terça-feira, 16 de agosto de 2016

Dois cachorros caíram em um poço. Você não vai acreditar em quem os ajudou!


India dois cachorros cairam poco voce nao vai acreditar quem ajudouDois pequenos cachorrinhos caíram acidentalmente em um poço (Foto: Reprodução Internet)
Às vezes dizemos que algumas pessoas se comportam como animais. Mas na verdade, os animais são muito mais bondosos que os humanos. Muitas vezes acompanhamos exemplos incríveis de cooperação no mundo animal, quando os animais chegam a ajudar não só os seus semelhantes, mas são também os representantes de outra espécie.


O caso a seguir, ocorreu na Índia, nas proximidades de Punjab, e superou todas as nossas expectativas, além de destruir nossos estereótipos sobre animais.


Dois pequenos cachorrinhos caíram acidentalmente em um poço. Quando eles caíram, não se machucaram, mas tirá-los de lá era muito difícil porque o poço era muito profundo.


Sua mãe preocupada, começou a latir, chamando a atenção das pessoas. Quando alguns chegaram e olharam dentro do poço, eles viram algo assustados: junto aos cachorros estava uma cobra venenosa. Todos se surpreenderam quando perceberam que a cobra não estava atacando os cachorros, mas sim cuidando deles.


Ela cuidava deles e não os deixava ir para o outro lado do poço, onde a água poderia subir e afogá-los.


Tirar os cachorrinhos de lá não foi uma tarefa fácil, conseguiram só depois de dois dias. Quando as pessoas decidiram ajudá-los, desceram com uma corda e a cobra se afastou para que pudessem ajudá-los.


Por fim, conseguiram tirar esses animaizinhos de lá com vida e os devolveram à sua mamãe, e a cobra foi solta no bosque.


Essa história mostra mais uma vez que mesmo os animais mais ferozes e perigosos se comportam melhor que alguns seres humanos!


Fonte: Curioso 

Leopardo é salvo de afogamento dentro de um poço de 18 metros; vídeo


Por Christian Cotroneo / Tradução de Alice Wehrle Gomide


Não demorou muito para os camponeses do sul da Índia perceberem que havia um problema com o abastecimento de água. Era muito incomum que o poço local desse uivos como em um pesadelo e fizesse sons estridentes.


Quando alguém olhou pela borda, o problema foi rapidamente identificado.


Pois é. Leopardo no fundo do poço.


Como exatamente um leopardo conseguiu ficar preso no fundo de um buraco de 18 metros não ficou imediatamente claro. Mas o que era óbvio? O animal logo iria se afogar.


Alguém jogou um maço de galhos dentro do poço para agir como um salva-vidas – e o leopardo fêmea de três anos de idade prontamente subiu nele.


India leopardo salvo afogamentoFotos: Wildlife SOS India
Logo, chegou a essa pequena vila em Maharashtra, Índia, uma equipe do Wildlife SOS, uma organização de resgate com histórico de salvar animais de situações muito ruins.
O grupo, liderado pelo veterinário Ajay Deshmukh e acompanhado pelos agentes do departamento ambiental do estado, percebeu que retirar um animal selvagem claramente nervoso e agitado de dentro de um buraco muito profundo não seria uma tarefa fácil.


“Devido à falta de redes de proteção apropriadas”, um agente do departamento ambiental disse em um comunicado de imprensa, “um grande número de poços nas vilas rurais de Maharashtra permanecem expostos, aumentando o risco de animais selvagens ficarem presos dentro deles”.


A equipe optou por baixar um caixote até o leopardo em apuros.


Mas no começo, o caixote pendurado não passava exatamente a mensagem de ‘Aqui para ajudar!’ para o animal. Ao invés disso, ele parecia estar deixando o leopardo bravo o suficiente para tentar dar uns golpes – golpes que o desequilibravam perigosamente.
India leopardo salvo afogamento2
Mas com a persistência dos seus resgatistas, o leopardo ficou um pouco mais curioso sobre a caixa. Ou, ao menos, ele percebeu que suas opções eram quase nulas. E o quase já tinha ido embora.
India leopardo salvo afogamento3
O leopardo finalmente pareceu aceitar sua salvação, primeiro mordendo um pouco a borda antes de pular para dentro.
India leopardo salvo afogamento4
Durante a operação de resgate de três horas, o leopardo permaneceu desafiadoramente bravo com tudo e com todos. Mas, sem a resposta rápida dos resgatistas, seus dias teriam acabado naquele poço.Vejam o video:

https://youtu.be/1f-VzIDygbo


“Leopardos são frequentemente vistos nessa área”, Kartick Satyanarayan, fundador do Wildlife SOS, disse em um comunicado de imprensa. “Existem muitos campos de cana que fornecem um esconderijo seguro para esses animais, que estão lutando para encontrar um ponto de apoio nas florestas que estão desaparecendo devido à invasão injustificada de seu habitat natural”.


Depois de um detalhado checkup médico no Manikdoh Leopard Rescue Centre, dirigido pela Wildlife SOS, ele foi libertado novamente na natureza. E os camponeses conseguiram usar o poço novamente, sem terem que se preocupar em deixar um leopardo bravo.


A Wildlife SOS India salva a vida de incontáveis animais, como este leopardo, a cada ano.


