domingo, 21 de setembro de 2014

Aliados admitem que Aécio não atingirá votação prevista em MG

Política


Sem liderar as pesquisas em seu Estado natal, o candidato do PSDB à Presidência refaz as contas para chegar ao segundo turno

Acompanhado do candidato a governador Pimenta da Veiga, Aécio Neves faz comício de campanha em Belo Horizonte, MG - 19/09/2014
Acompanhado do candidato a governador Pimenta da Veiga, Aécio Neves faz comício de campanha em Belo Horizonte, MG - 19/09/2014 
 
Sem liderar as pesquisas em seu Estado natal, o candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, refaz as contas para chegar ao segundo turno. Aliados mineiros do senador ouvidos pela Agência Estado, como o presidente do PSDB mineiro, Marcus Pestana, admitem que não será possível atingir a votação prevista anteriormente para o Estado. 


A intenção sempre foi abrir grande vantagem sobre Dilma Rousseff em Minas - segundo maior colégio eleitoral do país e governado pelo PSDB há doze anos - para garantir as chances na votação nacional.

Leia também:

Aécio: 'Irregularidades na Petrobras são crime de lesa-pátria'
Pessimildo x Otimildo: por que o governo dá boas razões para temer o pior



"Não é possível, mudou o cenário, é outra eleição. A previsão era com o Eduardo (Campos) na disputa, ele teria em Minas o que o Aécio tem em Pernambuco (3%)", justifica Pestana, que lembra que Marina venceu em Belo Horizonte nas eleições de 2010. 


Mesmo com a recuperação nas últimas pesquisas, os números ainda são modestos se comparados com os planos feitos pelos tucanos. A última pesquisa Datafolha no Estado mostra Aécio com 26%, enquanto Marina Silva tem 25% e Dilma 33%. 


O Ibope desta semana mostra um quadro um pouco melhor para o ex-governador de Minas, que aparece com 29%, atrás apenas de Dilma (33%); Marina tem 22%.

No primeiro semestre de 2014, era comum ouvir de tucanos mineiros que o Estado - principal vitrine de Aécio e que foi governado pelo PSDB por 16 anos nas últimas duas décadas - era o trunfo para a vitória do neto de Tancredo. Projetava-se uma diferença de 3 milhões de votos para Dilma Rousseff, que significa cerca de 20% dos mais de 15 milhões de eleitores.
Leia também:
Marina compara IBGE à Petrobras após erro em pesquisa
A emoção vai ao palanque
Marina busca apoio de empresários do agronegócio ignorados por Dilma

Mais que governar, Aécio venceu em Minas três eleições de forma arrebatadora. Duas vitórias no primeiro turno para o governo do Estado - com 57% e 77% dos votos - e uma eleição para o Senado, quando Aécio teve 7,5 milhões de votos e ele elegeu também seu aliado Itamar Franco, deixando o petista Fernando Pimentel fora da disputa. 


"Ele superestimou a capacidade dele em Minas, subestimou a capacidade do próprio governo e não olhou adequadamente para 2012. A eleição de 2012 já mostrava sinais de desgaste, o PSDB perdeu prefeituras importantes no Estado", explica o cientista político.


A esperança do PSDB no Estado é que a reação esboçada por Aécio nas últimas pesquisas em território nacional traga de volta para o tucano, oposição mais tradicional ao PT, os eleitores que migraram para Marina Silva no chamado voto útil. "Há um sentimento majoritário em Minas contra o PT. Quando a Marina despontou em segundo lugar, as pessoas migraram", afirma Pestana, que tem a esperança de que uma reação de Aécio traga de volta para o tucano, oposição mais tradicional ao PT, os que migraram para Marina no chamado voto útil.


Desde que perdeu espaço para Marina Silva, Aécio passou a se dedicar mais a Minas Gerais. Sua presença no Estado e no programa eleitoral de Pimenta da Veiga se intensificaram e sua irmã, Andréa Neves, considerada estrategista importante para os tucanos, passou a se dedicar mais ao Estado.

 "Agora o Aécio está mais presente no programa do Pimenta, nas publicidades do Pimenta e do Anastasia. Há um momento novo e, dependendo das próximas pesquisas, na hora que o pessoal perceber a chance da virada do Aécio, isso vai ser uma grande motivação aqui em Minas", disse Pestana.
(Com Estadão Conteúdo)
 


Mau gosto, exagero!Outra que, como a Britney Spears, foi destruida pela midia.

A caminho do Brasil, Miley Cyrus irrita o México

Em performance do show da ‘Bangerz Tour’, que chega no fim do mês ao Rio e a São Paulo, a cantora foi golpeada com a bandeira mexicana no derrière, em pleno dia da independência do país. Deputado propõe punição à americana

A cantora Miley Cyrus é golpeada com a bandeira do México por bailarino, em show na cidade de Monterrey
A cantora Miley Cyrus é golpeada com a bandeira do México por bailarino, em show na cidade de Monterrey 

Um deputado do Estado de Nuevo León, no México, pediu ao Congresso Nacional uma punição à cantora Miley Cyrus, após uma apresentação em que a americana, coberta de glúteos falsos e vastos à la Nicki Minaj, recebeu golpes no derrière com a bandeira mexicana


O show foi realizado na cidade de Monterrey, capital de Nuevo León, na última terça-feira, 16, data em que se comemora o principal feriado nacional, a independência do país.

