terça-feira, 14 de junho de 2016

Recuperação ambiental levará até 20 anos após fenômeno em Campinas

14/06/2016 08h21

Mata ciliar no entorno do Rio Atibaia foi destruída com microexplosões. 


Cidade teve ao menos 1,9 mil árvores derrubadas com ventania.

Do G1 Campinas e Região


A recuperação ambiental dos danos causados pelo fenômeno climático que atingiu Campinas (SP) na madrugada de domingo (5) deve levar de 15 a 20 anos, informou a Secretaria Municipal de Serviços Públicos. A mata ciliar às margens do Rio Atibaia, no Distrito de Sousas, ficou destruída. O rio é responsável por 95% do abastecimento da cidade.


O Jornal da EPTV, afiliada da TV Globo, fez imagens aéreas da região destruída, que ficou irreconhecível se comparada ao que era antes da tempestade. O fenômeno das microexplosões [nuvens carregadas de granizo e acompanhadas de fortes ventos] transformou áreas verdes em terra arrasada. [Veja as imagens no vídeo acima]. 


Toda a vegetação está dentro de uma Área de Proteção Ambiental (APA), além da mata ciliar que protege o leito do rio, há mais reservas afetadas. Quatro delas ficam dentro de um condomínio, que tinha ampliado a área verde com o plantio de mais de 26 mil árvores.


A bióloga Giselda  Person tinha feito um levantamento da fauna e da flora, trabalho exigido para a liberação do empreendimento e lamenta a perda do refúgio para os bichos. "Vai ter que nascer uma nova mata. Vai ter que ser plantada uma nova, porque a que tinha não tem mais, o que demora muitos anos", explica a especialista. Ainda segundo ela, animais como macacos não terão como circular pelo local com a devastação das áreas verdes.
Mata ciliar às margens do Rio Atibaia, em Campinas (Foto: Reprodução EPTV)Mata ciliar às margens do Rio Atibaia, em Campinas (Foto: Reprodução EPTV)
O caseiro Arnaldo Santos encontrou os animais mortos em uma chácara onde trabalha em Sousas. "Aqueles macacos pequenos, os saguis, achei uns quatro mortos", afirma o caseiro.


Arnaldo também está desolado com a perda de bugios que vivem na área. "Eles [bugios] vinham comer coquinhos. Todo dia eles estavam aqui", lamanta o caseiro da propriedade rural. Aves também desapareceram das áreas atingidas pelos ventos fortes que passaram dos 100 km/h.
Queda de árvores
Ainda de acordo com a Secretaria de Serviços Públicos, até o momento foram contabilizadas quedas de 1,3 mil árvores em áreas públicas e outras 600 em propriedades particulares, todas adultas.
Uma área bastante afetada foi a do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), cerca de 100 árvores caíram e alguns bambuzais tombaram com a força do vento.


Segundo o secretário de Serviços Público Ernesto Paulela, cada árvore absorve o monóxico de carbono equivalente ao produzido por um carro  durante um mês. Há ainda o efeito da devastação no microclima, especialmente para quem costuma passar por corredores arborizados como era a Avenida Almeida Garret, no bairro Taquaral.
Árvore destruída na Avenida Padre Almeida Garret (Foto: Reprodução EPTV)Árvore destruída na Avenida Padre Almeida Garret (Foto: Reprodução EPTV)
"Uma rua arborizada como essas apresentavam, no verão, até três graus menos do que uma rua não arborizada. É o chamado conforto térmico", afirma o secretário de Serviços Públicos.


A Secretaria de Serviços Urbanos preparou um plano de recomposição vegetal das áreas atingidas, mas o plantia começa apenas em setembro. "Vamos plantar de 2,5 mil a 3 mil árvores e vamos aproveitar este momento para selecionar melhor as espécies para suportar melhor futuros fenômenos climáticos", finaliza Paullela.
Mata ciliar às margens do Rio Atibaia, em Campinas (Foto: Reprodução EPTV)Mata ciliar às margens do Rio Atibaia, em Campinas (Foto: Reprodução EPTV)


'Como redescobri, sem querer, pássaro de olhos azuis desaparecido havia 75 anos'

BBC09/06/2016 07h14 - Atualizado em 09/06/2016 07h14

Ornitólogo brasileiro avistou por acaso em uma expedição no interior de Minas Gerais uma espécie de ave que cientistas pensavam estar extinta.

