terça-feira, 1 de março de 2016

Happy Hour no Country.Existe idéia mais simpática?





Nossa querida Sheylla, a criadora do Grupo Social Park Way, é mestra em ideias divertidas para unir e alegrar a comunidade do Park Way. 

Durante os festejos de fim de ano ela organizou o Natal 2015, que contou com uma árvore maravilhosa, feita com garrafas PET e agora tornou nossas quintas feiras mais coloridas com um happy hour semanal organizado no Country Club, o mais bonito do Brasil, com direito a musicas românticas interpretadas pelo cantor Carlos Barreto. 

O espaço, gentilmente cedido pelo presidente do Country, Francisco Julho, por si só justifica a presença dos moradores do Park Way que se encantam com os atrativos naturais do Club.

Presentes, entre outros convidados, a organizadora do evento Sheylla e as amigas Thelma , Bibi, com marido Sérgio, Adriana e Flavia. O ambiente era de descontração e harmonia. As fotos dizem tudo.



Resultado de imagen para country club brasilia

Tinta térmica pode substituir ar condicionado

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016


Os telhados revestidos com o material reduzem em até 60% o consumo de energia elétrica utilizado para refrigeração.


A NASA desenvolveu uma tinta à base de água e microesferas ocas de vidro, capaz de reduzir a temperatura e o consumo de energia dentro das residências. Em alta no mercado internacional, a tinta térmica é a mais barata das soluções utilizadas nas obras de isolamento térmico.

O material pode ser aplicado em qualquer superfície, mas o efeito é intensificado quando é utilizada para revestir os telhados das construções, já que a parte superior recebe maior incidência dos raios solares. Os telhados revestidos com o material reduzem em até 60% o consumo de energia elétrica utilizado para refrigerar casas, prédios, indústrias e estabelecimentos comerciais.

No começo, os cientistas da NASA criaram a tinta térmica para ser aplicada em aeronaves, navios e tubulações, a fim de diminuir o calor dentro destas estruturas. Porém, a solução passou a ser comercializada em lojas de construção nos EUA e rapidamente se popularizou, já que a tinta térmica é mais barata e sustentável do que a espuma de poliuretano, material derivado do petróleo usado na maior parte das obras de isolamento térmico.

De acordo com Walter Crivelente Ferreira, diretor da empresa WC Isolamento Térmico, o revestimento pode até mesmo tomar o lugar do ar condicionado. “Se o local for bem ventilado, a sensação térmica no ambiente interno se torna agradável, sem precisar de ar condicionado”, garante o fornecedor do material.

Mesmo ganhando espaço cada vez maior no mercado, a tinta não é reconhecida para os projetos de revestimento térmico. De acordo com Crivelente, as licitações públicas ainda exigem o poliuretano nas obras. No entanto, as Nações Unidas estão elaborando um regulamento para adotar materiais de revestimento mais sustentáveis, sem data para ser entregue.

O diretor da empresa fornecedora acredita que o brasileiro deve aderir à novidade. “As vendas por aqui ainda vão crescer”, afirmou Crivelente, que leva o serviço para muitas indústrias. A nova tinta tem propriedades semelhantes às convencionais e custa a metade do preço das espumas de poliuretano. O efeito térmico dura cerca de cinco anos e a aplicação pode ser feita pelos proprietários.

Fonte: Ciclo Vivo

Vazamento de petróleo ameaça comunidades indígenas da Amazônia



segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016


Desde 2010 ocorreram 11 vazamentos de petróleo na região amazônica do Peru.


O governo do Peru declarou, no último domingo (28), estado de emergência em 16 comunidades da Floresta Amazônica devido a vazamentos de petróleo na região de Loreto, no Nordeste do país.

A medida, anunciada no Diário Oficial peruano e que envolve ajuda humanitária às comunidades e assistência nas operações de limpeza, vai vigorar por 60 dias. A decisão é tomada mais de um mês depois de ter sido registrado um derramento de petróleo no distrito de Imaza, com população de 23 mil residentes.

Um segundo vazamento foi registado no dia três de fevereiro no distrito de Morona, que tem nove mil habitantes. Nos dois distritos os moradores são predominantemente indígenas.

Os vazamentos ocorreram em partes de um oleoduto construído nos anos 1970 e gerido pela companhia estatal PetroPeru, que distribui petróleo a partir da floresta, pelas montanhas dos Andes, até as refinarias, por meio de longa rota na costa norte peruana.

Segundo especialistas ambientais, os vazamentos devem-se à deterioração da infraestrutura. A PetroPeru foi multada em US$ 3,6 milhões pela falta de manutenção do equipamento.

No início deste mês, o governo considerou situação de emergência na área de saúde na região, pelo fato de o petróleo ter poluído os rios que fornecem água potável aos distritos afetados.

Um grupo defensor dos direitos dos indígenas informou que desde 2010 ocorreram 11 vazamentos de petróleo na região amazônica do Peru.

Fonte: EcoDebate

Ex-presidente e ex-diretor do Ibama são denunciados por irregularidades na concessão de licenças ambientais

Publicado em março 1, 2016 por


notícia

Roberto Franco e Sebastião Custódio devem responder por irregularidades na concessão de licenças ambientais
O Ministério Público Federal (MPF) em Brasília (DF) denunciou à Justiça dois ex-gestores do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama): Roberto Messias Franco, ex-presidente do órgão, e Sebastião Custódio Pires, ex-diretor de licenciamento ambiental.


Em 2008, os denunciados concederam licença para a instalação da usina hidrelétrica Jirau em desacordo com as normas ambientais e pareceres técnicos do Ibama. O empreendimento faz parte do Complexo do Rio Madeira, localizado no Rio Amazonas e que inclui a usina Santo Antônio. Para o MPF, além de expedir o licenciamento irregular, Roberto Franco ainda permitiu a supressão vegetal no local, contrariando nota técnica do Instituto que alertava sobre a proibição de qualquer corte de vegetação nativa em área de preservação permanente.

Em relação à hidrelétrica Jirau, o consórcio Energia Sustentável do Brasil (ESBR) venceu o leilão promovido pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) que concedia a exploração da usina. Com a assinatura do contrato, a empresa apresentou ao Ibama o plano básico ambiental específico do canteiro de obra. O MPF apurou que a intenção era conseguir a concessão da licença de instalação de forma parcial e, dessa modo, dividir a implantação do empreendimento em etapas. No entanto, a fragmentação do processo não está prevista na legislação ambiental.

Na ação penal, o Ministério Público cita, ainda, a existência de um parecer elaborado por técnicos do Ibama, que demonstraram, de forma clara, que a modalidade de licença de instalação ambiental fragmentada não era comum. No mesmo documento, foi solicitada uma analise jurídica da situação. Mesmo com essas ressalvas, Sebastião Pires recomendou a licença de instalação e Roberto Franco expediu a autorização à ESBR.