Fonte: The Dodo

Encontrada no Brasil bactéria resistente a um dos mais poderosos antibióticos


Recentemente descoberto na China e também encontrado em países da Europa, da Ásia e da África, o gene mcr-1, que causa resistência a uma classe de antibióticos utilizados justamente para tratar infecções por bactérias multirresistentes, foi identificado pela primeira vez no Brasil em cepas da bactéria Escherichia coli isoladas de animais de produção.



Os pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) responsáveis pela identificação da bactéria também reportaram o primeiro caso de infecção humana no Brasil, em um hospital de alta complexidade em Natal (RN), por uma cepa da bactéria portadora do gene e resistente a Colistina (polimixina E), um dos mais poderosos antibióticos, considerados como último recurso no tratamento de infecções produzidas por bactérias que não respondem a outras drogas.



“A aparição desse gene no Brasil pode contribuir para o surgimento de bactérias totalmente resistentes aos antibióticos, com risco de enfrentarmos uma situação similar ao que foi a era pré-antibiótica, quando doenças comuns, como uma infecção urinária ou um ferimento profundo na pele, levavam facilmente a óbito”, alerta Nilton Lincopan, responsável pela pesquisa Monitoramento de bactérias Gram-negativas multirresistentes de importância médica (humana e veterinária): impacto clínico/ambiental e desenvolvimento de alternativas terapêuticas e produtos de inovação tecnológica, realizada com apoio da FAPESP.



Os resultados da pesquisa foram publicados nas revistas científicas Eurosurveillance, do European Centre for Disease Prevention and Control, e Antimicrobial Agents and Chemotherapy, da American Society for Microbiology.


Superbactéria
Descoberta em 1949, a produção de Colistina foi descontinuada entre a década de 1970 e o ano 2000 por sua elevada toxicidade, ficando o antibiótico restrito ao uso veterinário. No início do século, entretanto, com a emergência de bactérias produtoras de enzimas responsáveis por provocar resistência a praticamente todos os antibióticos beta-lactâmicos, como as penicilinas, a Colistina voltou a ser utilizada como última alternativa terapêutica no tratamento de infecções produzidas por microrganismos multirresistentes, principalmente associadas a surtos de infecção hospitalar.



Por muito tempo, conta Lincopan, a comunidade científica internacional acreditou que o desenvolvimento da resistência bacteriana a Colistina seria um processo difícil. “Porém, ao final do ano passado, um artigo alarmante foi publicado na revista Lancet Infectious Diseases, em que pesquisadores chineses descreveram a identificação de um novo gene (o mcr-1) que confere resistência contra polimixina E e polimixina B.”



Ainda mais preocupante, de acordo com o pesquisador, foi a descoberta de que o gene é facilmente transferível de uma espécie bacteriana a outra por meio de plasmídeos, fragmentos de DNA extracromossômicos que podem se replicar autonomamente e que podem ser transferidos entre diferentes espécies bacterianas por conjugação – processo de reprodução das bactérias por meio do qual pedaços de DNA passam diretamente de uma para a outra. O fragmento de DNA transferido se recombina com o material genético da bactéria receptora, produzindo novas combinações genéticas que serão transmitidas às células-filhas na próxima divisão celular.



Cepas bacterianas carregando o gene mcr-1 foram encontradas tanto em animais de produção como em seres humanos, levantando suspeitas sobre a existência de uma cadeia na disseminação da resistência a Colistina que começa a partir do uso do antibiótico na alimentação animal, propagando-se para os animais abatidos, os alimentos derivados e o ambiente.


Diante da ameaça de que muitas infecções poderiam se tornar intratáveis, um alerta mundial foi emitido no início do ano pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês), agência do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos. Segundo Lincopan, papers de pesquisadores de diferentes países reportaram em seguida a identificação do gene mcr-1 em cepas de bactérias clinicamente importantes, como Escherichia coli, Salmonella spp. e Klebsiella pneumoniae.



“O aspecto mais assustador sobre o gene é a facilidade com que ele é transferido entre diferentes espécies bacterianas. Consequentemente, algumas bactérias hospitalares têm alinhado este gene junto a outros de resistência a antibióticos, favorecendo que a espécie bacteriana receptora fique resistente a praticamente a totalidade dos medicamentos. Assim, se um paciente estiver gravemente infectado, por exemplo, por uma E. coli, não haverá nada que se possa fazer”, diz o pesquisador.



Urgência epidemiológica
De acordo com Lincopan, suspeita-se que a principal razão para o surgimento e a propagação do mcr-1 seja o uso exacerbado de Colistina na produção agropecuária, como promotora de crescimento. Entretanto, a presença do gene também foi descrita em amostras de animais domésticos, alimentos e ambientes aquáticos, evidenciando a disseminação para diversos ecossistemas.



“No Brasil, no início deste ano, nosso grupo de pesquisa identificou pela primeira vez a presença do gene mcr-1 em animais de produção das regiões Sudeste (São Paulo e Minas Gerais) e Sul (Paraná e Santa Catarina), o que deve ser considerado uma urgência epidemiológica e um alerta para as implicações no agronegócio, visto que o país é um grande produtor e exportador de produtos de origem animal.”



