segunda-feira, 5 de maio de 2014

Por uma direita menos fofoqueira

fofoca

Imagine que você tenha se tornado um exímio debatedor, desenvolvendo alta capacidade de identificar estratagemas adversários. Mesmo que a identificação de engodos tenha sido um conhecimento suportado pelos guias de falácias, o conhecimento da Dialética Erística, de Arthur Schopenhauer, tornou-se seu diferencial para debates. Sua capacidade de identificar mudanças de modo, ampliações indevidas, homonímias sutis e outras formas de truque é elogiada por todos que acompanham seus debates.

Tudo vai bem até o dia em que você descobre que Schopenhauer cometeu uma falha moral grave. Ele tinha o costume de levar suas amantes para a pensão onde morava. Uma senhora costureira que morava por lá, Caroline-Louise Marquet,  tinha a mania de espionar seus encontros. Irritado com isso, Schopenhauer certo dia atirou Caroline escada abaixo. Por causa disso, teve que pagar uma pensão vitalícia para a costureira.

Tomando o que ele fez como anti-ético, já que seu sistema moral não admite agressões a mulheres, você passa a rejeitar o conhecimento adquirido por Schopenhauer. Toda vez que você vence um debate, pela identificação da dialética erística, se sente culpado. Como pode você confiar em Schopenhauer depois dele ter agredido Caroline?

Mesmo que você possa, com muita razão, tomar essa situação por absurda, é preciso reconhecer uma verdade amarga: atualmente, alguns representantes da direita estão se comportando exatamente desta forma. Estamos diante de um fenômeno comportamental tão bizarro que chega a levantar suspeitas de financiamento de esquerda para esse tipo de iniciativa.

Dois casos gritantes são os ataques sofridos por Olavo de Carvalho e, agora, por David Horowitz. Sei que o segundo é norte-americano, mas como os ataques respingaram neste site (que é norteado pelos princípios da arte da guerra política de Horowitz) o fenômeno pode ser tratado tanto quando avaliamos o caso de Olavo como o do Horowitz.

No caso de Olavo, surgiu um site chamado Prometheo Liberto, que tem por principal objetivo tentar assassinar a reputação do filósofo brasileiro. Por sorte o trabalho é tão tacanho e amador que não chega a causar sequer arranhões.  O nível da baixaria é tamanha que certo dia Carlos Velasco (um dos líderes dessa tropa) surgiu com uma “revelação arrebatadora”: ele teria conseguido provar que foi aluno de Olavo de Carvalho, enquanto este último negava o fato. 

Claro que as afirmações de Velasco continham provas duvidosas, mas, supondo, a título de argumento, que ele falasse a verdade. Qual a relevância dessa informação em termos de validação tanto da filosofia como da análise política feita por Olavo? Nada. Nenhuma. Neca de pitibiriba.
No caso de Horowitz, a coisa é ainda pior. 

Um texto de Jeffrey Nyquist, publicado no Mídia sem Máscara, tem uma tese central: David Horowitz jamais deixou de ser comunista. O fato é que não são apresentadas provas nesse sentido. Horowitz é atacado por ter sido um crítico cruel do livro Americal Betrayal, publicado por Diana West. Veja um exemplo da falta de lógica de Nyquist no trecho abaixo:
Se for para lembrar qualquer coisa dessa controvérsia, lembre pelo menos que Horowitz disse: “Mas eu não ataco as pessoas da direita”. Como, então, ele explica a publicação de um ataque total à reputação da Sra. West? Ele disse pessoalmente que o método da Sra. West é desleixado e que seu livro jamais deveria ter sido escrito. 
Onde que atacar a obra de uma pessoa se torna um ataque à esta pessoa? Recentemente, eu avacalhei um texto de Luis Felipe Pondé. Mesmo assim, eu jamais o ataquei politicamente. Pode até ser que eu tenha feito críticas em termos de sua estratégia política, mas jamais um ataque em prol de aniquilá-lo politicamente. (E quando Horowitz fala em ataque é disso que ele trata, o que deveria ser fácil de reconhecer pelas obras do autor)

Quando Nyquist toma as críticas de Horowitz como um ataque à Diana West é claro que está procurando pêlo em ovo a partir de uma picuinha injustificada. Principalmente quando Nyquist transforma essa picuinha em um ataque frontal à Horowitz, tentando vendê-lo ao público como “agente infiltrado comunista, com intenção de perverter cabeças inocentes da direita”. Golpe sujo, no mínimo.

Nos dois casos, vemos a busca de elementos irrelevantes (Olavo dizendo que Velasco não foi seu aluno, enquanto este alega que foi; Horowitz criticando duramente o livro de uma direitista, o que, segundo Nyquist, não poderia ocorrer) para tirar o valor da obra de dois autores fundamentais para a direita. Hoje em dia, especialmente no Brasil, se for para entrar em campo sem conhecer o básico do que Olavo de Carvalho estudou sobre a esquerda, melhor nem começar. Em um nível global, o não conhecimento dos princípios da arte da guerra política (documentados por Horowitz) já garante logo de cara vantagem automática ao seu adversário.

Eu gosto de pensar mais por dinâmicas do que avaliar eventos isolados. Veja a dinâmica de ambos os casos:
  • Nós temos autores de direita que revelaram para o seu público muita coisa que a esquerda não queria que eles revelassem
  • Ambos os autores aniquilam ingenuidades de seu público, o que é algo que a esquerda teme mais do que o diabo teme a cruz
  • Nos dois casos, é muito difícil atacar o corpo de conhecimentos gerado por esses autores, pois este corpo de conhecimento é facilmente testável no mundo real, dando resultados
  • Diante dessa constatação anterior, elementos irrelevantes (que não maculam a obra dos autores) são usados para tentar assassinar suas reputações
  • O discurso geralmente se acompanha de técnicas lançando desconfiança não apenas contra os autores, mas contra aqueles que usam o conteúdo desses autores (“Podemos confiar em quem lê Olavo ou Horowitz?)
Não é preciso de muito tutano para saber que esse tipo de tática só serve para ajudar a esquerda. Não serei irresponsável a ponto de dizer que essa turma recebe dinheiro de esquerdistas – até por que não quero incorrer no mesmo erro deles. Eles podem ser ingênuos, loucos, desfocados e despolitizados também. Sinceramente não me importa.

O que importa é que precisamos de um antídoto para lidar com esse tipo de gente. Uma coisa que pode funcionar é fazer questionamentos incisivos, como:
  • Isso que você falou impacta na filosofia de Olavo em quê?
  • Isso que você falou inviabiliza métodos de Horowitz aonde?
  • Em relação aos autores, seu discurso propõe métodos de superação ou até melhorias?
Caso as respostas não sejam convincentes, o que temos são apenas “Marias Fofoqueiras”, que não agregam valor algum ao debate. E notar isso é importantíssimo, pois o que a direita mais precisa são de denúncias sobre a esquerda e métodos para derrubar a esquerda. Mas se um sujeito vem atacar quem fornecer essas denúncias/métodos e não agrega valor algum a esse tipo de debate, o que ele está trazendo? Nada mais que ad hominens para destruir a reputação daqueles que produzem algo de útil para a direita. Se for assim, a única alternativa é tratá-los como fofoqueiros. 

Até por que o que importa em qualquer autor é o que ele produz intelectualmente, e não seu comportamento particular.

Por isso mesmo, a partir de agora este blog tratará qualquer ataque a Olavo de Carvalho e David Horowitz que não esteja relacionado à filosofia, lógica e métodos utlizados por estes autores como se fosse fofoca de baixo nível. E, como tal, a ser descartada de forma simples: “Aqui não temos tempo para fofocas. Ou refutam-se argumentos e métodos ou então vá procurar outro lugar de baixo nível!”