Alejandra MartinsDa BBC
Espécie considerada extinta por cientistas foi avistada no interior de Minas Gerais  (Foto: Rafael Bessa)Espécie considerada extinta por cientistas foi avistada no interior de Minas Gerais (Foto: Rafael Bessa)
 
Uma espécie rara de ave que cientistas consideravam extinta foi redescoberta graças a um encontro fortuito entre um ornitólogo brasileiro e o pássaro no interior de Minas Gerais.

Há 75 anos, a ave não era avistada na natureza. Desde 1941, a Columbina cyanopis, ou rolinha-do-planalto, como é chamada no Brasil, só podia ser apreciada por meio de espécimes preservadas em museus.

Isso começou a mudar depois de um lance de sorte vivido pelo ornitólogo Rafael Bessa, que, em julho de 2015, estava em uma região do interior mineiro (que está sendo mantida em segredo por razões explicadas mais abaixo) para fazer um levantamento.

O pesquisador havia decidido pegar um atalho no caminho entre seu hotel e o local onde realizaria seu trabalho. Na rota, decidiu parar em um certo ponto para apreciar e fotografar a vista. Foi quando ouviu sons de um animal que não reconheceu.

Bessa voltou ao local no dia seguinte para registrar o canto do animal e, ao reproduzir a gravação, atraiu em sua direção um pássaro, que pousou em um arbusto a alguns metros de distância.
Pesquisadores já identificaram 12 rolinhas-do-planalto  (Foto: Rafael Bessa)Pesquisadores já identificaram 12 rolinhas-do-planalto (Foto: Rafael Bessa)
 
 
"Olhei pelo binóculo, e minhas pernas começaram a tremer. Sabia que tinha um verdadeiro fantasma na minha frente. Foi um momento de muita emoção, indescritível. Estava muito feliz e nervoso ao mesmo tempo", diz Bessa.

"Só pensava em documentar e aproveitar o momento. Até então, não sabíamos absolutamente nada sobre a espécie, e aqueles poucos minutos de observação poderiam significar muito para a conservação da rolinha."

Raridade
Bessa explica que a rolinha-do-planalto sempre foi considerada uma espécie rara e dificilmente era avistada mesmo quando seu habitat, o cerrado brasileiro, ainda era bastante preservado, até meados da década de 1950.

"Até então, não se entendia o por que dessa raridade, e o pouco que sabemos hoje não nos permite ter certeza do motivo, mas acreditamos que a espécie ocorre em uma fisionomia de cerrado muito específica e também rara", diz o ornitólogo.

"Soma-se a isto o fato do cerrado ser um dos ecossistemas brasileiros que mais perdeu área para a agricultura e pecuária nas últimas décadas, fato que certamente contribuiu para sua atual raridade."
Ave tem plumas castanhas com manchas azuis nas asas e olhos também azulados  (Foto: Rafael Bessa)Ave tem plumas castanhas com manchas azuis nas asas e olhos também azulados (Foto: Rafael Bessa)
 
Desde que o primeiro exemplar foi identificado por Bessa, 12 rolinhas-do-planalto foram ao todo avistadas por pesquisadores, com o apoio da Sociedade para a Conservação das Aves do Brasil (SAVE Brasil), o Observatório de Aves do Instituto Butantan e a ONG Rainforest Trust.

A ave possui uma plumagem de coloração predominantemente castanho-avermelhada e é bem menor do que outras rolinhas. A espécie ainda chama atenção por seus olhos azulados e manchas da mesma cor nas asas.

Conservação
Agora, cientistas trabalham para traçar planos de conservação da espécie, o que implica em proteger a área onde foi encontrada, além de compreender suas características e o que necessita para sobreviver.
Até que o plano seja concluído, o local onde os espécimes foram achados e seu canto não serão divulgados, para evitar um grande fluxo de observadores de pássaros para a região, o que poderia afugentar o animal.