O documento enviado à Justiça também revela que, durante as investigações preliminares, a 4ª Câmara de Coordenação e Revisão do MPF emitiu parecer pericial sobre o caso. O órgão, que trata de questões ambientais, confirmou a irregularidade no procedimento liberado pelo Ibama. De acordo com a manifestação, a concessão da licença parcial, além de ferir a lei, também fragmentou o licenciamento em uma das mais importantes fases do processo.


“Deve-se ressaltar que o licenciamento ambiental, apesar de estar dividido em três fases distintas, não deve ser realizado isoladamente, sendo necessária a concretização de um estudo comum, uma abordagem única e completa de toda a obra a ser licenciada”, expõe o procurador da República Anselmo Henrique Cordeiro Lopes em um dos trechos da ação.


Além dessa irregularidade, o MPF ainda aponta outro detalhe que foi ignorado pelos ex-gestores ao conceder a permissão. É que, no contrato firmado com a Aneel, a ESBR solicitou a mudança da localização do eixo da barragem a uma distância de 12,5 quilômetros do local licitado e originalmente previsto em dois estudos: de viabilidade e de impacto ambiental. Também nesse caso, notas técnicas do Ibama indicaram que a alteração poderia causar diversas consequências ambientais negativas.

Os analistas do Instituto avaliaram a solicitação e concluíram que a ESBR teria que realizar estudos complementares para que fosse possível analisar adequadamente a modificação do eixo da hidrelétrica Jirau. O Ministério Público verificou que foram apresentados estudos incompletos, deixando de atender diversos aspectos que haviam sido exigidos. Apesar de terem conhecimento dos pareceres e sem que as pendências fossem efetivamente resolvidas, Roberto Franco e Sebastião Pires concordaram com alteração da localização.

Em relação à supressão indevida de vegetação, o MPF atribui a irregularidade a Roberto Franco, responsável por permitir a intervenção ambiental em área de preservação permanente. A medida foi executada, desconsiderando uma nota técnica do Ibama que assinalava a proibição – prevista em lei – da supressão. “Importa salientar que, na qualidade de principal representante do Ibama à época, o denunciado, Roberto Messias Franco, tinha, no mínimo, o dever funcional de conhecer e proceder segundo as normas que disciplinam a outorga de licenças e autorizações ambientais”, frisa o procurador da República.

O MPF pede que os denunciados respondam com base no artigo 67 da lei de crimes ambientais (9.605/98). No caso de Roberto Franco, houve a repetição do tipo penal por duas vezes, o que pode elevar a punição. A norma determina pena de detenção de um a três anos, além de multa.
Clique aqui para ter acesso à íntegra da ação.

Da Procuradoria da República no Distrito Federal, in EcoDebate, 01/03/2016

[CC BY-NC-SA 3.0][ O conteúdo da EcoDebate pode ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, à Ecodebate e, se for o caso, à fonte primária da informação ]
Inclusão na lista de distribuição do Boletim Diário da revista eletrônica EcoDebate

Jovens na Adaptação Climática, artigo de Laís Vitória Cunha de Aguiar


Publicado em fevereiro 29, 2016 por


160226c

[EcoDebate] Jovens trabalhando com meio-ambiente não é novidade. Acredito, porém, que é sempre bom ter esperança, para isso vou apresentá-los a alguns jovens que se dedicam a uma área não tão comentada dentro das ciências climáticas, que é a Adaptação Climática.

Eu mesma, apesar de já ter lido muito sobre IDCs e outros termos técnicos, nunca havia me aprofundado na questão da Adaptação Climática.

O que significa esse termo?

‘Adaptação se refere aos ajustes nos sistemas ecológicos, sociais, ou até em resposta as atuais ou esperadas mudanças (climatic stimuli), assim como aos seus efeitos e impactos. Se refere a mudanças em processos, práticas e estruturas para moderar danos em potencial ou se beneficiar de oportunidades associadas com mudança climática.’- UNFCC (http://unfccc.int/focus/adaptation/items/6999.php )

Quais exemplos?
Adaptar os prédios para caso de terremoto, como no Japão, construir barragens para conter o avanço do mar, como na Holanda (Oosterscheldekering), plantar espécies de árvores menos vulneráveis a tempestades e ao fogo, fazer corredores ecológicos, como temos no Brasil (corredor Capivara-Confusões e Caatinga), e, até usar a água de forma inteligente.

Quais jovens?
A luta contra a mudança climática e em favor de um mundo melhor ocorre diariamente nos mais diversos locais, como no Kenya, Zimbabwe e Indonésia. O que nos traz esperança é a percepção de tantos jovens, dos mais diversos lugares, neste trabalho.

Yabunga Julius (24), no Kenya, é ‘apaixonado por conservação ambiental e ama servir a humanidade através do voluntariado.’ Trabalha em Recursos Humanos, e, como voluntário, com Ecossistema Baseado na Agricultura, com Segurança Alimentar.

Elizabeth Gulugulu, em Zimbabwe, é recém-formada em Ciências Ambientais. Por já ter sido voluntária na área ambiental conseguiu trabalhar com Mudança Climática, mais especificamente com Adaptação Climática. O que mais ama é ver as medidas de adaptação implementadas e observar seus efeitos nas comunidades.

Muhammad Rafi Al-Hariri Nasution (20), da Indonésia, estudante de Meteorologia, é o criador do projeto DCME, que tem como principal motivação reduzir a vulnerabilidade das favelas.

Basicamente trabalha com prevenção de desastres. A motivação de Muhammed é o próprio objetivo de seu projeto: redução de riscos nas favelas.

Fikri Rozi (21), também da Indonésia, estudante de Meteorologia, participa do mesmo projeto que Muhammad Rafi no papel de organizador dos eventos. Sua motivação para participar do projeto é ‘aumentar a chance de viver daquelas pessoas através da educação. ’

Maria Paschalia Judith Justiari (21) participa do projeto DCME, é responsável pela divulgação e comunicação, também é estudante de Meteorologia. Sua inspiração para participar do projeto vem de longe: Desde dos seu 13 anos se sentia compelida a auxiliar pessoas em situação de risco. Ela acredita que as perdas por desastres podem ser prevenidas se houver o conhecimento necessário.

Kevin Agustinus Lazarus (21), também participante do projeto DCME, se responsabiliza pela parte de design. Ele diz que sua inspiração provém do fato de que, quando educadas, as pessoas realmente tem chance de sobreviver.

Anna Maria Kusumaningayu (21) quis simplesmente ajudar seus melhores amigos a realizar seu projeto. É responsável pela tesouraria.