(Em tempo: essa “direita fofoqueira” obviamente não representa a direita, mas uma parcela dela. É apenas esta parte da direita o objeto deste texto)


Se eu votaria em Jair Bolsonaro para presidente? Sim, mas…

Jair-Bolsonaro


Parece que a pergunta “bola da vez” é saber se nós, blogueiros de direita, votaríamos ou não em Jair Bolsonaro. Me fizeram essa pergunta no Facebook no mínimo uma meia dúzia de vezes. É o momento de eu abordar a questão aqui.

Que eu saiba, Rodrigo Constantino foi  bastante criticado por não concordar com a idéia de Jair Bolsonaro ser presidente do Brasil. Não é por esse motivo que minha opinião é bem diferente da dele. É por questão de coerência em relação aos meus princípios mesmo.

Em suma, se eu votaria em Jair Bolsonaro para presidente? Muito provavelmente, embora eu ficasse indeciso entre votar nele e Denise Abreu, com predileção por esta última, especialmente por estar mais preparada para os meandros do combate político.

Mas vamos tomar como hipótese que eu não estivesse indeciso e decidisse votar em Bolsonaro. Antes, quero dizer que eu concordo com Constantino em relação à objeção que ele fez em relação ao fato de Bolsonaro apoiar vários cânones do culto ao estado inchado.

Entretanto, sua oposição ao PT e aos socialistas é digna de mérito. O mesmo vale por suas posições contra os exageros do movimento LGBT e daqueles que adoram a impunidade de menores. Isso para mim já é motivo para votar nele. Ou ao menos colocá-lo na lista de votação.

Porém, há um detalhe: uma coisa é o que eu faria no momento de escolher o candidato para votar, outra completamente diferente é o que Jair Bolsonaro faria se fosse candidato.

Entendo-o como um sujeito íntegro e não concordo com algumas de suas ideias. Ele é um conservador e eu um liberal. Mas eleições não se vencem apenas com integridade, mas também com estratégia política. Isso não significa defender o abandono de seus valores morais, mas entender o jogo político por trás das eleições para enfim existir uma chance de se obter um resultado efetivo.

Acho que Bolsonaro seria uma vítima perfeita para as raposas da política, especialmente aquelas da extrema-esquerda. Não o vejo capaz de se desviar do amontoado de estratagemas que estas pessoas lançam. Um exemplo claro está em como ele foi uma vítima fácil de Rafinha Bastos no programa deste último.

E olhe que Rafinha é um esquerdista com inteligência muito, mas muito limitada. Imagine diante de uma víbora com três dígitos de QI? Não estou questionando a inteligência de Bolsonaro, mas sua perspicácia em termos de guerra política.

Para que a direita seja bem representada por um candidato, é preciso que este saiba controlar o frame, manter uma postura combativa, saber ser pragmático em suas propostas (sempre pendendo à direita, naturalmente) e daí por diante. Para isso, é preciso, antes de tudo, de um pensamento orientado à estratégia política.


Eu particularmente duvido muito que Bolsonaro consiga se desvencilhar das artimanhas lançadas contra ele. Será que ele conseguiria aprender guerra política em três meses? Nesse caso, com certeza eu mudaria de ideia e apoiaria sua candidatura. Mas acho improvável. Assimilar os conceitos da guerra política não é algo que se faz do dia para a noite. Falamos de uma mudança de mindset e até mesmo da percepção em relação ao mundo que nos rodeia.

Se Bolsonaro conseguir fazer isso em um trimestre, me surpreenderá. (Eu demorei mais de um ano para assimilar em termos subconscientes a nova forma de visualizar a política, por exemplo.)

No fim das contas, é melhor até para o próprio Bolsonaro que ele não seja candidato à presidência. E, é claro, para a própria direita. Um esmagamento público praticado por aves de rapina usando todas as estratégias possíveis contra ele atingiria não somente Bolsonaro, como também à toda direita.

Por isso, mesmo que eu pense em votar nele (dependendo da possibilidade do voto nele não atrapalhar oponentes de Dilma para levar a eleição para um segundo turno), não gostaria que ele fosse candidato.

Dilma, a amiga do torturador



A Human Rights Watch não é, como gostariam de pensar alguns cretinos, uma entidade “de direita”. Costuma apontar violações de direitos humanos sem olhar a coloração ideológica de quem está no poder. E o faz depois de entrevistar vítimas, apurar detidamente os casos, investigar enfim. Agora resta evidente: há tortura sistemática na Venezuela e violação deliberada dos direitos humanos. Já sabíamos disso. VEJA publicou no mês passado uma eloquente reportagem com depoimentos dos torturados. 

Pois bem: o Judiciário da Venezuela é cúmplice da tortura, e o governo brasileiro, que empresta apoio integral ao torturador Nicolás Maduro, também. Agressões a direitos fundamentais não são novidade no país. Foi uma constante durante todo o governo de Hugo Chávez. Aos poucos, ele foi minando as estruturas do estado de direito. O passo mais importante foi se apoderar inteiramente do Poder Judiciário. Fiquemos atentos: algo parecido pode estar em curso no Brasil. Mas isso fica para outra hora.Foi com Nicolás Maduro, no entanto, que o regime de força algo mitigado assumiu a sua fuça escancarada. Sob Chávez — afinal, um líder carismático e de fala messiânica —, as milícias armadas ainda estavam submetidas a algum controle. 


Na gestão Maduro, que tem o carisma de um cabo de guarda-chuva velho, o regime perdeu definitivamente a vergonha e a timidez: espanca, tortura e mata.

Em tese ao menos, o Brasil é o líder de um subcontinente chamado América Latina. Tem o maior território, a maior economia, a maior população e deveria ter, também, a voz política mais importante. Mas quê… Ninguém dá bola. Em vez de Dilma Rousseff cobrar de Maduro respeito aos direitos humanos — e, politicamente, ela teria autoridade para isso —, mostra-se conivente com a tortura. 


Isso explica por que a revista americana “Time”, ao fazer a lista das 100 pessoas mais influentes, incluiu o delinquente presidente da Venezuela, mas excluiu a presidente do Brasil. Ou por outra: amiga de torturador tem menos peso do que o próprio torturador. E não custa arrematar lembrando que esta Venezuela que trata adversários no porrete foi levada para o Mercosul por Dilma Rousseff, violando o conteúdo do próprio tratado do bloco econômico, que veta o ingresso de regimes ditatoriais. 

Por Reinaldo Azevedo

Novos documentos da PF indicam que o crime organizado opera na estrutura do Estado



A coisa realmente é de uma graça sem fim. O Labogen, o tal laboratório-fachada de Alberto Youssef, que está em nome de laranjas, importava joias italianas, vinhos, instrumentos musicais etc. É o que apontam documentos revelados pela Polícia Federal. Atenção! 

Os documentos apontam a importação de insumos para a fabricação de remédios. Que mimo! A empresa servia para remeter dinheiro ilegalmente para o exterior e para operar uma sofisticada forma de contrabando. 

Os “clientes” de Youssef compravam suas “mercadorias finas”, repassavam para ele dinheiro em reais, ele adquiria os produtos no exterior, falsificava a importação de remédios e pronto! Tudo chega aqui sem imposto.
Até aí, vá lá. Coisa típica da bandidagem. 

Ocorre que esse dito “laboratório” havia fechado uma parceria com o Laboratório da Marinha e com a gigante EMS para a produção de remédio. Sabe-se que essa biboca não tinha condições de fabricar coisa nenhuma. Como é que o dois outros laboratórios, um privado e outro público, fizeram o acordo?


Sim, um ex-assessor de Alexandre Padilha, que ele trata por “Marcão”, foi contratado para dirigir um suposto laboratório que servia à remessa de recursos para o exterior, contrabando e, provavelmente, lavagem de dinheiro. 

O deputado André Vargas (PR) disse a Youssef que “Marcão” era uma indicação de Padilha. Agora nega. Mais do que isso: o então ministro serviu de testemunha do acordo entre as três empresas. Como é que um grupo criminoso atua dentro do poder com esse desassombro?

A parceria já firmada era de R$ 31 milhões, mas poderia chegar a R$ 150 milhões. E o cliente era o Ministério da Saúde.