LEIA TAMBÉM: Justin Bieber 'varre' bandeira da Argentina do palco e revolta o país
Campanha pró-sem-teto de Miley Cyrus envolve show no Rio
Miley Cyrus critica Disney e posa nua para revista

Amigo ‘sem-teto’ de Miley Cyrus é procurado pela polícia



Francisco Treviño, deputado estadual de Nuevo León, encaminhou um pedido de punição ao Congresso por considerar desrespeitosa a atitude de Miley. "A cantora estava inclinada e um dos bailarinos atingiu suas nádegas com a bandeira nacional. A atitude é uma falta de respeito à bandeira nacional", escreveu Treviño no pedido. Se atendida a proposta do deputado, Miley pode ser presa por 36 horas ou multada em 1 200 dólares (2 800 reais).



Para Miley, vulgarizar não é novidade. A cantora ganhou as manchetes do mundo todo após sua apresentação no Video Music Awards (VMA) em 2013, em que sensualizou à beça: rebolou, se esfregou no cantor Robin Thicke e despiu uma roupa de ursinho para reaparecer quase nua em um biquíni de látex cor de pele. Pouco depois, fumou o que parecia ser um cigarro de maconha no EMA (European Music Awards). Um cigarrinho do mal, aliás, é o cursor de navegação no site oficial da cantora, que adora dar bandeira para chamar atenção.


Para chamar a atenção, aliás, vale copiar apelações de colegas. No VMA 2013, ela seguiu o script já usado por Britney Spears – culpa do empresário, que é o mesmo. No caso do México, o desrespeito à bandeira tem pelo menos dois precedentes. Em junho deste ano, Thalía foi punida após publicar uma foto em seu Instagram em que aparece enrolada apenas com a bandeira do México. A mesma coisa aconteceu em 2008 com a cantora Paulina Rubio após posar nua para uma revista espanhola.

No Brasil, a cantora faz show de sua Bangerz Tour em São Paulo, no dia 26 de setembro, na Arena Anhembi, e no dia 28 canta no Rio de Janeiro, na Praça da Apoteose. A apresentação em Brasília, prevista para 24 de setembro, foi cancelada.

A fórmula pop de Britney Spears e Miley Cyrus


Tapete vermelho da premiação

No Video Music Awards (VMA) de 2000, Britney Spears se preparava para a sua segunda apresentação na premiação. No entanto, seria a primeira com um tom mais ousado, que daria muito o que falar e a ajudaria a se afastar da imagem de estrela Disney. Treze anos mais tarde, Miley Cyrus também tinha em mente causar comentários com seu show nos palcos da MTV e se reposicionar no mercado pop. Em tempo: nesta nova fase, Miley Cyrus conta com a produção musical do músico Pharrell Williams, que já produziu Britney no passado.

As últimas de Miley Cyrus


Drogas

Ao receber o prêmio de melhor videoclipe por Wrecking Ball no Europe Music Awards (EMA) 2013, a cantora fumou um cigarro suspeito, enrolado à mão, no palco

O vídeo, no entanto, foi cortado ao ser transmitido nos Estados Unidos. 


 Mais tarde, Joe Jonas, que integrava a banda Jonas Brothers com os irmãos Kevin e Nick, afirmou que fumou maconha pela primeira vez quando tinha 17 ou 18 anos. Inocente, precisou ser convencido pelas amigas Miley Cyrus, que já aprontava, e Demi Lovato, com quem namoraria em 2010.

No DF pós-Arruda, Agnelo pode ficar fora do 2º turno

 VEJA


Governador petista empata com Jofran Frejat (PR), sucessor de José Roberto Arruda, e vê Rodrigo Rollemberg (PSB) abrir vantagem de 7 pontos

Gabriel Castro e Marcela Mattos, de Brasília
Candidatos ao governo do DF, Frejat (PR), Agnelo Queiroz (PT) , Rodrigo Rollemberg (PSB) e Luiz Pitiman (PSDB)
Candidatos ao governo do DF, Frejat (PR), Agnelo Queiroz (PT) , Rodrigo Rollemberg (PSB) e Luiz Pi

 
As eleições para governador do Distrito Federal podem ter muitos adjetivos. Mas, definitivamente, não são monótonas. Depois de figurar como favorito durante a maior parte da disputa, o ex-presididiário e ex-governador José Roberto Arruda (PR) foi barrado pela Justiça e passou a candidatura para Jofran Frejat (PR), que era seu vice. Flávia Arruda (PR), a mulher do ex-candidato, ficou com o segundo posto da chapa. E a troca provocou um realinhamento das forças na capital do país.


Arruda aparecia com mais de 35% das intenções de voto. Agnelo Queiroz (PT), o atual governador, e Rodrigo Rollemberg (PSB), se digladiavam pela segunda colocação, no patamar de 17%. Agora, de acordo com dados divulgados pelo Ibope nesta semana, Rollemberg abriu vantagem. Ele aparece com 28% das intenções de votos, contra 21% de Agnelo e Frejat. Luiz Pitiman (PSDB) tem 5%.

Há razões para crer que Agnelo ficará de fora até mesmo do segundo turno. Frejat tem um potencial de crescimento maior dada a rejeição baixa. Além disso, ele aposta insistentemente na ligação de sua imagem com a do ex-presidiário Arruda – o que pode parecer ruim numa primeira análise, mas tem um efeito positivo na busca pelos votos. O candidato barrado acompanha o sucessor durante a maior parte dos atos de campanha. E, como a nova candidata a vice é Flávia Arruda, o sobrenome célebre continua fazendo parte do material de campanha.