Dora Anna Hutajulu (21) faz faculdade de Engenharia Geomatemática, um curso que não temos no Brasil. É responsável por planejar as rotas de evacuação. Sua inspiração é, na verdade, uma necessidade, já que segundo as regras da faculdade (Tri-Dharma Perguruan Tinggi-3 Rules of College) precisam fazer o que chamam de Desenvolvimento Comunitário. Viu no DCME uma chance de fazer seu trabalho.

As respostas as minhas perguntas foram muito similares, mesmo sendo de locais diferentes, por isso resolvi compilá-las em um só artigo.

Tanto Indonésia quanto Kenya e Zimbawe são países vulneráveis as mudanças climáticas, afinal, a situação financeira deles não é boa, a sociedade tem dificuldade em entender as mudanças (adaptações) e os motivos delas, sem contar que a consciência relativa às mudanças climáticas é baixa.

Uma forma que esses jovens trabalham com isso é fazer um mapa de evacuação, ensiná-los a usar e educá-los para os desastres. Eles também tentam criar políticas públicas que podem incentivar países a investir na agricultura (de forma saudável, como a orgânica), conservação do solo e mudança climática (o mais óbvio).

Entender modelos de desenvolvimento agrários em seus países – e compreender quem serão os possíveis agentes de mudanças – é um outro jeito pelo qual estão agindo. Compreender quem pode ser a mudança facilita no momento de realmente colocar a mão na massa.

Sem contar que é mais fácil levar para frente uma agenda de desenvolvimento sustentável sabendo quem são seus agentes e como mobilizá-los. É uma tarefa muito importante, mas infelizmente faltam pessoas no Brasil tentando fazê-la.

Como negócios também são afetados pela mudança climática, uma forma de inclui-los na mudança e tornar mais negócios sustentáveis é identificar os que já existem (como Yabunga Julius faz com a agricultura) e assim criar oportunidades para toda cadeia de valor.

Apesar de toda essa força de vontade as situações não são fáceis, principalmente por falta de apoio governamental e por falta de recursos que simplesmente não existem em países como Zimbabwe, por isso parte do acordo da COP 21 que demanda aos países desenvolvidos um fundo de 100 bilhões de dólares para os subdesenvolvidos é tão importante.

O problema é que nem eles, os agentes locais, sabem como vão receber o dinheiro ou como este será redistribuído, nem se a juventude será beneficiada. Uma das esperanças deles no Fórum Humanitário Mundial é que esses ‘buracos’ no acordo do ano passado sejam resolvidos.

Outro desafio é conscientizar as pessoas: como ensinar para quem não quer aprender? É um problema sério, pois muita gente não acha que os desastres vão ocorrer até que eles aconteçam. Várias pessoas morrem simplesmente por não terem sido precavidas.

Isso sem contar com alterar o paradigma de que não precisamos mais investir na agricultura da forma com que EBA (The European Banking Authority) impulsiona os países mais pobres a fazer. A copiar um modelo que já não é mais útil para um mundo sustentável. Para haver uma boa adaptação às mudanças climáticas é preciso, sim, ter dinheiro, mas mais do que isso, precisamos diminuir a insustentabilidade de nossos atos, o que inclui deixar de investir em fontes de energia como o petróleo.
O projeto do pessoal da Indonésia pode ser pequeno, mas com certeza já está fazendo muita diferença na vida da população de Pulosari, Bandung. Os objetivos do trabalho são: educar 50 pessoas em área de risco sobre desastres e como evitá-los, criar mapas de evacuação, conseguir dez voluntários para organizar o programa, fazer simulações de quando desastres ocorrem.

Na Indonésia ocorrem enchentes severas, secas, fogos nas florestas, etc. Se a população souber o que se deve fazer e o que não se deve fazer nessas situações, muitas vidas podem ser poupadas.

Quando questionei a respeito do que o Fórum Humanitário Mundial (que ocorrerá esse ano) pode contribuir para a Adaptação Climática, eles disseram que pode trazer consciência a próxima geração de líderes, e que, com isso, eles talvez façam algo de bom para a própria sociedade agora, aprendendo com suas experiências e obstáculos que enfrentarão: ‘Eu acredito que questões humanitárias como refugiados, mudança climática, adaptação, mitigação, tolerância, podem ser discutidas e melhoradas se nos comprometermos a trazer a mudança para todos os cantos do mundo. Sim, com certeza somos capazes!’ – Muhammad Rafi Al-Hariri Nasution.

Laís Vitória Cunha de Aguiar, 19, é ativista ambiental, estudante de Ecologia da UFPB e comunicadora popular pela Adopt a Negotiator, uma organização mundial que engloba jovens de diversos países com objetivo de divulgar o que ocorre nas negociações climáticas.

in EcoDebate, 29/02/2016
"Jovens na Adaptação Climática, artigo de Laís Vitória Cunha de Aguiar," in Portal EcoDebate, ISSN 2446-9394, 29/02/2016, http://www.ecodebate.com.br/2016/02/29/jovens-na-adaptacao-climatica-artigo-de-lais-vitoria-cunha-de-aguiar/.

[CC BY-NC-SA 3.0][ O conteúdo da EcoDebate pode ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, à Ecodebate e, se for o caso, à fonte primária da informação ]

Antropoceno: ou mudamos nosso estilo de vida, ou a Terra, como conhecemos, sucumbirá

Publicado em março 1, 2016 por


Antropoceno: ou mudamos nosso estilo de vida, ou a Terra sucumbirá. Entrevista especial com Wagner Costa Ribeiro

“De fato, um desafio importante significa repensar o significado da vida: o que queremos da nossa vida, da nossa organização social? Para que vivemos?”, provoca o geólogo.
Imagem: www.eltribuno.info
O consumo exagerado, que anseia sempre o novo e descarta com facilidade quaisquer objetos, é o comportamento que tem predominado na sociedade. Com o aumento da capacidade de produção em nome do lucro, a oferta de produtos de toda ordem se amplia cada vez mais e, no sentido oposto, os recursos naturais já dão sinais de esgotamento. Essas são algumas das características do tempo em que vivemos e que os estudiosos têm denominado de Antropoceno. Trata-se de uma era em que a capacidade de intervenção da espécie humana no ambiente recebe o foco das atenções.

Conforme ressalta, em entrevista por telefone àIHU On-Line, o geógrafo e professor Wagner Costa Ribeiro, a importância e grande diferença do Antropoceno em relação às eras anteriores é que “pela primeira vez na história geológica da natureza – das eras – se assumiu a espécie humana como principal força motriz de transformação tanto da biosfera quanto da litosfera e atmosfera”.

As transformações no ambiente se intensificam na medida em que o avanço tecnológico desenvolve, especializa e potencializa o poder dos humanos de manejar os elementos da natureza de acordo com seus interesses. No entanto, a exploração indiscriminada do planeta já apresenta as contas das consequências que começam a ser pagas pelos que vivem o presente, mas serão cobradas com veemência dos que ainda estão por vir se o estilo de vida da sociedade não for repensado.

