segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Escola Bosque: a destruição de uma excelente proposta.

A campanha do ex-prefeito e deputado federal Edmilson Rodrigues(PSOL) veiculou nas últimas semanas declarações de que a Escola Bosque foi valorizada, ampliada e resgatada durante seus dois mandatos, e mencionou o nome do sociólogo José Mariano Klautau de Araújo, falecido há quase seis anos. Dula Lima, coautora do Projeto Escola Bosque e viúva de Mariano, e Thiago Klautau, filho do casal, enviaram uma nota ao blog, pedindo publicação. Enviei o texto na íntegra à assessoria de comunicação de Edmilson, pedindo manifestação a respeito e aguardei até agora, quando fui informada das dificuldades de envio de nota, face a programação de caminhadas. O espaço está aberto à resposta do candidato.

Eis a nota:

"A VERDADE SOBRE A ESCOLA BOSQUE



A inauguração da Ponte do Outeiro, em 1986, além da facilidade de locomoção trouxe, também, severos danos ambientais. A exploração de areia, na área do FAMA, bem como as invasões de terrenos e o descontrolado crescimento populacional, somados à demora do Poder Público em responder às demandas por serviços públicos, demonstraram que, em pouquíssimos anos, a situação ficaria totalmente insustentável nos aspectos sociais e ambientais. 

Mariano começou a elaborar o Projeto Escola Bosque com a finalidade de criar meios de preservação do meio-ambiente, de sustento para as populações locais, e de educação para as crianças e jovens. Naquela época, o Outeiro contava com escolas que ofereciam só até o 1º Ciclo do Ensino Fundamental. Ao passar do que hoje é o 5º ano, ou as crianças tinham que se deslocar diariamente para colégios muito distantes de suas casas – o que nem sempre ocorria, por questões relativas à condição econômica das suas famílias –, ou paravam de estudar, ou tinham de se mudar para a parte continental de Belém, local onde, na maioria das vezes, encontravam-se nas periferias e em condição de vulnerabilidade social. 

Muito se falava no direito de ir e vir, mas não se dizia que alguns desses deslocamentos, como no caso do Outeiro, eram compulsórios. Mariano defendia o "direito de ficar". Todos deveriam ter o direito de se locomover e migrar livremente, mas caso decidissem permanecer em seu local de origem, essas pessoas também deveriam ter alternativas para permanecer, com uma vida digna e de qualidade. 

Com o Projeto desenvolvido, Mariano passou a procurar os órgãos competentes para viabilizar a construção da Escola Bosque. Após recusas do Governo do Estado, em agenda com Prefeito de Belém, à época, Sahid Xerfan, Mariano apresentou a proposta e fundamentou a necessidade ao gestor municipal, que se convenceu a abraçar a causa e proceder a desapropriação do terreno em que hoje está situada a Escola Bosque. Mariano garantiu, assim, a preservação imediata do único terreno que ainda não havia sido invadido nas imediações e possuía mata primária em seu espaço. 

Anos mais tarde, na gestão de Hélio Gueiros, outro terreno foi desapropriado, às margens do Rio Maguari, com a finalidade de ser a reserva ecológica da Escola, totalizando a sua extensão atual. O projeto pedagógico, que tinha por base o Método Socioambiental de autoria de Mariano, e o projeto arquitetônico, de Dula, foram doados à Prefeitura de Belém, sem qualquer custo para o erário ou para a comunidade. No entanto, o Método Socioambiental criado por Klautau não chegou a ser plenamente implantado na Escola Bosque do Outeiro, pois entre o início da construção e preparação da Escola, houve divergências internas na prefeitura e alguns consultores de fora do estado vieram – pois ainda existe esta repetição quase eterna de que o que é nosso não é suficiente – e acabaram por modificar bastante a proposta. Mesmo assim, a Escola Bosque ainda apresentava sinais claros de avanço e inovação até para os dias de hoje. 

POR QUE O PROJETO ESCOLA BOSQUE É TÃO REVOLUCIONÁRIO E INOVADOR?

