sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

O desengonçado 'baile funk' dos ursos no Canadá



No fim do inverno, ursos pardos se desfazem de pelagem praticando uma 'dancinha' bem particular; câmeras da BBC registraram este curioso comportamento animal.

Quando a primavera chega nas Montanhas Rochosas do Canadá, os ursos pardos começam a se desfazer da densa pelagem que os manteve aquecidos no inverno. 

E fazem isso de uma maneira bem curiosa. 

Como se fossem dançarinos de "pole dance" - só que desengonçados -, eles se esfregam repetidamente contra o tronco das árvores. 

Além de permitir a troca da pelagem, essa "dança" deixa um odor particular nos troncos, que alerta os demais ursos sobre quem é "dono" daquele território. 

O registro integra a nova série de documentários da BBC, 'Planeta Terra 2', que durante quatro anos capturou comportamentos curiosos e poucas vezes registrados em câmeras do mundo animal. 

'Planeta Terra 2' foi ao ar na Grã-Bretanha mas não tem previsão de estreia no Brasil.

O presente que as crianças mais querem

21/12/2016 2 Comentários 


Por Maria Helena Masquetti*


Quem já não participou de uma conversa animada entre amigos quando o assunto eram fatos vividos na infância? Volta e meia, essas recordações acontecem e raramente o que nos salta primeiro à lembrança são os presentes que ganhamos, exceto quando vinham carregados de alguma história ou significado especial.



No entanto, como em todos os anos, muitos pais e familiares estarão às voltas nestas festas com a busca de presentes para suas crianças. É claro que a intenção de fazê-las felizes é a maior razão de tantos sacrifícios de tempo ou dinheiro, porém, presenteá-las com algo valioso e inesquecível, gastando o mínimo e ainda gerando recordações que as acompanharão para sempre, também é perfeitamente possível. A questão é o quanto estamos determinados a resgatar das mãos do marketing o conceito de felicidade com o qual ele tenta revestir produtos e serviços diversos.



Diferentemente desta felicidade artificial que o marketing tanto propaga, as crianças, quando livres no seu brincar, encontram prazer e alegria em coisas que quase nem percebemos. Numa viagem rápida pela própria imaginação, elas mergulham em cenários cuja beleza nenhum brinquedo – ainda mais concebido e fabricado por adultos – pode reproduzir.



Diferentemente desta felicidade artificial que o marketing tanto propaga, as crianças, quando livres no seu brincar, encontram prazer e alegria em coisas que quase nem percebemos. Foto: Shuttestock
Diferentemente desta felicidade artificial que o marketing tanto propaga, as crianças, quando livres no seu brincar, encontram prazer e alegria em coisas que quase nem percebemos. Foto: Shuttestock

Forçando um pouco a memória, talvez nos recordemos de uma boneca de pano ou do carrinho de lata que alguém nos ajudou a fazer. Provavelmente nos volte à memória a euforia com a qual acordávamos para uma viagem de férias ou mesmo para a casa de um parente mais próximo.


Ir encontrar os avós, fosse no aeroporto ou num ponto de ônibus, podia nos render horas de expectativa. Enfileirar cadeiras na sala para apresentar à família envolvida uma risonha e mambembe peça teatral era um espetáculo e tanto. Construir um brinquedo com o envolvimento de um adulto então, melhor que não ficasse pronto tão cedo a fim de prolongar um momento tão bom. Exemplos assim são fragmentos minúsculos do arsenal de ideias que podemos colocar em prática, usando o tempo que iremos gastar percorrendo lojas nos shoppings atrás de objetos que perderão a felicidade que prometem antes mesmo que a inclemente fatura do cartão de crédito nos seja entregue.



Se perguntarmos, hoje, a uma criança alvejada por comerciais sobre o que ela deseja ganhar, na maioria das vezes, sua resposta será automática, além de praticamente em coro com milhões de outras crianças que estarão pedindo por um mesmo produto, da mesma marca, do mesmo tamanho ou até da mesma cor. E isto sem que nos debrucemos a pensar sobre o quanto essa padronização do desejo pode afetar a construção da identidade dos pequenos e, mais tarde, suas próprias convicções adultas.


Ante a perspectiva de ver nossas crianças crescerem desejando o que o marketing deseja para elas, é de pasmar o contrassenso expresso nas assinaturas de tantos comerciais; “Para você que sabe o que quer” ou “Quem sabe o que quer, vai mais longe!”. Neste contexto contraditório das vendas, essas assinaturas são ocas de fundamento, ao passo que podem se tornar verdadeiras se estivermos com nossas crianças, nomeando suas características individuais e gerando condições para sua expressão própria.

Dado o bombardeio diário e das bem engendradas mensagens endereçadas aos pontos mais frágeis das crianças, provavelmente a maioria delas prefira os produtos anunciados muito mais do que os presentes marcados pelo afeto e pela correspondência com seus anseios legítimos. Cabe, no entanto, àqueles que realmente querem o melhor para elas, não abrir mão do que acreditam.


Nada é mais convincente para uma criança do que ver nos adultos de quem elas dependem a convicção de que ser é melhor do que ter e a alegria de construir junto com elas uma felicidade possível e uma história de infância rica de inventividade e ternura que elas não se cansarão de lembrar e contar. (#Envolverde)


* Maria Helena Masquetti é graduada em Psicologia e Comunicação Social, possui especialização em Psicoterapia Breve e realiza atendimento clínico em consultório desde 1993. Exerceu a função de redatora publicitária durante 12 anos e hoje é psicóloga do Instituto Alana.