O eleitor brasiliense parece viver um deja vù. Em 2010, Joaquim Roriz teve a candidatura barrada por causa da Lei da Ficha Limpa e, com a lentidão do Judiciário na análise de seus recursos, acabou abrindo mão da disputa em favor de sua mulher, Weslian Roriz. Inexperiente e insegura, ela passou vergonha nos debates e acabou obtendo 34% dos votos no segundo turno. Isso significa que Weslian obteve a maioria dos apoiadores do marido.

Por isso, é provável que Frejat ainda suba nas pesquisas e deixe Agnelo Queiroz em um incômodo terceiro lugar. Frejat não é uma aposta no escuro: para o bem ou para o mal, é um político experiente. Ligado ao ex-governador Joaquim Roriz, ele foi deputado constituinte e comandou a secretaria de Saúde do Distrito Federal por quatro vezes vezes.

Já o novo favorito, Rodrigo Rollemberg, tenta se aproveitar ao máximo da popularidade de Marina Silva na capital federal. Brasília foi uma das cidades onde a candidata obteve melhores resultados em 2010. Ela ficou à frente de Dilma Rousseff e José Serra (PSDB) entre os eleitores do Distrito Federal. Agora, segundos as pesquisas, a candidata do PSB caminha para mais uma vitória na capital do país.

Rollemberg foi Secretário de Turismo do governo de Cristovam Buarque (então no PT), deputado distrital, deputado federal e chegou ao Senado em 2010, na coligação de Agnelo Queiroz. Mas o mau governo do petista e as pretensões do PSB fizeram com que Rollemberg rompesse a aliança com o governador.

Já a candidatura do governador Agnelo Queiroz é a mais frágil, apesar de ele ter a máquina pública em mão e dispor do maior tempo de TV, em uma coligação que também inclui PMDB e PP. Sem um padrinho político presente (Dilma e Lula não fizeram qualquer ato de campanha ao lado de Agnelo), o governador tem um cenário difícil diante de si. A rejeição do petista é de 45%, segundo o Ibope.



 Tão alta que, na simulação feita pelo Ibope para o segundo turno, ele perderia por 53 a 24% para Rollemberg e por 43% a 29% para Frejat. Mas, agora, isso é o de menos: para Agnelo, chegar ao segundo turno já seria uma vitória.


Pessimildo x Otimildo: por que o governo dá boas razões para temer o pior


Campanha


Na tentativa de neutralizar os críticos, campanha petista lança cruzada pelo pensamento positivo. Em entrevista ao site de VEJA, o filósofo inglês Roger Scruton, autor de "As Vantagens do Pessimismo", analisa os riscos do "otimismo inescrupuloso"

Daniel Jelin
Pessimildo, o ranheta da propaganda petista
Pessimildo, o ranheta da propaganda petista (Reprodução/VEJA) 
 
Um ranheta contumaz que torce para que o Brasil dê errado. É essa a imagem que a candidata Dilma Rousseff tem de seus críticos, a julgar pela cruzada contra o pensamento negativo que o PT levou ao horário eleitoral essa semana. 

A campanha é estrelada por um boneco batizado Pessimildo, de sobrancelhas grossas, olhos cansados e queixo protuberante — parece uma mistura do Seu Saraiva, o personagem de Francisco Milani no Zorra Total; com Statler, o crítico rabugento dos Muppets; Carl, o viúvo solitário de Up - Altas Aventuras; e Gru, o vilão de Meu Malvado Favorito


No vídeo levado ao ar, Pessimildo passa a noite em claro "para ver o pior acontecer" e se diverte com a perspectiva de que o desemprego cresça no Brasil — o que, hoje, é bem mais do que uma perspectiva. Um narrador de tom jovial faz pouco caso do fantoche: "Vai dormir, vai'.

Pessimildo é uma caricatura, mas bastante reveladora das obsessões da campanha petista. Desde o início da corrida eleitoral, a presidente Dilma Rousseff tem atacado os "nossos pessimistas", que "desistem antes de começar". Para ela, como para seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, "pessimismo" se opõe a valores como "verdade", "vitória" e "progresso". "Pense positivo, pense Dilma (sic)", recomenda a campanha petista, à maneira dos manuais de autoajuda.

As armadilhas deste otimismo desmedido são analisadas em The Uses of Pessimism ("As Vantagens do Pessimismo", em edição publicada em Portugal), que o filósofo inglês Roger Scruton lançou em 2010. 

Não se trata de defender a melancolia, a desesperança, a indiferença ou o ressentimento — o livro não tem nada de sombrio. Seu alvo é o "otimismo inescrupuloso". E, com frequência, o Otimildo da campanha petista é aquele que constrói sua mensagem com base em falácias, exageros, ilusões — ou na pura e simples manipulação da verdade e dos números. 

"Pessoas verdadeiramente alegres, que amam a vida e são gratas por esta dádiva, têm grande necessidade do pessimismo — em doses pequenas o bastante para que sejam digeríveis", escreve Scruton.

Leia também: 
Reinaldo Azevedo: Campanha de Dilma imita peças das ditaduras militar e do Estado Novo

 
Augusto Nunes: A culpa dos pessimistas


Vai dar tudo certo - A primeira armadilha apontada pelo britânico é a "falácia da melhor das hipóteses". É o engano típico dos apostadores, que "entram no jogo com a plena expectativa de ganhar, levados por suas ilusões a uma situação irreal de segurança" - uma descrição aproximada do transe em que vive a área econômica do governo petista. O apostador só aparentemente assume riscos, escreve Scruton. No fundo, o que ele faz é bem o contrário: julgando-se predestinado, dobra a aposta convicto da vitória que acredita "merecer". 