O Método Socioambiental consistia em uma educação global para a formação de cidadãos compromissados com as questões ambientais, desenvolvimento sustentável e da região. Em vez de tratar a educação ambiental com ações episódicas e pontuais, como nas escolas tradicionais, a Escola Bosque envolvia todas as aulas em conhecimentos inter e transdisciplinares e as ligava diretamente à realidade dos alunos. As aulas de química, biologia, física, geometria, geografia, etc., poderiam e deveriam ser ministradas tanto nos laboratórios, quanto ao ar livre. Vinha daí a necessidade de uma reserva ecológica na Escola, pois os alunos não estudariam botânica só por imagens: a aula era feita in loco, com as espécies típicas da Amazônia, realidade tão próxima dos alunos, mas negligenciada nos livros escolares de circulação nacional. Somado a isso, os alunos tinham acesso a laboratórios bem equipados, brinquedoteca, salas de informática (uma das pioneiras no Brasil a utilizar tal tecnologia para o ensino), refeições balanceadas e atividades extracurriculares das mais variadas. Não era uma educação regionalizada; era uma educação global, com os aspectos da educação formal e necessária, mas acrescida de componentes de educação ambiental e de conhecimentos amazônicos. Afinal, esta é a nossa região e a nossa realidade. Com muito orgulho. 

A Escola Bosque oferecia vagas desde o Ensino Infantil até o Ensino Médio Profissionalizante. Os alunos poderiam se graduar técnicos em Manejo de Flora ou Fauna e Ecoturismo. Era uma oportunidade extremamente relevante para que saíssem de lá com condições de contribuir para a preservação do meio-ambiente e com boa empregabilidade. 

O projeto arquitetônico entrava em simbiose com o Método Socioambiental, encarnando-o e concretizando as necessidades e especificidades do projeto pedagógico. Desde o formato octogonal das salas, passando pelos espaços comuns e os laboratórios, tudo foi pensado nos mínimos detalhes para executar e potencializar a ideia do Mariano. Sabendo dos custos que a estrutura implicaria, incluímos no projeto auditórios com todos os recursos multimídia, alojamentos e toda uma estrutura de hotelaria com entradas independentes da Escola. Estas instalações permitiriam a realização de congressos, simpósios, encontros, seminários, etc., e o valor dos alugueis dos espaços seria revertido para a Escola Bosque com a finalidade de torná-la autossustentável ao longo do tempo. As hortas existentes não só ajudariam na educação dos alunos, como também a produção seria utilizada na merenda escolar. Outro aspecto importante era o aproveitamento de toda essa estrutura para a capacitação e participação das famílias. Cursos de culinária criativa, aproveitamento de cascas, sementes e outros tipos de alimentos que seriam descartados, compostagem, noções de práticas saudáveis, entre diversas outras atividades que envolviam a comunidade. Não era uma escola só para os alunos: era de toda a população. Na verdade, o espaço de integração das comunidades ribeirinhas. Cursos de reciclagem, aproveitamento do couro de peixes, oficinas para agricultura orgânica, aumento de produtividade do solo… Tudo isso ministrado por técnicos da EMBRAPA, Museu Paraense Emílio Goeldi, EMATER, a antiga FCAP, atual Universidade Federal Rural da Amazônia, entre outros. Essas instituições contribuíam para o conhecimento científico ensinado, debatido, ampliado e construído na Escola Bosque, mas também viam nela uma oportunidade de crescimento a médio e longo prazo, pois muitos dos conhecimentos locais da Amazônia estão, infelizmente, desaparecendo. Com a formação de profissionais capacitados, aquelas instituições poderiam desfrutar da mão-de-obra qualificada tão escassa atualmente em nosso país. 

A intenção era de que a Escola Bosque fosse um centro de referência. Após resolver os problemas educacionais das Ilhas, haveria gradual preparação e formação de professores de outras escolas municipais para que, com o passar dos anos, a educação ambiental fosse incorporada por toda a rede municipal de ensino. 

No projeto original de Mariano, a administração da Escola Bosque era repartida entre a comunidade civil e acadêmica e a prefeitura. Mas a Escola, ao ser dotada de independência financeira e científica, incomodava aqueles que necessitam aparelhar o Estado para impor suas vontades e ambições políticas. Por isso, na primeira oportunidade que teve, Edmilson arruinou todo um projeto que poderia ter mudado a realidade das Ilhas e de Belém como um todo. Para mais informações sobre o Projeto Escola Bosque, deixamos ao fim desta nota algumas referências de obras que podem ser consultadas. 

