quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Kerry manda Trump estudar ( Eu pediria o mesmo aos nossos lideres)



16/11/2016

Em discurso de despedida, secretário de Estado dos EUA diz que nenhum líder deve tomar decisões que afetam bilhões de pessoas “com base em ideologia e sem conhecimento de causa”

John Kerry em pronunciamento durante a COP22, em Marrakesh
John Kerry em pronunciamento durante a COP22, em Marrakesh
CAMILA FARIA
DO OC, EM MARRAKESH


Em discurso emocionado, o secretário de Estado norte americano, John Kerry, afirmou que liderança global passa pela liderança na questão do clima, e que decisões como um possível cancelamento da participação dos EUA no Acordo de Paris não pode ser tomadas com base em questões partidárias ou ideológicas.



“Nenhum líder pode decidir algo que afeta bilhões de pessoas com base apenas em ideologias e sem o devido conhecimento de causa”, afirmou Kerry nesta quarta-feira em Marrakesh, durante a COP22. Foi o último discurso do democrata no cargo num grande evento internacional. Em janeiro, Kerry será substituído quando o republicano Donald Trump assumir a Presidência.



“Qualquer pessoa que tire tempo para aprender sobre mudanças climáticas chegará à conclusão de que é preciso agir fortemente e encorajar outros a fazerem o mesmo. Peço aos líderes que não tomem minha palavra como verdade, vejam por si mesmos o que persuadiu presidentes, papas, primeiros-ministros e líderes a assumir a responsabilidade de lutar contra esse desafio”, disse Kerry.


Em resumo, sem citar o nome do presidente eleito, o chefe da diplomacia de Barack Obama mandou Trump estudar.



“Uma maioria expressiva da população estadunidense sabe que mudanças climáticas estão acontecendo e está determinada a manter nossos compromissos em Paris”, pontuou.


#FICAKERRY
A fala de Kerry foi uma das mais aplaudidas da COP22, e mais uma de um rosário de recados dados a Donald Trump. Na véspera, o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, havia alertado que a transição para um mundo de baixo carbono é “irrefreável”, e o presidente da França, François Hollande, havia dito que “não se trai uma promessa de esperança” – em alusão à determinação anunciada por Trump na campanha de cancelar a participação americana no Acordo de Paris. 



Após o discurso de 50 minutos, o secretário de Estado foi ovacionado por dois minutos e ouviu do público na saída: “Fique conosco, Kerry”!


Reforçando a mensagem que os esforços americano com os objetivos do acordo devem permanecer, o governo Obama entregou na quarta-feira à ONU seu plano para reduzir suas emissões em 80% ou mais até 2050, em relação aos níveis de 2005.



Entre as estratégias apontadas para atingir este objetivo, o sumário executivo do documento apresenta ações divididas em três categorias: transição para um setor elétrico de baixo carbono (“quase toda a produção elétrica por combustíveis fósseis pode ser substituída por tecnologias de baixo carbono até 2050”, diz o relatório), sequestro de carbono através de novas tecnologias e cuidado com florestas, e redução de gases além do CO2, como metano e compostos de flúor (como os HFCs).



As políticas devem focar em ações de reflorestamento, pesquisa e desenvolvimento de tecnologias de sequestro de carbono da atmosfera e incentivos ao mercado de energia limpa, em oposição aos investimentos baseados em carbono.



A importância da participação e inovação mercadológica foi reforçada também por Kerry em seu discurso. Para o secretário, apesar de a liderança do governo na representar um papel fundamental na causa climática, o mercado e setor privado serão grandes responsáveis no rumo aos objetivos da maior economia do mundo.



“Estou confiante na ação comercial. Nossas emissões estão caindo porque forças mercadológicas neste rumo estão se fortalecendo ao redor do mundo. Investir em energia limpa simplesmente faz sentido econômico.


Em Paris, enviamos uma mensagem ao mercado, e os negócios estão respondendo”, disse, citando o apoio crescente à precificação de carbono, o acordo firmado com o setor de aviação civil em outubro deste ano, em Montréal, para diminuir emissões do setor após 2020, e a emenda de Kigali para redução dos HFCs, potentes gases de efeito estufa presentes em aparelhos de ar-condicionado, como exemplos de ações pós-Paris que estão mostrando convergência mundial de governos e iniciativa privada em prol das metas do clima.



Além do apelo à manutenção da participação americana no acordo, Kerry reforçou o pedido já realizado por diversas autoridades na COP22 de que os países aumentem sua ambição e ajam com rapidez: “Não podemos esperar para traduzirmos a ciência que temos hoje para as políticas necessárias para enfrentar nossos desafios. O que fizermos agora importa, se não formos longe o suficiente e com velocidade suficiente causaremos danos ao planeta podem demorar séculos para serem revertidos, se puderem ser revertidos. Precisamos acelerar drasticamente a transição que começamos”.



O secretário também relembrou cenários preocupantes ao redor do mundo, incluindo as secas no Brasil, India e China e furacões e inundações nos Estados Unidos e pediu aos cidadãos e líderes: “Lembremos do que está em risco”.

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