Com câncer de pele não se brinca




saúde

[EcoDebate] O que é envelhecer? A palavra leva a uma discussão ampla que resulta em várias definições sob pontos de vista variados. A Medicina, provavelmente, exaltaria as alterações da funcionalidade do organismo. Já um poeta, sem dúvida, diria que envelhecer é alcançar a maturidade em sua plenitude. E você, o que pensa sobre o envelhecimento?


O assunto tem levado a reflexões constantes. E não é para menos. A realidade do país tem mudado. Em 2014, eram 26,1 milhões de pessoas com mais de 60 anos, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A Organização Mundial da Saúde calcula que em 2025 esse número, no Brasil, chegue a 32 milhões. Outro dado relevante é sobre a expectativa de vida do brasileiro, que, segundo o último levantamento do IBGE, subiu para 75,2 anos, em 2014.


Conclusão: aumenta o número de pessoas na Terceira Idade ao mesmo tempo em que elas estão vivendo mais do que antes. Isso requer mais qualidade de vida. Esta reportagem foi especialmente preparada para você que já está na chamada Melhor Idade ou conhece alguém que já chegou a essa fase e está em busca de uma pele bonita e saudável. A dermatologista, Dra. Darleny Costa Daher, escolheu algumas informações muito úteis e curiosas, além de dicas simples e de extrema importância. Confira.


Por que a pele envelhece?
São dois os principais motivos. O primeiro processo é chamado de intrínseco ou cronológico, provocado pela degeneração natural do corpo, na qual as células da pele, com o passar do tempo, perdem a capacidade de regeneração. Na prática, isso significa perda de fibras de colágeno e elastina. Essas duas substâncias naturais do organismo são responsáveis por dar firmeza e tonicidade à pele, que fica esticadinha.


Com a produção reduzida, os efeitos são inevitáveis: áreas de atrofia, rugas e flacidez.
Há quem reclame de que a pele fica sem brilho e mais seca. Isso porque as glândulas sudoríparas começam a reduzir o ritmo de trabalho, bem como a microcirculação, o que resulta numa pele com menos vitalidade.


O segundo processo recebe o nome de extrínseco e ocorre por influência de fatores externos, que aceleram e potencializam o envelhecimento. A exposição excessiva ao sol é um dos mais comuns. Na sequência, pode-se listar o uso do tabaco, do álcool e até mesmo a má alimentação. Daí a explicação porque há situações em que, ao observarmos a pele de uma pessoa, imaginemos que ela aparenta muito mais idade do que realmente tem.


Quais os principais problemas de pele na Melhor Idade?
Se a exposição excessiva aos raios ultravioletas é um dos principais fatores que aceleram o processo de envelhecimento, vale a pena destacar as principais consequências que ela provoca.


1) Melanose: também conhecida como mancha senil, porque é mais comum em pessoas com mais idade. É escura e pequena. Pode aparecer no rosto, na parte de cima das mãos, nos braços e nos ombros, áreas muito expostas ao sol. As pessoas mais claras são mais sujeitas a ter.

2) Leucodermia Solar: pequenas manchas brancas, principalmente, nos braços e pernas. A quantidade varia. Há quem tem poucas, outros têm muitas. Alguns pacientes confundem a leucodermia solar com vitiligo.

3) Ceratoses Actínicas: essas são manchas avermelhadas e frequentes nos ombros, braços, antebraços, parte superior das mãos, lábios e orelhas. É possível percebê-las num simples toque. O perigo das ceratoses é que podem evoluir para o câncer.

4) Rugas: são linhas resultantes dos movimentos e do trabalho da musculatura, ao longo dos anos. Elas são bem visíveis, principalmente no rosto. A ação direta do sol nas rugas pode torná-las ainda mais profundas.

5) Cânceres de pele: há três tipos mais comuns: o Carcinoma Basocelular, o Carcinoma Espinocelular e o Melanoma. O primeiro é o que tem maior ocorrência. Todos eles atingem, principalmente, as áreas mais expostas ao sol, como face, orelha, pescoço, couro cabeludo e costas.

Há outras alterações na pele não necessariamente resultantes da exposição solar. Seguem algumas:

1) Xerose Cutânea: caracteriza-se pela secura e aspereza, aspectos comuns na terceira idade por conta da dificuldade de reter a hidratação da pele.

2) Eczema Asteatótico: manchas escamosas que oferecem aparência de rachaduras. São mais comuns na parte inferior das pernas.

3) Eczema Numular: caracteriza-se pelo ressecamento excessivo da pele. O paciente observa lesões avermelhadas. Coça muito.

Existem ainda alguns tipos de infecções provocadas por fungos e vírus.

Há como tratar esses problemas?
O tratamento varia de caso a caso. O mais comum está relacionado à hidratação e higienização. As rugas, a flacidez e as manchas apresentam bons resultados com peelings, lasers, preenchimentos, toxina botulínica, além do uso regular e contínuo do fotoprotetor.

“Vale destacar que esses procedimentos, quando bem indicados e realizados por um dermatologista da Sociedade Brasileira de Dermatologia, podem trazer excelentes resultados, com melhora da autoestima e da qualidade de vida dos pacientes”, explica a Dra. Darleny.

Como evitar os danos provocados pelo envelhecimento na pele?
Há quem ignore a importância dos cuidados básicos. O que parece bobagem faz toda diferença na pele. Veja alguns:

a) Hidratar-se é um bom começo para eliminar as toxinas, que aceleram o envelhecimento. Beba, pelo menos, 2 litros de água por dia.

b) Não demore durante o banho e evite uso de buchas.

c) Dê preferência aos sabonetes neutros.

d) Hidratantes devem fazer parte do dia a dia. Use os hipoalergênicos.

e) Faça dos óculos escuros, chapéus e protetores solares grandes aliados.