A DESTRUIÇÃO REALIZADA POR EDMILSON RODRIGUES 

Edmilson classificou como “elitista” e acusou a Escola Bosque de receber tratamento diferenciado em relação às outras escolas municipais. Logo que assumiu a prefeitura, o processo de desmanche começou. A educação em tempo integral desapareceu (a ironia do destino é que a campanha dele hoje promete ensino em tempo integral…). O Ensino Médio Profissionalizante foi passado para o turno da noite. Imaginem vocês: como um aluno do curso de Manejo de Flora ou Manejo de Fauna iria conseguir avaliar seus objetos de estudo na reserva da Escola à noite? Os Conselhos Administrativo e Científico foram enfraquecidos para que a autonomia conquistada pela instituição fosse perdida, e ela se encontrasse submissa à prefeitura. Aparelhando o órgão e colocando militantes no lugar de técnicos, afastando professores que foram capacitados em função do projeto, a Escola Bosque se perdeu. Virou uma escola como outra qualquer, ou até pior, pois os recursos destinados eram insuficientes para a manutenção dos espaços, e os instrumentos para arrecadação de dinheiro, foram sucateados ou destinados a outros fins. 

Segundo diversos relatos da comunidade, das famílias do Outeiro e de ex-alunos, os auditórios e alojamentos, em vez de produzirem receitas à Escola, foram utilizados como assentamento para o MST e para a realização de eventos político-partidários… às custas da Escola Bosque. Temos fotos datadas de 2003/2004 que retratam a destruição do patrimônio e da infraestrutura montada. Postaremos em breve. Os descalabros ocorridos foram sucessivamente denunciados pelos autores do Projeto Escola Bosque, e Mariano fez todos os esforços possíveis para tentar frear a situação, sem sucesso. As hortas foram abandonadas, as instalações foram modificadas, descaracterizando o projeto arquitetônico. Novos anexos foram construídos derrubando árvores e utilizando materiais inadequados. Os espaços onde havia convívio harmonioso entre homem e natureza se tornaram palco de pichações, sujeira e insalubridade. Os laboratórios ficaram destruídos, os materiais de informática ficaram obsoletos ou sofreram avarias sem receber manutenção. A Escola perdeu tudo de inovador que tinha. Tudo aquilo que foi premiado internacionalmente acabou condenado por uma atuação política mesquinha e corrompida, que privou a cidade de muitos anos de educação ambiental de qualidade. O que foi conquistado a duras penas e com muitos sacrifícios pessoais, perdeu-se pela sobreposição de interesses partidários e restritos a grupos de militantes em detrimento o interesse público e coletivo. 

Mariano e Dula foram convidados, posteriormente, pelo Governo do Amapá, a desenvolver o Projeto no arquipélago do Bailique. Lá, houve a oportunidade e a liberdade de coordenar o processo desde o início. A Escola Bosque do Bailique teve ainda mais repercussão positiva e notoriedade do que o projeto do Outeiro, e gozou de alguns anos a mais de vida. No entanto, quando o Partido dos Trabalhadores assumiu o poder, repetiu-se o que aconteceu em Belém. 

Edmilson Rodrigues tenta esconder e deturpar a história. Quem conhece minimamente o que ocorreu em seus mandatos, em especial o atentado contra a Escola Bosque, não vota nele. Não adianta gravar, na porta da Escola, cenas de abraços de professores que não fazem parte desse processo e não moram no Outeiro, para convencer de sua aceitação, quando nenhuma família que acompanhou essa trajetória sequer cogita estender-lhe a mão. 

Edmilson talvez não tenha ouvido a célebre frase de Abraham Lincoln: “Pode-se enganar a todos por algum tempo; pode-se enganar alguns por todo o tempo; mas não se pode enganar a todos todo o tempo”. Mentir e deturpar a realidade para chegar ao poder é a mais baixa e vergonhosa das ações em uma campanha eleitoral. Utilizar-se de forma indigna do nome, do legado e da história de um homem honrado em uma tentativa desesperada de alcançar o poder a qualquer custo, merece o repúdio de todos. Revela que as intenções do candidato passam muito longe do interesse público. Condutas como essa comprometem a democracia e o sistema eleitoral brasileiro. Por todos os motivos acima expostos, mas, principalmente, pela reposição da verdade, declaramos nosso voto e apoio à candidatura de Zenaldo Coutinho, do PSDB, com a esperança de que este projeto tão promissor seja resgatado o mais rápido possível. Dia 30, votaremos 45.