Em 2011, logo após assumir, Dilma contava com que o país crescesse 5,9% ao ano - em média! - em seu governo. A poucos meses de concluir seu mandato, Dilma amarga resultados tão ruins que só podem ser comparados aos anos Collor e ao governo de Floriano Peixoto, nos primórdios da República. O país está em recessão técnica, mas nem isso abala o otimismo palaciano. Como o jogo, o irrealismo é em si uma espécie de vício, analisa o filósofo. 

Eu tenho um plano - Uma das falácias centrais analisadas por Scruton é a do planejamento, que consiste na crença de que sociedades podem ser organizadas como exércitos em torno de um plano desenhado por um poder central. Dessa armadilha deriva o furor regulatório dos burocratas e idealistas instalados na máquina pública. É a marca de regimes autoritários, claro, mas também envenena sólidas democracias. 

Para Scruton, o maior exemplo dessa falácia é incansável disposição dos arquitetos da União Europeia para editar marcos regulatórios cada vez mais detalhados e intrusivos, ignorando o "o modo como, pela lei das consequências não planejadas, a solução de um problema pode ser o início de outro". Scruton dá como exemplo a determinação de que o abate de animais na UE se faça na presença de um veterinário. 

O objetivo: remover da cadeia produtiva os animais doentes, possivelmente impróprios para o consumo. O resultado: onde o diploma de veterinário é difícil de obter, e o profissional, portanto, é muito bem remunerado, pequenos abatedouros se viram obrigados a fechar, pondo em dificuldades também os pequenos criadores.


Um corolário da falácia do planejamento é o inchaço da máquina pública. É sintomático que Dilma, uma notória "planejadora", tenha levado o primeiro escalão a abrigar 39 ministros, incluindo o da Pesca, para, segundo informou recentemente a presidente, não descuidar da tilápia. A falácia reside na crença de que um exército de iluminados tenha soluções, de canetada em canetada, para todos os problemas do país. E é grande o apelo desse falácia.


 "Todo mundo quer empurrar seus problemas para o estado, com a certeza de que há um plano para sua sobrevivência que não exija esforços de sua parte", afirma Scruton a VEJA. "Como digo em meu livro, não há como convencer as pessoas a abrir mão dessas falácias, e só um desastre pode momentaneamente incutir a verdade em suas mentes."

Eu tenho um sonho - A campanha eleitoral brasileira parece uma coleção das falácias analisadas por Scruton. Uma delas é particularmente recorrente: a utopia, uma visão de futuro em que os homens terão superado suas diferenças e resolvido todos os problemas. Marina Silva, a presidenciável do PSB, tem o discurso mais utópico da corrida presidencial – já se definiu como 'sonhática', por oposição aos políticos 'pragmáticos', e acredita que seu eventual governo poderia atrair os melhores quadros dos partidos brasileiro, incluindo os arquirrivais PT e PSDB.

Claro, a mobilização política terá sempre um forte acento otimista — Martin Luther King não teria feito história se, em vez de um sonho, tivesse apenas uma sugestão a dar... A falácia da utopia, contudo, vai bem além disso: acena, não com dias melhores, mas com o fim de todos os males. É uma promessa, por definição, irrealizável. 


Como o eleitor pode se precaver contra esse tipo de ilusão? "Não é fácil. Ninguém vota em pessimistas. Ainda assim é possível distinguir os políticos realistas – aqueles que reconhecem os problemas e estão preparados para encará-los, como Margaret Thatcher e Winston Churchill. Mas, claro, dependemos de uma cultura de seriedade e responsabilidade", diz Scruton. "Isso existe no Brasil?"

Pior não fica - A reportagem informa Scruton da existência do palhaço Tiririca, o deputado mais votado em 2010, candidato à reeleição em 2014, cujo slogan é "pior do que está não fica". É possível cultivar um pessimismo "esclarecido", sem sarcasmo, sem desistir da política? "Sim, é possível", responde Scruton. "Mas é mais provável que isso ocorra durante uma crise nacional, quando as pessoas precisam de liderança e por isso irão procurar qualidades morais, realismo e coragem nos políticos. 


O sarcasmo pode ser bem-sucedido em tempos de paz e riqueza, mas não em tempos de conflito e privação. O fato de que políticos no Brasil sejam vistos como piada sugere que as coisas no Brasil não estão tão mal."


As armadilhas do progresso - Expoente do pensamento conservador, Scruton dá especial atenção às armadilhas do "progressismo". O filósofo considera enganoso estender o entendimento que se tem do progresso na ciência a outras áreas. Que a ciência avance, por acumulação de conhecimento, é inegável. Mas é "questionável acreditar, por exemplo, que haja progresso moral contínuo, que avance à velocidade da ciência", escreve. Em um país na 79ª posição no ranking do Desenvolvimento Humano das Nações Unidas, contudo, "progresso" é palavra de ordem no debate político. 


Como países emergentes devem lidar com a necessidade de se desenvolver, sem ceder às falsas esperanças? Scruton não é contra o progresso, é claro, mas lembra que algumas mudanças acontecem para pior. "Acho que é sempre necessário considerar o que as pessoas têm e aprender a dar valor a isso. Não virar as costas ao passado, aos costumes e às instituições que são a medida da felicidade das pessoas", diz. "É também necessário reconhecer o custo do progresso, em termos de prejuízos ambientais, migrações e desagregação das famílias. É necessário enfatizar esses aspectos para lembrar as pessoas das boas coisas que elas podem perder."


