sexta-feira, 8 de julho de 2016

O crescimento não pode ser uma religião. A sociedade do futuro deve ser frugal


Publicado em julho 8, 2016 por



‘O crescimento não pode ser uma religião. A sociedade do futuro deve ser frugal.’ Entrevista com Serge Latouche

Serge Latouche

Serge Latouche é conhecido na Itália como o autor do Breve trattato sulla decrescita serena [Breve tratado sobre o decrescimento sereno], que saiu em tradução italiana em 2007, despertando um amplo interesse no país. Sobre o seu pensamento, desenvolveu-se um movimento político cultural de crítica radical do modelo econômico dominante.


A reportagem é de Francesca Santonini, publicada no jornalL’Unità, 06-07-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.


Por isso, o seu novo livro, La decrescita prima della decrescita [O decrescimento antes do decrescimento], foi rapidamente traduzido pela editora Bollati Boringhieri. Professor emérito de economia e filósofo, Latouche está naItália para apresentá-lo no Festival do Livro Possível, que se realiza em Polignano a Mare, na Puglia, entre os dias 6 e 9 de julho.


Nota da IHU On-Line: Serge Latouche esteve duas vezes na Unisinos a convite do Instittuto Humanitas Unisinos – IHU. A segunda vez, permaneceu uma semana ministrando um curso. Os Cadernos IHU ideias publicaram vários do seus textos que podem ser conferidos abaixo em “Veja também” além de entrevistas.


Eis a entrevista.


O termo “decrescimento” foi lançado como um slogan provocativo a partir do ano 2000, “para denunciar a impostura do desenvolvimento sustentável”: como o senhor definiria o decrescimento hoje?
Hoje, o decrescimento é um movimento que teve um certo sucesso, especialmente na Itália, que propõe um projeto alternativo à sociedade de mercado, à economia produtivista e à sociedade consumista. Por decrescimento, entende-se implícita ou explicitamente a necessidade de voltar a um nível de produção sustentável, compatível com a reprodução dos ecossistemas.


No seu último livro, “O decrescimento antes do decrescimento”, o senhor escreve que seria preciso falar de “acrescimento”, assim como se fala de “ateísmo”, em vez de decrescimento. Qual seria a diferença?
Naturalmente, a palavra decrescimento não deve ser tomada ao pé da letra. Não se trata de fazer tudo decrescer, seria estúpido. Decrescer por decrescer seria tão absurdo como crescer por crescer. Trata-se de entender que o crescimento é uma forma de religião e que devemos sair dessa religião do “crescimento pelo crescimento” e tornarmo-nos agnósticos ou ateus do consumismo, do produtivismo e do desenvolvimentismo. O decrescimento, portanto, não é o oposto simétrico do crescimento.


O senhor defende que as consequências do crescimento são desastrosas para o ambiente, mas é preciso dinheiro para combater a poluição e, portanto, para ter um ambiente mais limpo. E muitos estudos indicam que a qualidade do ambiente tem um valor mais alto para os países ricos do que para os países pobres.
Naturalmente, isso ocorre seguindo a lógica da sociedade do crescimento. Como vivemos nessa sociedade, é melhor uma sociedade de crescimento com crescimento do que uma sociedade de crescimento sem crescimento. Porque, na verdade, em uma sociedade de crescimento com crescimento, há postos de trabalho, há recursos para o cuidado do ambiente, da saúde, mas, na sociedade em que vivemos hoje, ou seja, de crescimento, mas sem crescimento, há desemprego, a pobreza, e não há mais recursos públicos para financiar a cultura, a saúde e também o ambiente. É um paradoxo, porque, essa sociedade de crescimento com decrescimento destrói o ambiente e o futuro da humanidade, é um sistema não sustentável.


O senhor escreve que “o decrescimento como ruptura com a sociedade do crescimento e, portanto, com a economia capitalista também indica uma ruptura com a ocidentalização do mundo”. Não lhe parece que, hoje mais do que nunca, deveríamos defender a cultura ocidental dos ataques do terrorismo jihadista contra o nosso estilo de vida?
O terrorismo, como eu já escrevi no meu primeiro livro traduzido em italiano em 1992, “A ocidentalização do mundo” (Nota da IHU On-Line: o livro, com o mesmo título, também foi traduzido para o português pela Editora Vozes), é justamente a consequência da ocidentalização do mundo, é a uniformização planetária da diversidade cultural e da identidade. Esses terroristas são ocidentais e ocidentalizados. Aqueles que atacaram a França são nossos filhos, são franceses de verdade.