Dula Maria Bento de Lima e Thiago Lima Klautau de Araújo"


Postado há por


 
  1. Caro André,
    Agradeço o seu apoio que muito me comove, pela amizade que tinhas com Mariano (eu também tive o privilégio de testemunhar isso, a turma do Café Central, de imensa diversidade de opiniões e ideologia, mas com ética, respeito e amizade). Nenhum tipo de agressão ou retaliação vai nos tirar o dever de defender a verdade, independente das versões dos apaixonados defensores do Edmilson. Alguns se apresentam como professores, mas se contentaram com seus empregos e sem fazer nada pela Escola e comunidades as quais ela se destinava. Você lembrou a origem história dessa Escola, no boquinha, reunindo a comunidade que participou ativamente com sugestões ao projeto pedagógico da Fundação. Não foi uma "brincadeira de participação popular". Foi concreta, e você em seu relato, confirma isso. Alguns falam de que o projeto é "alternativo". Alternativo e desantenado é quem ainda mantém esse discurso retrógrado e na contramão da história. Enquanto o mundo todo, agora, discute alterações climáticas e a questão ambiental, a Escola Bosque antecipou essa questão há três décadas, e a maioria sequer alcançou isso. A militância ainda defende pessoas, mas sem conseguir enxergar a inovação que o projeto propunha e que foi aniquilada por uma visão tacanha socioambiental condicionada por ideologia partidária. Obrigada mais uma vez pelo apoio. Que Deus te abençoe sempre. Um abraço,
    Dula
  2. D.Dula, sou testemunha do seu empenho enquanto fomos colegas de trabalho e não duvido 1 vírgula sequer do seu testemunho. Talvez não tenha aproveitado mais da sua competentíssima experiência, mas mesmo assim tenho orgulho da coragem que a Sra sempre demonstrou e pode contar comigo pra difundir esse texto porque, de fato, é essa a realidade que ocorre. Um forte abraço!
Querida Dula,
Podes, se quiseres, usar meu testemunho. Não tiraria uma vírgula do teu desabafo. Acompanhei o sonho do camarada Mariano desde os primeiros dias. Com que orgulho ele mostrava teu trabalho, mesmo antes da impressão. Quantas vezes o acompanhei, no início, em um arremedo de anfiteatro tosco de troncos e tábuas debaixo das árvores a explanar seu projeto. De perto vi também a desconstrução do sonho que já era de todos nós. Começou tudo de novo no Amapá... sei lá, foi muito bom ter sido amigo, companheiro e camarada do Mariano. Estou certo que sofrerás retaliações e incompreensões por este depoimento/desabafo, mas em memória do Mariano Klautau de Araújo senti que tinha o dever moral de prestar-te solidariedade. Um abraço enorme e apertado,
André Costa Nunes

Os inocentes culpados

 ANDA » Agência de Notícias de Direitos Animais

 

DIREITOS DOS GRANDES PRIMATAS - DR. PEDRO A. YNTERIAN

10 de outubro de 2016 às 17:00

Revista Isto É
Revista Isto É



Numa infeliz matéria publicada na Revista Isto É (páginas 60 e 61), edição semanal do dia 05 de outubro, assinada pelo jornalista Raul Montenegro, uma denúncia que deveria colocar os humanos como vitimários os convertem em vítimas e os chimpanzés, em culpados (ler a matéria na íntegra revista-isto-e-05102016)



A matéria se baseia no abandono de um grupo de chimpanzés numa ilha ignorada no país africano da Libéria. Após anos de pesquisa e tortura, estes estavam sob o controle do Banco de Sangue de Nova Iorque (sigla em inglês NYBC), sendo submetidos a experiências com várias doenças humanas, entre elas diversos vírus de Hepatitis.



O NYBC foi denunciado mundialmente por sua crueldade ao usar esses grandes símios, e agora abandoná-los a sua sorte numa ilha que não tem recursos alimentícios para sua sobrevivência.