Para os pesquisadores, os órgãos reguladores do setor deveriam reavaliar o uso de antibióticos como a Colistina.


“O impacto real da resistência bacteriana no Brasil também precisa ser avaliado pelo poder público e pela comunidade científica. Além disso, devemos privilegiar a educação sobre o uso racional de antibacterianos. Clinicamente, muitos estudos e reuniões científicas têm alertado que bactérias multirresistentes estão adquirindo um caráter de endemicidade em centros hospitalares, sendo frequentemente associadas a altas taxas de falha terapêutica e subsequente morbimortalidade”, conta Miriam Fernandes, aluna de doutorado da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP e primeira autora dos artigos publicados. “Estes esforços poderiam evitar uma situação irreversível”.



Um plano de ação global contra o risco do colapso dos antibióticos, avalia Lincopan, deve incluir “o uso racional desses fármacos na saúde humana e animal, o reforço da vigilância epidemiológica e o estímulo de pesquisas na área, a educação da população e dos profissionais da saúde humana e veterinária, assim como fazendeiros e produtores, sobre o uso adequado de antibióticos e o desenvolvimento de novos compostos e ferramentas de diagnóstico”.



Os resultados da pesquisa podem ser acessados no artigo First Report of the Globally Disseminated IncX4 Plasmid Carrying the mcr-1 Gene in a Colistin-Resistant Escherichia coli ST101 isolated from a Human Infection in Brazil, disponível em aac.asm.org/content/early/2016/07/19/AAC.01325-16.abstract, e no artigo Silent dissemination of colistin-resistant Escherichia coli in South America could contribute to the global spread of the mcr-1 gene, 
Fonte: Fapesp

A contaminação por mercúrio em peixes marinhos no Brasil, por Marcelo Tardelli Rodrigues e Manildo Marcião de Oliveira

terça-feira, 9 de agosto de 2016


A poluição ambiental representa uma séria ameaça aos ecossistemas costeiros, à vida marinha e, consequentemente, à saúde humana. O mercúrio (Hg) é um metal pesado naturalmente presente em todo o planeta em baixas concentrações.


Quando atinge concentrações altas, é decorrente da ação do homem sobre o ambiente, como por exemplo, a atividade garimpeira e despejos de esgotos domésticos e industriais, estes últimos provenientes principalmente de indústrias cloro-álcali, usinas termoelétricas a carvão e incineradores industriais.


Dependendo das condições ambientais, o mercúrio que é introduzido no ambiente pode sofrer alterações através de processos mediados por microorganismos, e ter sua forma química inicial modificada, passando a sua forma organificada, o metilmercúrio (MeHg), que é a forma mais tóxica do elemento, responsável por efeitos prejudiciais sobre a saúde humana através do consumo de alimentos, principalmente de vertebrados marinhos, como peixes carnívoros.


Os peixes podem absorver em seus tecidos e órgãos concentrações de mercúrio presentes no ambiente, através das vias respiratórias (ex: brânquias), do tegumento (ex: pele, escamas) e da alimentação. A capacidade de acumulação, assim como a quantidade de mercúrio presente no peixe, depende principalmente da quantidade e disponibilidade (biodisponibilidade) da forma química em que o elemento está no ambiente, e varia de acordo com a espécie, hábito alimentar, comprimento, peso, idade e mobilidade da mesma.



Um estudo realizado por pesquisadores do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense (IFF)/Campus Cabo Frio pesquisou, selecionou e analisou 13 estudos (trabalhos científicos) cuja temática foi a “análise das concentrações de mercúrio em espécies de peixes marinhos na costa brasileira”, com o objetivo de mostrar quais espécies foram capturadas em tais estudos e os níveis de mercúrio encontrados nos indivíduos coletados de cada uma dessas espécies.


Para a surpresa de todos, 50% dos peixes analisados nesses estudos apresentaram concentrações de mercúrio acima do limite máximo recomendável para consumo humano, estabelecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que é de 0,5 µg/g (micrograma de mercúrio por grama de tecido muscular) para peixes não-carnívoros e produtos da pesca, e 1 µg/g para peixes carnívoros.



Atualmente, o consumo de peixes, moluscos e crustáceos constitui a principal fonte de contaminação de pessoas, cujos efeitos sobre a saúde incluem danos ao sistema nervoso central, coração e sistema imunológico. Os fetos e crianças são especialmente vulneráveis a problemas de desenvolvimento.

No estudo que será publicado em breve, os pesquisadores concluíram que a descoberta de níveis altos de mercúrio em algumas espécies de peixes oceânicos (atum-azul, agulhão-vela, espadarte e tubarão-azul, entre outros) é surpreendente, devido ao fato de que muitos vivem longe da costa.


Tais concentrações podem ser explicadas pelo aumento desse elemento ao longo da cadeia alimentar marinha e da distribuição global de mercúrio, com dispersão auxiliada pelas correntes oceânicas e atmosféricas de transporte. No entanto, embora esses altos níveis de mercúrio representem um possível aumento do nível desse elemento nos oceanos, as informações apresentadas nesse estudo serão úteis para a indústria da pesca e órgãos públicos de saúde responsáveis por supervisionar o consumo público de determinadas espécies de peixes.