No livro, o senhor traça a árvore genealógica dos precursores do decrescimento. Dos epicuristas aos zen-budistas, dos místicos aos anarquistas naturistas, dos opositores ao industrialismo aos antiglobalistas atuais. De Diógenes a Orwell, de Fourier a Gandhi e Berlinguer, de Pound a Baudrillard e Terzani. O que une esses personagens?
Quando eu comecei a me interessar pelos precursores, também para mim foi uma descoberta entender que devemos inverter o nosso modo de pensar e entender que o crescimento é um pequeno parêntese na história do pensamento humano. Todos os pensadores da humanidade, tanto ocidentais quanto de outras civilizações, sempre pensaram que a sobrevivência humana devia estar ligada a viver em harmonia com a natureza, a ter um senso da medida, a limitar as necessidades, a respeitar o ambiente.

Além disso, encontramos a necessidade de se pôr limites um pouco em todas as sabedorias: em todas as épocas, não se falava de racionalidade econômica, mas de sabedoria. Com o decrescimento, encontramos essa tradição antiquíssima da sabedoria.


A recusa do crescimento também é a recusa da modernidade. Como deveríamos viver, então? É realista que a ideia do decrescimento ganhe espaço na sociedade atual?
Nós não somos contra a modernidade, mas devemos sair dos paradoxos da modernidade, para reencontrar o senso da medida e uma harmonia com a natureza. O Papa Francisco, na encíclica Laudato si’, também afirmou essas coisas. É claro que, para fazer isso, é necessária uma ruptura com o sistema atual, mas não há uma receita, devemos fazer isso, se não por amor, por força, caso contrário, a alternativa será o caos ou a barbárie. Infelizmente, estamos agora no caminho do caos, mas ainda há tempo para mudar.


Os detratores do decrescimento o definem como uma ideia autoritária e veem os teóricos do decrescimento como catastrofistas ou como “profetas da desgraça”. Como o senhor responde a essas críticas?
Muitas vezes, eu não respondo, porque não são críticas de boa-fé. Para aqueles que são de boa-fé, eu posso explicar que o projeto do crescimento não pode ser realizado sem voltar à verdadeira democracia, porque o mais importante é reencontrar o senso da medida. Mas quem pode decidir qual é o senso da medida? A única instância legítima que pode decidir isso é o próprio povo, o demos. Devemos reencontrar as raízes verdadeiras da democracia.
Quanto às críticas sobre o catastrofismo: quem é catastrófico?


O sistema é catastrófico. Basta ler os inúmeros relatórios das Nações Unidas ou dos organismos científicos e econômicos. Certamente, não é um furo jornalístico o fato de que a temperatura do planeta vai aumentar em quatro ou cinco graus até o fim do século e de que estamos vivendo o sexto desaparecimento da espécie. Certamente, não fui eu que inventou isso. É o sistema que vai rumo ao colapso. Recusar-se a lidar com isso é uma forma de catastrofismo, a pior forma de catastrofismo. Nós exortamos a fazer um esforço para mudar de rumo e imaginar uma sociedade de abundância frugal.


E qual é o significado desse oxímoro “abundância frugal”?
A propaganda do sistema nos fez acreditar que vivemos em uma sociedade de abundância e, em vez disso, vivemos em uma sociedade de desperdício, de escassez, de frustração. As coisas mais importantes se tornam cada vez mais escassas, como o ar respirável, uma água natural. E desperdiçamos 50% dos alimentos que se encontram nos supermercados, que vão diretamente para o lixo. E, então, devemos entender que, sem limites, não há qualquer possibilidade de satisfazer as necessidades. Essa é a sabedoria tradicional. Gandhi também dizia isto: “O mundo é grande o suficiente para satisfazer as necessidades de todos, mas sempre será pequeno demais para satisfazer a ganância de alguns”. A frugalidade é a condição para reencontrar o senso dos limites, porque temos a abundância verdadeira quando podemos limitar as nossas necessidades.


Olhando para aquilo que está acontecendo na Europa, o Brexit, a direita lepenista na França, e ainda as dificuldades na Espanha, o Cinque Stelle na Itália, o que o senhor pensa sobre essa onda populista que está atravessando a Europa? É o fim dos partidos tradicionais?
O termo populismo é muito ambíguo, porque há um populismo bom e um populismo mau, um populismo de direita e um populismo de esquerda. Certamente, o sistema político que conhecemos não está bem, porque é totalmente dependente da oligarquia econômica e financeira global. É por isso que existe uma aspiração popular justa a sair desse sistema, para resolver os problemas como o desemprego, a austeridade, mas, como sempre, há os profissionais da política que tentam instrumentalizar as aspirações justas.