O jornalista, talvez, para justificar o agressor humano, declara falsamente que “os chimpanzés são o principal vetor de várias doenças que atacam o homem”.



Na realidade os grandes predadores de chimpanzés, gorilas e orangotangos, em seu habitat selvático, via caça, tráfico e morte, são os humanos. Populações inteiras de grandes símios têm sido aniquiladas por doenças humanas transmitidas a uma população que não tem imunidade para resisti-las. Entre as doenças que o jornalista coloca como transmitidas por grandes símios aos humanos, sem mostrar alguma prova, são AIDS, EBOLA, ZIKA, FEBRE AMARELA e VARÍOLA DOS MACACOS.



Para sustentar esta falsa argumentação, menciona declarações de dois microbiologistas da UNIFESP, que duvidamos sobre o respaldo a esse artigo na Isto É. Um microbiologista conhecido como Celso Granato é cotado falando esta barbaridade: “Se alguém se contaminasse com um bicho desses e pegasse um avião para Nova York seria uma catástrofe…”



A circulação de humanos doentes sem controle pelo mundo é na realidade a causa da transmissão de todas essas doenças relacionadas e não o contato com os primatas que lutam desesperadamente para sobreviver em um habitat cada dia mais inexistente.




No lugar de lutar pela salvação dos infelizes chimpanzés abandonados a sua sorte naquela ilha da Libéria, sugere quase sua eliminação para evitar a disseminação das doenças neles inoculadas, as quais milhões de humanos portadores das mesmas transmitem diariamente aos seus semelhantes.



Em outra das suas conclusões estapafúrdias na matéria, sugere que nos zoológicos é seguro ver os macacos, porém, não nas florestas, onde terríveis doenças são incubadas.




Se esquece de colocar que nos zoológicos aqueles terríveis inimigos primatas são submetidos a todo tipo de contaminações dos humanos que os visitam constantemente e terminam morrendo prematuramente, sem que ninguém se importe por esta cruel prática e destino de espécies pelas quais devemos respeitar e zelar por sua existência.

Comentario:


Virginia Abreu de Paula (12 de outubro de 2016, 00:51), disse: 

 
A Anda está tomando providencias quanto a isso? Escreveram para a Isto è? Realmente é uma matéria péssima, porém não surpreendente. Geralmente falam dessa forma sobre animais. É o mais comum. E nos canais de televisão também. A intertv de minha cidade fala sobre sobre a necessidade de matar cachorros de rua porque transmitem Calazar. E ainda ontem ouvi novamente na mesma Intertv, uma matéria sobre as capivaras da Pampulha…que transmitem febre maculosa. E os gatos que espalham toxicoplasmose? Por isso é preciso um contra ataque feito por quem tem conhecimento.
 

Coleira inteligente informa localização exata e evita que animais se percam

ANDA » Agência de Notícias de Direitos Animais 

 

TECNOLOGIA

30 de outubro de 2016 às 21:00

Divulgação
Divulgação



Pip é uma tecnologia simples que pode ajudar os tutores  a não perderem os animais domésticos. Com um pequeno GPS, o sistema é acoplado à coleira do animal e envia informações sobre a localização ao celular de seus tutores.



O aparelho foi desenvolvido pela empresa norte-americana PetSimpl. De acordo com o criador, Dave Waymouth, a ideia não é exatamente nova, já existem equipamentos semelhantes, mas o que diferencia o Pip dos demais é a sua eficiência.



O sistema possui uma bateria capaz de durar por três meses. Isso facilita o uso por não necessitar de recarga constante para que seja efetivo. Os tutores precisam recarregá-lo apenas quatro vezes ao ano para ter a garantia de que saberá por onde andam os seus animais.



Outro benefício que o Pip proporciona é o controle sobre a quantidade de exercícios físicos praticados pelos animais. Como está sempre conectado ao dispositivo móvel de seus usuários, o sistema mantém o aplicativo sempre atualizado, com os locais em que os animais estiveram durante as 24 horas do dia.



Essa “coleira inteligente” pode deixar os passeios mais tranquilos e os tutores sempre cientes de que saberão onde seus animais estão, mesmo quando estiverem fora de vista. Por enquanto, o sistema funciona apenas em território norte-americano.