Essas informações também fomentarão a prevenção no consumo de determinadas espécies de peixes oceânicos, principalmente as espécies carnívoras, e novas investigações sobre esse tema, focando no mecanismo de contaminação das espécies estudadas.


Buscamos com essas informações, a formação de um relato que auxilie na conscientização sobre o monitoramento desse metal em ambientes marinhos e na fauna marinha em geral.


Marcelo Tardelli Rodrigues e Manildo Marcião de Oliveira
Programa de Pós-graduação em Engenharia Ambiental (PPEA)
Laboratório de Ecotoxicologia e Microbiologia Ambiental (LEMAM)
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense (IFF)
Fonte: EcoDebate

Desertificação engole a África

sexta-feira, 12 de agosto de 2016


Dois terços do continente africano já são deserto ou estão secos.

Por Baher Kamal, da IPS –


Roma, Itália, 12/8/2016 –  Esse vasto território, o segundo maior do mundo depois da Ásia, é “vital” para a agricultura e a produção de alimentos, mas quase três quartas partes de sua área sofrem diversos graus de degradação. O impactante diagnóstico de um continente com mais de 30 milhões de quilômetros quadrados, onde vivem 1,2 bilhão de pessoas dispersas em 54 países, foi dado pelo maior fórum dedicado a esse problema, a Convenção das Nações Unidas para a Luta Contra a Desertificação (UNCCD).


De fato, em seu informe Atendendo a Desertificação, a Degradação de Terras e a Seca na África, a UNCCD, com sede em Bonn, na Alemanha, explica que esse continente sofre frequentes secas severas, que foram particularmente graves nos últimos anos no Chifre da África e na região do Sahel. “A pobreza e a difícil situação socioeconômica estão generalizadas, e como resultado muitas pessoas sobrevivem recorrendo aos recursos naturais”, aponta o documento.


A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) alertou, no dia 28 de julho, que, “na África austral, afetada pela seca, existe uma corrida contra o tempo para garantir que 23 milhões de pessoas recebam assistência agrícola”. Para evitar que em 2018 dependam da assistência humanitária, são necessários, com urgência, US$ 109 milhões para distribuir sementes e outros insumos e serviços para plantar.


A FAO informou que seu plano de resposta procura garantir que sejam entregues sementes, fertilizantes, ferramentas e outros insumos e serviços para que os pequenos agricultores e pastores possam enfrentar as devastadoras consequências da seca derivada do fenômeno El Niño.“Os agricultores precisam poder plantar em outubro, do contrário, em março de 2017 a colheita voltará a ser deficiente, o que terá grave impacto na segurança nutricional e alimentar e na subsistência da região”, destacou a FAO.


O futuro próximo e de médio prazo não é nada promissor para a África: até 2020, entre 75 milhões  e 250 milhões  de pessoas poderão ficar expostas a estresse hídrico devido à mudança climática. Além disso, em alguns países, a produção que depende das chuvas poderá cair 50%. A situação é tão grave que a União Africana (UA), junto com a UNCCD e outros sócios,organizou a Conferência para a Seca na África, que acontecerá entre os dias 15 e 19 deste mês, em Windhoek, na Namíbia.


Do encontro participarão cerca de 700 pessoas, que debaterão sobre como frear e evitar o rápido avanço do deserto nesse continente, e, em particular, se concentrarão na mitigação do impacto das secas e no desenvolvimento de políticas nacionais para enfrentá-lo. A conferência acontecerá em um momento em que a África oriental e austral sofrem uma das piores secas dos últimos 50 anos.


A Namíbia parece ser uma sede adequada para esse encontro, porque, entre outras razões, figurou em 51º lugar entre os 120 países listados no Índice Global da Fome, de 2014.A situação nesse país melhorou, mas ainda sofre um “grave problema de alimentação”, segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud).


“Os contínuos episódios de seca ameaçam os êxitos obtidos no alívio da pobreza, e é necessário que a resposta seja coletiva”, ressaltaessa agência da ONU.No ano passado a seca reduziu a produção agrícola nacional em 46% abaixo da média de 16 anos, por isso estima-se que cerca de 370.300 pessoas correm o risco de passar fome, afirma o documento do Pnud.


As três agências que atendem questões de alimentação – FAO, Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida) e Programa Mundial de Alimentos (PMA) – indicam em seu informe conjunto O Estado da Insegurança Alimentar no Mundo, de 2015, que 42,7% da população da Namíbia está subalimentada. Além disso, diversas organizações de desenvolvimento estimam que mais de 52 milhões de pessoas sofrem insegurança alimentar na África oriental e austral, e que o número pode ser maior.


Quatro dos 15 Estados membros da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) já declararam uma situação de desastre nacional por causa da seca, e outros dois denunciaram uma emergência parcial.A propósito, o primeiro-ministro da Namíbia, Saara Kuugongelwa-Amadhila, afirmou que “os recursos hídricos têm um papel decisivo no desenvolvimento econômico de todos os setores. Investir em garantir a disponibilidade de água não protege só a sociedade de riscos concretos, como também permite o crescimento econômico”.