Estamos diante de uma evidência: o crime organizado já se infiltrou no Estado brasileiro e opera dentro do poder.


Por Reinaldo Azevedo

Já chegou a hora de o PSB deixar de ser “socialista”!



Vamos ver. A Folha de hoje noticia que o coordenador de comunicação da pré-campanha de Eduardo Campos, Alon Feuerwerker, enviou ao ex-governador um e-mail indagando se há como alterar um trecho do manifesto do Partido Socialista Brasileiro que defende a socialização dos meios de produção e limites à propriedade privada. A reportagem do jornal flagrou a mensagem.

Alon confirma o envio do e-mail e diz que estava apenas retransmitindo uma mensagem que recebeu. Haveria uma campanha na Internet, ou algo assim, dando destaque ao trecho, que estaria sendo usado para desgastar o partido. Trata-se de um texto de 1947. 

Lá se pode ler: “O objetivo do Partido no terreno econômico é a transformação da estrutura da sociedade, incluída a gradual e progressiva socialização dos meios de produção, que procurará realizar na medida em que as condições do país a exigirem”.

Não sei de onde parte a campanha. Sempre que alguém resolver tirar uma bobagem como essa de um manifesto, eu aplaudo. Mas isso não tem a menor importância. Justamente porque não tem, Alon tem razão em sugerir, por meio de uma pergunta, que o trecho seja suprimido.

Dizer o quê? Em 1997,  Tony Blair pôs fim a 18 anos de governo conservador na Inglaterra. Em 1995, na liderança do Partido Trabalhista, ele extinguiu a famosa Cláusula IV, que havia sido redigida em 1917, ano da Revolução Russa, e que compunha o programa do partido desde 1918. O trecho que me parece perfeitamente suprimível do manifesto do PSB é praticamente uma versão em português da tal cláusula, que defendia a propriedade coletiva dos meios de produção.

Não sei de onde parte essa conversa, mas sei a quem interessa fazer a política do medo, não é mesmo? Campos foi governador de Pernambuco. Não se pode dizer que seja um marxista fanático… Quanto ao socialismo, leiam o que diz o Estatuto do PT.


PT socialismo democrático


E agora a carta de princípios:


PT carta de princípios

Chamar o PT de “socialista”, dado o significado dessa palavra, é um disparate. O partido é autoritário e estatizante, e isso é coisa bem diferente. “Ah, é tudo a mesma coisa…” Não é, não! Investir nessa confusão só cria estridência inútil, emburrece o debate e dá ouro para o bandido. Ou o suporte que o partido tem tido ao longo dos anos da indústria e do setor financeiro deriva do seu amor pelo socialismo? Quando se lê errado um problema, a resposta será necessariamente errada. O PSB que suprima logo o tal trecho e vá cuidar do que interessa.

Por Reinaldo Azevedo

Campos e as “diferenças” com Aécio. Ou: Sobre a hora de calar e a hora de falar



Eduardo Campos, pré-candidato do PSB: as diferenças e os cuidados
Eduardo Campos, pré-candidato do PSB: as diferenças e os cuidados


Às vezes, o debate fica meio atrapalhado, e cumpre, se me permitem o neologismo, desatrapalhar. 


Neste domingo, o ex-governador de Pernambuco e pré-candidato do PSB à Presidência, Eduardo Campos, resolveu marcar suas diferenças em relação ao tucano Aécio Neves, no encerramento de um encontro promovido pelo Partido Pátria Livre, ex-MR-8, que, depois da redemocratização do país, passou a ser um braço de Orestes Quércia no PMDB. Doente, o ex-governador se retirou da política já no fim de 2008. Morreu em 2010. 

Em 2009, surgia o Pátria Livre. Adiante. Já que o PSB, afinal, se diz “Partido Socialista Brasileiro”, cumpre, quem sabe?, lembrar a Campos o que dizia Mao Tsé-tung sobre a contradição: existem a fundamental e as secundárias. Creio que, hoje, a contradição fundamental do PSB se dá com o PT — e é nessa frente que vale a pena gastar energias. As diferenças com Aécio são secundárias. 

Transformá-las em tema de debate — e fazer digressões a respeito — interessa, vamos ser claros, àqueles que mantêm contradições fundamentais com ambos: os petistas. Pode ser que Campos esteja sendo levado a marcar essas diferenças pelo grupo marinista. Seria o caso de constatar que, até agora, essa aliança não lhe agregou votos. Isso deve querer dizer alguma coisa.

No encontro do tal Pátria Livre, Campos considerou:

“Assumi um compromisso que não se vai fazer mudança no país tirando direito dos trabalhadores. Hoje, o Ministro Mantega fala nisso e o candidato Aécio também já se posicionou em relação a isso. A questão da maioridade penal é outro exemplo. Eu já deixei muito claro que a questão da segurança é muito mais séria que isso. A maioridade penal é uma cláusula pétrea da constituição. O supremo já se posicionou sobre isso, não tem como mudar. Quem está falando que vai mudar isso, não conhece a decisão da suprema corte do país — disse ele, aproveitando para alfinetar o candidato do PSDB que afirmou recentemente apoiar, em casos especiais, a redução da maioridade penal.”


Vamos, então, pôr as coisas no lugar. Comecemos pela questão trabalhista. O tucano Aécio Neves não defendeu “flexibilização” nenhuma. Quando se referiu recentemente ao tema, falava de um setor específico, o de turismo, que vive uma realidade muito particular. De resto, os trabalhadores do setor privado com carteira assinada chegam a 77,1% num universo de 57,3% de pessoas com idade de trabalhar consideradas “ocupadas”. Esses números são do IBGE e se referem ao quarto trimestre do ano passado.


Logo, há de se convir que existem milhões de trabalhadores ainda na informalidade. Aécio não defendeu a flexibilização, mas a proposta deveria ser abraçada por todos os candidatos. A flexibilidade não é sinônimo de precariedade. Alguns setores, com menos encargos e regras menos rígidas, poderiam empregar mais e formalizar mais as relações trabalhistas. Campos fez, portanto, uma síntese ligeira e superficial do tema, atribuindo, de resto, a seu parceiro de oposição, ainda que em outro partido, um opinião que não tem.


No caso da maioridade penal, está duplamente equivocado. A proposta do PSDB, apresentada pelo senador Aloysio Nunes (SP), mantém a maioridade aos 18 anos, mas confere à Justiça, no caso de crimes hediondos, a possibilidade de responsabilizar um criminoso a partir dos 16. De resto, não é verdade que o Supremo Tribunal Federal já tenha se manifestado a respeito. A informação está errada.  A título de ilustração: na sabatina de que participou no Senado, por exemplo, Teori Zavascki opinou que não se trata de cláusula pétrea.


Na sua intervenção, Campos também acusou o governo de fazer terrorismo eleitoral ao sugerir que, se a oposição vencer a eleição, o Bolsa Família vai acabar. Defendeu ainda “uma regra para o preço dos combustíveis, que leve em consideração o preço internacional e também o custo de produção no nosso país”. E emendou: “Quando o governo toma essa posição, o que isso gera? Tira a Petrobras do trilho em que estava porque precisava de gente comprometida que pudesse fazer a blindagem da interferência política. Quando se desrespeita o planejamento estratégico da companhia e deixa a companhia submetida a interesses politiqueiros, tira dela a possibilidade de saber qual é a receita dela e está condenando a empresa a viver o que ela está vivendo.”


Pois é… Se a questão é terrorismo, Campos pode se preparar: os petistas começarão a acusá-lo hoje mesmo de querer elevar o preço dos combustíveis. A política começa a entrar naquele momento em que calar, às vezes, pode ser tão importante como falar.


Por Reinaldo Azevedo

Atenção, pai! Atenção, mãe. Esse assunto diz respeito ao futuro dos seus filhos.


Em vez de uma escola brasileira à altura de Machado, um “Machado” à baixura da escola brasileira

Atenção, pai! Atenção, mãe. Este assunto parece não ter a importância da possível roubalheira na Petrobras. Parece não ter a importância dos grandes temas da política. E, no entanto, é infinitamente mais importante. Porque diz respeito ao futuro dos seus filhos. Atenção, estudantes! Isso  aqui diz respeito ao país que seus filhos herdarão.