Fonte: Ciclo Vivo

Declaração de Cambridge: animais possuem consciência

Martin Balluch

11 de fevereiro de 2013 às 10:00


Foto: Reprodução



Em minha palestra, assim como em minha última contribuição para a Ringvorlesung em Innsbruck, eu reconstruo, baseado no resultado da minha dissertação[1], como o esclarecimento da figura Homem-Animal se desenvolveu.




Animais como coisas, contrapondo-se aos homens como pessoas, determinam hoje a práxis jurídica. A proteção aos animais é então a tentativa de proteger a propriedade animal de seu proprietário humano, apesar do direito à propriedade, de acordo com a Constituição dos proprietários, com certeza conceder o direito de agir com sua propriedade conforme seu agrado, sendo livre para dispor dela ou também exterminá-la.



O cerne desta postura em relação aos animais ilustra a visão cartesiana de que animais não humanos são apenas autômatos, sem qualquer acompanhamento de vivência consciente de uma sensação (Gefühl). Recusando-se este pressuposto, a posição jurídica em relação aos animais deveria mudar.





Na verdade, há que se dizer que esta opinião é há muito obsoleta. Contudo, ainda sempre encontro até mesmo professores universitários em discussões, especialmente sobre testes em animais que, por exemplo, em se tratando de ratos, contestam sua consciência. Minha dissertação se concentra em recolher comprovações científicas (Naturwissenschafliche) da consciência dos animais não-humanos. Isso foi em 2005.




Em 7 de julho [de 2012] recebi a este respeito o apoio dos participantes da Conferência Memorial Francis Crick em Cambrigde, Inglaterra. Os presentes eram coordenadores de pesquisas nas áreas de Neurociência cognitiva e Neurociência computacional, Neurofarmacologia, Neurofisiologia e Neuroanatomia.



Com uma exceção, todos obtiveram seus conhecimentos sobre consciência nos trabalhos práticos em laboratório, e não através da observação de animais em campo livre; logo, uma boa parte através de testes em animais. Apesar disso eles esclareceram solenemente, manifestando ao público que de acordo com os critérios das ciências da natureza, a existência de consciência em animais não-humanos não poderá mais ser negada.



“A ausência de neocortex não parece impedir um organismo de experimentar estados afetivos. Evidências convergentes indicam que animais não humanos têm substratos neuroanatômicos, neuroquímicos e neurofisiológicos de consciência, juntamente com a capacidade de demonstrar comportamentos intencionais. Consequentemente, o peso das evidências mostra que humanos não são os únicos possuidores de substratos neurológicos que geram consciência. Animais não humanos, incluindo mamíferos e pássaros, e muitas outras criaturas, incluindo polvos, também possuem estes substratos neurológicos.”




Este esclarecimento foi assinado até mesmo por Stephen Hawking, reconhecidamente positivista, que em meu tempo na Universidade de Cambridge ainda era bastante cético sobre a questão da consciência dos animais e depreciava minhas atividades como protetor dos animais.




Se agora alguém ainda quiser afirmar que os animais (ao menos os vertebrados) não teriam qualquer consciência, então ônus recai somente sobre ele/ela. Nossa tarefa será fazer com que os legisladores tirem daí as suas conclusões.



Mais informações sobre a Conferência e a Declaração, inclusive relatos na mídia, aqui: http://fcmconference.org/



O texto da declaração pode ser lido (em inglês) aqui: The Cambridge Declaration on Consciouness



Tradução: Raquel Drumond


Comentários




  • ilídio lima (11 de fevereiro de 2013, 23:13), disse: 
     
      […] Se agora alguém ainda quiser afirmar que os animais (ao menos os vertebrados) não teriam qualquer consciência, então ônus recai somente sobre ele/ela. Nossa tarefa será fazer com que os legisladores tirem daí as suas conclusões.



    Consciência; relativa em (s.) port. = concordar. Aí esta a minha percepção; Os presentes eram coordenadores de pesquisas nas áreas de Neurociência cognitiva e Neurociência computacional, Neurofarmacologia, Neurofisiologia e Neuroanatomia.
    É, a Percepção da lembrança daquilo que lhe foi imposto em laboratório, lhe proporciona lembranças, para não mais sofrerem com choques.




