quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Encontro debate caça dentro de Unidades de Conservação de Uso Sustentável


Por Vandré Fonseca
Onça-pintada resgatada pelo Ibama no Amazonas: mães são abatidas por caçadores, mas filhotes muitas vezes são capturados e criados em cativeiro. Foto: Daniel Garcia Neto
Onça-pintada resgatada pelo Ibama no Amazonas: mães são abatidas por caçadores, 
mas filhotes muitas vezes são capturados e criados em cativeiro. Foto: Daniel Garcia Neto


Manaus, AM - Um grupo de articulação organizado em Manaus (AM) discute um parecer favorável a regulamentação da caça manejada em Unidades de Conservação de Uso Sustentável. O argumento é que apesar da restrição legal, animais são abatidos sem qualquer controle, em especial na região Amazônica, para alimentar populações locais ou mesmo para a venda nas cidades. A atividade ilegal é uma ameaça a sobrevivência de espécies.


“Não temos dados, mas uma vez que a caça ocorre de forma descontrolada e sem nenhum tipo de monitoramento, o impacto deve ser negativo”, afirma o diretor da WCS Brasil, Carlos Durigan. Em outubro, um estudo publicado na Royal Society Open Society apontou os 300 animais mais ameaçados pela caça no mundo, entre eles estão espécies da Amazônia. Apesar da proibição da caça comercial no país, de acordo com o estudo, por ano quase 90 mil toneladas de carne de caça, o equivalente a US$ 200 milhões, saem irregularmente da amazônia brasileira.


Entre os alvos da espingarda, está a onça-pintada. Embora não seja visada para a alimentação ou tenha outro uso é abatida porque ser considerada perigosa pelos moradores do interior. Outro exemplo é o macaco uacari-preto, caçado para alimentação e que figura entre as espécies ameaçadas de extinção. De acordo com Durigan, qualquer tipo de pressão sobre essa espécie pode ter grande impacto.


Encontro debate caça
As discussões começaram a partir de um encontro realizado nos dias 9 e 10 de novembro, em Manaus. Durante o evento, foram levantadas questões em relação à legislação e a viabilidade de se criar um modelo para a caça monitorada, a ser testado. Entre os pontos apresentados estão pareceres do Instituto Chico Mendes contrários ao abate de animais em unidades de conservação. Mas principalmente, foram apresentadas dúvidas.


Na palestra "Bases Legais e Normativas da Caça", o biólogo Rogério Fonseca, professor da Universidade Federal do Amazonas, destacou não existir nenhuma definição legal de “caça de subsistência”. A lei abre exceção para o abate de animais silvestres para saciar a fome, segundo professor, o que pode ser interpretado de maneira diversa. Ele lembrou também que existem leis que defendem a manutenção do modo de vida de populações tradicionais e permitem aos índios caçar.


De acordo com Durigan, as discussões levaram à conclusão que existe base legal para a caça manejada, mas é preciso desenvolver um modelo, que deve ser monitorado. “A caça está acontecendo de qualquer forma mesmo sem regulamentação”, alerta o diretor da WCS. “A fiscalização é falha, então a gente precisa construir acordos locais e monitorar. A gente precisa definir que espécies podem ser caçadas e quais não, por exemplo, por serem ameaçadas, raras ou mais sensíveis”.

Apesar de ameaçados, tubarões e raias são consumidos no Brasil


Por ​((o))eco*
Sphyrna lewini. Foto Rodrigo Machado/Fundação Grupo Boticário.
Sphyrna lewini. Foto Rodrigo Machado/Fundação Grupo Boticário.


Embora em declínio e ameaçados de desaparecer da costa brasileira, tubarões e raias são comercializadas livremente em supermercados, feiras e peixarias com o genérico nome de cação. Mais de 16 espécies desses animais foram encontradas em pontos de venda do Sul do país, região que possui uma das maiores indústrias pesqueiras do Brasil. O alerta é de Victor Hugo Valiati, pesquisador da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos).


Valiati coordenou um grupo que avaliou 15 pontos de venda em Santa Catarina e Rio Grande do Sul, entre 2012 e 2013 e identificou a diversidade de espécies sob o nome de cação. Chamou atenção do grupo a comercialização da raia-viola (Squatina occulta), considerada criticamente ameaçada e o tubarão-martelo-entalhado (Sphyrna lewini), classificado como vulnerável pela IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais, na sigla em inglês) e apontado como o mais pescado no Brasil. Na pesquisa, ele ocupa o primeiro lugar, aparecendo em 23% das amostras. A segunda espécie mais presente é o tubarão-azul (Prionace glauca), com 13% de presença.


Identificação
A identificação das espécies só foi possível porque os pesquisadores utilizaram uma ferramenta denominada “código de barras de DNA”, que permite distinguir qual espécie se trata a partir das informações contidas no material genético da amostra. O uso da ferramenta é necessário porque é comum os pescadores jogarem fora partes que poderiam identificar os animais, como cabeça e barbatanas, uma estratégia para fugir da fiscalização, já que a comercialização de espécie presente na lista vermelha de espécie ameaçada é proibida pela lei de crimes ambientais.


“Com essa tecnologia em mãos é possível, com apenas uma pequena amostra do animal, ou mesmo um fragmento do filé de pescado comercializado, identificar rapidamente de qual espécie se trata”, afirma Victor Hugo Valiati, cujo trabalho tem apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza.


De acordo com a diretora executiva da Fundação Grupo Boticário, Malu Nunes, a iniciativa “faz com que os olhares se voltem para uma questão que pouco tem sido discutida, mas que poderá ter grande impacto no equilíbrio do ambiente marinho: a redução drástica das populações de tubarões e raias”.

*Com informações da Fundação Grupo Boticário


Amazônia: novos números mostram que desmatamento aumentou 29%


Por ((o))eco
Grileiros transformam floresta em pastagens no Pará. Foto: Ascom Ibama/Arquivo.
Grileiros transformam floresta em pastagens no Pará. Foto: Ascom Ibama/Arquivo.


A Amazônia perdeu 7.989 quilômetros quadrados (km²) entre agosto de 2015 a julho de 2016. Esse é o pior ano no desmatamento na Amazônia desde 2008, quando 12.911 km² de floresta desapareceram no maior bioma do país. A notícia foi divulgada na tarde desta terça-feira (29) pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), responsável pelo monitoramento oficial da Amazônia.


O aumento no desmatamento foi de 29% comparado com o mesmo período do ano passado. A área de floresta perdida em 12 meses equivale a cinco cidades de São Paulo. Os dados divulgados hoje ainda são preliminares. O número consolidado deve ser divulgado em meados de 2017 e pode ser 10% maior ou menor.


Estados
Em números absolutos, o aumento do desmatamento está concentrada em três estados: Pará, com 3.025 km², seguido de Mato Grosso, com 1.508 km², e Rondônia, com 1.394 km². Levando em conta a variação da área desmatada entre 2015 e 2016, os estados com piores resultados foram o Amazonas, Acre, Pará e Tocantins. Eles aumentaram o ritmo de destruição de suas florestas em 54%, 47%, 41% e 40%, respectivamente.