Para o geólogo, “esse é um debate de caráter ético que nós devemos começar cada vez mais a aprofundar. Apesar de já se ter começado a falar sobre esse tema, as discussões ainda são muito incipientes. Trata-se da questão do direito geracional, que de algum modo nasceu com a preocupação com a sustentabilidade, que em linhas gerais significa deixar para as gerações futuras as condições atuais do planeta. Aos poucos estamos vendo que será impossível manter esse ritmo intenso de uso de recursos naturais”.

Wagner Costa Ribeiro é graduado em Geografia, mestre e doutor em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo – USP. Atualmente é professor do Departamento de Geografia e dos Programas de Pós-Graduação em Geografia Humana e Ciência Ambiental da USP. Obteve a livre docência também na USP e realizou estudos de pós-doutorado na Universidad de Barcelona – UB, na Espanha. Também coordena o Grupo de Pesquisa de Ciências Ambientais do Instituto de Estudos Avançados da USP. Entre suas obras, destaca-se A ordem ambiental internacional(São Paulo: Contexto, 2001).

Confira a entrevista.

Foto: www.imagens.usp.br
IHU On-Line – O que as últimas pesquisas que têm sido feitas indicam sobre o Antropoceno? Já se pode afirmar que de fato o mundo entrou mesmo em uma nova época geológica?
Wagner Costa Ribeiro – O primeiro a anunciar e popularizar a ideia do Antropoceno como nova era geológica foi o Prêmio Nobel de Química Paul Crutzen, em 2002. Em 2008, a Sociedade Geológica do Reino Unido, em uma reunião, acabou afirmando a existência do Antropoceno, portanto não há mais controvérsias em relação a estarmos ou não diante de uma nova era geológica. A questão é procurar identificar o que caracterizaria esse novo momento a ponto de merecer um novo rótulo ou título. Já temos algumas características que nos permitem dizer que de fato estamos em outro momento.

Agora, o primeiro aspecto a deixar muito claro é que, pela primeira vez na história geológica da natureza – das eras –, se assumiu a espécie humana como principal força motriz de transformação tanto da biosfera quanto da litosfera e da atmosfera.

Se analisarmos do ponto de vista da existência da sociedade, corresponde ao período da modernização, que vai do final do século XIX até hoje. Logo, temos em torno de 130 ou 140 anos nessa nova era geológica, que é marcada por algumas características bastante importantes, e são todas elas características humanas:

– a primeira é o incremento tecnológico importante a partir da máquina a vapor, que faz com que o uso de combustíveis fósseis cresça muito – teremos aí, no primeiro momento, o carvão;

– depois temos a invenção do motor a explosão, inclusive com o uso de outro combustível de matriz fóssil, que é justamente o petróleo.

E o que representa ter máquinas como as que são movidas a vapor ou as que são movidas a partir da queima de combustível, como é o caso do motor a explosão? Nós incrementamos a nossa força motriz, nossa força de transformação da superfície terrestre. Assim, uma tarefa que era feita por muitos homens em muito tempo, passa a ser feita com uma simples máquina, e isso faz com que tenhamos uma capacidade muito maior de transformação da superfície terrestre.

Essa é de fato uma característica fundamental do chamado Antropoceno, ou seja, do ponto de vista das ciências sociais corresponde à modernização e tem grandes implicações na organização social.

Assim, após a invenção dos motores, teremos, por exemplo, a emergência da sociedade capitalista, e bem mais tarde, na segunda metade do século XX – para alguns é um pouco antes, mas eu prefiro demarcar depois da Segunda Guerra Mundial – teremos asociedade de consumo em escala bastante abrangente.

Depois, a partir dos anos 1980 e, principalmente, a partir dos últimos anos, com a saída da pobreza de uma parte expressiva da população de países como Brasil, China e Índia, houve um incremento desse consumo e se passou a ter outra característica importante do Antropoceno: um consumo bastante elevado, que faz com a demanda sobre os recursos naturais aumente drasticamente. Esta é outra característica importante do Antropoceno: o uso intensivo derecursos naturais.

Se analisarmos as reservas de minério de Ferro, por exemplo, e comparar o uso que se tinha até o século XIX com o que se usou no século XX e mesmo agora no XXI é possível perceber que o incremento de consumo desse tipo de material é muito maior. Essa atitude faz com que a superfície terrestre seja muito alterada.

A partir dessas intervenções humanas temos diversas implicações, como as mudanças climáticas, por exemplo, pois grande parte do uso dos combustíveis fósseis acaba gerando carbono e isso se concentra na atmosfera, fazendo com tenhamos consequências para além da superfície terrestre.

“Não há dúvidas de que temos de mudar nosso estilo de vida”


IHU On-Line – Quais são os sinais geológicos que indicam que estamos numa nova época e quais são as características centrais desse período?
Wagner Costa Ribeiro – Os sinais geológicos virão das ações dos humanos. Por exemplo, já estão ocorrendo intervenções nasuperfície marinha. É um dado que devemos ressaltar, porque não se trata apenas da extração de petróleo, como é o caso do Brasil, mas também em alguns países, como Papua-Nova Guiné e Austrália, já teve início a mineração na superfície marinha. Ou seja, além de alterar a superfície terrestre, passaremos a mexer também nas profundezas marinhas, o que pode trazer consequências muito sérias, já que teremos uma alteração drástica do fundo marinho e isso pode afetar, por exemplo, toda a microfauna local, pode liberar gases para atmosfera, que estão armazenados de alguma maneira, assim como pode trazer consequências ainda não muito bem conhecidas.

Portanto, a nossa característica de intervenção, nossa capacidade motriz aumentou muito. O nosso movimento de pinça, que é o primeiro elemento que faz com que tenhamos a capacidade de capturar algo, que era feito simplesmente com o polegar e o opositor, hoje ganhou uma força motriz infinitamente maior; temos capacidade tecnológica de produzir máquinas que fazem com que esse movimento simples de coletar algo ocorra, por exemplo, no caso do pré-sal, a 7 mil metros a partir do fundo do mar.

Isso mostra que temos uma enorme capacidade de extração, o que é de fato muito preocupante, porque estamos extraindo recursos, muitos dos quais não são reaproveitados e, principalmente, é uma herança de processos naturais que algumas gerações do planeta Terra estão usando sem se preocupar com as gerações futuras. Esse é um debate de caráter ético que nós devemos começar cada vez mais a aprofundar.

Apesar de já se ter começado a falar sobre esse tema, as discussões ainda são muito incipientes.