Uma professora chamada Patrícia Secco, informa Chico Felitti, na Folha, decidiu reescrever clássicos da literatura brasileira. Segundo ela, os estudantes se desinteressam de alguns livros porque certas palavras são difíceis. E ela, então, se propõe a reescrevê-los. A primeira vítima será “O Alienista”, de Machado de Assis, a história do médico de loucos que terminou, ele próprio, no hospício.

Infelizmente, a obra de Machado é de domínio público. Não se pode impedir ninguém de fazer essa besteira. O problema é que Patrícia vai assassinar Machado, na prática, com dinheiro público, já que conseguiu apoio da Lei Rouanet, do Ministério da Cultura.

Assim, esta senhora vai reescrever o maior escritor brasileiro com o apoio do estado brasileiro. Haverá uma tiragem de 600 mil livros, a serem distribuídos nas escolas pelo Instituto Brasil Leitor.
 
Ora, literatura não é só o que se diz. Também é como se diz. Uma das funções da escola é ampliar o vocabulário dos alunos. Além de todas as particularidades de estilo, um escritor do fim do século 19 não escrevia e não pensava como um do século 21. Estamos diante de uma violência cultural.

Eis o erro fundamental. Em vez de o governo petista construir uma escola à altura de Machado de Assis, decidiu destruir Machado de Assis para deixá-lo à baixura — sim, a palavra existe! — da escola brasileira.

É o fim da picada! A educação em nosso país é que está no hospício. A educação é que virou coisa de loucos.

Por Reinaldo Azevedo

Fundo Soberano: mais uma enorme trapalhada da equipe de Mantega



Arno Augustin, o “gênio” das finanças públicas.


Uma reportagem na revista Exame mostra o resultado catastrófico do Fundo Soberano do Brasil, criado pelo ministro Guido Mantega há seis anos e administrado pelo Tesouro. Sob a responsabilidade de Arno Augustin, o único que consegue ser ainda pior do que Mantega na equipe econômica, o resultado é um prejuízo enorme aos cofres públicos:

O fundo começou com 14 bilhões de reais, e sua administração foi delegada à Secretaria do Tesouro Nacional, comandada por Arno Augustin. Começava, ali, uma das lambanças financeiras mais impressionantes da história recente do país.

No primeiro ano, os gestores do fundo não fizeram nada do que haviam prometido. O dinheiro ficou, basicamente, parado em títulos públicos brasileiros. Mas em 2010 a criatividade tomou conta do governo federal, que precisava de uma força para financiar a gigantesca capitalização da Petrobras — feita para levantar recursos para a exploração do pré-sal.

A equipe de Arno Augustin comprou nada menos que 12 bilhões de reais em ações da Petrobras. Pagou 29,65 reais pelas ações ordinárias e 26,30 reais pelas preferenciais e passou a ter 3,9% do capital da companhia. Além de não ter absolutamente nada a ver com os objetivos do fundo, esse investimento foi desastroso.

As ações da Petrobras perderam cerca de 40% de seu valor nos dois anos seguintes. Mas foi aí que surgiu o inexplicável. Arno e seus magos das finanças inverteram a lógica mais básica que rege investimentos e decidiram vender tudo. Compraram na alta e venderam na baixa — e jogaram na lata do lixo 4,4 bilhões de reais. Até o fechamento desta edição, ninguém havia sido responsabilizado por isso. 

A revista segue fazendo comparações entre a gestão profissional de fundos soberanos em outros países e essa palhaçada feita pelo PT com o nosso dinheiro. É tudo muito medonho, mas quem ainda fica surpreso? O PT tem o toque de Midas às avessas: tudo aquilo em que ele coloca a mão apodrece.

Rodrigo Constantino

Paulo Guedes a FHC: bem-vindo à boa causa, presidente!




Em sua coluna de hoje no GLOBO, o economista Paulo Guedes dá as boas-vindas a FHC na luta pela boa causa, por uma reforma política que reduza a necessidade de uso de práticas eleitorais e partidárias esquisitas e suspeitas. Fala com base na coluna de domingo de FHC, publicada no mesmo jornal, em que o ex-presidente diz:

Escrevo porque os escândalos que vêm aparecendo numa onda crescente são sintomas de algo mais grave: é o próprio sistema político atual que está em causa, notadamente suas práticas eleitorais e partidárias. Nenhum governo pode funcionar na normalidade quando atado a um sistema político que permitiu a criação de mais de 30 partidos, dos quais 20 e poucos com assento no Congresso. A criação, pelo governo atual, de 39 ministérios para atender as demandas dos partidos é prova disso e, ao mesmo tempo, é garantia de insucesso administrativo e da conivência com práticas de corrupção, apesar da resistência a essas práticas por alguns membros do governo.
[...]
Se, no passado, nosso sistema de governo foi chamado de “presidencialismo de coalizão”, agora ele é apenas um “presidencialismo de cooptação”. Eu nunca entendi a razão pela qual o governo Lula fez questão de formar uma maioria tão grande e pagou o preço do mensalão. Ou melhor, posso entendê-la: é porque o PT tem vocação de hegemonia. Não vê a política como um jogo de diversidade no qual as maiorias se compõem para fins específicos, mas sem a pretensão de absorver a vida política nacional sob um comando centralizado.


FHC toca em alguns pontos importantes, mas ainda ignora o essencial, apontado por Paulo Guedes. O PSDB e o PT “se revezam no poder há cinco eleições presidenciais, com alianças que consideram oportunistas, retrógradas e, conforme acusações recíprocas, visceralmente corruptas”. Por que é assim? Para Guedes, a resposta está no Princípio de Gause: “Esta foi sempre uma guerra de extermínio entre espécies semelhantes – tucanos e petistas – pelo domínio de um nicho ecológico: a hegemonia social-democrata”.

A escalada de gastos públicos estaria no epicentro dos problemas. O prêmio pela vitória nas urnas seria cada vez maior, para controlar 40% do PIB, e para tanto cada um estaria disposto a se unir às “criaturas do pântano”, os políticos fisiológicos e os grupos econômicos oportunistas. “A hipertrofia e o aparelhamento da máquina do Estado são monumentos a essas perversas alianças”, diz Guedes.
Alfinetando o “rei-sol da sociologia nativa”, Guedes não só lembra das práticas não republicanas de seus partidários quando da emenda constitucional que lhe permitiu a reeleição, como insinua a lentidão de FHC para constatar o ponto a que chegamos graças a essa hipertrofia estatal, mesmo com seu “saber da Sorbonne”.

Para jogar a pá de cal definitiva sobre nossos representantes da social-democracia, Paulo Guedes usa Marx: “Enormes somas passando pelas mãos do Estado”: essa seria a razão pela qual o Brasil tem sido condenado “à mais longa sequência de bilionários escândalos políticos da História”. E nem o PT, nem o PSDB, atacaram a raiz do problema.

Paulo Guedes está certo no essencial: o maior problema é mesmo essa hegemonia social-democrata que tem produzido essa hipertrofia estatal. Falta uma alternativa liberal na política nacional. Mas creio que esteja equivocado nos detalhes, e o diabo está nos detalhes.

Tucanos e petistas podem até ser classificados como bichos de espécies semelhantes quando se trata de ideologia, mas há tantas diferenças que talvez seja mais correto separá-los em grupos bem distintos. Até mesmo dentro de uma só espécie pode haver diferenças gritantes. Tanto o cachorro como o chacal são da espécie de mamíferos canídeos, e que diferença! O mesmo vale para PT e PSDB.