As armadilhas da igualdade - Uma das ciladas do otimismo inescrupuloso é o que Scruton chama de "falácia da agregação", que o filósofo ilustra com o seguinte exemplo: uma pessoa pode gostar de lagosta, chocolate e ketchup, mas isso não significa que deva combinar os ingredientes no mesmo prato. Para o filósofo, o lema da Revolução Francesa incorre na mesma falácia: só se promove a igualdade às custas da liberdade. 


Como países ainda tão desiguais como o Brasil devem enfrentar a questão? "É justo lutar pela igualdade quando as desigualdades, de modo manifesto, dividem e ameaçam a ordem social", responde Scruton. "Mas é errado acreditar que se pode perseguir a igualdade e a liberdade ao mesmo tempo. Para que haja uma sociedade mais igualitária, é preciso conter ambições e garantir que a renda seja distribuída, mesmo contra a vontade dos contribuintes."


Fantasias convenientes - Embora disseque todas as falácias do otimismo desmedido, Scruton não tem esperança de que "otimildos" recuem de suas ilusões. Ao contrário, eles se voltarão contra seus críticos e seguirão com suas fantasias convenientes, e com energia renovada, bradando por mais progresso, novos planos, mais belas utopias. 


Para tanto, recorrerão a diversos "mecanismos de defesa contra a verdade", afirma Scruton, como a inversão do ônus da prova e a transferência de responsabilidades. Como esses truques podem ser tão eficientes? "Nós todos evitamos a realidade quando ela é inconveniente. A verdade é uma disciplina difícil. É importante que cada sociedade acomode instituições - locais de debate, think tanks, universidades - onde a liberdade possa ser buscada a todo custo", diz. "Enquanto houver liberdade de expressão e de opinião, a verdade pode ser dita e, gradualmente, infiltrar-se na opinião pública. Mas isso leva tempo e é necessário que as pessoas aprendam a respeitar os que dizem a verdade."

Recomendados para você

Eleições 2014 Marina tem 38,9% no DF; Dilma e Aécio empatam

Diario do Poder

Pesquisa aponta Marina à frente no DF; Dilma tem 19,1% e Aécio, 17,2%
Publicado: 19 de setembro de 2014 às 0:15

Marina Silva Aecio Neves Dilma Rousseff copy
Marina Silva (PSB, Aécio Neves (PSDB) e Dilma Rousseff (PT)

Nova pesquisa realizada no Distrito Federal entre os dias 14 e 16 de setembro prevê vitória expressiva da candidata do PSB à Presidência, Marina Silva, que aparece com 38,9% das intenções de voto, seguida pela candidata do PT à reeleição Dilma Rousseff, com 19,1%. 


O candidato Aécio Neves (PSDB) é o terceiro colocado com 17,2%, mas está em empate técnico com Dilma de acordo com a margem de erro de 3,09%.

Luciana Genro (PSOL) e o Pastor Everaldo (PSC) têm 1% das intenções de voto no DF. Eduardo Jorge, do PV, marcou 0,3%.

Entre os jovens de 16 a 24 anos, a margem de Marina atinge os 41,5%, o dobro das intenções de voto para Dilma ou Aécio, nessa faixa etária.
A pesquisa no DF, registrada na Justiça Eleitoral sob o nº BR-00716/2014, foi realizada pelo Instituto O&P Brasil, com mil entrevistas. 


Leia na Coluna Cláudio Humberto.

Campanhas de PT e PSDB apostam na TV e Web na reta final da eleição


Eleições 2014
Na reta final da eleição, PT e PSDB apostam na TV e Web

Publicado: 21 de setembro de 2014 às 12:07

Erbs Jr-Fabio Rodrigues Pozzebom ABr - Aecio Neves Dilma Rousseff copy
Aécio Neves (PSDB) e Dilma Rousseff (PT).

São Paulo - A menos de 20 dias do primeiro turno das eleições presidenciais e com um cenário de volatilidade nas pesquisas de intenção de voto, as campanhas dos candidatos do PT, Dilma Rousseff, e do PSDB, Aécio Neves, decidiram apostar na divulgação de seus programas de governo em “doses homeopáticas”, nos programas do horário eleitoral gratuito, principalmente na TV, e na internet. A perspectiva é que, dependendo da dinâmica dos próximos dias, o anúncio dos programas pode não ocorrer antes do primeiro turno.

A justificativa dos adversários do PT e do PSDB é a mesma: o receio de que a divulgação formal do programa de governo, como fez a candidata do PSB, Marina Silva, possa abrir um flanco para ataques que poderiam prejudicar as duas candidaturas neste momento decisivo da corrida ao Palácio do Planalto. 

Por isso, a alternativa de apresentar as propostas na TV e nas plataformas web.

A tática já foi colocada em prática por petistas e tucanos. Nesta semana, por exemplo, uma das inserções de Dilma no horário eleitoral de televisão foi praticamente toda reservada para as propostas para diminuir os custos das pequenas e microempresas e para reduzir a burocracia. Aécio Neves também segue na mesma linha e já apresentou, por exemplo, medidas como a diminuição da maioridade penal e a criação do Ministério da Segurança Pública.

O comitê pela reeleição da Dilma tem o diagnóstico de que a candidatura de Marina Silva começou a sofrer um processo de “desconstrução” depois da divulgação de um programa de governo considerado falho. Um dia depois de lançar seu plano, Marina recuou na defesa de bandeiras da causa dos homossexuais que constavam na primeira versão do texto e, desde então, tem sido atacada por trechos do documento que sugerem menos protagonismo para os bancos públicos e, de acordo com o PT, relegam o pré-sal ao segundo plano.