Trata-se da questão do direito geracional, que de algum modo nasceu com a preocupação com a sustentabilidade, que em linhas gerais significa deixar para as gerações futuras as condições atuais do planeta. Aos poucos estamos vendo que será impossível manter esse ritmo intenso de uso de recursos naturais.
As mudanças no campo são “um exemplo bastante singelo
do quanto nós incrementamos a nossa capacidade
de alteração do ambiente”. Créditos das Imagems:
virtualmuseu.blogspot.com.br e capitaldocampo.com.br.
 

IHU On-Line – O que distingue o Antropoceno do Holoceno?
Wagner Costa Ribeiro – O que distingue de fato é a ação humana como a principal força motriz de transformação da superfície terrestre, inclusive com implicações na atmosfera e na biosfera. Há 10 mil anos, no final da primeira revolução agrícola, nossa capacidade de revolver a terra estava baseada no arado, então era muito menor.

Hoje nós temos, por exemplo, máquinas agrícolas que não só revolvem a terra, mas que também plantam; e outras que além de cultivar, praticamente embalam o produto.

As diferenças ficam claras se fizermos uma comparação entre um arado puxado por um homem ou eventualmente um animal e uma máquina dessas, que tem até oito palhetas funcionando ao mesmo tempo, com um apenas operário dando conta de uma vasta área.


Esse parece um exemplo bastante singelo, mas muito claro, do quanto nós incrementamos a nossa capacidade de alteração do ambiente e isso está associado ao processo demodernização tecnológica; portanto, antes de mais nada, é um processo histórico. A grande diferença do Antropoceno é admitir a espécie humana, portanto admitir a história, a sociedade como a força motriz de processos de alteração da natureza em larga escala.


IHU On-Line – Na prática, alguma mudança no nosso estilo de vida é necessária pelo fato de estarmos entrando nessa nova era?
Wagner Costa Ribeiro – Essa é questão central. Não há dúvidas de que temos de mudar nosso estilo de vida. Oplaneta terra é finito, ele tem uma certa capacidade de fornecer elementos naturais, e se tivermos cada vez mais demanda sobre essa mesma base, ou seja, se temos um volume de minério de ferro, determinado volume de bauxita, de petróleo, de água e de fontes energéticas, é evidente que se aumentar a pressão sobre essa quantidade, que é fixa, nós teremos conflito.

Então, não por acaso, organismos multilaterais, como o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – PNUMA, criaram órgãos para discutir conflitos ambientais. De fato, temos que mudar o estilo de vida, porque esse modelo de crescimento da produção sem limites não pode continuar, é um engano, é uma ilusão achar que continuaremos produzindo sem limitações. Ações como reciclagem e reaproveitamento de materiais não são mais um modismo ecológico, passam a ser uma necessidade para a própria manutenção de produção da sociedade de consumo contemporânea.

Nos últimos tempos, todos nós que trabalhamos com as questões socioambientais há muitos anos ganhamos um aliado muito importante, eu diria até inesperado, que foi o Papa Francisco. O Papa, com sua Encíclica [Carta Encíclica Laudato Si’ do Papa Francisco sobre o cuidado da casa comum], lançada no ano passado, de maneira bastante contundente e com uma penetração maior do que muitos pesquisadores, deixou claro que nós teremos de alterar, sim, o nosso estilo de vida.

Não é possível manter essa sociedade pouco inteligente, que faz um enorme esforço científico e tecnológico para gerar um objeto, e, poucos meses depois – quando muito um ano depois – o descarta sem a menor necessidade, para fazer com que as pessoas comprem um novo. É o que ocorre, por exemplo, com aparelhos de telefone celular, computadores, tablets e outros eletrônicos; nesses casos, o apelo da inovação é utilizado para fomentar a venda, a qual, se verificarmos na essência, apresenta uma diferença pouco expressiva, mas reforça a ideia de que sempre se deve buscar algo novo, que de fato nem é tão novo.

Então, esse é de fato um desafio importante e que significa repensar o significado da vida: o que queremos da nossa vida, da nossa organização social? Para que vivemos? Algumas pessoas, infelizmente, vivem para ter, para consumir, para comprar, e isso efetivamente não satisfaz. Já há vários trabalhos de psicologia de massa acerca do consumo que mostram que determinado nível de consumo e de renda faz com que as pessoas não tenham mais no consumo em si uma forma de realização pessoal, sendo preciso buscar outros elementos, e aí as escolhas são as mais diversas. Não entrarei nesse campo, mas há quem vá para o campo das drogas, da violência, ou então da religião, dos esportes radicais etc.


Há uma busca de sentido para vida, porque a sociedade do consumo efetivamente é muito ingrata, pois gera sempre a frustração. Por exemplo, você acabou de comprar um aparelho ou instrumento tecnológico que deseja e pouco tempo depois você se sente frustrado porque o mesmo fabricante que vendeu aquilo diz: “agora isso não vale mais, o que vale é esse novo”. E essa frustração permanente tem gerado muita inquietação, muito mercado de trabalho para o pessoal da saúde mental. Não por acaso, a área da saúde mental cresce e as doenças mentais crescem em escala muito preocupante, porque essa frustração permanente deve ser cessada. É preciso, portanto, reorganizar a vida, pensá-la a partir do que significa estar vivo no planeta terra e do que podemos usufruir, não apenas da base material.

Isso não significa, evidentemente, abandonar a base material. Ninguém está dizendo que não é mais para ter computador, nem telefone celular, mas talvez não seja necessário trocar de aparelhos celulares e computadores a cada seis meses, como ocorre em alguns lugares do mundo, em especial nas camadas mais abastadas.

IHU On-Line – Algumas notícias informam que um dado em aberto entre os pesquisadores que estudam o Antropoceno é definir qual é a data formal do seu início. Como está essa discussão e qual data indica melhor o início dessa nova era geológica?
Wagner Costa Ribeiro – Essa discussão é polêmica. Eu diria que a Revolução Industrial é o grande marco e corresponde ao que na história se chama de processo de modernização. Acredito que a Revolução Industrial é o grande marco, que é quando passamos a ter uma força motriz bastante ampliada; ou seja, como já disse anteriormente, foi desenvolvida a máquina a vapor e depois incrementada ainda mais por uma máquina com motor a explosão, com uma capacidade de produção e de extração de recursos naturais bastante ampliada.

Então, esse é realmente o grande marco, mas é um marco das ciências da sociedade e, muitas vezes, os colegas das ciências da natureza não são muito sensíveis a esse tipo de argumento. Não são todos os pesquisadores, evidentemente, mas eu diria que alguns ainda não são sensíveis e têm alguma dificuldade em assimilar essa ideia. Mas parece razoável esse pensamento se tivermos em conta que o Antropoceno é marcado pela ação humana em larga escala, e isso começou com a Revolução Industrial.

Portanto, se fosse para marcar um ponto, apesar de que acho isso pouco útil na história – confesso a você, pois não vejo necessidade em precisar -, mas eu diria que a partir da Revolução Industrial nós tivemos de fato uma aceleração muito intensa dessa transformação da superfície terrestre.

