acervos de objetos.

 2. Considerando que o espírito do lugar é complexo e multiforme, exigimos que os  governos  e  outros  interessados  convoquem  a  perícia  de  equipes  de  pesquisa  multidisciplinar e especialistas com tradição para melhor compreender, preservar e  transmitir este espírito do lugar.


3. Como  o  espírito  do  lugar  é  um  processo  em  permanente  reconstrução,  que  corresponde  à  necessidade  por  mudança  e  continuação  das  comunidades,  nós  afirmamos que pode variar ao longo do tempo e de uma cultura para outra, em  conformidade  com  suas  práticas  de  memória,  e  que  um  lugar  pode  ter  vários  espíritos e pode ser compartilhado por grupos diferentes.



IDENTIFICANDO AS AMEAÇAS AO ESPÍRITO DO LUGAR 



4. Considerando  que  mudança  climática,  turismo  em  massa,  conflitos  armados  e  desenvolvimento  urbano  induzem  transformações  e  ruptura  das  sociedades,  precisamos  melhorar  nosso  entendimento  sobre  estas  ameaças  para  poder  estabelecer medidas preventivas e soluções sustentáveis.  Recomendamos  que  entidades  governamentais  e  não  governamentais  e  organizações do patrimônio local e nacional desenvolvam planejamento estratégico a  longo prazo para prevenir a degradação do espírito do lugar e seu entorno. Os  habitantes  e  autoridades  locais  deveriam  também  ser  conscientizados  sobre  a  proteção do espírito do lugar, para que assim estejam melhor preparados a lidar com  as ameaças de um mundo em transformação.


5. À medida que aumenta o compartilhamento dos lugares empossados com diferentes  espíritos  por  vários  grupos,  aumenta  o  risco  de  competição  e  conflito.   Reconhecemos  que  estes  sítios  requerem  gestão,  planejamento  e  estratégias  específicas,  ajustadas  ao  contexto  pluralístico  das  sociedades  multiculturais  modernas.  


Como as ameaças ao espírito do lugar são especialmente poderosas entre grupos  minoritários, sejam nativos ou recém‐chegados, recomendamos que estes grupos  sejam  os  primeiros  e  mais  importantes  a  se  beneficiar  de  políticas  e  práticas  específicas.



PROTEGENDO O ESPIRITO DO LUGAR 


6. Como hoje em dia na maioria dos países do mundo o espírito do lugar, sobretudo  seus  componentes  intangíveis,  atualmente  não  se  beneficiam  de  programas  de  educação formal ou de proteção legal, recomendamos a implementação de reuniões  e  consultorias  com  peritos  de  diferentes  origens  e  recursos,  pessoas  das  comunidades locais, e o desenvolvimento de programas de treinamento e políticas  jurídicas para uma melhor proteção e promoção do espírito do lugar.


7. Considerando que modernas tecnologias digitais (bancos de dados, websites) podem  ser  usadas  eficaz  e  efetivamente  a  um  custo  muito  baixo  para  desenvolver  inventários  multimídia  que  integrem  elementos  tangíveis  e  intangíveis  do  patrimônio, nós incisivamente recomendamos seu amplo uso para melhor preservar,  disseminar  e  promover  os  sítios  do  patrimônio  e  seu  espírito.  Estas  tecnologias  facilitam a diversidade e renovação constante da documentação sobre o espírito do  lugar.


TRANSMITINDO O ESPIRITO DO LUGAR


8. Reconhecendo que o espírito do lugar é essencialmente transmitido por pessoas e  que a transmissão é parte importante de sua conservação, declaramos que é por  meio de comunicação interativa e participação das comunidades envolvidas que o  espírito do lugar é preservado e realçado da melhor forma possível. A comunicação  é, de fato, a melhor ferramenta para manter vivo o espírito do lugar.


9. Dado  que  geralmente  as  comunidades  locais  estão  mais  bem  posicionadas  para  compreender o espírito do lugar, sobretudo no caso de grupos culturais tradicionais,  nós afirmamos que são também aquelas melhor equipadas para sua salvaguarda e  que estas devem estar intimamente associadas em todos os esforços para preservar  e  transmitir  o  espírito  do  lugar.   Meios  de  transmissão  não‐formais  (narrativas,  rituais,  atuações,  experiência  e  práticas  tradicionais  etc.)  e  formais  (programas  educativos,  bancos  de  dados  digitais,  websites,  ferramentas  pedagógicas,  apresentações  multimídia,  etc.)  deveriam  ser  fomentados,  porque  não  apenas  garantem  a  proteção  do  espírito  do  lugar  mas,  acima  de  tudo,  protegem  o  desenvolvimento sustentável e social da comunidade.


10. Reconhecendo  que  a  transmissão  intergeracões  e  transcultural  desempenha  um  papel importante na disseminação sustentada e na preservação do espírito do lugar,  recomendamos a associação e o envolvimento das gerações mais novas, bem como  de grupos culturais diferentes associados ao lugar, na tomada de decisões políticas e  gestão do espírito do lugar.

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