A começar pelo viés autoritário. O PSDB não enaltece a ditadura cubana, a mais longa e assassina do continente, nem fica babando ovo do decrépito ditador Fidel Castro ou de seu irmão. Tampouco os tucanos fazem parte do Foro de São Paulo ao lado do que há de pior do ponto de vista ideológico. Não afirma que as FARC são um grupo legítimo, e não terrorista. Não tem nos criminosos do MST um braço armado no campo. Não controla os sindicatos como faz o PT (ou sempre fez). Não adota o bolivarianismo como ideal a ser atingido. Não é e não seria conivente com Maduro, e não destruiria o Mercosul por puro ranço ideológico.

O PSDB também não conta com um aparato trotskista disposto a controlar a imprensa, e FHC nunca tratou a mídia como um “partido de oposição”, como disse Lula recentemente, de forma bastante golpista. Aliás, basta comparar a postura de ex-presidente de FHC com a de Lula, e fica visível o abismo intransponível que os separa no que diz respeito às práticas republicanas. E olha que sou bem crítico a FHC!

Nem preciso entrar no mérito do quadro técnico, da competência de seus economistas, pois comparar Gustavo Franco e Armínio Fraga com Guido Mantega e Arno Augustin é muita covardia, e eu ainda poderia citar outros dez de cada lado, sempre com o mesmo resultado desigual. Não dá nem para o começo.

Poderíamos falar ainda do mensalão, tentativa de golpe a nossa democracia, ou do aparelhamento da máquina estatal feito pelo PT, que nunca foi feito pelo PSDB, ao menos não na mesma magnitude, pois o partido optava por um quadro técnico na maioria dos casos. Nem o STF ficou livre das garras petistas.

Em suma, se Paulo Guedes acerta ao identificar o problema essencial, qual seja, a hegemonia social-democrata e a ausência de uma reforma política liberal que reduza o escopo do Estado, ele erra, a meu ver, ao jogar tucanos e petistas no mesmo saco podre sem fazer a devida distinção. Alguém seria indiferente entre ter um cão de estimação ou um chacal dentro de casa?


O PT é social-democrata apenas nas aparências, pois uma grande ala do partido até hoje flerta com o velho socialismo. E essa ala tem enorme peso interno. Considero, portanto, um erro tratar ambos como se fossem iguais ou mesmo semelhantes. Seria como não enxergar diferenças importantes entre Peru e Argentina, ou entre Colômbia e Venezuela. Os tucanos não são liberais, mas também não são bolivarianos, e isso faz toda a diferença do mundo!


Rodrigo Constantino

Eletrobras: mais uma vítima da ingerência petista



Deu no GLOBO hoje: Ingerência do governo na Eletrobras ajuda a causar rombo de R$ 13 bi desde 2012


A crise no setor elétrico gera, até o momento, duas expectativas ruins e uma “vítima” real. Para o futuro se espera um forte aumento de conta de luz, que poderá ficar ainda mais cara até 2019, e o temor de racionamento. 

No presente, a grande perdedora é a Eletrobras. A estatal, que engloba Eletronorte, Eletrosul, Chesf e Furnas, amarga prejuízos bilionários, recebe valores que não cobrem seus custos, atrasa o pagamento de fornecedores, é obrigada a entrar em consórcios pouco conhecidos e com retorno duvidoso e perde seu corpo técnico. 


Especialistas acreditam que, devido ao prejuízo acumulado em 2012 e 2013, de R$ 13,217 bilhões, a empresa precisará de socorro do governo nos próximos anos. Este ano a conta não deve fechar de novo.


A Eletrobras tem sofrido com a interferência política, usada como braço empresarial para projetos do governo que causaram os atuais desequilíbrios do setor elétrico. Com isso, seu valor de mercado desabou de R$ 46 bilhões, em 2010, para os atuais R$ 11,094 bilhões, queda de 75,89%.


As dificuldades da estatal — cuja direção tem forte ligação com o PMDB, mas que está também sob influência direta da presidente Dilma Rousseff, que vem do setor elétrico — não são poucas nem pequenas. A empresa, que em 2006 estava se preparando para se internacionalizar e crescer, começou a ter problemas quando o governo a obrigou a usar suas subsidiárias para participar dos leilões de construção das usinas de Santo Antônio e Jirau, no Rio Madeira. Desde então, a estatal entra com mais de 40% em todo grande projeto de energia do país.


Apenas mais um caso do “toque de Midas” às avessas do PT, ou, para ser mais preciso ainda, do seu “toque de Mierdas”. A presidente Dilma gostava de se gabar de sua experiência como gestora eficiente no setor elétrico, mas hoje ninguém mais acredita na piada. O setor está em frangalhos, e a principal estatal acumula bilhões em prejuízo. As ações perderam muito valor também:


Fonte: Bloomberg

A recuperação recente se deve justamente às pesquisas eleitorais, que mostram uma probabilidade maior e crescente de derrota do PT em outubro. Sem essa expectativa, as ações continuariam ladeira abaixo certamente, pagando o preço da ingerência política no setor e na estatal.

Se esse é o resultado concreto em um setor do qual Dilma supostamente entende muito, o que esperar da economia como um todo sob seu comando? Será que o Brasil aguenta mais quatro anos de incompetência?

Rodrigo Constantino

Gustavo Loyola: governo quer usar lança-chamas para combater incêndio




Em sua coluna de hoje no Valor, Gustavo Loyola sobe o tom das críticas ao ministro Guido Mantega, alegando que seu diagnóstico dos problemas econômicos brasileiros é completamente equivocado. Mantega acha que se houvesse mais crédito disponível pelos bancos o crescimento seria maior, ou seja, ainda insiste no modelo de estímulo artificial ao consumo. Loyola escreve:


A insistência do governo na expansão do consumo como motor de crescimento do PIB é inacreditável, após todas as evidências de que esse modelo se esgotou. Como indicam as estatísticas do desemprego, o mercado de trabalho praticamente não mostra folga alguma, tanto pela ocupação que se mantém elevada, quanto pela tendência recente de retração na oferta de mão de obra. Além disso, o comprometimento da renda dos consumidores com o pagamento de encargos e principal de dívida está em patamar relativamente elevado, não havendo muito espaço para expansão sadia do endividamento das famílias, ainda que os bancos relaxassem imprudentemente suas políticas de concessão de crédito.

Porém, o mais bizarro de tudo é o ministro da Fazenda ignorar os evidentes sinais de pressão inflacionária em seu diagnóstico sobre os males da economia brasileira. A inflação corrente e as expectativas futuras estão no teto da banda estabelecida no regime de metas. Numa situação como essa, defender o aumento do consumo alavancado por crédito parece coisa de bombeiro querendo usar lança-chamas para combater um incêndio. Ademais, soa no mínimo estranho o ministro da Fazenda reclamar da falta de crédito em pleno ciclo de aperto monetário conduzido pelo Banco Central que elevou a taxa Selic sucessivamente nas últimas nove reuniões do Copom.

Conforme diz Loyola, não há remédio “keynesiano” para nossos problemas. O que o país precisa é de mais investimentos para expandir a oferta, e principalmente de ganhos de produtividade. Mas nada de efetivo tem sido feito pelo governo nessas áreas. Ao contrário: o governo Dilma tem criado barreiras protecionistas que dificultam ou impedem um choque de produtividade em nossa economia.

Para o ex-presidente do Banco Central, qualquer semelhança com os anos 1950 não é mera coincidência. E o governo se encontra em uma verdadeira armadilha: “O dramático é que os equívocos do governo colocaram em marcha um círculo vicioso: políticas ruins pioram o crescimento o que, mantido o diagnóstico errado, leva a novas ações negativas para a produtividade e o crescimento”.

Enquanto o governo insistir em turbinar o consumo, o clima de apreensão dos investidores vai apenas aumentar. O crescente pessimismo generalizado é resultado dessa visão equivocada do governo, que não dá nenhum sinal de reconhecimento de seus próprios erros.

Rodrigo Constantino

Nós contra eles: o maniqueísmo petista como blindagem às críticas






Em sua coluna de hoje na Folha, Aécio Neves expõe de maneira clara a principal tática adotada pelo PT para inviabilizar qualquer debate sério na política nacional: utilizar a retórica maniqueísta de “nós contra eles”. 