“O Antropoceno é marcado pela ação humana em larga escala, que começa com a Revolução Industrial”

IHU On-Line – A discussão sobre mudanças climáticas tem algum peso nessa nova era geológica?
Wagner Costa Ribeiro – Essa é outra questão extremamente importante, que tem algumas interpretações possíveis: uma interpretação apresenta o IPCC [Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima], que, ao contrário do que alguns dizem, estaria mostrando dados que não apresentam claramente a gravidade das mudanças climáticas. Então é uma crítica ao IPCC, que, segundo esse grupo, não estaria apresentando claramente a gravidade das mudanças climáticas e estaria, de alguma maneira, atenuando um pouco os problemas.


A outra posição é minoritária e critica o IPCC dizendo que não há mudança climática e nem aquecimento global. Já a visão do IPCC diz que temos de controlar até 2 graus Celsius, que é bastante conhecida. Nesse debate, destas três visões, posso dizer que nós temos cada vez mais evidências de que as condições climáticas do planeta, pelos menos na escala local, estão mudando bastante.

Eu posso falar um pouco da cidade onde moro, São Paulo. Já tenho 53 anos e São Paulo não é mais a terra da garoa de quando eu tinha entre oito e dez anos de idade. Houve uma mudança no microclima, mas isso tem a ver com mudança climática? Necessariamente, não. Nós tivemos um processo de intensificação da urbanização e não só em São Paulo, mas também em várias outras metrópoles no mundo, fazendo com que as condições locais tenham uma alteração bastante expressiva. Portanto é uma característica do Antropoceno, ou seja, nós mudamos a superfície terrestre de maneira radical.

Aquela massa de ar frio que chegava tinha um ambiente florestado, mas muitas vezes ela não encontra mais essas condições e segue por uma superfície mais aquecida, tendo uma precipitação muito mais intensa. Com isso é possível explicar por que São Paulo não é mais a terra da garoa. Mas como se explica a seca que tivemos agora? Aí não é mais a escala local, temos que pensar processos de ordem mais ampla, de pressão atmosférica.

É a mesma coisa que estamos vendo junto a Manaus, no município de Presidente Figueiredo, com uma seca bem aguda. Ou seja, estamos tendo fenômenos extremos com maior recorrência, e isso, segundo o próprio IPCC e vários pesquisadores que se dedicam a analisar a mudança climática, seria de fato uma indicação de que na escala mais ampla, para além da escala local, nós estamos já vivendo processos que têm relação com essa maior presença dos gases de efeito estufa na atmosfera.

Então, o que eu estou dizendo é que ainda é precoce afirmar que estes eventos extremos são decorrência doaquecimento global, mas não é precoce dizer que eles estão confirmando algumas projeções que o IPCC vem fazendo desde os anos 1980 do século passado. Nesse caso, acredito que surja um princípio muito importante que, aliás, está na própria Convenção da Mudança Climática, que é de 1992. Lá já está claro o princípio da precaução. O que é este princípio? Na dúvida, enquanto não houver a certeza científica, é preciso tomar ações de precaução para evitar o acirramento de um problema, e isso devemos ter em mente quando falamos de mudança climática: nós não temos certeza, mas se as previsões se confirmarem, as perspectivas são muito difíceis.

Diante disso, já que não conseguimos controlar a emissão da energia solar, já que não conseguimos controlar a emissão de gases de efeito estufa de um vulcão – alguns pesquisadores defendem que o vulcão emite muito mais gases que toda a espécie humana -, temos que controlar a nossa parte, que implica, justamente, em restringir o uso decombustíveis fósseis, mudar práticas agrícolas etc. É nesse ponto que estamos.


Acabamos de assistir a uma reunião em Paris, agora em dezembro, onde os avanços finalmente apareceram. Nas críticas, alguns dizem que o acordo firmado no encontro é insuficiente e outros dizem que foi o pacto possível. Eu, que trabalho com esses assuntos há alguns anos, fiquei satisfeito com o que foi acordado em Paris e entendo que estamos em um processo de negociação, um processo difícil e penoso que implica em mudança do estilo de vida. Aí voltamos à pergunta que você me fez antes: a mudança climática vai necessariamente impor mudança no estilo de vida, inclusive modificações naquilo que a espécie humana construiu.

Nós teremos que ter ajustes importantes, por exemplo, em cidades costeiras, e pouco disso tem sido debatido e discutido, especialmente no Brasil. Em alguns países, já há estudos profundos mostrando o que fazer em caso deelevação do mar a 20, 50 ou 100 centímetros, por exemplo, baseado em modelos e estudos da costa. Estou falando de casos como a Espanha e não de países mais centrais.

Nós temos de fato a mudança climática ainda como uma incerteza, mas com indícios cada vez mais claros de que aquilo que se previa está ocorrendo.

Assim, é preciso tomar ações agora. No caso brasileiro há um agravante, pois temos um histórico social dedesigualdade muito aguda, que faz com que muitas pessoas estejam em situação de vulnerabilidade e isso pode ser agravado ainda mais pela mudança climática. Portanto, temos de saldar a dívida social e ao mesmo tempo fazer uma ação de adaptação para a mudança climática.

Essa pode ser uma excelente oportunidade para movimentar o país e nos colocar na direção da geração de emprego e da saída dessa crise conjuntural, apostando, por exemplo, na criação de saneamento básico, habitação de interesse social, revitalização de centros urbanos com moradia social. Enfim, poderíamos gerar muito emprego e muita atividade econômica pensando em oferecer, por exemplo, moradia de menos risco para a população carente do país e, dessa forma, faríamos também uma ação de adaptação, construindo casas mais resistentes às intempéries que podem vir a ocorrer em se confirmando as mudanças climáticas.

IHU On-Line – Já é possível estimar que mudanças geológicas podem ocorrer futuramente por conta do Antropoceno?
Wagner Costa Ribeiro – Já estão ocorrendo. Se analisarmos, por exemplo, algumas intervenções que ocorrem junto à área costeira, alguns portos alteram toda a dinâmica da geomorfologia costeira. Usarei como exemplo um caso concreto: a praia de Iracema, em Fortaleza – capital do Ceará e uma das principais metrópoles do Nordeste brasileiro –, que sofreu sérias consequências com a construção de um porto. Então, temos sim consequências hoje, que não são mais surpreendentes e são muito imediatas.

Outro exemplo: Quantas avenidas de fundo de vale foram construídas no Brasil? O que representa fazer uma avenida de fundo de vale? Haverá uma aceleração da chegada da água no fundo do vale e a consequência é o alagamento. Esse fenômeno tem uma consequência geológica, porque o material será transportado com mais velocidade; mas tem também uma explicação humana, porque nós somos a causa e muitas quem sofre as consequências não é quem causa o problema, mas, infelizmente, quem está vivendo junto à área de alagamento.