    Com o instinto natural de este a trabalhar em conformidade com a lei orgânica, havia mais equilíbrio entre as espécies. Animais não humanos ou “humanos animais.”.
    Não sei se bem digo! tirem daí as suas conclusões.



    • ilídio lima (16 de fevereiro de 2013, 13:39), disse: 
       
        Mas, tem palavras; Se, na verdade, não estou no mundo para simplesmente a ele me adaptar, mas para transformá-lo; se não é possível mudá-lo sem um certo sonho ou projeto de mundo, devo usar toda possibilidade que tenha para não apenas falar de minha utopia, mas participar de práticas com ela coerentes.
      Paulo Freire



  • Silvia Souza (29 de junho de 2013, 07:23), disse: 
     
      “Chegará um dia no qual os homens conhecerão o íntimo dos animais; e nesse dia, um crime contra um animal será considerado crime contra a humanidade.” (Leonardo da Vinci)

A abolição da escravatura “moderna”

ANDA » Agência de Notícias de Direitos Animais 

 

ECO ANIMAL - MÁRCIO LINCK

27 de outubro de 2016 às 17:00

abolicao
Alguns anos antes da abolição da escravatura no Brasil em 1888, conforme o ambiente social e contexto histórico, muitas pessoas talvez se chocassem e até achassem um absurdo alguém propor o fim da escravidão dos negros, o fim das senzalas, dos quilombos, do pelourinho e defender que a cor da pele não servisse de motivo para que seres sensíveis não tivessem direitos, fossem desrespeitados e feridos em sua dignidade.



Hoje, em pleno século XXI o caminho que está sendo percorrido para a abolição da escravatura animal passa pelo mesmo discurso teórico e embasamento moral. Tal como o racismo ou o sexismo, o especismo (preconceito contra espécie) tem a mesma matriz discriminatória, pois procura minimizar os interesses semelhantes e vontades de uns baseando-se em aspectos irrelevantes como a aparência e formatação física.



Melhor não pensar que os animais sentem e sofrem já que é conveniente aos humanos permanecerem em sua zona de conforto, usando e abusando cruelmente de seres indefesos transformados em produtos e objetos de consumo.



Hoje animais/mercadorias/escravizadas movimentam a economia brasileira e mundial assim como humanos/mercadorias/negros movimentavam no passado a economia colonial e o comércio internacional. Peças humanas e animais transformados em números e cifrões, pouco importando se os gemidos e a angústia que provinham ontem das masmorras e das senzalas hoje vem das granjas e dos galpões.



Mas o mundo está mudando e não é a toa que depois da Declaração de Cambridge sobre a Consciência Humana Animal, em 2013 em que renomados cientistas de cinco áreas da Neurociência atestaram a senciência dos animais, alguns países começaram a alterar o estatuto jurídico destes, transformando os mesmos em sujeitos de direitos e não mais apenas em seres moventes vinculados à posse ou propriedade humana.





Nesse sentido é que estamos propondo o fim dos “pelourinhos” e das “senzalas” modernas, representados hoje pelos matadouros, pelas granjas ou por qualquer espaço ou forma que submeta seres sensíveis e inteligentes à prisão, à crueldade e à perda do bem maior que possuem: a VIDA.



Diferente do passado, agora a “Lei Áurea” acontece de modo singular, quando alguém decide não mais consumir e contribuir com os produtos e meios desse sistema escravocrata! Nesse momento ele se torna um abolicionista!

Por trás da beleza dos fogos de artifício


Por Marinês Eiterer em 31/12/2013 na edição 779
Por séculos, as exibições pirotécnicas têm sido o ponto alto de celebrações realizadas em diferentes partes do mundo. A festa da passagem de ano na cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, na noite desta terça-feira (31/12), deverá ser presenciada por 2,3 milhões de pessoas (ver matéria “Palcos do Réveillon de Copacabana recebem equipamentos; veja atrações“, publicada no portal G1, em 28/12). O grande clímax será o show de pirotecnia, envolvendo 24 toneladas de fogos de artifícios, distribuídos em 11 balsas por toda a orla, com uma duração estimada em 16 minutos. (A única coisa que poderia evitar isso, ao que parece, seria uma chuva forte.)