Além disso, segundo fontes que participam da elaboração dos cadernos setoriais da campanha de Dilma, alguns temas estão passando por uma revisão interna dentro do comitê. O ministro das Relações Institucionais, Ricardo Berzoini, por exemplo, foi encarregado de promover ajustes nas propostas para trabalho e emprego. Apesar de a presidente Dilma já ter declarado que não haverá o lançamento de um programa de governo unificado em texto, setores do PT defendem que haja, sim, a publicação de um documento, nem que seja apenas no segundo turno.

Apesar de atuarem em campos opostos, o diagnóstico no comitê do candidato do PSDB é o mesmo do PT. Questionado sobre o lançamento de seu programa de governo, Aécio diz apenas que “vai sair, e que não será escrito a lápis”, numa alusão aos problemas enfrentados por Marina. Apesar dos adiamentos, a equipe de coordenação do programa de Aécio segue trabalhando com a perspectiva de que ele poderá ser lançado “na semana que vem”. 

Indagado sobre o fato de que “a próxima semana” já vem sendo anunciada há quase um mês, um dos coordenadores disse ao Broadcast Político, serviço em tempo real da Agência Estado: “O programa já está elaborado, mas quem define o dia do lançamento é o Aécio.” (Elizabeth Lopes e Vera Rosa/AE)

Justiça Eleitoral tira do ar site informativo do governo do DF

Diario do Poder
Assessoria do governo do DF afirma que o PT nem pôde se defender
Publicado: 20 de setembro de 2014 às 0:17

portal gdf
Portal do GDF, agora “indisponível”

O portal do governo do Distrito Federal está fora do ar por decisão da Justiça Eleitoral, que acolheu representação da coligação liderada pelo candidato a governador Rodrigo Rollemberg (PSB). 


A Justiça entendeu que o site constitui “propaganda eleitoral”, muito embora contenha apenas informações de cunho jornalístico e outras, de utilidade pública.

A coligação liderada pelo governador Agnelo Queiroz (PT), que é candidato à reeleição, vai recorrer da decisão e solicitar que o Portal volte ao ar. 

A assessoria de Agnelo confirmou que a coligação nem sequer foi solicitada a exercer o contraditório.

Conselho de medicina diz que médico baleado em SP não errou na operação


21/09/2014 10h08 - Atualizado em 21/09/2014 10h41


Daniel Forti acusava Anuar Mitre de tê-lo deixado impotente após cirurgia.
Paciente se vingou atirando e ferindo urologista; depois se suicidou com tiro.

Do G1 São Paulo
médico Anaur Mitre (Foto: Reprodução/ Arquivo pessoal)médico Anaur Mitre

O Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp) concluiu que não houve erro na cirurgia feita pelo urologista Anuar Ibrahim Mitre no paciente Daniel Edmans Forti em 2012. A informação foi confirmada neste domingo (21) ao G1 pelo presidente da entidade, João Ladislau Rosa.

Na última segunda-feira (15), Daniel baleou e feriu o médico dentro do consultório dele, na capital paulista, e se suicidou em seguida com um tiro na cabeça. Para a Polícia Civil, o atirador quis se vingar do especialista, que o teria deixado impotente após a operação.

Daniel chegou a denunciar Anuar no Cremesp pela cirurgia. O conselho abriu sindicância para averiguar a acusação de erro médico, mas concluiu que não houve delito ético por parte do urologista. A denúncia foi arquiva em fevereiro deste ano.

"A sindicância concluiu que não houve negligência, imperícia ou imprudência de Anuar e nem dos outros médicos que atenderam Daniel", disse Ladislau Rosa. "Por esse motivo, a sindicância foi arquivada e nem chegou a virar um processo".
Até este domingo (21) Anuar, de 65 anos, continuava internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Sírio-Libanês, com quadro estável, mas sem previsão de alta.

O corpo de Daniel, que tinha 52 anos, foi enterrado na quarta-feira (17) no Cemitério Israelita do Butantã, Zona Oeste da capital. De família judia, ele morava com a mãe num apartamento na região de Higienópolis.

Daniel começou a se tratar com Anuar em São Paulo em 2012, depois de ter sofrido um acidente de moto no Rio de Janeiro. Ele teve o pulmão perfurado, quebrou a bacia e teve problemas na uretra.

Impotente
Na capital paulista, o urologista operou o paciente. Mas devido ao procedimento, Daniel começou a sentir dores no corpo e eventualmente usava muletas para caminhar, o que teria agravado seu quadro depressivo. Solteiro e sem filhos, ele também reclamava de impotência sexual.


Em 2013, Daniel, que antes do acidente exercia a função de médico do trabalho, pediu o cancelamento do seu registro profissional no Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj). De acordo com o Conselho, o motivo não foi informado à entidade. Ele teria desistido da profissão por estar se sentindo inválido após a cirurgia.

"Ele surtou", disseram os amigos de Daniel ao G1 sobre o fato de o paciente ter entrado no trabalho de Anuar, o xingado, sacado uma arma e o baleado na cabeça e no braço direito. O médico sobreviveu aos ferimentos e continua na UTI Hospital Sírio-Libanês, que fica em frente ao seu consultório.

A vítima também é vice-diretor e membro do Conselho Consultivo do Instituto de Ensino e Pesquisa do hospital onde está internado. Anuar teve traumatismo crânio encefálico e fratura no braço. Há o risco de ele ter sequelas na visão, já que teria sofrido uma lesão próxima ao olho direito.
Daniel Forti (Foto: Reprodução / Cremerj)Daniel Forti (Foto: Reprodução / Cremerj)
Suicídio
Após balear Anuar, Daniel pegou o revólver calibre 38 e atirou contra a própria cabeça, morrendo no local.