Dessa forma, já temos sim elementos dessas consequências. Por exemplo, se pensarmos na quantidade de lagos artificiais que já foram construídos na superfície terrestre, se pensarmos no volume do material que foi retirado para fazer terraplanagem para a construção de estradas, temos uma série de variáveis que mostram que alteramos bastante a superfície terrestre, afetando a dinâmica geológica. Porque a geologia não é só o estudo das rochas, abarca uma série de dinâmicas, como o processo de sedimentação e o transporte de material, que estão sendo bastante afetadas.

“Temos de saldar a dívida social e ao mesmo tempo fazer uma ação de adaptação para a mudança climática”


IHU On-Line – Que tipo de “pegada, marca geológica” imagina que o homem “pós-antropoceno” deixa na Terra?
Wagner Costa Ribeiro – Nós deixaremos um aglomerado de material, que será muito rico para os arqueólogos do futuro, porque nós não estamos tendo o cuidado de separar elementos que a natureza criou separadamente. Darei um exemplo muito simples: muitas peças do vestuário hoje são altamente complexas, combinando algodão com tecido originário de petróleo e adicionando metais; é só analisarmos qualquer calça jeans com acessórios ou nylon com alguns enxertos de metal. A combinação de elementos de fabricação de utensílios já existia no passado, mas eram apenas elementos naturais. O novo agora é justamente acrescentar esse material a outros com origem do petróleo, tornando-se mais difícil separá-los depois.

Se observarmos as edificações, a situação não é diferente. Nós introduzimos dentro de paredes dutos metálicos para transportar energia, dutos de plástico para proteger os dutos metálicos que transportam energia, enfim, vamos sofisticando os ambientes, misturando materiais. Portanto, essa é uma característica nossa, porque nós misturamos, mas não nos preocupamos depois em separar novamente, até para reaproveitamento.

Dessa forma, a pegada que deixaremos será um grande aglomerado de materiais misturados, ou seja, estamos misturando aquilo que natureza levou anos para deixar organizado, separado. Estamos nos apropriando disso e embaralhando esse material, e isso terá consequências: umas delas é a de que acabaremos com os elementos naturais, e outra poderá ser de que, no futuro, se quiser se reaproveitar esse material, haverá um enorme trabalho para começar a juntar um pouquinho do minério de ferro que está em cada peça, um pouquinho de bauxita que está em outras peças etc.

Isso já está ocorrendo, visto que alguns países já começaram hoje a fazer prospecção em antigos lixões para buscar material de qualidade. Portanto, talvez já tenhamos alguma indicação de que é preciso utilizar de outra maneira essa oferta que a natureza nos deixou como herança. Ninguém garante que somos os únicos usuários desse estoque de material que a natureza nos deixou, por isso temos de pensar que quem está por vir também tem o direito de usar esse material.

Por Patricia Fachin e Leslie Chaves

(EcoDebate, 01/03/2016) publicado pela IHU On-line, parceira editorial da revista eletrônica EcoDebate na socialização da informação.

[IHU On-line é publicada pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS.]

[CC BY-NC-SA 3.0][ O conteúdo da EcoDebate pode ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, à Ecodebate e, se for o caso, à fonte primária da informação ]

Programa auxilia criação de Reservas Particulares do Patrimônio Natural no Paraná

José Orlando Crema em sua RPPN. Foto: Lucas Pontes
José Orlando Crema em sua reserva, RPPN Antenor Crema. Foto: Lucas Pontes

Uma iniciativa da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS) com apoio da SOS Mata Atlântica, o Programa Desmatamento Evitado (PDE) identifica e cadastra proprietários de áreas naturais e faz a ponte entre eles e empresas interessadas em “adotar” as áreas financeiramente, a fim de conservá-las. Entre 2015 e o início deste ano, duas Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN) foram criadas através deste programa no Paraná.

As  reservas são a RPPN Pedra sobre Pedra, já mencionada no WikiParques, e a RPPN Antenor Crema, em Bocaiúva do Sul, que possui 133,17 hectares. O proprietário da RPPN Antenor Crema, José Orlando Crema, pratica a conservação desde que a adquiriu, em 1978, mas foi a partir de 2007, com a adoção pelo PDE, que passou a ter aporte financeiro e técnico para conservá-la e começou a pensar na criação da RPPN.

O Paraná possui 244 RPPNs nos âmbitos federal, estadual e municipal, somando quase 53 mil hectares. Criar uma RPPN é uma forma de garantir que a área permanecerá protegida, mantendo o direito de propriedade. O proprietário se torna isento do pagamento do Imposto Territorial Rural (ITR) referente à área e tem preferência na análise de pedidos de concessão de crédito agrícola.

Além disso, pode desenvolver atividades de ecoturismo, educação ambiental e pesquisas e ainda pode firmar parcerias com instituições públicas e privadas. Isso sem contar os benefícios à sociedade que a existência de áreas conservadas gera, como regulação climática, purificação do ar, água, entre tantos outros.

Outras duas RPPN, nos municípios de Jaguariaíva e Ponta Grossa, estão em processo de criação e são apoiadas pelo PDE.
RPPN Antenor Cerma. Foto: Lucas Pontes
RPPN Antenor Cerma. Foto: Lucas Pontes

*Com informações da comunicação da SPVS

DiCaprio leva o meio ambiente ao Oscar

           

Por ((o))eco

Leonardo DiCaprio no Oscar 2016. Foto: Youtube


No último domingo (28), o ator norte-americano Leonardo DiCaprio finalmente ganhou o Oscar de Melhor Ator por seu trabalho no filme "O Retorno". Foi sua primeira estatueta após cinco nomeações em anos anteriores. Com elegância, o ator subiu ao palco para agradecer a todos, desde o diretor de elenco que o escalou em seu primeiro filme aos colegas de elenco e equipe do filme. E também aproveitou seu discurso para falar sobre um tema: as mudanças climáticas.