Prevenção é a palavra-chave quando se quer garantir uma pele saudável e com boa aparência por toda a vida. E isso é feito a partir desses cuidados que parecem bobos e sem efeito. “A proteção deve ser diária.


O uso de protetor é necessário também quando o tempo está chuvoso. A falta de cuidados com a pele nessa fase da vida leva ao surgimento de algumas das lesões citadas ao longo da reportagem ou à piora daquelas já existentes.


Outro detalhe fundamental é manter uma ida com frequência ao dermatologista. Só o especialista pode apresentar diagnósticos corretos e precisos, orientar de forma segura e optar pelo tratamento mais adequado. Preocupar-se com a pele é também garantir uma vida mais longa com qualidade”, conclui a dermatologista Dra. Darleny Costa Daher.


Dra. Darleny Costa Daher


Formou-se na Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP), em 2006. Fez Residência Médica em Dermatologia, de 2008 a 2011, no Hospital Federal dos Servidores do Rio de Janeiro. Fez estágio opcional no Instituto de Dermatologia Prof. Rubem David Azulay da Santa da Misericórdia do Rio de Janeiro/RJ (2006) e estágio supervisionado no Ambulatório Souza Araújo, Laboratório de Hanseníase – IOC/FIOCRUZ (2010) e no Ambulatório de Esporotricose do Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas/FIOCRUZ (2010). A Dra. Darleny Costa Daher é, atualmente, médica dermatologista da Clínica Costa Daher.


in EcoDebate, 22/12/2016
"Com câncer de pele não se brinca," in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 22/12/2016, https://www.ecodebate.com.br/2016/12/22/com-cancer-de-pele-nao-se-brinca/.

16 fatos marcantes para o clima em 2016

Por Observatório do Clima
Para o bem e para o mal, 2016 foi um ano e tanto na luta contra a crise do clima. Foram 12 meses de uma sucessão vertiginosa de tragédias e esperanças, heróis e vilões, avanços e retrocessos. Relembre aqui 16 fatos, episódios e personagens que fizeram a história deste ano de extremos.


O ano mais quente da história
Foto: NASA
Foto: NASA
Você já sabe, mas não custa repetir: o ano que se encerra bateu de longe, de muito longe, todos os recordes de temperatura desde o início dos registros globais com termômetros, em 1880, e provavelmente desde a própria invenção do termômetro, em 1850.


Segundo a Organização Meteorológica Mundial, o ano deve fechar com uma média global 1,2oC mais alta do que na era pré-industrial. Foi o maior aumento anual de temperatura de todos os tempos: 0,2oC.


A culpa, como os cientistas já disseram várias vezes, foi de um El Niño monstro entre 2015 e 2016, sobreposto a uma tendência de aquecimento global que tende a acelerar devido ao encerramento de uma fase fria do Oceano Pacífico que durou uma década. Para 2017, felizmente, a previsão é menos sombria: dificilmente o ano novo baterá o calor de 2016. Mas sempre podemos contar com os maus hábitos da humanidade para produzir novos recordes.


Donald Trump  

Foto: Addres Latif/Reuters


A surpreendente eleição do bilionário/mitômano/agressor sexual/negacionista do clima, em novembro, botou em pânico a comunidade internacional – exceto talvez o governo russo. Desde então, muita gente tem tentado enxergar um fio de esperança em algum lugar: Trump disse que vê “alguma conexão” entre o aquecimento global e a ação humana! Aleluia! Trump se encontrou com Al Gore! Hosana nas alturas! Trump recebeu Leonardo DiCaprio! Glória a Deus!


O próprio Trump se encarregou na sequência de mostrar a que realmente veio: nomeou três negacionistas de alto coturno para a Agência de Proteção Ambiental, para o Departamento de Energia e para o Departamento do Interior. Ameaçou cortar a verba de pesquisas climáticas da Nasa. Cereja do bolo, anunciou que seu secretário de Estado será Rex Tillerson, presidente da Exxon. Ela mesma, a empresa que passou duas décadas financiando todo tipo de ataque à ciência do clima, mesmo sabendo desde os anos 1970 da conexão entre o petróleo e o aquecimento da Terra.


Cientistas do clima já estão copiando freneticamente as bases de dados climatológicos do governo que podem ser vítimas do esquadrão da morte do gabinete trumpista.


Tudo indica que o governo do republicano será tão ruim quanto parece. Mais uma vez, boa sorte ao mundo para resolver o problema com o governo americano jogando contra.


O Acordo de Paris agora é lei

Foto: Wikimedia Commons


Motivada em parte pelo medo de que a eleição americana pudesse dar no que deu, a ONU iniciou no começo uma ofensiva diplomática sem precedentes para botar o Acordo de Paris em vigor ainda em 2016, quatro anos antes do prazo oficial.


O esforço foi liderado pelo secretário-geral, Ban Ki-moon, com forte apoio dos líderes dos EUA, Barack Obama, da China, Xi Jinping, e da ministra do Meio Ambiente da França, Segolène Royal. E contou com uma esperta manobra jurídica da União Europeia para dispensar a ratificação em bloco e permitir que cada um dos 28 países pudesse somar seu esforço de corte individualmente, de forma a cumprir os critérios para a entrada em vigor. Desde 4 de novembro, Paris é lei no mundo inteiro, inclusive no Brasil.