As últimas temporadas seguidas de seca, com o fato de a de 2016 ser a pior dos últimos 35 anos, atingiram particularmente as famílias mais vulneráveis das zonas rurais devido ao aumento do preço do milho e de outros cultivos básicos, pontuou a FAO.“O resultado é que quase 40 milhões de pessoas na região poderão sofrer insegurança alimentar no pico de escassez que se registrará no começo de 2017. Todos os países da África austral serão afetados”, prosseguiu a FAO.

“O elevado desemprego e as economias paralisadas fazem com que a principal forma de conseguir alimentos seja a produção própria. Ajudá-las a conseguir isso representa um apoio vital na região, onde pelo menos 70% da população depende da agricultura para sobreviver”, observou David Phiri, coordenador da FAO para a África austral.Além disso, a generalizada perda de cultivos exacerbou a má nutrição crônica. Há denúncias de mais de 640 mil animais mortos pela seca em Botsuana, Suazilândia, África do Sul, Namíbia e Zimbábue em razão da falta de pastagem, água e pelo foco de enfermidades.


A FAO pede investimentos que ofereçam às comunidades a capacidade de produzir sementes tolerantes à seca e forragem, além de tecnologias para praticar uma agricultura climaticamente inteligente, como a agricultura de conservação. O objetivo é permitir que as famílias rurais construam resiliência e se preparem para futuros golpes, especialmente porque aparecerão novos desafios.

“La Niña, fenômeno oposto ao El Niño-Oscilação do Sul, provavelmente ocorrerá mais adiante este ano e, embora possa trazer boas chuvas, o que é bom para a agricultura, é preciso adotar medidas para mitigar o risco de inundações, que podem destruir os cultivos e colocar em risco o gado, deixando-o mais vulnerável às doenças”, alertou Phiri.


Fonte: Envolverde

Aves gigantes da Antártica estão contaminadas por agrotóxicos


Foi detectada a presença de diversas substâncias nocivas, entre as quais o DDT, banido nos EUA desde 1972.


Pesquisadores confirmaram a presença de contaminantes orgânicos no sangue de petréis-gigantes do sul de diversas colônias na Península Antártica. Estudos de carcaças e outros tecidos já tinham dado sinais da contaminação, agora confirmados a partir de amostras de sangue em que foi detectada a presença de diversas substâncias nocivas, entre as quais o DDT, pesticida banido nos Estados Unidos em 1972, quando se constatou que seu uso ameaçava a sobrevivência de diversas espécies de aves de rapina.

A pesquisa foi realizada pela bióloga Fernanda Imperatrice Colabuono, do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP). Ela estudou os animais das colônias de petréis-gigantes das ilhas Elefante e Livingston, no arquipélago das Shetland do Sul, na Península Antártica.

O petrel-gigante-do-sul (Macronectes giganteus) é um animal magnífico e um importante predador de topo no Atlântico Sul e Oceano Austral. Com envergadura de asas de cerca de dois metros, é uma das maiores aves voadoras do planeta, menor apenas que o albatroz e o condor. São também longevos. Petréis-gigantes podem viver mais de 50 anos. Passam a vida nos céus dos mares do Sul do planeta, à procura de comida.

Nos verões antárticos de 2011/2012 e 2012/2013, a bióloga coletou amostras de sangue de 113 indivíduos e constatou a presença de contaminantes orgânicos como bifenilos policlorados (PCBs), hexaclorobenzeno (HCB), pentaclorobenzeno (PeCB), diclorodifeniltricloroetano (DDTs) e derivados, o pesticida clordano (banido nos Estados Unidos em 1988) e o formicida Mirex (banido nos Estados Unidos em 1978 e recentemente no Brasil).

Segundo Fernanda, todos esses poluentes orgânicos são persistentes no meio ambiente, têm ação cancerígena, causam disfunção hormonal e problemas reprodutivos. Os resultados foram publicados num artigo em Environmental Pollution.

A pesquisadora afirma que, comparado aos níveis de contaminação nas aves do hemisfério norte, os níveis de contaminação detectados nas colônias de petreis na Península Antártica ainda são baixos. O objetivo agora é monitorá-los no longo prazo, para se “ter um indicativo da tendência de aumento ou decréscimo desses contaminantes ao longo dos anos no ambiente em que estas aves vivem”, diz a bióloga.

Cadeia de contaminação
O DDT é transportado pelo ar e pela chuva. Uma vez em rios e lagos, se acumula na cadeia alimentar. Os insetos contaminados são comidos por peixes e estes por outros predadores. Em cada patamar da cadeia alimentar o nível de acúmulo de DDT nos tecidos aumenta.

Seus efeitos nocivos se tornam mais visíveis quando se atinge o ápice da cadeia, nos predadores de topo. O petrel-gigante é um deles. Ele se alimenta de peixes, lulas e até de carcaças de outras aves. Ou seja, no trajeto de uma longa vida, ao comer centenas de quilos de peixes contaminados, a quantidade de contaminantes nos tecidos do petrel sempre aumenta.

Foi o que aconteceu nos Estados Unidos com os falcões-peregrinos e os condores da Califórnia. Nos anos 1960, suas populações começaram a declinar dramaticamente. Os condores chegaram a contar apenas umas poucas centenas de indivíduos. Estavam a um passo da completa extinção.