Como pode ser visto aos 1:30 minutos de vídeo (abaixo), o ator deu vez ao ativista ambiental. Leonardo, cujo desempenho no filme exigiu um processo de filmagem extenuante marcada por frio intenso, faz um apaixonado discurso sobre a urgência de ação frente ao aquecimento global.

https://www.youtube.com/watch?v=9Oev4xve7ko

Leonardo DiCaprio no Oscar 2016. Foto: Youtube


E, por último, eu só quero dizer o seguinte: 'O Regresso' é sobre a relação do homem com o mundo natural. Um mundo no qual coletivamente sentimos, em 2015, como o ano mais quente da história. Nossa produção precisou se mudar para o extremo sul do planeta apenas para ser capaz de encontrar neve. A mudança climática é real, está acontecendo agora. É a ameaça mais urgente para toda a nossa espécie, e precisamos trabalhar juntos e parar de procrastinar. Precisamos apoiar os líderes de todo o mundo que não falam pelos grandes poluidores epelas grandes corporações, mas que falam por toda a humanidade, pelos povos indígenas do mundo, pelos bilhões e bilhões de pessoas carentes que serão mais afetadas por isto. Para filhos de nossos filhos, e para aquelas pessoas lá fora, cujas vozes foram abafadas pela política de ganância. Agradeço a todos por este prêmio incrível esta noite. Não vamos tomar este planeta com certo. Eu não tomo esta noite como certa. Muitíssimo obrigado.
O ambientalista

A preocupação do ator com temas ambientais não é uma novidade.

Em 1998, ele criou a Fundação Leonardo DiCaprio para apoiar as organizações e iniciativas dedicadas a causas relacionadas a sustentabilidade do planeta - as alterações climáticas, o acesso à água potável, proteção da biodiversidade, a conservação dos oceanos e apoio a desastres naturais.

Além de usar sua fama internacional para influenciar opinião pública sobre estas questões, Leonardo faz parte do conselho de diversas organizações, incluindo a WWF, o Conselho de Defesa dos Recursos Naturais (NRDC), Global Green EUA e o Fundo Internacional para o Bem-Estar Animal (IFAW).

Através de sua fundação, o ator produziu uma série de projetos de mídia, dentre eles os curta para web Water Planet (aqui) e Global Warning (aqui). Em 2007, lançou seu primeiro documentário de longa metragem, The 11th Hour (A Última Hora). Escrito, produzido e narrado por Leonardo, o filme traz depoimentos de 50 dos principais especialistas em questões ambientais  do mundo e as suas soluções para salvar o planeta.



Soda cáustica restaura coral vítima de CO2

              

Por Claudio Angelo

Platô coralino tingido durante experimento na Austrália. Foto: Ken Caldeira/Nature


Despejar uma mistura de soda cáustica e corante sobre um recife de coral numa região que é patrimônio da humanidade parece uma péssima ideia. Mas um grupo internacional de cientistas acaba de anunciar que realizou esse experimento na Austrália, com o objetivo de tentar entender como os gases de efeito estufa afetam a vida marinha. Os corais, aparentemente, aprovaram o teste.

O trabalho foi liderado por Rebecca Albright, da Instituição Carnegie, nos EUA, e seu orientador, Ken Caldeira, um pioneiro do estudo da chamada acidificação dos oceanos. A ideia dos dois era mexer na química da água de uma lagoa na Grande Barreira de Coral australiana, de forma a simular as condições pré-industriais. Então eles mediriam a reação do recife.

Os cientistas sabem que os oceanos estão mais ácidos no mundo inteiro. Isso é um efeito colateral das emissões de gases de efeito estufa que causam o aquecimento global. Grande parte das emissões humanas de CO2 é absorvida pelo mar, onde o gás carbônico reage com a água (H2O) e forma ácido carbônico (H2CO3). Isso reduz o pH da água do mar, ou seja, ela fica mais ácida.

Para organismos que formam carapaças de calcário, como moluscos, corais e várias espécies de plâncton, isso é mortal. A água mais ácida dissolve lentamente essas estruturas, num fenômeno que já foi comparado a uma grande osteoporose oceânica.

Mas existe um efeito adicional da acidificação, igualmente perverso para os corais e outras criaturas: esses animais formam suas carapaças ao absorver íons de carbonato (CO3) da água e combiná-los com cálcio para formar um mineral chamado aragonita. A reação do gás carbônico com a água do mar também captura os íons de carbonato para formar duas moléculas de bicarbonato (2HCO3), essencialmente tirando o carbonato de circulação. O bicarbonato é imprestável para fazer aragonita. Sem a matéria-prima, os corais não conseguem formar sua carapaça – portanto, não crescem.

Como os recifes de coral são fundamentais para a teia alimentar marinha e para a alimentação e os empregos de milhões de pessoas no mundo inteiro, entender como a acidificação dos oceanos impacta esses ecossistemas é importante. Mas isso tem sido difícil de quantificar, já que o fenômeno da acidificação só foi descoberto na década passada, quando a química do oceano já diferia muito da da era pré-industrial. Para saber quanto a “osteoporose marinha” já havia afetado a taxa de crescimento dos recifes seria preciso usar uma máquina do tempo.

Foi exatamente o que fizeram Albright, Caldeira e colegas, num experimento descrito na edição de hoje do periódico Nature.


O grupo descobriu um recife na Grande Barreira de Coral que poderia ser devolvido ao passado, por assim dizer. Formado por três lagoas, o recife fica isolado do resto do oceano algumas horas por dia, durante a maré baixa. Por acaso, a lagoa maior é também mais alta que a menor, e a água escorre daquela para esta durante a maré baixa, por cima de um pequeno banco de corais.
Os biólogos da Carnegie tiveram uma sacada: já havia estimativas de quanto o pH da água da região havia caído desde o período pré-industrial. O que eles precisavam fazer era corrigir esse pH. Para isso, lançaram mão de um recurso velho conhecido de donos de aquário no mundo todo: o hidróxido de sódio – a popular soda cáustica.

Num tanque de 15 mil litros instalado na lagoa maior, os cientistas misturaram água do mar, um corante cor-de-rosa e 600 gramas de soda cáustica. Durante uma hora por dia, na maré baixa, essa mistura fluía por cima do recife até a lagoa menor, em cuja borda os pesquisadores coletavam amostras de água. Medindo a proporção entre corante e soda cáustica na mistura entre uma lagoa e outra no começo e no final do experimento, durante 22 dias, eles conseguiriam estimar quanto da alcalinidade adicional fora absorvida pelo recife.

Ao final do experimento, o grupo descobriu que a taxa de crescimento dos corais cresceu 7% no período com soda cáustica. A implicação disso é que, se os mares não estivessem mais ácidos, os corais estariam crescendo mais – pelo menos naquela parte do mundo.

 É a primeira vez que se consegue estimar de maneira experimental o efeito isolado da acidificação sobre esse ecossistema.


“A acidificação dos oceanos já está cobrando seu preço nas comunidades de recife de coral”, disse Albright em comunicado do centro de pesquisas. “Isso não é mais um temor para o futuro; é a realidade hoje.”

Essa correção de pH já foi cogitada por alguns como um esquema de engenharia planetária para reverter a acidificação em áreas-chave dos oceanos. Caldeira descarta a ideia. “A única maneira real e duradoura de proteger os recifes é fazer cortes profundos nas nossas emissões de dióxido de carbono.”

*Este artigo foi publicado originalmente no site do Observatório do Clima, republicado em
O Eco através de um acordo de conteúdo.