A China desacelera – e as emissões globais vão junto

Poluição industrial na China. Foto: Li Fan/National Geographic Creative/Corbis


Em março, uma análise da trajetória de emissões da China sugeriu que o maior poluidor do planeta pudesse ter alcançado seu pico de emissões de gases-estufa em 2015, 15 anos antes do que se comprometeu a fazer na sua NDC. Na nova versão do Plano Quinquenal, a China se comprometeu a reduzir o uso de carvão mineral para gerar energia e a limitar o crescimento a “apenas” 6% ao ano (sambando na cara do Brasil). Também no começo do ano, o governo chinês anunciou o fechamento maciço de minas de carvão.


Dois bons motivos estão por trás do movimento: o alto grau de competitividade de suas indústrias de energia limpa e o estado de convulsão social causado pela poluição do ar. Só as emissões de particulados finos, em sua maior parte pelas termelétricas a carvão, matam 1,4 milhão de pessoas por ano no país. (Como nada é o que parece no mundo, a China vem sendo acusada de exportar usinas a carvão para países africanos, efetivamente terceirizando suas emissões.)


Seja qual for a razão, o mundo agradece: graças à queda das emissões por energia na China e nos EUA, 2015, em 2015 as emissões de CO2 globais por queima de combustíveis fósseis ficaram estagnadas pela primeira vez num ano de crescimento econômico, e em 2016 a previsão é que elas sigam sem crescer. É cedo para dizer se essa tendência será permanente, porém.


Rio-2016 leva o clima às massas

Foto: Paul Gilham/Olympic.org


A abertura da Olimpíada do Rio foi uma das poucas gratas surpresas de 2016 no Brasil. Num país mergulhado em recessão e pessimismo, o show inverteu expectativas e a lógica geopolítica de espetáculos desse tipo, marcados sempre por um complexo freudiano de “o meu (país) é maior do que o seu”.


Os Jogos do Rio, que tiveram codireção do cineasta e ambientalista Fernando Meirelles, trouxeram uma mensagem global. E a mudança climática foi parte importante dela. Durante cerca de quatro minutos, mais de 3 bilhões de pessoas assistiram em suas TVs às assustadoras projeções de aumento do nível do mar e aos gráficos de temperatura do painel do clima da ONU. Foi a maior audiência da história para a ciência climática.


E não ficou só nisso: durante os Jogos, mais de cem atletas de 34 países se engajaram na campanha 1,5oC – o recorde que não devemos quebrar, do Observatório do Clima com o Fórum dos Países Vulneráveis, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o GIP (Gestão de Interesse Público). Eles mandaram pelas redes sociais sua mensagem de que a sobrevivência de várias nações dependem do alcance da meta mais ambiciosa do Acordo de Paris.


Eventos extremos: o batom na cueca da humanidade

Foto: NASA
O ano, nem precisa dizer, foi de eventos climáticos extremos. O furacão Matthew se abateu sobre o Haiti em outubro, matando quase 550 pessoas. Recordes históricos de temperatura foram batidos na África do Sul (42,7oC em Pretória), na Tailândia (44,6oC), na Índia (51oC) e no Kuwait (54oC – credo!). O Canadá teve o pior incêndio florestal de sua história.


O Nordeste do Brasil, que já vinha sendo impactado por quatro anos de chuvas abaixo do normal, teve uma estiagem extremada. No Brasil inteiro, 2.034 municípios estavam em situação de emergência em novembro de 2016, 1.522 deles no Nordeste. Brasília entrou em situação crítica de abastecimento de água pela primeira vez.


O gelo marinho no Ártico teve sua segunda menor extensão já medida no verão – e, para surpresa até dos cientistas polares, que acham que já viram de tudo, derreteu também no inverno, impulsionado por temperaturas até 20°C mais altas que a média em algumas regiões (sim, você leu certo: 20oC).


E foi também em 2016 que os cientistas começaram de forma sistemática a atribuir eventos extremos individuais à mudança climática, algo que até poucos anos atrás era considerado heresia. Em novembro, a Organização Meteorológica Mundial afirmou que mais de metade de 79 extremos registrados no mundo todo entre 2011 e 2015, inclusive a estiagem na Amazônia entre 2014 e 2015, teve influência direta do aquecimento da Terra.


O Congresso brasileiro fossiliza…

Foto: Rodolfo Stuckert/Câmara dos Deputados


Foi um ano difícil para ser parlamentar no Brasil. A Lava Jato apertou como nunca o cerco a deputados e senadores de diversos partidos. O achacador-geral da União, Eduardo Cunha, foi ver o sol nascer quadrado em Curitiba. A confiança da população no Congresso é a menor em 23 anos. E os bocudos da Odebrecht ainda resolveram contar para todo mundo como funciona o esquema de pagar deputados e senadores para aprovar projetos de lei.


Foi nesse climão que duas peças para lá de bizarras entraram em tramitação: uma delas é um projeto de lei que propõe a liberação dos carros de passeio a diesel no Brasil. O segundo criava nada mais, nada menos que um programa de incentivo ao carvão mineral, com construção de novas usinas. O presidente Michel Temer teve o bom senso de vetá-lo.


O projeto do diesel, objeto de grita generalizada da sociedade civil, mereceu até comissão especial: iria a plenário sem precisar passar por nenhuma outra comissão. Visto que a proposta não interessa nem ao governo, nem à Petrobras, é de se imaginar por que razão teria aparecido. Uma pista: quem criou a comissão especial foi ele mesmo, Eduardo Cunha.