A polícia registrou o caso dos tiros contra o urologista e a morte do paciente como tentativa de assassinato seguida de suicídio. A investigação é feita pelo 4º Distrito Policial, Consolação, em São Paulo.

Os investigadores vão requisitar os prontuários médicos de Daniel na clínica de Anuar para tentar confirmar se o paciente quis mesmo se vingar do médico que o operou.

Entre as pessoas que já foram ouvidas pela polícia estão a secretária de Anuar e o irmão de Daniel. Os policiais ouviram, entre outras coisas, que o paciente ligava insistentemente para o consultório, reclamava do tratamento pós-operatório, tomava remédios controlados contra depressão e pensava em se suicidar.

Dos objetos apreendidos pelos peritos da Superintendência da Polícia Técnico-Científica de São Paulo no consultório onde Daniel atirou em Anuar estão duas armas e uma faca.

Uma pistola e uma faca também foram encontradas no mesmo local. Os policiais querem saber se elas estavam com Daniel ou eram de Anuar. Para isso, pretendem ouvir o urologista no Sírio assim que ele for liberado pelos médicos para falar.

Dias Toffoli: "O uso do Alvorada é uma vantagem indevida"




O presidente do TSE diz que a presidente Dilma Rousseff, ao usar o Palácio da Alvorada como cenário de entrevistas e de sua propaganda eleitoral, infringe a legislação

GUILHERME EVELIN
19/09/2014 21h25

UM JUIZ E AS BRECHAS DA LEI Dias Toffoli, no TSE. Ele diz que a Lei da Ficha Limpa tem uma qualidade técnica ruim (Foto: Diego Bresani/ÉPOCA)



Aos 47 anos, o ministro José Antonio Dias Toffoli está com a grave incumbência de presidir o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) nestas eleições gerais. Cabe ao TSE gerir o processo eleitoral e decidir sobre os litígios que envolvem os candidatos na disputa. Antes de chegar à magistratura, Toffoli foi advogado eleitoral do PT e advogado-geral da União, no governo Lula. Ele diz que esse tipo de relação, comum na biografia de outros ministros, não impede os integrantes do Tribunal de agir com isenção e independência. Na prática, Toffoli demonstra essa atitude com decisões que já contrariaram a campanha da presidente Dilma Rousseff.


ÉPOCA –  A presidente Dilma Rousseff dá esporádicas entrevistas  para a imprensa, afora curtas declarações no dia a dia. Nesta campanha, ela passou a dar entrevistas todos os domingos no Palácio da Alvorada, já usado também para seu programa eleitoral na TV. Esse uso de um imóvel público não a coloca em vantagem em relação a outros candidatos?

José Antonio Dias Toffoli –
Sobre as entrevistas nos finais de semana no Palácio da Alvorada, não me manifestarei porque, até onde sei, não houve representação ao TSE. 



Em outros casos de uso do Alvorada, como uma entrevista pelo Facebook dada por ela, votei a favor da procedência da representação, para impedir que isso ocorra novamente, e da aplicação de multa. Usar símbolos de poder num ato de campanha é algo que a legislação não permite. A biblioteca do Palácio da Alvorada, no meu entender, é um símbolo de poder. Para falar de suas obras e projetos, ela dispõe do horário eleitoral gratuito e dos comícios, das carreatas e das reuniões públicas. 

Outra coisa é usar os locais próprios do Estado como um símbolo que a diferencia dos outros candidatos. Essa é uma vantagem indevida. A Justiça Eleitoral, quando se trata de prefeitos, age para impedir esse uso de bens públicos. Não podemos ter aqui uma jurisprudência que, quando se trata do pequeno, seja rígida e sancionatória e, quando se trata do grande, seja flexível.

ÉPOCA –  Esse tipo de vantagem e outras possibilidades de uso da máquina pública explicam esse crescente movimento de políticos a favor do fim da reeleição?

Dias Toffoli –
O instituto da reeleição veio dar uma estabilidade maior à Presidência da República. Ao estudar a história do Brasil, podemos verificar que todos os presidentes eleitos pelo voto popular, mesmo aqueles que exerceram o cargo em momentos de autoritarismo, tiveram grandes dificuldades de governança. A possibilidade de reeleição deu uma musculatura maior à Presidência. 



Para usar uma expressão popular, a reeleição aumenta o potencial de que “o café não esfrie tão cedo”. Se um presidente tem quatro ou cinco anos de mandato, com dois anos e pouco, o café que lhe é servido logo fica frio. Se há a perspectiva de reeleição, as pessoas passam a respeitá-lo mais, porque sabem que ele poderá permanecer no poder. Do ponto de vista institucional, isso é positivo. 


Como vemos na atual campanha presidencial, a reeleição, por si só, não garante um segundo mandato. O candidato à reeleição carrega o bônus e também o ônus do cargo. Tem de responder pelo que não fez. A presidente Dilma enfrenta agora dificuldades que ela, como candidata em 2010, não enfrentou, porque há um desgaste natural quando um determinado grupo passa muito tempo no poder.

ÉPOCA – Por que o senhor defende o fim da reeleição para prefeitos? 

Dias Toffoli –
Qual a diferença entre a reeleição para prefeitos e a reeleição para a Presidência da República? O Brasil é uma federação e não tem uma elite nacional. A elite de Brasília passa pela Esplanada dos Ministérios, mas não fica aqui. Fernando Henrique Cardoso passou por aqui. 