A festa adiciona 614 milhões de dólares (cerca de R$ 1,4 bilhão) à economia da cidade. Este ano, ironicamente, o tema será o filme de animação “Rio 2” (ver aqui), dirigido pelo brasileiro Carlos Saldanha, cujos personagens centrais são um casal de ararinhas-azuis (Cyanopsitta spixii). Outras cidades do país também realizam shows de pirotecnia na passagem de ano, como é o caso de Belo Horizonte, Fortaleza, Recife e São Paulo (ver o verbete “Ano-Novo“, na Wikipedia). Isso tudo, claro, sem falar de inúmeros brasileiros que gostam de soltar seus próprios rojões. É barulho pra todo lado.



Pirotecnia mortal
Uma exibição de pirotecnia é considerada uma perturbação antropogênica e seus impactos sobre a vida selvagem representam uma justificada preocupação em termos de biologia da conservação. Para as pessoas que presenciam ou assistem pela TV, a pirotecnia é comumente vista como um grande e belo espetáculo.


Cabe registrar, no entanto, que o barulho alto e repentino e as luzes brilhantes produzidos pelos fogos de artifício são uma fonte de estresse para muitos animais, tanto domésticos como selvagens. Um exemplo familiar é comumente presenciado por quem tem um cão. Os animais ficam muito agitados com o barulho, tentando se esconder; muitos latem, uivam ou até mesmo urinam. Estudos têm comprovado o que os tutores desses aniamis já sabiam: fogos de artifício representam uma experiência traumática para os cães.



A repentina mortandade de milhares de pássaros-pretos-da-asa-vermelha (Agelaius phoeniceus; “red-winged blackbirds”, em inglês), na pequena cidade de Beebe, no estado de Arkansas (Estados Unidos), na véspera da passagem de ano, em 2010, atraiu a atenção da mídia (ver as matérias “For Arkansas blackbirds, the New Year never came“, de Campbell Robertson, publicada no The New York Times, em 3/1/2011; e “Fogo-de-artifício terá causado pânico e morte a milhares de aves no Arkansas“, de Helena Geraldes, publicada no Público, em 4/1/2011).


Imagens de radar mostraram que, naquela noite, grupos numerosos de aves deixaram os seus poleiros no meio de uma noite chuvosa. Fogos de artifício assustaram e desorientaram as aves, muitas das quais morreram ao se chocar violentamente contra obstáculos. Sem essa repentina perturbação, elas provavelmente teriam permanecido em seus poleiros noturnos.



Na Holanda, usando um radar meteorológico, um estudo quantificou a reação das aves aos fogos de artifício durante a passagem do ano, em três anos consecutivos (ver aqui; para detalhes técnicos, ver SHAMOUN-BARANES et al. 2011). Milhares de aves saíram em dabandada pouco depois da meia-noite. Os bandos mais numerosos foram observados em áreas de pastagens e locais úmidos, incluindo áreas protegidas, onde milhares de aves aquáticas habitualmente descansam e se alimentam. Perturbações provocadas durante a época reprodutiva podem levar ao abandono de ninhos, deixando ovos e filhotes desprotegidos; isso eleva as taxas de mortalidade e contribui para uma redução nos efetivos populacionais.



Quem sabe, um dia…
Procurei aqui salientar o impacto dos fogos de artifício sobre as aves, mas outros animais, como baleias e peixes, também sofrem com esse mesmo tipo de perturbação. Isso para não falar nos impactos negativos sobre a saúde da população humana, incluindo poluição do ar, lesões físicas, auditivas, visuais e traumas.



Em alguns países, esses impactos já vêm sendo discutidos. Em função disso, pode-se pensar em locais mais apropriados para a realização dessas festas, assim como em uma redução na quantidade de fogos de artifício que são utilizados. Quem sabe, um dia, essa discussão chega até nós. E aí, então, poderemos nos dar conta da amplitude dos impactos negativos que as nossas “maravilhosas” festas de pirotecnia têm tido sobre a vida selvagem.


Feliz Ano Novo!


Referência citada
SHAMOUN-BARANES, J. & outros 5 coautores. 2011. Birds flee en mass from New Year’s Eve fireworks. Behavioral Ecology 22: 1173-7.
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Marinês Eiterer é bióloga, idealizadora e responsável pelo blogue “Aves de Viçosa