Foi quando se descobriu o papel do DDT naquela tragédia. Ao se acumular no corpo das fêmeas adultas, o DDT era repassado à casca de seus ovos, que se tornavam finas e frágeis, partindo com grande frequência. A reprodução da espécie estava ameaçada. Em 1972, a produção, comercialização e o uso do DDT foram banidos nos Estados Unidos. Com o tempo, as populações de falcões e condores começaram a se recuperar.

O Brasil é atualmente o maior consumidor mundial de agrotóxicos. O uso proibido do DDT foi proibido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) apenas em 2009 – mas, como ele persiste no meio ambiente, sua presença ainda é detectada nos tecidos de animais como o petrel. A preocupação de Colabuono em acompanhar a vida de seus petréis-gigantes tem fundamento.


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Fonte: Ciclo Vivo

Australianos produzem alimentos para até 50 famílias em apenas 4 mil m2.

 

A estratégia usada para alcançar este desempenho tão alto no uso da terra é a permacultura.


A intenção é buscar a autossuficiência e incentivar outras pessoas a fazerem o mesmo. | Foto: Divulgação

Imagine uma propriedade com quatro mil metros quadrado, que seja capaz de produzir os mais diversos tipos de alimentos para abastecer até 50 famílias. Parece impossível transformar um espaço tão pequeno em algo tão produtivo. Mas, é isso o que Brett Cooper e sua família estão fazendo na Austrália.

A estratégia usada para alcançar este desempenho tão alto no uso da terra é a permacultura. Cooper conheceu o conceito há doze anos e começou a aplicar alguns princípios em sua casa. Em pouco tempo, a família já não tinha mais espaço para plantar tudo o que queriam. Foi há seis anos que eles se mudaram para uma propriedade maior, com um acre, o equivalente a pouco mais de quatro mil metros quadrados, e deram início à Limestone Permaculture Farm.


Em entrevista à imprensa local, ele explicou que sua vida profissional sempre esteve ligada à arquitetura e construção, mas, depois de conhecer a permacultura, isso mudou. Hoje, ele e a família estão integralmente envolvidos com a fazenda, produzindo alimentos orgânicos, dando cursos de permacultura e abrindo a sua propriedade para que outras pessoas tenham a oportunidade de vivenciar e conhecer de perto quais são os cuidados necessários para tornar pequenas áreas altamente produtivas.


A Limestone Permacultura produz frutas, verduras, legumes, ovos, carnes e muito mais. Os cuidados com a produção garantem que tudo seja cultivado sem agrotóxicos, graças a diversas técnicas, inclusive a de aproveitar os próprios dejetos dos animais para adubar a terra. A fazenda também tem outras soluções sustentáveis, como o uso de cisternas para captação da água da chuva e fossas naturais.


Brett Cooper explica que a intenção é buscar a autossuficiência e incentivar outras pessoas a fazerem o mesmo. “A cada dia que passa nós estamos fazendo uma transição para uma vida mais saudável, criando um futuro mais gratificante e positivo, não apenas para nós mesmos, mas também para a nossa família, amigos e comunidade”, comentou.


A família tem um site em que compartilham princípios da permacultura, suas próprias experiências e divulgam materiais educacionais sobre o assunto.

Redação CicloVivo

Hidrelétrica no Tapajós está cancelada.

Decisão do Ibama de cancelar o processo de licenciamento inviabiliza a construção da usina.

Crianças Munduruku brincam no rio Tapajós

O Ibama cancelou o processo de licenciamento da hidrelétrica de São Luiz do Tapajós, que estava prevista para ser construída no coração da Amazônia, no Pará. O ato é um reconhecimento da inviabilidade ambiental do empreendimento. Sem a licença ambiental é impossível realizar o leilão da usina.

“Nós, Munduruku, estamos muito felizes com o cancelamento da usina. Isso é muito importante para o nosso povo. Agora vamos continuar lutando contra as outras usinas no nosso rio”, afirma Arnaldo Kabá Munduruku, cacique-geral do povo. Ainda existem outros 42 projetos de hidrelétricas apenas na bacia do rio Tapajós e dezenas na Amazônia. Recentemente, mais de 1,2 milhão de pessoas ao redor do mundo se juntaram à luta dos Munduruku contra as hidrelétricas.

Além de alagar a terra indígena Sawré Muybu, do povo Munduruku, e impactar dezenas de comunidades ribeirinhas, a obra causaria impactos ambientais irreversíveis. No ano passado, uma análise do Estudo de Impacto Ambiental da hidrelétrica, produzida pelo Greenpeace e realizada por pesquisadores renomados, já havia mostrado a inviabilidade do empreendimento.

"Além de uma grande vitória das populações tradicionais e indígenas do Tapajós, a decisão de cancelar o processo de licenciamento desta usina também reforça a necessidade do Brasil reavaliar sua política de expansão da matriz de hidrelétricas na Amazônia, devido aos impactos inaceitáveis que este tipo de obra gera sobre o bioma", afirma Danicley de Aguiar, da campanha da Amazônia do Greenpeace.

No início desta semana, o Ministério Público Federal do Pará (MPF) havia recomendado ao Ibama que cancelasse o licenciamento ambiental da usina em função da inconstitucionalidade do projeto devido à necessidade de remoção permanente dos indígenas. A terra indígena Sawré Muybu, que teria parte de sua área alagada pelo empreendimento, está em processo de demarcação e foi reconhecida em abril deste ano pela Funai. A Constituição de 1988 veda a remoção de povos indígenas de suas terras.