As aspirações populares devem ser ouvidas para serem satisfeitas, não para serem instrumentalizadas como fazem os nacionalistas. A crise dos partidos tradicionais não depende apenas do contexto local, mas do contexto global: as crises econômicas, as migrações. Tudo isso colocou o sistema em crise. E com relação aos migrantes: no futuro, eles não serão milhares, mas milhões. E, então, o que faremos?


(EcoDebate, 08/07/2016) publicado pela IHU On-line, parceira editorial da revista eletrônica EcoDebate na socialização da informação.


[IHU On-line é publicada pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos Unisinos, em São Leopoldo, RS.]

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Exército é multado em R$ 40 mil por morte de onça em cerimônia de revezamento da Tocha Olímpica em Manaus


Publicado em julho 8, 2016 por

Manaus - Juma, a onça-pintada que participou da cerimônia de revezamento da Tocha Olímpica em Manaus, foi abatida com um tiro de pistola no Centro de Instrução de Guerra na Selva, depois de tentar escapar do local
Juma, a onça-pintada que participou da cerimônia de revezamento da Tocha Olímpica em Manaus, foi abatida no Centro de Instrução de Guerra na Selva. Foto: Ivo Lima/Ministério do Esporte
 
O Exército Brasileiro foi autuado e multado em R$ 40 mil pela morte da onça Juma, que foi exposta durante evento de passagem da tocha olímpica no Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS), em Manaus.


A sanção foi aplicada pelo Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam), que ficou responsável por apurar o ocorrido. No dia 20 de junho, o felino, um macho de 18 anos, escapou da coleira ao ser transportado para a jaula. Mesmo sob efeito de tranquilizantes, a onça avançou em um soldado que atirou no animal.


A multa foi aplicada a três órgãos do Exército. O Comando Militar da Amazônia deverá pagar R$ 5 mil por contribuir para a utilização de espécime da fauna silvestre nativa sem a autorização do órgão ambiental competente.


O CIGS também foi autuado em R$ 5 mil por utilizar o animal sem a devida autorização. O 1º Batalhão de Infantaria de Selva, que era responsável pela onça, deverá pagar R$ 30 mil por transportar e manter em cativeiro o felino sem autorização e por construir e fazer funcionar mantenedouro da fauna sem a licença do órgão ambiental.
Manaus - Juma, a onça-pintada que participou da cerimônia de revezamento da Tocha Olímpica em Manaus, foi abatida com um tiro de pistola no Centro de Instrução de Guerra na Selva, depois de tentar escapar do local
Três órgãos do Exército foram multados pela morte da onça Juma. Foto: Ivo Lima/Ministério do Esporte
 
“O Ipaam tenta cumprir sua função da forma mais eficiente possível. Evidentemente foi uma fatalidade, mas evidentemente havia um animal sem registro, por isso as demais providências foram tomadas. Nós cumprimos o nosso papel com relação à guarda e proteção de animais. A Gerência de Fauna tem essa responsabilidade”, declarou em nota, a diretora-presidente do instituto, Ana Aleixo.

O órgão ambiental amazonense informou que os autuados terão 20 dias para apresentar a defesa e, depois desse prazo, poderão recorrer ao instituto e ao Conselho Estadual de Meio Ambiente.

O Comando Militar da Amazônia e o CIGS foram procurados, mas até o fechamento desta reportagem não foram encontrados


O incidente
O relatório técnico, divulgado hoje (07) pelo Ipaam, aponta que foram quatro tentativas de sedar o animal em fuga, mas apenas um dardo atingiu Juma.  “O que ocorreu no incidente foi que um dos mosquetões, uma estrutura metálica que prendia a coleira, se soltou por apresentar uma falha.


Neste momento ela escapou dos tratadores. Temos o laudo da necropsia que diz que foram dados os tiros na região frontal. Não foi que o animal fugiu e atiraram por trás. Ele [a onça] estava correndo na direção da pessoa que atirou”, esclareceu em nota o gerente de Fauna do Instituto, Marcelo Garcia.


O documento também será encaminhado ao Ministério Público Federal (MPF).