Tentando preservar o monopólio da virtude, o PT se coloca como vítima de “inimigos do povo” ou da nação, e foge, dessa forma, da necessidade de rebater as várias acusações que recaem sobre o governo. Diz Aécio:


Pressionado pela queda nas pesquisas, o petismo recorre ao terrorismo em escala, tentando demonizar as oposições para confundir e dividir o país –reeditando o conhecido “nós e eles”.

O “nós” são os “patriotas” do governo e os que se servem de fatias da administração federal como contrapartida ao alinhamento e ao silêncio obsequioso. Ou, pior, os que se prestam à posição vergonhosa de atacar quem cobra transparência e exige a apuração sobre a corrupção endêmica que atinge o país.

O “eles” são as oposições e os brasileiros que, nesta versão maniqueísta, ao combater e criticar os malfeitos do governismo, trabalham contra o Brasil. Simples assim.

Esta é a estratégia que restou, desde que o PT perdeu discursos e abandonou as suas bandeiras históricas.

Essa estratégia não é nova. Os marxistas dividiram o mundo em duas classes, trabalhadores e capitalistas, em que estes exploravam aqueles. O mundo simplista e dicotômico tinha uma explicação evidente para todos os males: culpa dos capitalistas insensíveis e exploradores, que faziam de todos os trabalhadores as vítimas de sua ganância desmedida.

Mas, como explica Aécio Neves, quem tem reclamado do governo são os pobres, a classe média, aqueles que precisam utilizar os péssimos serviços públicos, ou que não podem blindar seus carros contra a insegurança que cresce por negligência do governo federal. Ou ainda aqueles que dependem de hospitais públicos e morrem em filas de espera. Seriam esses os “inimigos do Brasil”? Conclui Aécio:

A verdade é que, por mais que o governo tente fugir da realidade, ela se impõe todos os dias. Denúncias sobre as falcatruas na Petrobras não param de surgir e a imprensa já lança luz naquele que parece ser o grande temor do governo: os negócios realizados nos fundos de pensão das estatais, que têm tudo para desafiar a paciência do mais crédulo dos brasileiros.

Quem deseja mais transparência e quem clama por investigações mais profundas frente a tantos escândalos de corrupção não é inimigo do país; ao contrário: quer justamente salvar o Brasil de um destino trágico, como o venezuelano ou argentino.

Ironicamente, após apelar tanto para tal discurso maniqueísta, o feitiço se voltou contra o feiticeiro. Hoje até podemos resumir a disputa por um Brasil melhor de maneira reducionista e simplista, sem errar muito no diagnóstico. Aqueles que lutam por um país mais próspero e justo estão unidos em torno de um objetivo comum de curto prazo: tirar o PT do poder!

Rodrigo Constantino

Setor aéreo Moreira Franco se reúne com elétricas para discutir risco de apagão no Galeão durante a Copa


Ministro da SAC se reuniu nesta manhã com representantes do aeroporto, do MME e da Light; medidas preventivas serão definidas até sexta-feira

Ministro da Secretaria da Aviação Civil, Moreira Franco
Ministro da Secretaria da Aviação Civil, Moreira Franco


O ministro da Secretaria Nacional de Aviação Civil (SAC), Wellington Moreira Franco, reuniu-se na manhã desta segunda-feira com gestores do Aeroporto Internacional Tom Jobim (Galeão), no Rio de Janeiro, para discutir medidas preventivas contra apagões durante a Copa do Mundo. O ministro havia comentado sobre o risco de apagão no aeroporto do Galeão em entrevista ao site de VEJA há duas semanas feita por meio da rede de microblogs Twitter. Medidas preventivas serão anunciadas até sexta-feira.

Durante a entrevista, que contou com participação de leitores, o ministro foi questionado sobre o risco de apagão durante o torneio mundial e afirmou que convocou empresas e governo para alinhar os ponteiros. "Já tivemos falta de energia várias vezes, por pouco tempo, mas muito prejudiciais. A Light diz que é o Galeão e o Galeão diz que é a Light. Por isso vou colocar Light e Galeão frente a frente para esclarecer a questão", afirmou o ministro. 

No dia 18 de abril um apagão ocorrido por volta das 22 horas deixou o aeroporto sem energia por mais de uma hora. Segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), o problema afetou os terminais 1 e 2 do aeroporto. Segundo o ministro Moreira Franco, a causa da parada foi um gambá que entrou na subestação da Light no aeroporto. 

Prevenção - "Apesar de ter sido ocasional, isso não se justifica porque a energia já caiu outras vezes. 

Por isso precisamos ter um plano de contingência que previna não apenas a entrada de animais, mas, sobretudo, que tenha alternativas técnicas para que não ocorra nada mais", disse em coletiva à imprensa nesta segunda-feira. Participaram do encontro representantes da Infraero, da nova administração do aeroporto (concessionária encabeçada pela Odebrecht que assume a gestão em agosto), da Light (companhia de energia local) e do Ministério de Minas e Energia (MME). 


"Estudou-se todas as alternativas de natureza técnica e contingências possíveis e teremos até sexta-feira a definição de quais intervenções contingenciais podem ser feitas. Há confiança de que o Galeão não terá queda de energia. A coordenação deste plano será do MME, com a Light e os administradores do Galeão", disse o ministro.


Leia mais: Consumo de energia por famílias é recorde no 1º trimestre
Leilão de energia surpreende, mas não elimina problemas 

A que ponto chegamos!Fernando Henrique Cardoso* - O Estado de S.Paulo

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04 de maio de 2014 | 2h 06


 
 
Eu, como boa parte dos leitores de jornal, nem aguento mais ler as notícias que entremeiam política com corrupção. É um sem-fim de escândalos. Algumas vezes, mesmo sem que haja indícios firmes, os nomes dos políticos aparecem enlameados. Pior, de tantos casos com provas veementes de envolvimento em "malfeitos", basta citar alguém para que o leitor se convença de imediato de sua culpabilidade. A sociedade já não tem mais dúvidas: se há fumaça, há fogo.


Não escrevo isso para negar responsabilidade de alguém especificamente, nem muito menos para amenizar eventuais culpas dos que se envolveram em escândalos, nem tampouco para desacreditar de antemão as denúncias. Os escândalos jorram em abundância, não dá para tapar o sol com peneira. O da Petrobrás é o mais simbólico, dado o apreço que todos temos pelo que a companhia fez para o Brasil. 


Escrevo porque os escândalos que vêm aparecendo numa onda crescente são sintomas de algo mais grave: é o próprio sistema político atual que está em causa, notadamente suas práticas eleitorais e partidárias. Nenhum governo pode funcionar na normalidade quando atado a um sistema político que permitiu a criação de mais de 30 partidos, dos quais 20 e poucos com assento no Congresso. A criação pelo governo atual de 39 ministérios para atender às demandas dos partidos é prova disso e, ao mesmo tempo, é garantia de insucesso administrativo e da conivência com práticas de corrupção, apesar da resistência a essas práticas por alguns membros do governo.


Não quero atirar a primeira pedra, mesmo porque muitas já foram lançadas. Não é de hoje que as coisas funcionam dessa maneira. Mas a contaminação da vida político-administrativa foi-se agravando até chegarmos ao ponto a que chegamos. Se, no passado, nosso sistema de governo foi chamado de "presidencialismo de coalizão", agora ele é apenas um "presidencialismo de cooptação". Eu nunca entendi a razão pela qual o governo Lula fez questão de formar uma maioria tão grande e pagou o preço do mensalão. Ou melhor, posso entendê-la: é porque o PT tem vocação de hegemonia. 


Não vê a política como um jogo de diversidade no qual as maiorias se compõem para fins específicos, mas sem a pretensão de absorver a vida política nacional sob um comando centralizado.
Meu próprio governo precisou formar maiorias. Mas havia um objetivo político claro: precisávamos de três quintos da Câmara e do Senado para aprovar reformas constitucionais necessárias à modernização do País. 