Para não dizer que tudo foram trevas, o mesmo Parlamento que queria ressuscitar os piores combustíveis fósseis aprovou a ratificação do Acordo de Paris em tempo recorde: menos de três meses, e no meio de uma crise política.


…e o BNDES desfossiliza

Foto: Sisse Brimberg & Cotton Coulson


Premido pela crise econômica, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social resolveu estancar o desperdício de dinheiro público em projetos energéticos sujos ou de futuro incerto: anunciou que não financiaria mais novas usinas termelétricas a óleo e carvão mineral com crédito subsidiado. As grandes hidrelétricas, pedra de toque da política energética do governo passado, vão receber menos dinheiro: o crédito subsidiado caiu de 70% para 50% do valor do empreendimento. Por outro lado, o BNDES aumentou seu crédito para energia solar: de 70% para 80% do valor do projeto.


A morte da Grande Barreira

Foto: The Ocean Agency / XL Catlin Seaview Survey


Temperaturas do mar acima da média desde 2014, e agravadas pelo El Niño de 2015/16, causaram o pior evento global de branqueamento de corais da história. O branqueamento ocorre quando o calor excessivo impede a sobrevivência das microalgas que vivem em simbiose com os corais e mantêm os recifes vivos. O fenômeno atingiu corais em quase 40 países, inclusive no Brasil. Entre as vítimas está o maior conjunto de recifes do mundo, a Grande Barreira de Coral da Austrália, que se estende por 2.300 quilômetros. Segundo levantamento do Conselho do Clima australiano, 93% dos recifes da Grande Barreira sofreram algum grau de branqueamento. O governo australiano publicou em junho a informação de que 22% dos corais do país estavam mortos.


As consequências econômicas nos próximos anos tendem a ser desastrosas. Os corais abrigam 25% das espécies de peixe do mundo, e meio bilhão de pessoas dependem diretamente desses ecossistemas para sobreviver.


Usina de São Luiz é enterrada (mas a cova é rasa)

Mundurukus nos pedrais do Tapajós, que seriam submersos pela usina de São Luiz.
Foto: Anderson Barbosa/Greenpeace

Em 2016, um dos projetos faraônicos mais insanos do setor de energia do país foi enterrado, na esteira da crise econômica e das prisões dos empreiteiros da Lava Jato: a usina hidrelétrica de São Luiz do Tapajós, no Pará, um monstrengo que se aboletaria em uma das últimas zonas de floresta preservada contínua do sul do Estado. A usina, de 8.040 megawatts, alagaria o equivalente a meia cidade de São Paulo para gerar como energia firme metade desse total, a um custo de R$ 30 bilhões – que graças à Lava Jato nós sabemos como seriam gastos.


A presidente do Ibama, Suely Araújo, determinou em agosto o arquivamento do processo de licenciamento ambiental da hidrelétrica, por insuficiência do EIA-Rima. Num passado não muito distante, teria sido demitida no ato.


Ambientalistas, ribeirinhos e indígenas comemoraram. Mas eis que, alguns meses depois, e Eletrobras volta a falar na retomada de São Luiz. Não é para agora: seria para 2022, quando o PIB quiçá tenha voltado ao azul e a turma da engenharia esteja de volta das férias em Curitiba.


A volta do que não foi

Área recém desmatada na Amazônia. Foto: Marizilda Cruppe/Greenpeace


Desta vez não houve pompa e circunstância, nem bateção de bumbo na conferência do clima. O desmatamento na Amazônia explodiu em 2016, e o governo sentou-se em cima dos dados até quando pôde. Ao contrário dos anos de queda na taxa, nos quais se convocava a indefectível entrevista coletiva para anunciar a boa nova, a subida de 29% (para quase 8.000 quilômetros quadrados) foi objeto de um estranho não-anúncio: o ministro do Meio Ambiente divulgou as medidas pretendidas para conter a alta, mas recusou-se a informar de quanto ela foi – admitiu, porém, que se trata de uma reversão na curva, já que este é o segundo ano consecutivo em que a taxa sobe. O dado só seria inserido no site do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais várias horas depois.


A elevação significará mais 130 milhões de toneladas de CO2 na conta de emissões do Brasil em 2016, e um esforço redobrado para atingir o compromisso de cortar em 80% as emissões por devastação na Amazônia em 2020.


O governo reagiu à disparada das motosserras anunciando a divulgação pública dos dados do Cadastro Ambiental Rural – contendo imagens de satélite de mais de 3 milhões de propriedades rurais, que agora podem ser monitoradas por qualquer cidadão. O aumento da transparência causou comoção entre os fazendeiros, que ameaçaram processar o ministro por “violação de privacidade”.


Kigali e Montréal salvam o dia…

Imagem: Ach K/Flickr
Em outubro, duas cidades sem nada em comum inscreveram seus nomes na história do combate à mudança do clima. No começo do mês, a rica Montréal, no Canadá, foi palco de uma reunião da Oaci (Organização Internacional da Aviação Civil) que fechou o primeiro acordo global para conter as emissões do transporte aéreo internacional. Duas semanas depois, a pobre Kigali, palco do genocídio de Ruanda de 1994, sediou o encontro que fechou um acordo contra uma categoria de gases “superpoluentes”, os HFCs. Juntas, as duas decisões deram um pouco mais de esperança à humanidade de evitar um aquecimento global catastrófico.