"No momento, sabemos da existência de 12 exemplares, o que é um número muito baixo para garantir a conservação de qualquer espécie. Já realizamos expedições em busca de novas populações, mas até o momento não obtivemos êxito", afirma Bessa.

O ornitólogo diz que a redescoberta da Columbina cyanopis em uma área remota do Brasil, em meio a um ambiente frágil e raro, serve como um "exemplo de como conhecemos pouco sobre nossa biodiversidade".
Cientistas estão criando um plano de conservação da espécie e proteger seu habitat  (Foto: Rafael Bessa)Cientistas estão criando um plano de conservação da espécie e proteger seu habitat (Foto: Rafael Bessa)
 
"Existem ainda pelo menos uma dezena de espécies que estão desaparecidas há mais de dez anos e que correm o risco de serem extintas em um curto espaço de tempo", afirma Bessa.

Ele faz críticas ao que considera uma tentativa de fragilizar a legislação ambiental do país para favorecer a criação de empreendimentos comerciais.

"Um empreendimento de pequeno porte na área onde vive a rolinha seria suficiente para destruir o ambiente onde encontram-se os únicos 12 indivíduos que temos notícia dessa espécie nos últimos 75 anos", afirma Bessa.

"Garantir a conservação da Columbina nessa área especial ajudará não só a rolinha-do-planalto, mas também muitas outras espécies de animais ameaçadas de extinção que ocorrem em seu ambiente."

Alguns pássaros têm mais neurônios que os primatas, revela pesquisa

France Press

14/06/2016 09h05

Papagaios e corvos têm capacidade cognitiva comparável à dos primatas.
Estudo foi conduzido por pesquisadora brasileira em universidade americana.papagaio-de-peito-roxo (Amazona vinacea) (Foto: Rudimar Narciso Cipriani)Papagaio-de-peito-roxo: papagaios e corvos têm capacidades cognitivas comparáveis às dos primatas (Foto: Rudimar Narciso Cipriani)



Apesar de terem cérebros pequenos, certos pássaros contam com um grande número de neurônios e, consequentemente, possuem uma capacidade cognitiva espantosa, de acordo com um estudo publicado esta segunda-feira (13) na revista científica americana Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).

Os cientistas ficaram surpresos com os resultados do estudo, que demonstrou que muitos pássaros tinham mais neurônios que os mamíferos, incluindo os primatas.

Os papagaios e os corvos, por exemplo, mostraram ter capacidades cognitivas comparáveis às dos primatas. Assim, podem fabricar utensílios e usá-los para obter comida ou para resolver outros problemas.

Esses pássaros também são capazes de se reconhecerem no espelho e de anteciparem suas futuras necessidades - capacidades cognitivas que até agora se acreditava que eram exclusivas dos primatas.

"Descobrimos que os pássaros, particularmente os que cantam e os papagaios, têm um número surpreendentemente grande de neurônios no pálio, a parte do cérebro que correspondente ao córtex cerebral, que é importante para as funções cognitivas superiores, como se planejar para o futuro ou reconhecer padrões", disse a brasileira Suzana Herculano-Houzel, professora de neurociência da universidade americana de Vanderbilt e autora principal do estudo.
Corvo bebe água de uma torneira durante dia quente em Ahmadabad, na Índia. O governo da Índia estima que cerca de 330 milhões de pessoas, um quarto da população, esteja sendo afetada pela seca que se abate em 10 dos 29 estados do país (Foto: Ajit Solanki/AP)Corvo bebe água de uma torneira durante dia quente em Ahmadabad, na Índia, em foto de arquivo (Foto: Ajit Solanki/AP)

"Isso explica porque eles exibem níveis de cognição no mínimo tão complexos quanto os primatas", acrescentou a cientista.

A pesquisa revelou que os neurônios no cérebro dos pássaros são muito menores e estão mais concentrados que no dos mamíferos. O cérebro dos Passeri e dos papagaios, por exemplo, contém duas vezes mais neurônios que o cérebro dos primatas, apesar de terem o mesmo tamanho, e de duas a quatro vezes mais que o dos ratos.