Por Bianca Paiva, da Agência Brasil, in EcoDebate, 08/07/2016

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O preço real do petróleo e o custo para o meio ambiente, artigo de José Eustáquio Diniz Alves


Publicado em julho 8, 2016 por


Assim como a Idade da Pedra não acabou por falta de pedras,
a Era do Petróleo chegará ao fim, não por falta de óleo”
Sheikh Ahmed-Zaki Yamani
[EcoDebate] Os combustíveis fósseis foram os catalizadores do crescimento econômico dos últimos 250 anos. A Revolução Industrial e Energética começou com a utilização do carvão mineral e avançou com o petróleo e o gás.


O petróleo é uma fonte energética criada pela natureza, em um processo geoquímico que durou milhões de anos, a partir da decomposição de matéria orgânica. Houve muitos ciclos na Terra para que essa riqueza ficasse estocada no solo e no subsolo. Em pouco mais de 100 anos, metade das jazidas já foram exploradas e, no ritmo atual, a outra metade pode ser arrancada das entranhas da Terra em outros 100 anos.


Três colheres de óleo contêm o equivalente à energia média de oito horas de trabalho humano. A força produtiva movimentada pelo petróleo equivale, em média, a 50 escravos para cada habitante do Planeta. Nos Estados Unidos esta relação atinge 200 escravos por pessoa. Sem o petróleo a capacidade produtiva do mundo cairia dramaticamente. Toda a agricultura moderna, com fertilizantes, defensivos agrícolas, agrotóxicos e os combustíveis para o transporte dependem do petróleo. Sem uma energia equivalente, a fome no mundo reinaria soberana.


Mas o petróleo é uma fonte finita e as reservas mais baratas já foram exploradas. O gráfico acima mostra que depois da Segunda Guerra até 1973 (os chamados 30 anos gloriosos) o preço do petróleo era “quase de graça”. Essa energia abundante e barata possibilitou que o crescimento econômico do mundo fosse o maior de toda a história humana. A despeito das desigualdades, a civilização deu um grande salto de bem-estar neste período.


Mas a partir de 1974, as crises jogaram o preço real do petróleo para cima. As guerras do Yom Kippur e do Irã-Iraque fizeram o preço disparar entre as metades das décadas de 1970 e 1980. Com o fim da Guerra Fria e a maior oferta internacional de combustíveis, o preço do petróleo caiu para níveis bastante baixos na virada do milênio.


Porém, os preços do petróleo voltaram a subir no início dos anos 2000 e bateram o recorde histórico em 2008 (apresentando um segundo pico em 2011) em decorrência da maior demanda mundial, especialmente da China e de outros países emergentes. A recessão econômica de 2009 foi provocada em grande parte pelo aumento do preço do petróleo. Este aumento incentivou as empresas petrolíferas a investir em novas descobertas e a explorar outros tipos de combustível, como as areias betuminosas (Tar sands) do Canadá e o gás de xisto (shale oil). O fato é que o alto preço dos combustíveis fósseis incentivou o aumento da oferta. 


Como a economia internacional não cresceu no ritmo esperado, houve excesso de oferta e escassez da demanda e os preços caíram muito em 2015 e começo de 2016. Houve uma crise geral no setor petroleiro. No caso do Brasil, além dos escândalos de corrupção na Petrobras, o atual preço do petróleo inviabiliza a exploração do pré-sal.


Tudo indica que os preços do petróleo vão voltar a subir nos próximos anos e décadas, pois a economia mundial está viciada em combustíveis fósseis e a produção caminha para o Pico do Petróleo (energia escassa e com altos custos de extração). Atualmente as empresas petrolíferas estão em crise pois os preços estão baixos e os custos estão altos. Mas elas confiam que vão poder recuperar os prejuízos no futuro.


Porém, existe um outro problema, pois todo o sucesso econômico gerado pela queima de combustíveis fósseis lançou toneladas de CO2 na atmosfera, agravando o efeito estufa e acelerando o aquecimento global. De meados do século XX até os dias atuais a temperatura média do globo subiu mais de 1º C, mais do que em todo o período do Holoceno (10 mil anos). O Acordo de Paris, assinado na COP21, estabelece como limite máximo 2º C, mas de preferência 1,5º C. Portanto, o mundo precisa reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE).


Diante da pressão mundial, até grandes companhias de petróleo já começam a se adaptar à realidade mundial. A Exxon Mobil, bastião do ceticismo com o aquecimento global, realizou várias reuniões de acionistas que exigem maior empenho na exposição da vulnerabilidade dos negócios em face da mudança climática. 