A Oaci adotou um mecanismo de mercado para compensar o crescimento das emissões da aviação internacional a partir de 2020. Se deixado sem controle, o setor cresceria suas emissões em 300% até 2050, garantindo o estouro da meta de Paris. O novo mecanismo significa que tudo que a aviação internacional emitir a mais a partir de 2020 precisará ser neutralizado. Mas tem uma pegadinha: sua primeira fase, que vai até 2026, é de adesão voluntária. E o Brasil, por exemplo, ainda não aderiu.


Na capital de Ruanda, foi acordada uma emenda ao Protocolo de Montréal (aquele da camada de ozônio) para congelar e banir os HFCs. Esses gases substituem os nocivos CFCs em geladeiras e aparelhos de ar-condicionado. Só que são gases de efeito estufa milhares de vezes mais potentes do que o CO2. A expectativa é que a emenda de Kigali, que prevê a redução dos HFCs a partir de 2019, possa evitar até 0,5oC de aquecimento global neste século.


…e Marrakesh mantém a bola rolando

Participantes da COP22 brincam com bola de plástico no último dia da conferência de Marrakesh. 

Foto: OC


Também na África aconteceu em novembro a COP22, a conferência do clima de Marrakesh. Ninguém esperava muita coisa de Marrakesh, e de fato ela não entregou muita coisa: sua decisão mais importante foi antecipar a data de finalização do manual de instruções de 2020 para 2018.


O fato mais importante de Marrakesh ocorreu fora da COP: a trágica eleição americana, que azedou o ambiente na Cidade Ocre nos primeiros dias de reunião. Havia a expectativa constante de que Trump fosse anunciar a qualquer momento a retirada dos EUA do acordo ou da Convenção do Clima. Isso não aconteceu (ainda). Mas o balde de água fria teve um efeito positivo, no final: todos os países reafirmaram seu compromisso político de levar o Acordo de Paris a bom termo, com ou sem os Estados Unidos. E a China passou a despontar ao lado da União Europeia como líder no combate à mudança climática. Insh’allah.


Diga-me quanto emites e eu te direi quanto vales

Foto: Petrobras
2016 também foi marcado, ainda que discretamente, como o ano em que a finança mundial começou a entender a “bolha de carbono”. Uma força-tarefa criada no âmbito do G20, o grupo dos 20 maiores emissores, recomendou às empresas que divulguem como gerenciam os riscos que as mudanças climáticas causam a seus negócios e como estão cortando as emissões dos gases de efeito estufa.


A Força-Tarefa sobre Divulgações Financeiras Relacionadas com o, criada pelo FSB (Conselho de Estabilidade Financeira) do G20, pôs suas recomendações em consulta pública em dezembro. Elas incluem a identificação, avaliação e gerenciamento dos riscos e oportunidades relacionados ao clima. Também abrangem a descrição do impacto potencial sobre as empresas da limitação do aumento da temperatura global a 2oC – em especial sobre as indústrias fósseis.


Esse setor poderia perder US$ 34 trilhões em receitas até 2040, já que cumprir o Acordo de Paris exige necessariamente que a maior parte das reservas de petróleo e carvão sejam deixadas no subsolo. O presidente do Banco da Inglaterra e do FSB, Mark Carney, tem alertado desde o ano passado para a chamada “bolha de carbono”, ou o risco de manter investimentos em ativos fósseis que tendem a virar passivos muito em breve com as regulações climáticas e a expansão vertiginosa das energias renováveis.


Emissões de metano disparam

Gado em pasto degradado na Amazônia: rebanho bovino lidera emissões de metano do Brasil. 
Foto: Ipam


O ano poderia ter acabado sem mais essa: em dezembro, o consórcio internacional Global Carbon Project publicou o balanço global do metano, o segundo gás de efeito estufa mais importante. E concluiu que o aumento da concentração dessa substância na atmosfera cresceu 14 vezes entre o começo do século e 2012.

As causas ainda são tema de debate, mas a agropecuária e o desmatamento são apontadas como vilãs. Outro fator que pode ter feito a diferença é um aumento brutal das emissões de metano por ecossistemas tropicais, em especial na América do Sul. Os cientistas não descartam que isso possa ser já um dos temidos “feedbacks positivos” do aquecimento global: emissões aumentam a temperatura, que perturba os ecossistemas, que aumentam ainda mais as emissões, num círculo vicioso.



Obama e Ban Ki-moon cumprem suas promessas

Foto: UN Photo


Em 2016, dois líderes mundiais terminam seus mandatos na condição de heróis da luta contra a mudança climática: o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, e o presidente dos EUA, Barack Obama.


Obama assumiu em 2009 com o pé esquerdo: uniu-se à China para melar a conferência do clima de Copenhague, frustrando a expectativa de 7 bilhões de pessoas interessadas num acordo que pudesse garantir a segurança do planeta. Em seu segundo mandato, ele se redimiu.


O havaiano surfou a boa onda do gás natural, que começara a substituir o carvão na geração de energia, e limitou as emissões de CO2 das termelétricas via Agência de Proteção Ambiental, contornando o Congresso republicano. No final de 2014, costurou com a China o entendimento que tornou possível o Acordo de Paris. Em 2015, baixou o Plano de Energia Limpa, destinado a cumprir as metas da NDC americana. E, nos últimos dias de mandato, jogou uma casca de banana para Donald Trump: usou uma obscura lei de 1953 para proibir toda a exploração de petróleo e gás no Ártico e na costa atlântica dos Estados Unidos.


O sul-coreano Ban era um virtual desconhecido de sotaque engraçado em 2007, quando assumiu a ONU no lugar do carismático Kofi Annan. Não tardou a identificar no combate ao aquecimento global uma potencial tábua de salvação para o multilateralismo e uma oportunidade de a desacreditada organização mostrar sua relevância.