Ora, os governos que me sucederam não reformaram nada nem precisaram de tal maioria para aprovar emendas constitucionais. Deixaram-se levar pela dinâmica dos interesses partidários. Não só do partido hegemônico no governo, o PT, nem dos maiores, como o PMDB, mas de qualquer agregação de 20, 30 ou 40 parlamentares, às vezes menos, que, para participar da "base de apoio", se organizam numa sigla e pleiteiam participação no governo: um ministério, se possível; senão, uma diretoria de empresa estatal ou uma repartição pública importante. Daí serem precisos 39 ministérios para dar cabida a tantos aderentes. No México do PRI dizia-se que fora do orçamento não havia salvação...


A raiz desse sistema se encontra nas regras eleitorais que levam os partidos a apresentarem uma lista enorme de candidatos em cada Estado para, nelas, o eleitor escolher seu preferido, sem saber bem quem são ou que significado político-partidário têm. Logo depois nem se lembra em quem votou. A isso se acrescenta a liberalidade de nossa Constituição, que assegura ampla liberdade para a formação de partidos. 

Por isso, não se podem obter melhorias nessas regras por intermédio da legislação ordinária. Algumas dessas melhorias foram aprovadas pelos parlamentares. Por exemplo, a exigência de uma proporção mínima de votos em certo número de Estados para a autorização do funcionamento dos partidos no Congresso. Ou a proibição de coligações nas eleições proporcionais, por meio das quais se elegem deputados de um partido coligado aproveitando a sobra de votos de outro partido. Ambas foram recusadas por inconstitucionais pelo Supremo Tribunal Federal.


Com o número absurdo de partidos (a maior parte deles meras siglas sem programa, organização ou militância), forma-se, a cada eleição, uma colcha de retalhos no Congresso, em que mesmo os maiores partidos não têm mais do que um pedaço pequeno da representação total. Até a segunda eleição de Lula, os presidentes se elegiam apoiados numa coalizão de partidos e logo tinham de ampliá-la para ter a maioria no Congresso. De lá para cá, a coalizão eleitoral passou a assegurar maioria parlamentar. Mas, por vocação do PT à hegemonia, o sistema degenerou no que chamo de "presidencialismo de cooptação". E deu no que deu: um festival de incoerências políticas e portas abertas à cumplicidade diante da corrupção.


Mudar o sistema atual é uma responsabilidade coletiva. Repito o que disse, em outra oportunidade, a todos os que exerceram ou exercem a Presidência: por que não assumimos nossas responsabilidades, por mais diversa que tenha sido nossa parcela individual no processo que nos levou a tal situação, e nos propomos a fazer conjuntamente o que nossos partidos, por suas impossibilidades e por seus interesses, não querem fazer - mudar o sistema? Sei que se trata de um grito um tanto ingênuo, pedir grandeza. A visão de curto prazo encolhe o horizonte para o hoje e deixa o amanhã distante. Ainda assim, sem um pouco de quixotismo, nada muda.


Se, de fato, queremos sair do lodaçal que afoga a política e conservar a democracia que tanto custou ao povo conquistar, vamos esperar que uma crise maior destrua a crença em tudo e a mudança seja feita não pelo consenso democrático, mas pela vontade férrea de algum salvador da Pátria?


*Fernando Henrique Cardoso é sociólogo e foi presidente da República.

Um vídeo mostra que o Brasil inventado pelo “governo das conquistas trabalhistas” nunca chegou ao bolso dos trabalhadores

Augusto Nunes VEJA


A cesta básica em São Paulo custa cerca de R$ 360, ou metade de um salário mínimo (R$ 724). Nos Estados Unidos, onde o salário mínimo gira em torno de US$ 1.280, os mesmos produtos (nas mesmas quantidades) não chegam a 10% desse valor.

Enquanto os americanos desembolsam 13 salários para comprar um Ford Focus, os brasileiros pagam 90 salários pelo mesmo veículo. E a carteira de motorista, que nos EUA sai por US$ 36, no Brasil não custa menos de R$ 1.200.

Esses são alguns dos numerosos dados apresentados no vídeo Brasil, the country of de future (Brasil, o país do futuro), de Carlinhos Troll, autor do também imperdível Fifa World Cup 2014 – The real Brasil (Copa do mundo Fifa 2014 – O Brasil real). 

Em pouco mais de cinco minutos, o desfile de cifras e informações escancara a obviedade: o Brasil inventado pelo “governo dos direitos e das conquistas trabalhistas, que encontra caminhos para melhorar a vida dos que vivem do suor do seu trabalho”, como proclamou Dilma Rousseff no pronunciamento do Dia do Trabalho, nunca chegou ao bolso dos trabalhadores.

Nada como uma vaia depois da outra para abalar a fé dos devotos, emudecer o chefe da seita e tirar o sono da guardiã do rebanho



Atualizado às 18h50  Augusto Nunes VEJA
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Nada como uma vaia depois da outra para embaralhar a partitura da ópera dos malandros, desafinar o coro dos contentes, tirar o sono dos sacerdotes da seita, emudecer o seu único deus, escancarar a indigência mental da guardiã do rebanho, abalar a fé do mais fanático devoto, induzir convertidos de aluguel a flertar com outros altares. Nada como uma vaia depois da outra para assombrar as madrugadas de quem até outro dia dormia contando votos da vitória no primeiro turno e acordava sonhando com a proclamação da república bolivariana.

As manifestações de rua de 2013 implodiram a farsa do Brasil Maravilha, mas os alvos dos protestos não foram identificados tão claramente quanto neste outono. Os destinatários das mensagens sonoras agora têm nome, sobrenome, endereço e filiação partidária. Cresce em progressão geométrica a imensidão de brasileiros que enxergam as coisas como as coisas são. Milhões de lesados descobriram que o bando acampado no coração do poder foi longe demais até para os padrões do País do Carnaval. E exigem mudanças imediatas.

Todos constataram que o governo lulopetista recruta e acoberta corruptos. Que a roubalheira impune agora é medida em bilhões de dólares. Que os ineptos e os larápios se associaram para enterrar em estádios padrão Fifa o dinheiro que poderia abrandar pavorosas carências no universo da saúde e da educação. Que as promessas não descem dos palanques. Constataram, enfim, que lidam há 12 anos com vendedores de nuvens e camelôs de si próprios.

Alheio às alterações na paisagem, o marqueteiro João Santana imaginou, depois de consumir uma semana na releitura de pesquisas recentes, que a curva descendente da candidata à reeleição seria invertida por outro comício eletrônico transmitido em cadeia nacional. Péssima ideia: a discurseira na véspera do Dia do Trabalho só serviu para comprovar que as cartas na manga acabaram, que as mágicas de picadeiro perderam o encanto e que truques outrora infalíveis ficaram subitamente grisalhos.

Habituada a conjugar impunemente os três verbos preferidos de Lula — mentir, tapear, distorcer —, Dilma soube tarde demais que o senador Aécio Neves e o ex-governador Eduardo Campos não deixariam nenhum embuste sem revide, nenhuma invencionice sem réplica. Dispostos a provar que a oposição voltou de vez das férias, os candidatos do PSDB e do PSB à sucessão presidencial assumiram o papel de porta-vozes dos descontentes.

Dilma garantiu, por exemplo, que “a inflação continuará rigorosamente sob controle”. Ouviu que não se pode continuar o que não começou. Ao “reafirmar o compromisso do governo com o combate incessante e implacável à corrupção”, foi convidada a suspender a guerra de extermínio movida contra quem se atreve a investigar patifarias bilionárias consumadas nas catacumbas da Petrobras. E a tentativa de responsabilizar a oposição pelos estragos na imagem da estatal soou como anedota improvisada por patriotas de galinheiro.