"Diante da realidade imposta, o governo acertou na decisão que garante a proteção da floresta e seus povos. Agora esperamos que o Ministério da Justiça reconheça o direito originário do povo Munduruku e realize a demarcação da TI Sawré Muybu", conclui Danicley.

Em declarações à imprensa, o governo demonstrou preocupação com os graves impactos socioambientais do empreendimento. O ministro do Meio Ambiente, José Sarney Filho (PV-MA) afirmou ao jornal Valor Econômico que a “obra é inteiramente dispensável”. Ele acredita que fontes renováveis podem suprir a demanda de energia de São Luiz do Tapajós.

Esse cancelamento traz a oportunidade de repensar o modelo de geração de energia no Brasil. Fontes renováveis e verdadeiramente limpas, como a eólica e a solar, já são uma realidade e podem suprir a demanda do país, que tem plenas condições de escolher outros caminhos. Conforme mostrou um estudo realizado pelo Greenpeace, é possível produzir a mesma energia esperada por São Luiz do Tapajós com o uso dessas fontes.

Fonte: http://www.greenpeace.org/

O mito da economia verde e o aumento da extração de recursos naturais.


“Por mim ficaria contente se todos os prados do mundo ficassem em estado selvagem como consequência das iniciativas dos homens para se redimirem”

Henry Thoreau (1817-1862)


A ideia de economia verde, assim como as propostas de desenvolvimento sustentável, são iniciativas que tentam defender a continuidade do crescimento econômico, mas com uma capa de inclusão social e de redução da degradação ambiental.

A Iniciativa Economia Verde da ONU (Green Economy Initiative, da UNEP) define a Economia Verde como aquela que resulta em melhoria do bem-estar humano e da igualdade social, ao mesmo tempo em que reduz significativamente os riscos ambientais, a escassez ecológica e a perda de biodiversidade. Ela tem três características preponderantes: é pouco intensiva em carbono, eficiente no uso de recursos naturais e socialmente inclusiva (2011, p.7)

Porém, considerar que se pode atingir estes objetivos da Economia Verde por meio do crescimento econômico é ignorar a observação de um dos fundadores da economia ecológica, Kenneth Boulding, que disse: “Acreditar que o crescimento econômico pode continuar infinitamente num mundo finito é coisa de louco ou de economista”.

A economia verde só seria viável em um quadro de decrescimento econômico, com redução do metabolismo social (“modelo extrai-produz-descarta”) e a diminuição da degradação ambiental. Mas o que tem acontecido nos últimos 240 anos é um enorme crescimento demoeconômico com grande agressão ao meio ambiente.

Entre 1776 e 2016, a população mundial cresceu 9,5 vezes e a economia global multiplicou por cerca de 125 vezes. Em 240 anos, o crescimento anual da população ficou em torno de 0,9% ao ano e a economia em torno de 2% ao ano. Sendo que o período de maior crescimento demoeconômico ocorreu depois da Segunda Guerra Mundial, quando a população passou de cerca de 2,5 bilhões de habitantes para quase 7,5 bilhões de habitantes em 2016 e a média anual de crescimento do PIB ficou acima de 3,5% ao ano. O consumo de matérias primas e de recursos naturais cresceu de maneira exponencial. Este processo trouxe muito lucro para a humanidade (por exemplo, aumentou a esperança de vida ao nascer de cerca de 25 anos em 1800 para 72 anos em 2016), mas provocou grandes prejuízos para a natureza e a biodiversidade.

O crescimento das atividades antrópicas provocou o desmatamento das florestas para explorar as madeiras de lei, fazer carvão e ampliar as atividades da agricultura e da pecuária. Represou rios, drenou pântanos, alterou a paisagem natural. Danificou os solos, ampliou as áreas desérticas e gerou desertos verdes que provocam a defaunação. Os oceanos tendem a ter mais plásticos poluidores do que peixes. Dezenas de milhares de espécies desapareceram e outras centenas de milhares estão em riscos de extinção. Para manter o crescimento econômico a terra foi revolvida para extrair minérios, para buscar petróleo no fundo do subsolo e para outros usos que emitem gases de efeito estufa que alteram a química da atmosfera, provocando o aquecimento global e a acidificação dos solos e das águas, além do aumento do nível dos mares, o que ameaça bilhões de pessoas que vivem ou dependem das áreas costeiras.

Portanto, o que tem acontecido desde o início da Revolução Industrial e Energética é o aprofundamento de uma economia “marrom” que tem provocado grande dano ambiental (além de grande desigualdade social). Até agora a economia verde e o desenvolvimento sustentável são apresentados como utopias, mas na prática são apenas distopias.

O próprio UNEP mostra que o mundo está longe de cumprir as metas da economia verde. O desacoplamento e a desmaterialização têm sido apenas ilusões. O relatório “Global Material Flows And Resource Productivity” (UNEP, julho de 2016) aponta que, enquanto a população mundial duplicou de tamanho, a extração de recursos naturais globais aumentou três vezes nos últimos 40 anos. A quantidade de matérias-primas arrancadas do seio da natureza subiu de 22 bilhões de toneladas em 1970 para 70 bilhões de toneladas em 2010, com os países mais ricos consumindo duas vezes mais do que a média mundial.