Agigantou-se – sem perder a discrição. Girou o mundo martelando à exaustão o discurso de que não é possível combater a pobreza sem agir também contra o caos climático. Foi um dos mentores do Acordo de Paris e o principal responsável por sua entrada antecipada em vigor. Em sua última entrevista coletiva numa COP, em Marrakesh, lançou um sutil desafio a Donald Trump sobre a ação climática: “O que antes era uma união impensável de países em torno do objetivo climático agora é algo irrefreável”.

Republicado do Observatório do Clima através de parceria de conteúdo.

Retrospectiva da conservação ambiental 2016

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O helicóptero do Ibama sobrevoa, no Pará, área grilada e desmatada por José Junqueira Vilela Filho, 
líder da talvez a maior quadrilha já flagrada na Amazônia. Foto: Marcio Isensee


Desmatamento na Amazônia sobe

A Amazônia perdeu 7.989 quilômetros quadrados (km²) entre agosto de 2015 a julho de 2016, o pior ano no desmatamento na Amazônia desde 2008, quando 12.911 km² de floresta desapareceram. O aumento no desmatamento foi de 29% comparado com o mesmo período do ano passado. A área de floresta perdida em 12 meses equivale a cinco cidades de São Paulo.



No mesmo ano em que o desmatamento aumentou, a Polícia Federal desmantelou uma quadrilha de desmatadores cuja base era em São Paulo e que faturou R$1,9 bilhão. Segundo os investigadores,  Antonio José Junqueira Vilela Filho comandava dos Jardins paulistanos uma quadrilha que atuava com grilagem de terra e desmatamento na região de Castelo dos Sonhos e Novo Progresso, no sudoeste do Pará.


Licenciamento ambiental entrou na berlinda
O licenciamento ambiental entrou no rol de assuntos prioritários para o Congresso Nacional em 2016. Não que em anos anteriores os parlamentares não tenham tentado modificar o que boa parte deles chama de um dos maiores entraves ao desenvolvimento do país. Mas, agora, a crise econômica e a pressão por fazer a economia voltar a crescer deram a justificativa para a votação de projetos que afrouxam de vez o licenciamento ambiental.


Uma dessas iniciativas é a Proposta de Emenda à Constituição 65, a qual prevê a simples apresentação do Estudo de Impacto Ambiental como suficiente para liberar a obra, que não poderá mais ser suspensa ou cancelada por causa do licenciamento ambiental. Na prática, a proposta do senador Acir Gurgacz (PDT-RO) acaba com o licenciamento ambiental como ele é feito hoje. A PEC foi aprovada em abril, sem alarde, na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado e ia direto para votação em plenário, mas um requerimento do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) fez a proposta voltar para o CCJ. Por enquanto, a PEC 65 deixou de ser uma ameaça.


Já na Câmara avança o projeto do licenciamento “flex”, que transfere para os Estados a definição do que deve ou não ser licenciado e dispensa o licenciamento para atividades agropecuárias.


Como as modificações na lei de licenciamento pareciam inevitáveis, o Ministério do Meio Ambiente trabalhou para que o Executivo apresentasse uma proposta consensual entre ambientalistas e setor produtivo para ser votada no Congresso. O texto não agradou o agronegócio e o setor industrial. A proposta está sendo discutida na Casa Civil, mas o governo preferiu não aguardar o consenso em relação ao seu próprio projeto e trabalhou diretamente para que o projeto de licenciamento flex fosse votado na Câmara. O imbróglio abriu a primeira crise pública entre a Casa Civil e o Ministério do Meio Ambiente.


Além do licenciamento, outras iniciativas de Sarney Filho estão desagradando os ruralistas, que pedem a Temer o afastamento do ministro do Meio Ambiente. A divulgação dos dados do Cadastro Ambiental Rural (CAR) deixou os ruralistas furiosos. Os fazendeiros ameaçam processar o ministro por “violação de privacidade”, pois os dados tornados públicos contêm imagens de mais de 3 milhões de propriedades rurais que passam a poder ser monitoradas por qualquer cidadão.


Nem tudo foi notícia negativa no campo do licenciamento. O Ibama arquivou o licenciamento da usina hidrelétrica de São Luiz do Tapajós, empreendimento considerado tão danoso ao meio ambiente quanto Belo Monte.


Troca troca de comando
O impeachment fez o ano de 2016 ser de troca de comando nas principais autarquias ambientais do país. Em maio, tanto o Ibama quanto o ICMBio ficaram sob comando de interinos até o novo ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho, que substituiu Izabella Teixeira, nomear os novos ocupantes. Rômulo Mello retornou ao cargo de presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e Suely Araújo assumiu o Ibama. Mello, funcionário de carreira do Ibama, faleceu em outubro, vítima de um enfarto. Ele foi substituído por Ricardo Soavinski, que era secretário de Recursos Hídricos do Ministério do Meio Ambiente (MMA).


A novela da lista vermelha de peixes ameaçados
Ainda não foi dessa vez que termina a novela jurídica em torno da lista vermelha de peixes e invertebrados aquáticos ameaçados de extinção. Mas, o saldo desse ano foi positivo para a conservação. No dia 16 de dezembro, o Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF1) restabeleceu a vigência da portaria 445, cuja validade foi questionada por representantes do setor pesqueiro no ano passado. Mas o Tribunal ainda julgará o mérito da causa, decisão que deverá acontecer em 2017.