“Os brasileiros não aceitam mais a hipocrisia”, recitou no fim do comício. Não aceitam mesmo, reiteraram as comemorações do Primeiro de Maio em São Paulo. Pela primeira vez desde a fundação do PT em 1980, figurões do Partido dos Trabalhadores foram impedidos de discursar no Dia do Trabalho. O ministro Ricardo Berzoini e o prefeito Fernando Haddad, por exemplo, não conseguiram abrir a boca sequer no palanque da CUT, controlada desde sempre por pelegos companheiros. Lula e Dilma nem deram as caras por lá. Na tarde seguinte, obrigada a visitar a Expozebu, a presidente reencontrou em Uberaba — três vezes — as vaias das quais escapara na véspera.

Nas primeiras 72 horas de maio, João Santana aprendeu, entre outras lições sempre úteis, que o país que não é para amadores também trata sem clemência adivinhos de botequim. Confrontado com a epidemia de apupos (e com mais uma pesquisa atulhada de más notícias para o Planalto), ele certamente se lembrou da entrevista, concedida em dezembro de 2010, em meio à qual resolveu restaurar a monarquia, transformar o gabinete presidencial em sala do trono e coroar Dilma Rousseff.


“Como se trata de uma figura única, que uma nação precisa de séculos pra construir, a ausência de Lula deixa uma espécie de vazio oceânico”, ressalvou o marqueteiro do reino. Apesar disso, ou por isso mesmo, Dilma tinha tudo para transformar-se na herdeira que todo súdito pede a Deus. “A República brasileira não produziu uma única grande figura feminina, nem mesmo conjugal”, ensinou Santana. “O espaço metafórico da cadeira da rainha só foi parcialmente ocupado pela princesa Isabel. Dilma tem tudo para ocupar esse espaço”.

Em novembro de 2012, festejou o acerto da profecia. “Foi uma metáfora que está se cumprindo simbolicamente”, cumprimentou-se o imaginoso publicitário baiano. “Grandes camadas da população têm um respeito, uma admiração e um carinho tão sutil por Dilma que chega até a ser de uma forma majestática”. Os fatos já aposentaram faz tempo o professor de história e o vidente. O marqueteiro só sobreviverá se esquecer os escombros do trono e concentrar-se nas rachaduras do palanque.


Mas vai perder seu tempo se ceder à tentação de descobrir a cura da vaia. E acabará perdendo o emprego.

Risco para a Copa: nas favelas com UPPs, os bandidos estão armados





Ataques a policiais e crescimento da criminalidade no ‘asfalto’ mostra que quadrilhas mantêm seu poder de fogo. No ano da Copa do Mundo, noticiário internacional sobre o Rio volta a ter foco na violência e no tráfico de drogas




Moradores protestam por morte de idosa baleada no Complexo do Alemão (RJ)
Moradores protestam por morte de idosa baleada no Complexo do Alemão (RJ) 


Para os otimistas, as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) atravessam apenas um momento tenso, mas os tiroteios em favelas e os ataques à polícia logo serão resolvidos, com reforços de efetivo e prisão de traficantes. Para os pessimistas, o projeto perdeu o rumo, e a reconquista do território nas favelas cariocas não passou de ilusão. Os dois grupos – e também quem está nos gabinetes da cúpula da segurança no Estado do Rio – concordam em um ponto, indiscutivelmente: é frustrante constatar que, a um mês da Copa do Mundo, o noticiário internacional sobre o Rio ainda esteja concentrado na criminalidade e no medo que turistas e delegações manifestam às vésperas da competição.

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Deu errado? É cedo para dizer. Mas definitivamente não era esse o objetivo. No cronograma das UPPs, 2014 sempre foi o prazo para as favelas estarem sob controle. Afinal, além da Copa do Mundo, é ano de eleição, e foi a ocupação de favelas o carro-chefe da reeleição de Sérgio Cabral em 2010. A situação nas favelas que o governo chama de “pacificadas” não é boa. As mortes de policiais chegaram a quatro nos primeiros quatro meses do ano, superando as três de 2013, como revelou reportagem do site de VEJA. Vinte e cinco foram feridos até agora em 2014 – no ano passado inteiro foram 24.

Torcer contra as UPPs é um tiro no pé. O programa beneficiou uma parte da população – nos cálculos usados pela propaganda oficial do governo, 1,5 milhão de moradores – e transformou para melhor uma grande área do Rio, principalmente na região ao redor da Tijuca, na Zona Norte. Mas o que apavora turistas e delegações internacionais no momento, e que amedronta também os cariocas, é o fato de mesmo onde as UPPs deram certo a situação parece se deteriorar.


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A Tijuca é, provavelmente, a área que mais se transformou com as UPPs. Não por acaso: é nessa área da cidade que fica o estádio do Maracanã, onde será realizada a final da Copa do Mundo. Formou-se, nessa área, um cinturão de ocupação das favelas, com sete UPPs. 

Mesmo assim, em março, como mostra a edição desta segunda-feira do jornal carioca Extra, o total de roubos na região do estádio dobrou em relação aos registros do ano passado. Foram computados 481 registros no mês passado, em comparação com 238 no período correspondente de 2013. Roubos de rua são determinantes para a sensação de segurança. 

E dificilmente a população se convence de que há avanço contra a criminalidade quando aumenta o risco de assalto à porta de casa. Um levantamento do site de VEJA mostrou que, em janeiro deste ano, o Estado do Rio teve o maior volume de roubos dos últimos dez anos – ou seja, os assaltantes voltaram a agir como antes das UPPs.


Os números da criminalidade foram extraídos das estatísticas oficiais do Instituto de Segurança Pública (ISP), órgão do governo do Estado. Uma comparação feita pelo jornal O Estado de S. Paulo entre os três primeiros meses de 2014 e de 2008 – antes do início das UPPs – revelou que, seis anos depois do projeto, o Rio voltou a ter incidência de crimes nos mesmos níveis do período pré-UPP: entre janeiro e março deste ano, 1.459 pessoas foram assassinadas no Estado, número próximo do período correlato de 2008 (1.562). Desde então, o menor índice de homicídios registrado pelo ISP foi em 2012, quando houve 1.100 casos no primeiro trimestre (4.030, ao longo de todo o ano).


A fotografia do momento é ruim para o Estado. Os crimes vinham em queda até recentemente. “A ideia que se espalhou de que há migração do crime está fazendo sentido. Há mudança de padrão da criminalidade na Baixada Fluminense e outras áreas da Região Metropolitana do Rio, como Niterói e São Gonçalo, não só com aumento da criminalidade, mas com pessoas que passaram a circular armadas. Há uma rearrumação do mundo do crime. E as políticas de segurança foram lentas para responder a isso", afirmou ao Estadão a cientista política Sílvia Ramos, coordenadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (Cesec) da Universidade Cândido Mendes.


O Rio tem atualmente 38 UPPs. Mas o crescimento do programa não foi capaz de sustentar o que se viu logo após o surgimento das primeiras unidades, na Zona Sul. Inicialmente, as UPPs tornaram-se cartões de visita do Rio, com festas em pequenas favelas antes controladas pelo tráfico e uma onda de investimentos em turismo. Ainda há festas frequentadas por jovens de classe média no Dona Marta, bares e pousadas no Morro da Babilônia e Chapéu Mangueira, turistas que se hospedam no Vidigal. Mas na Rocinha, no Alemão e na Cidade de Deus – maiores favelas chamadas de “pacificadas” – a situação é tensa.


Um vídeo obtido pelo site de VEJA mostra uma boca de fumo no Alemão com homens armados – exatamente como no período antes das UPPs. Os tiroteios no complexo são diários, assim como na Rocinha. O objetivo do programa não era acabar com a venda de drogas, mas com o risco armado – principalmente para os moradores desses locais. Entre as críticas mais frequentes à política de Segurança do Rio está o baixo número de prisões e apreensões de armas. Os dados do ISP mostram que, em relação aos três primeiros meses de 2008, houve agora um aumento de 60% no cumprimento de mandados de prisão. A apreensão de armas caiu 11%.


A justificativa para a queda pode estar na lógica de que “quanto mais se recolhe menos há para recolher”. Mas não é o que mostram os confrontos e os ataques a policiais.

(Com Estadão Conteúdo)  VEJA