Outras companhias com a Chevron e a Total anunciaram que planejam elevar a 20%, até 2036, o investimento em atividades independentes de carbono. Há propostas de reinvestir lucros na sua conversão em empresa de energias renováveis. No Brasil, a Petrobras, enrolada em escândalos e na nacionalista bandeira “o petróleo é nosso”, tem feito pouco para diversificar sua produção.


Os países do G7 (EUA, Japão, Alemanha, França, Reino Unido, Itália, Canadá e mais União Europeia) estabeleceram pela primeira vez um prazo para o fim da grande maioria dos subsídios para os combustíveis fósseis. Na cúpula de Tokyo, em maio de 2016, os líderes das sete economias capitalistas mais avançadas do planeta estabeleceram a data de 2025 para acabar com os subsídios para o carvão, o petróleo e o gás.


Porém, a Agência Internacional de Energia prevê que os combustíveis fósseis vão continuar dominando a matriz energética mundial e as emissões de GEE vão continuar aumentando até 2040, como mostra o gráfico abaixo.




A concentração de GEE na atmosfera já ultrapassou 400 partes por milhão (ppm). Esse nível é o mais alto, pelo menos nos últimos 800 mil anos. Antes da Revolução Industrial e Energética a concentração de CO2 na atmosfera estava em 280 ppm. 


O gráfico abaixo mostra que no ritmo atual de emissões a temperatura na Terra pode subir cerca de 5º C até o ano de 2100. Para que a temperatura fique abaixo de 1,5º C seria preciso uma redução significativa das emissões.


Artigo de Damian Carrington, no jornal The Guardian, mostra que se todo o estoque de combustíveis fósseis for usado, o Planeta pode se aquecer em até 10º C, o que causaria danos irreparáveis e poderia levar ao colapso da civilização humana. Com base em trabalho publicado na revista Nature Climate Change, a queima de todas jazidas comprovadas de combustíveis fósseis – um impacto da emissão de toneladas 5 toneladas de emissões de carbono – elevaria a temperatura em 8º C até 2300. Quando se adiciona o efeito de outros gases de efeito estufa, o aumento sobe para 10º C.


O aquecimento previsto pelos modelos não é uniforme em todo o globo. No ártico, os níveis mais elevados de CO2 elevaria a temperatura a 17º C, com outro 3º C de outros gases de efeito estufa. Isto provocaria o degelo na região, liberando a bomba de metano aprisionada no permafrost. Isto teria o efeito de aumentar ainda mais a temperatura global.


Este cenário é catastrófico e levaria à acidificação dos solos e dos oceanos, provocaria inundações em algumas regiões e grandes secas em outras e elevaria o nível dos oceanos em pelos menos 10 metros, o que afetaria a maioria das regiões litorâneas do mundo. A vida na Terra estaria comprometida. Portanto, é melhor nos livrarmos dos combustíveis fósseis antes que ele nos deixe em uma situação perigosa e irreversível.

Referências:


ALVES, JED. Desinvestimento em combustíveis fósseis e o fim dos subsídios. Ecodebate, RJ, 05/06/2015 http://www.ecodebate.com.br/2015/06/05/desinvestimento-em-combustiveis-fosseis-e-o-fim-dos-subsidios-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
ALVES, JED. O mito do pré-sal como redenção nacional. Ibase, Rio de Janeiro, Revista Trincheiras, agosto 2015 http://ibase.br/pt/wp-content/uploads/2015/08/2PRINT-TRINCHEIRAS2.pdf
ALVES, JED. Desobediência civil para libertar-se dos combustíveis fósseis. Ecodebate, RJ, 04/05/2016 https://www.ecodebate.com.br/2016/05/04/desobediencia-civil-para-libertar-se-dos-combustiveis-fosseis-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
Damian Carrington. World could warm by massive 10o C if all fossil fuels are burned, The Guardian, 23/05/2016

José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

in EcoDebate, 08/07/2016
"O preço real do petróleo e o custo para o meio ambiente, artigo de José Eustáquio Diniz Alves," in Portal EcoDebate, ISSN 2446-9394, 8/07/2016, https://www.ecodebate.com.br/2016/07/08/o-preco-real-do-petroleo-e-o-custo-para-o-meio-ambiente-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/.

[CC BY-NC-SA 3.0][ O conteúdo da EcoDebate pode ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, à Ecodebate e, se for o caso, à fonte primária da informação ]

 
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