Publicada em 17 de dezembro de 2014, a portaria do Ministério do Meio Ambiente proibiu a captura, o transporte, o manejo, armazenamento e comercialização de 475 peixes ameaçados de extinção, a grande maioria sem valor comercial, como peixes de poças d’água, que são sazonais. A lista foi contestada pelo setor pesqueiro industrial, que argumenta que a proteção (e por consequência, a proibição de pesca) de 31 espécies causará desemprego no setor.


Unidades de Conservação
Alcatrazes vista de oeste. O lado abrigado da ilha principal possui os melhores ancoradouros e pontos de mergulho
Alcatrazes vista de oeste. O arquipélago agora é um Refúgio da Vida Silvestre. 
Foto: Fabio Olmos


Em maio, Dilma Rousseff assinou a criação de 5 novas unidades de conservação, todas localizadas no estado do Amazonas, na região da bacia do rio Madeira. Foram criados a Área de Proteção Ambiental dos Campos de Manicoré, as Florestas Nacionais do Aripuanã e de Urupadi, a Reserva Biológica do Manicoré e o Parque Nacional do Acari. No total, essas UCs chegam a 2,6 milhões de hectares.
2016 entrará para a história como o ano em que finalmente o Arquipélago de Alcatrazes foi protegido.


Não como Parque Nacional, como planejado desde o início da proposta, mas como Refúgio da Vida Silvestre. O ICMBio garante que a unidade será aberta a visitação no começo do segundo semestre de 2017. Do outro lado, o  governo de Goiás conseguiu adiar a tão esperada ampliação do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros.


No Pantanal, a batalha para criar três Unidades de Conservação municipais em Bonito acabou com a proposta paralisada. Ações na Justiça adiaram o debate em torno da criação das áreas para proteger os banhados dos rios Prata e Formoso e a proposta não saiu do papel.


O ano termina com o governo reduzindo a Floresta Nacional de Jamanxim em 43% para tentar minimizar o passivo fundiário na região da unidade de conservação, impasse que alimenta a violência na região. Ela chegou ao auge com o assassinato do policial João Luiz de Maria Pereira, em junho, durante operação do Ibama de combate ao desmatamento e garimpo em Jamanxin.



Belo Monte e Samarco
MARIANA, MG, BRASIL: 13 Novembro 2015: Vista geral do distrito Bento Rodrigues, da cidade de Mariana em Minas Gerais. No dia 5 de novembro, uma barragem de rejeitos minerais da empresa Samarco (controlada pela Vale e pela anglo-australiana BHP) estourou, inundando de lama a regiao. (Fotos: Victor Moriyama/Greenpeace)
Vista de Bento Rodrigues em 13 de novembro de 2015, epicentro da inundação de lama causada
pela Samarco. Foto: Victor Moriyama/Greenpeace

Às vésperas da cassação de seu mandato, Dilma Rousseff fez questão de ir a Altamira, Pará, para inaugurar a principal obra de infraestrutura da sua administração: a usina hidrelétrica de Belo Monte. Mesmo pronta, a maior hidrelétrica em funcionamento na Amazônia continua alvo de ações na Justiça por não cumprir as condicionantes ambientais e sociais.


A tragédia do rompimento da barragem de rejeitos da Samarco fez um ano em novembro. A lama continua contaminando o rio Doce e, no começo do ano, havia a suspeita de que havia atingido Abrolhos, duvida descartada após análises da água. Ainda não houve punição definitiva para a Samarco e seus dirigentes por negligenciar a segurança da barragem, mas o Departamento Nacional de Produção Mineral se mexeu (ou pelo menos sinalizou) para aumentar as exigências de segurança em barragens, na tentativa de evitar que novas “Marianas” aconteçam.


Novas espécies e ameaças
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A nova espécie de jararaca descoberta em uma ilha do Espírito Santo. Foto: Ricardo Sawaya


Como todo ano, em 2016 também foram descobertas novas espécies. Destacamos o Bothrops sazimai, espécie de jararaca insular endêmica da Ilha dos Franceses, localizada no litoral do Espírito Santo. A espécie é pouco menor do que as jararacas que vivem nos continentes, embora tenha olhos e caudas relativamente maiores.


Das águas gélidas do Hemisfério Norte, os cientistas apresentaram ao mundo o vertebrado mais longevo da Terra: o tubarão-da-groenlândia, que vive em média 272 anos e é capaz de chegar à casa dos 400, de acordo com um estudo realizado por biólogos marinhos dinamarqueses.


A descoberta de um recife submerso na costa amazônica, que se estende por cerca mil quilômetros, entre a costa do Maranhão e da Guiana Francesa foi outro destaque. Diferente da imagem conhecida, de recifes formados por corais coloridos, na costa amazônica predominam esponjas e algas calcárias, que se adaptam melhor à falta de luz.

O ano não foi apenas de boas notícias na área de conservação. Denúncias e relatos de crimes ambientais preencheram parte considerável do noticiário. Considerado a quarta atividade ilegal mais lucrativa do mundo, o crime ambiental vitimou aves e contribuiu para a redução dos números de grandes mamíferos.

Em plena preparação para as Olimpíadas, o Exército abateu a onça Juma, logo após o animal participar da cerimônia de revezamento da Tocha Olímpica em Manaus. Com 18 anos e cerca de 55 quilos, o macho Juma era mascote do 1° Batalhão de Infantaria de Selva. Veterano de desfiles militares, foi incluído de última hora no trajeto da tocha olímpica pelo Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS), em Manaus, sem a devida autorização do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam), órgão responsável pelo licenciamento do zoológico.