Lula passou por aqui.  Itamar Franco passou por aqui. Alguns conseguem ficar 60 anos, como José Sarney, mas porque se unem numa federação de elites regionais que se autoajudam. Essa é a dificuldade para o Brasil ter partidos efetivamente nacionais. É mais fácil você reunir interesses comuns numa bancada ruralista, evangélica ou do movimento LGBT do que fazer composições entre partidos que votem de maneira igual. Por isso, a instabilidade, em nível federal, é muito maior. 


Quando você fala de uma prefeitura, não há essa instabilidade, porque as elites locais estão lá presentes. Quando um determinado grupo assume o poder numa prefeitura, a possibilidade de reeleição alimenta fortemente a possibilidade de perpetuação desse grupo. Quando não havia a reeleição, o prefeito colocava a mulher ou o filho no lugar. Você tem de criar sistemas para impedir isso. A Justiça Eleitoral, na questão dos parentes, aplica com rigor a inelegibilidade para evitar essa perpetuação.

ÉPOCA –  Qual é o abuso mais comum na reeleição em disputa nos municípios?


Dias Toffoli –
No caso da reeleição de prefeitos, o número de compra de votos e uso da máquina é muito grande. O grande mal da cultura política brasileira continua a ser a compra de voto e sua troca por dinheiro, emprego, cesta básica. A Justiça Eleitoral já cassou centenas de vereadores, prefeitos, até senadores da República e governadores por esse tipo de fraude.


"Joaquim Barbosa renunciou ao TSE. Talvez, ele não tenha gostado da Justiça Eleitoral. Eu gosto"
 
Dias Toffoli
ÉPOCA – Estas são as primeiras eleições gerais em pleno vigor da Lei da Ficha Limpa. Mas proliferam casos esdrúxulos, como o ocorrido em Brasília, onde o ex-governador José Roberto Arruda, antes de renunciar, continuou a fazer campanha mesmo com a candidatura impugnada . Por que isso ocorre?

Dias Toffoli –
É um direito constitucional de defesa. Enquanto um candidato se defende, ele não pode ser tirado da propaganda política, porque, no futuro, se viesse a obter o direito de ser candidato, não teria como voltar no tempo.


ÉPOCA – Mas não há falhas na lei, de que alguns candidatos impugnados se aproveitam?

Dias Toffoli –
A Lei da Ficha Limpa foi bem-intencionada, mas a rapidez com que foi aprovada pelo Congresso, em menos de um mês, fez com que tivesse uma qualidade técnica ruim. Ela poderia ter sido mais bem elaborada. Nos casos de condenação por improbidade ou pelo Tribunal de Contas, a lei diz que é necessário que seja comprovado o dolo do candidato, para que ele seja impugnado. Isso abriu uma brecha, que antes não existia.É importante esse registro porque, às vezes, a sociedade pode se perguntar por que Fulano A foi declarado inelegível, e Fulano B, que no imaginário popular é até pior, não. É porque a Lei da Ficha Limpa, na rapidez com que foi deliberada, em alguns casos, acabou sendo mais mole que a lei anterior.


ÉPOCA – Na disputa presidencial, há muita campanha negativa, com troca de acusações e pedidos de direitos de resposta. Como a Justiça Eleitoral deve agir para separar a inverdade do debate legítimo?

Dias Toffoli –
Você não deve permitir nem mentira deslavada nem a calúnia. As críticas não podem avançar além desses parâmetros. Essas eleições vão até com bastante calma. É a sétima eleição presidencial desde a redemocratização e, no dia a dia das cidades, nem parece que há eleição. Felizmente, as leis e a atuação da Justiça Eleitoral acabaram com aquela sujeirada que eram as campanhas, com cartazes, colagens e outdoors feios. As discussões também se dão mais no nível das propostas. Isso mostra um amadurecimento cada vez maior da democracia brasileira.  Quando as discussões vão para um nível mais baixo, a população reage e não gosta.


ÉPOCA – O TSE é um tribunal peculiar, porque é composto de ministros do STF e do STJ, mas também por advogados que já atuaram na defesa dos partidos políticos. O senhor mesmo foi advogado do PT antes de entrar para a magistratura. Isso não cria um conflito de interesses?

Dias Toffoli –
José Paulo Sepúlveda Pertence presidiu o Supremo por duas vezes e foi advogado do Lula. Nelson Jobim presidiu a campanha de 2002. Um ano antes, ele teve, como padrinho de casamento, José Serra, que disputou a eleição com Lula. Nem o fato de o Lula ter tido um advogado no passado que se chamava José Paulo Sepúlveda Pertence nem o fato de José Serra ter sido padrinho de casamento e amigo de Nelson Jobim fizeram com que nenhum dos dois decidisse algo X ou Y em razão dessas relações. Hoje, o TSE tem a mim, que fui advogado-geral da União no governo Lula e, como vice-presidente, o Gilmar Mendes, que foi advogado-geral da União no governo Fernando Henrique Cardoso. Estamos aqui todos para julgar de acordo com as leis do país, com total isenção e independência.


ÉPOCA – O ex-presidente do STF Joaquim Barbosa já criticou a presença dos advogados na composição do TSE...

Dias Toffoli –
O ministro Joaquim Barbosa renunciou a um mandato aqui no TSE. Talvez, ele não tenha gostado da Justiça Eleitoral. Eu gosto. Os advogados, da mesma forma, são totalmente independentes e isentos. Até porque voltam ao mercado e não podem voltar estigmatizados. A presença desses advogados como juízes é fundamental para a Justiça Eleitoral, porque todos estão aqui de passagem. Há de ter alguém com a memória, a história das decisões e da jurisprudência. Só quem atua aqui continuadamente tem esse conhecimento.