O aumento do uso de materiais globais acelerou rapidamente nos anos 2000, com o crescimento das economias emergentes, em especial com o crescimento da China que passou por grandes transformações industriais e urbanas que demandaram enorme quantidade de matérias-primas, de ferro, aço, cimento, energia, material de construção, etc. O crescimento na extração de recursos naturais passou de 7 toneladas per capita em 1970 para 10 toneladas per capita em 2010.

Se a extração de recursos continuar, em 2050, haverá uma população de 9 bilhões de habitantes e uma demanda de 180 bilhões de toneladas de material a cada ano para atender às demandas antrópicas. Esta é a quantidade quase três vezes a situação atual e provavelmente vai aumentar a acidificação dos terrenos e das águas, a eutrofização dos solos do mundo e dos corpos de água, além de aumentar a erosão e aumentar a poluição e as quantidades de resíduos.

O mais grave é que, desde 1990, tem havido pouca melhoria na eficiência no uso dos materiais globais. Na verdade, a eficiência começou a declinar por volta do ano 2000. A economia mundial atual precisa de mais material por unidade do PIB do que na virada do século, pois o crescimento econômico tem diminuído em economias mais eficientes como Japão, Coreia do Sul, EUA e Europa e aumentado em economias menos eficientes no uso dos recursos como China, Índia e Sudeste Asiático. Isto levou a um aumento da pressão ambiental para cada unidade de atividade econômica.

Ou seja, em vez de haver “desacoplamento” (decoupling), a economia internacional está utilizando cada vez mais recursos da natureza per capita e por unidade do PIB. O modelo marrom continua. O sonho da economia verde tem sido, na verdade, um pesadelo, com destruição dos ecossistemas e grande perda da biodiversidade. As emissões de carbono e de metano continuam em ritmo perigoso.

A América Latina tem sido um caso de retrocesso da estrutura produtiva. A região, e especialmente o Brasil, entrou em uma fase de desindustrialização e de reprimarização, com o agigantamento de um sistema neo-extrativista, que tem gerado grandes desastres ambientais, como no caso do rompimento das barragens de rejeitos de mineração que inundou de lama e destruiu o distrito de Bento Rodrigues, em Mariana (MG), no dia 05/11/2015, e provocou o maior desastre ambiental da história do Brasil com a degradação do rio Doce.

O acidente, que é um exemplo do modelo “extrai-produz-descarta”, ocorreu na unidade industrial de Germano, localizada em Minas Gerais, entre as cidades Mariana e Ouro Preto. A mineradora responsável pelas barragens é a Samarco Mineração, uma joint venture da Cia Vale do Rio Doce com a mineradora anglo-australiana BHP Billiton. A produção de minério visava atender principalmente a demanda chinesa. O rio Doce possui 853 km de extensão e o desastre da Samarco/Vale/BHP é um triste sinal que a economia verde está longe de ser uma realidade ou um sonho a ser alcançado no curto prazo.

A economia verde e a chamada Quarta Revolução Industrial são narrativas otimistas que encantam muitas pessoas. Os tecno-otimistas ou “tecnófilos cornucopianos” tecem loas à tecnologia e consideram que todos os problemas sociais e ambientais podem ser resolvidos pela inventividade humana. Considero que a tecnologia sempre foi e continuará sendo muito importante para melhorar o padrão de vida humano e para reduzir os impactos antrópicos da degradação ambiental.

Mas como mostrou Ted Trainer (2007), a tecnologia pode resolver muita coisa, mas não é capaz de sustentar a atual sociedade de consumo. Trainer defende uma vida mais regrada e a simplicidade voluntária, pois não se pode olvidar o fato de que a economia mundial já ultrapassou a capacidade de carga do Planeta. Michael and Joyce Huesemann, no livro: “Techno-Fix: Why Technology Won’t Save Us or the Environment” também alertam que a nossa confiança na tecnologia e na crença de que ela vai nos salvar é “suicida” e que muitas das nossas invenções estão causando mais mal do que bem. As promessas da geoengenharia até agora são um fracasso e se mostram incapazes de resolver os problemas ambientais.

A Pegada Ecológica está 64% acima da biocapacidade da Terra. Quatro das nove fronteiras planetárias já foram ultrapassadas. Os dramas estão atingindo o ponto de não retorno. Utilizar a ideologia da economia verde para defender o crescimento econômico desregrado, neste contexto de agravamento da exploração da natureza e de redução da biodiversidade, parece mais irresponsabilidade do que cegueira.

Referências:

UNEP. Towards a green economy, 2011

UNEP, Global Material Flows And Resource Productivity: Assessment Report for the UNEP International Resource Panel, Jul 2016

TRAINER, Ted. Renewable Energy Cannot Sustain a Consumer Society, Springer 2007

Michael and Joyce Huesemann. Techno-Fix: Why Technology Won’t Save Us or the Environment, 2011 https://www.youtube.com/watch?v=1MsUypIHZhc

José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

Fonte: https://www.ecodebate.com.br